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Capítulo 1 EMBASAMENTO TEÓRICO

1.2.2. A Motivação no ensino-aprendizagem de línguas

1.2.2.2. O Modelo Motivacional de Dörnyei e Ottó

Esse modelo foi desenvolvido a partir de um projeto de pesquisa cujo objetivo era estudar estratégias motivacionais para serem utilizadas na sala de aula de L2. Para os autores, havia até então muitas pesquisas analisando o conceito de motivação e poucas se dedicando a compreender como motivar os alunos, sendo essa a grande razão para o desenvolvimento do projeto dos autores.

49 A perspectiva de motivação adotada é de um processo (seqüência de fases), complexo e grandemente influenciável, dinâmico e de origens observáveis. Dessa forma, o modelo apresenta duas dimensões: a seqüência de ação e as influências motivacionais.

A primeira dimensão compreende o processo pelo qual as vontades, anseios e desejos são primeiramente transformados em metas, em seguida em intenções, as quais eventualmente conduzem a uma ação (que preferencialmente proporcione o alcance das metas) que é finalmente submetida a uma avaliação. A dimensão da seqüência de ação se divide em três fases principais: pré-acional, acional e pós-acional.

A segunda dimensão, das influências motivacionais, inclui as fontes de energia e as forças motivacionais que podem potencializar ou inibir a seqüência de ação. Estas forças motivacionais são de ordem cognitiva, afetiva, situacional, enfim, compreendem todos os fatores relevantes apontados pelos estudos que antecederam o modelo de Dörnyei e Ottó.

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Figura 2 - O modelo motivacional de Dörnyei e Ottó (1998)13 Fonte: Dörnyei, 2001

O modelo em questão é bastante elaborado envolvendo em cada fase, em menor ou maior grau, uma dimensão social, uma dimensão pessoal e uma dimensão educacional. Analisemos cada uma dessas fases e influências, somente, porém, naquilo que é relevante para este trabalho.

Na fase pré-acional, as metas são estabelecidas levando em conta influências motivacionais tanto de ordem pessoal, como os desejos, expectativas, autoconfiança, ansiedade, experiências anteriores, crenças; quanto de ordem social, como as demandas

51 externas (trabalho, estudo), as oportunidades e o meio (família, amigos, professores, escola, comunidade). Nesta fase, são possíveis influências a integratividade (integrativeness), a motivação intrínseca (intrinsic pleasure), a instrumentalidade (instrumental benefits) e ainda a motivação extrínseca (environmental effects). Em estudos posteriores, Dörnyei (2001) passou a considerar apenas a dicotomia motivação intrínseca/motivação extrínseca entendendo que a integratividade e a instrumentalidade estariam subentendidas na motivação extrínseca.

Esse primeiro conjunto de influências está discriminado na figura abaixo, pertencente ao modelo:

Figura 3 - Algumas influências motivacionais da fase pré-acional14 Fonte: Dörnyei, 2001

Assim, sob a influência de todos esses aspectos que constituem a motivação prévia, a meta é delimitada e, após passar por um segundo conjunto de influências motivacionais, já não mais discriminadas na figura acima, é transformada numa intenção de ação, a qual, após novas influências motivacionais, fica pronta e energizada para ser posta em prática. Havendo, portanto, motivação suficiente passa-se o ponto crítico, chamado Rubicon15.

14 No Anexo C deste trabalho apresentamos uma tradução, por nós realizada, da Figura 3.

15 A expressão atravessar o Rubicão (cross the Rubicon) tem sido utilizada desde 49 a.C. , quando Julio César, com seu exército, cruzou o rio Rubicão e invadiu a Roma Antiga violando as leis do Senado Romano e tornando um conflito armado inevitável. Desde então, metaforicamente, a referida expressão passou a significar um limite além do qual nos sentimos obrigados a uma determinada ação, um ponto que ao ser cruzado não permite retorno.

52 Na fase seguinte, a acional, ocorre o curso da ação com a energia trazida da fase pré-acional e ainda com a energização advinda durante o processo por um novo conjunto de influências motivacionais. Dentre as influências aqui apontadas, é relevante para o nosso estudo – e não só para nós, mas também para o próprio autor que a apontou como a mais importante – a que se refere à qualidade das experiências de aprendizado, as quais devem apresentar novos conhecimentos (novelty), ser prazerosas (pleasantness), significativas para o que o aluno pretende alcançar (goal/need significance), aplicáveis a outros contextos (coping

potential) e relevantes para o aluno (self and social image).

Trazendo ao presente trabalho, podemos então afirmar que essas são algumas das características que um bom material didático deve apresentar para promover situações de aprendizado motivadoras e de sucesso. A questão das tarefas de aprendizado é também discutida pelo autor ao falar do papel do professor como agente potencializador da motivação, apontando-as como um dos mecanismos de que ele dispõe para motivar. Desse modo, como não poderia deixar de ser, o material está atrelado ao professor que o aplica, suas competências, objetivos, concepção de língua e ensino de língua.

Muitas outras variáveis situacionais relacionadas à sala de aula estão presentes nesta fase, como pode ser visto na figura abaixo em que o autor as discrimina:

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Figura 4 - Influências motivacionais da fase acional16 Fonte: Dörnyei, 2001

A fase pós-acional tem, para os idealizadores do modelo, uma função primordial na determinação do sentimento de sucesso e satisfação do aluno, o qual irá refletir na sua motivação para e em futuras atividades. Dentre as influências dessa fase estão: as atribuições, que são extremamente subjetivas, o autoconceito do aluno (auto-eficácia, competência, auto-estima) e as avaliações externas, por exemplo, a do professor.

Diferentemente de Gardner e Tremblay (1995) que em seu modelo sócio- psicológico acreditavam que a motivação não era influenciada por resultados anteriores, neste

54 modelo eles são decisivos. Concordamos com essa posição, pois parece ser o acúmulo de experiências negativas que leva os alunos da escola pública a se desmotivar.

A motivação é, portanto, além de psicológica e social, situacional e temporal, um processo em constante fluxo.

Jacob (2002:73) resume o modelo que considera o mais abrangente realizado sobre motivação da seguinte maneira:

Primeiramente, na “fase pré-acional”, temos a escolha do porquê aprender uma determinada língua, ou seja, o estabelecimento da motivação prévia para o estudo. Em seguida, os alunos passarão para a “fase acional”, considerada como o processo de ensino-aprendizagem em si, e por último, na “fase pós-acional”, os alunos terão condição de avaliar se a motivação prévia que possuíam anteriormente foi sustentada ou não e que fatores contribuíram para isso. Como vimos, são processos em que a motivação se configura como o elemento central para que haja o sucesso ou não. (Jacob, 2002:73)