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4. O CONFESSADO ATIVISMO DO SUPREMO TIRBUNAL FEDERAL EXISTE CONTROLE NO MODELO BRASILEIRO?

4.4 Um modelo para a superação do ativismo judicial do Supremo Tribunal Federal.

Os julgamentos proferidos pelo Supremo Tribunal Federal, diante da estrutura organizacional do ordenamento jurídico brasileiro, gozam de absoluta aplicabilidade e validade, considerando que inexiste órgão de jurisdição mais elevada que detenha competência para “reformar” as decisões prolatadas pela Corte Constitucional. Nessas condições o STF torna-se incontrolável quanto à suas decisões, inexistindo qualquer forma de contenção, o que inclusive viola a lógica de freios e contrapesos que deve existir no âmbito do Estado brasileiro.

Não por outra razão é que vários julgados proferidos pelo Supremo Tribunal Federal, a exemplo dos que foram aqui analisados, tiveram seu cumprimento imediato, sem que pudesse haver qualquer forma de questionamento institucional, seja de ordem política ou legal. As críticas restringem-se ao âmbito acadêmico/doutrinário, o que, na prática, não detém qualquer poder para modificar o que restou decidido.

É nesse ambiente de ampla liberdade que o STF tem fincado as raízes de seu ativismo, de modo que se revela hoje como o “guardião das minorias”, como se verificou no caso da União Homoafetiva e do Estado de Coisas Inconstitucional. Sob esse argumento de órgão contramajoritário, a corte decide sobre questões que não estão no âmbito de sua competência, interferindo, não raras vezes, no âmbito da competência dos demais poderes constituídos, conforme restou evidenciado.

Em boa parte dos julgados, pode-se invocar o brocardo de que “os fins justificam os meios”, considerando que, por exemplo, a afirmação social e legal daqueles que uniram-se a pessoas do mesmo sexo ou mesmo a melhoria (ainda que ínfima) da situação dos presos a partir do julgamento do caso do Estado de Coisa Inconstitucional.

Importa salientar, nesse contexto, o risco concreto para a manutenção do equilíbrio do Estado brasileiro a partir da interferência do Supremo Tribunal Federal no âmbito da competência constitucional dos demais poderes. A evolução do ativismo judicial do STF pode provocar desequilíbrio institucional apto a aprofundar a crise institucional já existente entre os podes constituídos, conforme advertiu Luís Roberto Barroso (2008, online).

Nessas condições, é preciso que seja criado novo órgão no Brasil, cuja função assemelhar-se-á a do Conselho Nacional de Justiça, todavia, não com enfoque no exercício correcional dos membros do Poder Judiciário, mas para validar julgados prolatados pelo Supremo Tribunal Federal nos quais a corte manifeste posição ativista.

O órgão deve ser composto por membros dos três poderes constituídos, de modo que haja ampla representatividade e legitimidade para a tomada de decisões. A finalidade conter os anseios de nossa Corte Constitucional, bem como de manter o equilíbrio entre os poderes constituídos.

Ademais, é preciso que sejam estabelecidos critérios para a provocação do novo órgão no sentido de que coíba determinado posicionamento/julgamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal. Para tanto, adota-se como pressupostos a sugestão constante na nota de rodapé nº 4, do voto do Juiz da Suprema Corte Americana Harlan Fisk Stone, quando do julgamento do caso United States v. Carolene Products Co (1938), restou definido que, ao julgar temas, especialmente envolvendo a eficácia de direitos fundamentais deve-se analisar: a) os juízes se ativeram ao texto constitucional; b) se os canais de participação política que levaram a edição da norma estavam abertos; c) verificar se a norma em questão discrimina grupos minoritários, levando a fragilização do processo democrático14.

O julgamento acima tinha por objeto a discussão acerca da constitucionalidade de uma “...Lei de 1923 (Filled Milk Act), que havia tornado ilegal o transporte de ‘leite modificado’ (Milnut) de um estado para outro” (BARROSO; VIEIRA; GLEZER, 2017, pág. 471).

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A nota de rodapé trouxe as balizas para que se verifique o papel exercido pela Corte Constitucional, especialmente se refere ao sistema de competências constitucionalmente fixado. A nota de rodapé procurou conferir “..proteção contra abusos no processo político, via judiciário, e a defesa do controle de constitucionalidade” (BARROSO; VIEIRA; GLEZER, 2017, pág. 474).

Dessa forma, invoca-se a multicitada nota de rodapé como proposta de parâmetro para a atuação do novo órgão de controle do Poder Judiciário a ser constituído. Na espécie, o referido órgão seria chamado a atuar quando: a) os juízes

não se ativeram ao texto constitucional; b) os canais de participação política que

levaram a edição da norma estavam fechados; c) norma descriminar grupos minoritários, levando a fragilização do processo democrático.

Os legitimados a provocar o novo órgão seriam os mesmos personagens que detém a possibilidade de propor ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade, nos termos do art. 103 da Constituição Federal de 198815. No caso, o mesmo órgão legitimado a julgar a questão proposta teria a competência para admiti-la para julgamento, de modo que ficaria responsável pela aferição da necessidade de se reavaliar a decisão prolatada pelo Supremo Tribunal Federal.

É preciso a criação de métodos de controle da atividade da Corte Constitucional Brasileira, sob pena desta arvorar-se, em definitivo, da competência firmada pela Constituição em favor dos demais poderes, fazendo desequilibrar-se a harmonia entre eles, o que constitui preceito fundamental de constituição do estado brasileiro (art. 2º da Constituição Federal) 16.

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Art. 103 Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

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Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.