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3.1 Quando os políticos são orientados ideologicamente

3.1.2 O Modelo Partidário Racional

Com objetivo de responder à crítica à formação de expectativas do modelo tradicional, Alesina (1987) desenvolveu um modelo com cidadãos racionais, e que ainda assim permite um efeito sobre o nível de atividade. No modelo de Alesina (1987) os eleitores formam suas expectativas sobre a taxa de inflação racionalmente e, portanto, somente políticas monetária ou fiscal inesperadas podem criar efeitos reais. Quando governos de esquerda assumem, como isto não era completamente previsto, o desemprego cai, o produto cresce, assim como os preços. O mesmo pode-se dizer sobre um governo de direita, os preços caem e o desemprego aumenta. Os efeitos reais sobre a economia serão maiores quanto maior for a incerteza que cerca o resultado eleitoral e resultantes da rigidez dos salários determinadas pelos acordos salariais. Quando os trabalhadores renegociam os contratos de trabalho com novos preços, as taxas de crescimento e emprego retornam aos seus níveis naturais, enquanto a inflação permanece elevada. Isto é,

só há dilema entre inflação e desemprego no curto prazo. Este dilema surge no curto prazo devido à rigidez de preços (salários) e à incerteza quanto ao candidato que vencerá as eleições.

A economia é caracterizada por uma curva de oferta, na qual a taxa de crescimento depende dos salários reais, que são estabelecidos a partir da inflação esperada53:

yt = + ( t - et) (6)

Onde yt é a taxa de crescimento do produto no período t, é a taxa “natural” de crescimento do produto é um número positivo. Assim como para Hibbs (1977), os políticos de diferentes partidos possuem diferentes objetivos, o partido de esquerda tem como objetivo um nível de atividade mais elevado ou pode atribuir um custo mais elevado a desvios de atividade econômica em relação ao nível desejado que aos desvios da inflação.

2

UE = E { t [ -( t – E)2 + bE (yt - yE) ] para partidos de esquerda e; (7) t=1 2 2

2

UD = E { t [ -( t - D)2 + bD (yt - yD)] para partidos de direita; (8) t=1 2 2

onde E D 0 e bE > bD 0.

Ou seja, os dois partidos podem ter como meta taxas de inflação iguais, mas o partido de esquerda é mais sensível a reduções no nível de atividade.

Mais uma vez supõe-se que há apenas dois candidatos ou partidos e que os eleitores, assim como os políticos, possuem preferências diferentes sobre a inflação

53

yt = + ( t - wt), e wt = e

t,substituindo o crescimento dos salários na equação anterior, obtém-se

a equação (6). O taxa de crescimento dos salários nominais (wt) é estabelecida com base na inflação

e o desemprego. Com base em suas preferências eles votam no partido que lhes ofereça a mais elevada utilidade esperada. O político dispõe de um instrumento que tenha impacto sobre a demanda agregada e as datas das eleições são fixadas exogenamente.

A diferença fundamental em relação ao modelo tradicional é que a expectativa de inflação para o período t é formada a partir de todas as informações disponíveis no período t-1:

e

t = E( t|It-1) (9)

e

t= qE Et + (1-qE) Dt. (10)

As eleições ocorrem no período t, mas expectativa de inflação para o período t é formada em (t-1), antes do resultado das eleições. A equação (10) formaliza como o eleitor estima a inflação esperada, a partir de uma média entre os valores de inflação previstos em cada um dos dois estados da natureza possíveis (partido de esquerda ganha ou partido de direita ganha) ponderada pela probabilidade de que cada um dos partidos vença as eleições, que é conhecida por todos. Embora não haja assimetria informacional, pois tanto eleitores quanto candidatos têm acesso à mesma informação, há incerteza associada à imprevisibilidade do resultado das eleições.

A crítica mais importante que se faz a esta teoria é que a flutuação do nível de atividade causada pelas incertezas associadas aos resultados eleitorais poderia ser evitada, pois como a data das eleições é previamente conhecida, os trabalhadores poderiam adiar as negociações salariais e os demais agentes poderiam também adiar as negociações de preço para após as eleições. Ou os trabalhadores poderiam negociar acordos salariais contingentes aos resultados de inflação, por exemplo. Alesina e Rosenthal (1995) argumentam que acordos salariais contingentes a determinados resultados não apenas são de difícil elaboração, como os ganhos resultantes destes acordos podem não justificá-los.

Outra crítica a este modelo é que o voto não é retrospectivo, e, portanto, as condições econômicas no período imediatamente anterior às eleições não afetam os votos, e em conseqüência, os resultados eleitorais. Isto é inconsistente com a regularidade empírica de que a situação da economia no período no período pré- eleitoral é um importante determinante do comportamento dos eleitores no momento da votação54.

Alesina e Rosenthal (1995) estendem o modelo partidário racional incorporando a votação retrospectiva. Para isto eles adicionam um elemento de competência à equação que define o valor esperado do comportamento do produto do partido de tenta a reeleição. Desta forma adiciona-se um componente do modelo oportunista racional ao modelo partidário, e os eleitores tomarão suas decisões sobre em quem votar com base não apenas nas suas preferências (e dos partidos), mas também na competência sinalizada pelo governante que busca a reeleição. Quanto maior a competência esperada do candidato ou partido que tenta reeleger-se, maior será o número de eleitores dispostos a votar nele, pois a competência mais que compensa as preferências ideológicas. Para inferirem a competência do candidato, assim como nos modelos oportunistas racionais os eleitores avaliam a economia, isto é, são retrospectivos.

É importante perceber, que esta os modelos partidários racionais prevêem ciclos induzidos por alteração ideológica do governo apenas no curto prazo. Uma vez que o novo governo tenha se iniciado, as expectativas são ajustadas e os efeitos reais sobre a economia desaparecem. O quadro abaixo, adaptado de Alesina, Roubini e Cohen (1999), resume os resultados previstos pelos modelos partidários tradicionais e racionais.

Quadro 3.1

Resultados Empíricos dos Modelos Partidários Modelos Partidários

Tradicionais

Modelos Partidários Racionais

54

Como já mencionado Beck e Stegmaier (2000) fazem uma revisão sobre trabalhos que associam os resultados eleitorais à situação econômica vigente antes das eleições, e encontram uma forte relação entre estas variáveis.

Maior crescimento do produto e menor desemprego quando partidos de esquerda estão no governo

Crescimento e emprego temporariamente mais elevados após a vitória eleitoral da esquerda, desemprego e crescimento voltam às suas taxas naturais na segunda metade dos governos. Desvios em relação às taxas naturais estão correlacionados à surpresa eleitoral

Gastos e receitas mais elevados com a vitória da esquerda