• Nenhum resultado encontrado

3.1 Quando os políticos são orientados ideologicamente

3.1.1 O Modelo Partidário Tradicional

Hibbs (1977) é o trabalho seminal que relaciona o partido às políticas seguidas pelos governantes. Para este autor, as duas mais importantes influências sobre as decisões de política macroeconômica são os incentivos partidários e eleitorais, e os partidários são mais fortes. Isto se dá porque a inflação, apesar dos seus impactos distributivos, tem efeitos mais reduzidos sobre os mais pobres do que sobre os mais ricos. O desemprego, ao contrário, é uma ameaça maior para os mais pobres que para os mais ricos. Assim, como os diferentes grupos de eleitores sofrem de forma diferente com o desemprego e a inflação, as percepções do público refletem estas diferenças, a aprovação dos candidatos segue o mesmo padrão, produzindo incentivos partidários diferentes para combater o desemprego ou a inflação. Os partidos de esquerda tendem a gerar maiores taxas de inflação em troca de desemprego mais baixo, e maior crescimento do produto50. Os partidos de esquerda também tendem a buscar maior igualdade51. Neste caso, ao contrário dos modelos oportunistas, os políticos desejam ganhar as eleições para implantar um determinado programa, e não o contrário.

O modelo apresentado por Hibbs (1977) é semelhante aos modelos oportunistas tradicionais, e tem como hipóteses que a economia pode ser representada por uma curva de Phillips e expectativas adaptativas, e que ademais, os políticos controlam instrumentos que têm impacto direto sobre os resultados econômicos. As principais características deste modelo serão descritas em seguida.

50

Hibbs (1977) concorda que não há dilemas entre inflação e desemprego no longo prazo, mas enfatiza que estabilizar preços e manter o desemprego baixo são objetivos conflitantes.

51

No que diz respeito à política fiscal, um grupo (esquerda) favorece gastos mais elevados. O outro (direita) é a favor de menor intervenção do governo e, portanto, gastos menores.

Em Hibbs (1977) a economia é caracterizada por uma curva de Phillips:

yt = + t - et (1)

Ou seja, o produto no período t se desviará do produto natural quando houver uma diferença entre a taxa de inflação ocorrida e a esperada. Portanto, assim como no modelo de Nordhaus (1975), a taxa de crescimento do produto é afetada pelas diferenças entre as taxas de inflação ocorrida e a esperada para o período t. Toda vez que os indivíduos forem surpreendidos pela aceleração da inflação, o produto crescerá acima da taxa natural de crescimento.

As expectativas de inflação são adaptativas, isto é, a expectativa de inflação para o período t é formada com base na taxa de inflação do período anterior (t-1) mais a diferença entre a inflação esperada e a ocorrida para (t-1):

e

t = t-1 + ( et-1 - t-1); 0< <1 (2)

A velocidade com que a diferença entre a inflação prevista e a realizada no período anterior (t-1) será incorporada à expectativa do período t é dada por . Se for próximo de 1 (um), a diferença entre a inflação esperada e a ocorrida no período anterior (t-1) será quase integralmente incorporada à expectativa de inflação para o período t.

Ao contrário do modelo oportunista, os políticos não são idênticos, os membros de partidos de esquerda são mais preocupados com o desemprego e o crescimento e relativamente menos preocupados com a inflação. A justificativa é que eleitores de partidos de esquerda pertencem aos grupos da sociedade mais ameaçados pelo desemprego. Já os membros de partidos de direita têm preferências opostas, pois pertencem a grupos sociais de mais alta renda, e maior qualificação profissional, que são, portanto, menos afetados pelo desemprego, e como em geral possuem poupança financeira, são mais prejudicados pela inflação. As preferências dos partidos refletem as preferências de seus eleitores, e assumem a seguinte forma:

UE = E { t [ -( t – E)2 + bE yt] para partidos de esquerda e; (3) t=0

UD = E { t [ -( t - D)2 + bD yt] para partidos de direita; (4) t=0

onde E D 0 e bE > bD 0. (5)

As utilidades dos partidos de direita e de esquerda são diferentes, e estas diferenças se traduzem em diferentes objetivos de inflação e crescimento econômico, embora ambos prefiram taxas de crescimento mais elevadas e taxas de inflação mais baixas. É preciso fazer a exigência de que crescimento seja mais importante para partidos de esquerda (bE > bD), embora os partidos possam ter objetivos iguais no que diz respeito à inflação.

Para resolver o modelo, algumas hipóteses adicionais são necessárias. Para efeitos de simplificação há apenas dois candidatos ou partidos. Os eleitores, assim como os políticos, possuem preferências diferentes sobre a inflação e o desemprego, e com base nas suas preferências, eles votam no partido que lhes ofereça a mais elevada utilidade esperada. Os políticos têm à sua disposição um instrumento, tal como a política monetária ou a política fiscal que afete a demanda agregada. As datas das eleições são fixadas exogenamente, ou seja, o calendário eleitoral é pré- determinado, não há possibilidade de alteração. Para este modelo funcionar é necessário que, além das preferências diferentes, os partidos efetivamente ajam de forma diferente quando eleitos52. Se os partidos agirem da mesma foram quando eleitos, não haverá nenhuma alteração na taxa de inflação e conseqüentemente, na taxa de crescimento do produto, logo, não será possível verificar nenhuma diferença entre taxas de crescimento, desemprego e inflação sobre os governos dos dois partidos.

Neste modelo os eleitores são retrospectivos, pois votam com base nos resultados para o crescimento e a inflação esperada, que é determinada a partir dos resultados

52

Em eleições com dois partidos, segundo o teorema do eleitor mediano (Person, Tabellini 2000, Drazen 2000b) num sistema bipartidário, as plataformas de partidos que maximizam votos deveriam convergir, e, portanto, não se deveriam esperar diferenças significativas entre os partidos.

passados. Assim como no modelo eleitoral de Nordhaus (1975), os eleitores não utilizam o passado para fazer previsões para o futuro, o que torna válida a mesma crítica feita ao modelo oportunista tradicional sobre por que os eleitores formam suas expectativas apenas com base nos resultados passados, sem levar em conta que os políticos possuem prioridades diferentes. O resultado principal deste modelo é que os dois partidos podem sustentar níveis diferentes de atividade econômica durante seus períodos de governo com taxas de inflação também diferentes. Na teoria partidária com expectativas adaptativas _ modelos tradicionais _ , os políticos de esquerda preferem taxas de crescimento mais elevadas e taxas de desemprego mais baixas, e toleram inflação mais alta que os de direita, cujas preferências são exatamente opostas. Com curvas de Phillips, os políticos são capazes de controlar a política de modo a alcançar seus objetivos. Como já mencionado, com expectativas adaptativas, é possível, no curto prazo, obter taxas de crescimento mais elevadas à custa de taxas de inflação maiores. Isto é, existe trade-off entre inflação e desemprego, representado pela curva de Phillips. No longo prazo não existe dilema algum.