5. MODELOS DE PROCESSOS DECISÓRIOS
5.1 Modelo racional
Segundo Morgan (1996), as modernas organizações são mantidas, ao longo dos tempos, em razão de um sistema de crenças que priorizam a relevância da racionalidade, sendo que esse mito propicia a percepção de alguns padrões de ação como legítimos, confiáveis e dentro de um padrão de normalidade, contribuindo para que sejam evitados embates na disputas por poder e possíveis debates, no caso de cenários incertos, fora a ambigüidade de valores e ações dos indivíduos.
A perspectiva desse modelo é em função da orientação dos objetivos e dos problemas organizacionais, sendo a decisão final balizada por meio de procedimentos e regras que possibilitem a organização atuar de forma racional, minimizando os possíveis riscos.
Motta (2002, p.53) compartilha da mesma opinião, ressaltando ainda que são “os objetivos, a tecnologia e o amb iente em que operam que
determinam as estruturas, os processos e o comportamento das organizações”.
O autor segue sua análise ao afirmar que o aspecto racional é aguçado no momento em que há o reconhecimento de um problema e com isso, na tomada de decisões há o estabelecimento de processo seqüencial, por meio de um fluxo de produção e da criteriosa coleta e análise das informações, que irão resultar na identificação e na escolha das opções, visando alcançar, com eficiência, os objetivos organizacionais, como também obter o engajamento dos participantes nesse contexto.
Já para Habermas (1984), a racionalidade está atrelada ao exercício de três tipos de capacidades humanas: a reflexiva, a crítica e a cooperativa. O autor avalia que a racionalidade consiste na discursividade, na capacidade de argumentação, e no estabelecimento de ações. Por meio da racionalidade há a possibilidade clara de que os indivíduos inseridos nas organizações sejam dotados de uma grande capacidade de análise, no que tange à compreensão dos anseios e dos problemas organizacionais, buscando, assim, cursos de ação que avaliem possíveis conseqüências, ganhos e perdas.
Na concepção de Brasil (1993) esse modelo pode ser visto como a maximização de utilidades, no qual as alternativas e as conseqüências podem vir a ser antecipadas, sendo que a escolha final seria fruto da seleção das ações ou mesmo das alternativas que maximizem a chance da obtenção de maiores valores em termos de preferências.
Para o autor, o modelo racional de tomada de decisões apresenta as seguintes características:
• Aquele que toma as decisões se defronta com um determinado
problema e o separa dos demais ou o compara com outros problemas.
• É feita a seleção e a classificação dos objetivos ou valores em
função de seu nível de importância.
• Todas as opções possíveis para o alcance dos objetivos são
conhecidas.
• É feito o levantamento dos custos e das conseqüências de cada
alternativa.
• As eventuais conseqüências previstas para uma opção de ação
podem ser comparadas com as demais.
• Aquele que toma as decisões escolhe a alternativa que acarreta as
melhores conseqüências para o atingimento dos objetivos pré-estabelecidos.
Simon (1983) atesta que em um processo de tomada de decisões as opções são as formas corretas de se atingir as finalidades desejadas. Além disso, o autor ressalta que as organizações podem vir a ser influenciadas em razão da limitação cognitiva dos indivíduos em processar informações. O autor menciona que as pessoas não maximizam ou otimizam as informações disponíveis, mas ficam satisfeitas pela quantidade de informações que suas mentes podem analisar e interpretar. Por isso, o processo decisório sob o enfoque racional contempla as simplificações da realidade organizacional, em consonância com a capacidade mental dos atores organizacionais.
Dessa maneira, o autor sugere a elaboração de uma espécie de hierarquia de finalidades, com o indivíduo organizacional adequando seu comportamento a um sistema integrado, sendo enfatizado em razão da:
a) Visão panorâmica das opções de comportamento, anteriores à tomada de decisão.
b) Pressuposição de que cada escolha irá gerar uma complexidade de conseqüências.
c) Escolha, propriamente dita, salientando o sistema de valores como critério, de uma alternativa em detrimento das disponíveis.
Podem ser duas as formas de simplificar a tomada de decisões no âmbito organizacional. A primeira delas é a procura por soluções que sejam satisfatórias, ao invés da busca por opções ótimas, minimizando-se, também, o tempo de procura. As soluções satisfatórias consistem no atendimento dos requisitos mínimos, que ao serem atendidos, são finalizadas a procura por novas alternativas. Outra simplificação adotada pelos decisores neste modelo reside na adoção de cursos de ação, de modo que a organização responda aos estímulos ambientais.
Com relação ao aspecto crítico racional, Peters (1986) salienta que a preocupação com o racionalismo acaba por levar as organizações rumo à paralisia, à complexidade, além da dificuldade na busca pela inovação. O autor vai mais além, ao afirmar que o êxito empresarial passa bem longe do racionalismo em excesso.
Outro fator negativo em torno do modelo racional é que muitas das escolhas podem não ser compreendidas ou mesmo serem escolhidas de forma incorreta pelos tomadores de decisão, deixando escapar grandes oportunidades para as organizações, com a possibilidade de perda da eficiência decisória.
Kaufman (apud Motta, 2002) atribui a sobrevivência organizacional em razão do acaso ou da sorte, reverenciando a importância dos aspectos ilógicos e não-racionais, em detrimento do aspecto racional e planejado pelas organizações em se adaptarem ao ambiente na qual estão contidas.
Com relação à aplicabilidade do modelo racional na esfera pública, Brasil (1993) sentencia que este não parece ser o mais viável, pois são grandes
as pressões para que sejam produzidas políticas de forma muito rápida, sem a devida análise, fora a necessidade de operação em um cenário em que há a imposição de compromissos.
Para o autor podem ser elencados cinco fatores impeditivos da tomada de decisões. São os seguintes:
• A grande quantidade de problemas, objetivos e compromissos
políticos que são determinados ou escondidos por meios dos elementos atuantes da unidade administrativa.
• Problemas relativos à coleta adequada de informações sobre a
grande quantidade de objetivos e políticas tidas como “aceitáveis”.
• Necessidades individuais, tarefas, inibições e imperfeições dos
decisores, que possam interferir na sua avaliação dos objetivos e políticas que são aceitáveis do ponto de vista de sua unidade administrativa.
• Dificuldades de cunho estrutural nas unidades administrativas, no
que se refere às relações com os poderes legislativos e executivos do governo.
• O comportamento contraditório de diversos gestores públicos.