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4.3
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O
modelo
Ritual
Mallet


A partir do estudo interpretativo da obra Tetragrammaton IV, evidenciou-se que diversos gestuais presentes na mesma poderiam ser melhor optimizados se a técnica de quatro baquetas fosse empregada no trabalho interpretativo, especialmente a partir da página quatro até o final do primeiro andamento e no terceiro e último andamento quase que na

sua totalidade, exceptuando-se os trechos nas quais são utilizadas as maracas e as duas passagens em que se faz necessário o emprego apenas de duas baquetas. Nessa medida, a proposta pela criação das baquetas Ritual Mallet surgiu como um desdobramento das Ritual Clava, a partir da mesma observação do modelo Marímbrida. Uma das grandes particularidades existentes neste modelo é o perfil necessariamente peculiar dos seus respectivos cabos, por onde as mesmas são empunhadas, permitindo um manejo ao mesmo tempo confortável e eficiente no que se refere à técnica de quatro baquetas.

Fig.12: Baquetas Marímbridas.

O projecto das baquetas Marímbridas teve o seu ponto de partida numa qualidade tímbrica existente nas baquetas Hybrid-Multiperc 27, outro modelo para multipercussão desenvolvido na fábrica Missom.

Fig.13: Baqueta Hybrid-Multiperc.

Eis um breve relato do Professor Miguel Ralha a respeito deste histórico:

[…] em 2005 a MISSOM fez um modelo chamado Hybrid, com o Miguel Bernat [...] que achou

muito interessante o som que estas baquetas produziam na marimba, e sugeriu fazermos uma baqueta que produzisse este som, mas adaptada à técnica de execução com 4 baquetas. O

27 Este modelo apresenta a sua estrutura física similar à duma baqueta de caixa, com uma ponta em formato delgado. O lado oposto apresenta dupla função através duma superfície em borracha, aplicada na região lateral da extremidade, e da estrutura com oito varetas (canas) afixada nesta ponta. Este modelo é um resultado da parceria de investigação entre os Professores Miquel Bernat e Miguel Ralha.

problema foi constatar que, para produzir o som pretendido, a baqueta teria que ter uma massa significativa, mas, para ser tecnicamente exequível, teria que ter um cabo fino e com alguma flexibilidade. Começámos por tentar aplicar um "bolbo" de madeira de Ipê a um cabo de baqueta de marimba, e neste aplicar uma série de 8 canas de bambu com 3,5mm de diâmetro com uma de 4,5mm no centro. Não resultou porque não produzia ainda um som consistente. Não conseguia realçar a fundamental do som da lâmina, e ouvia-se demasiado o som da baqueta. Foi então que decidimos fazer o cabo numa peça só, que começa com um diâmetro de 8,40mm e acaba num cone com 22mm na parte mais larga, onde são implantadas as canas de bamboo, com as medidas referidas. Como as Marímbridas têm três modelos, duro médio e mole, foi necessário fazer três diferentes cabos: O comprimento do cone é de 65, 72 e 80mm respectivamente. Utilizámos a madeira de Hard-Maple canadiano por ser a que melhor permite equilibrar a flexibilidade e a massa.28

Fig.14: Cones dos cabos das Baquetas Marímbridas.

Tendo em vista o recurso alcançado a partir da implementação destes cabos, cogitamos a possibilidade de aproveitar esta concepção e associá-la à extremidade com dois cilindros desenvolvida nas baquetas Ritual Clava. Para isto, o Professor Miguel Ralha realizou novo estudo sobre a estrutura em forma de cone29 que actua no balanceamento das baquetas Marímbridas. Foi necessário estabelecer uma nova estrutura, ligeiramente diferenciada da dos referidos “cones”, assumindo, portanto, uma espécie de forma similar ao duma “taça de champanhe” ou “copo flûte”.

28 Depoimento via correio electrónico em Janeiro de 2010.

29 As Marímbridas possuem os respectivos cones estruturais em extensão até a região articulatória, com formato circular, onde são afixadas as canas (varetas tipo rod-stick), num total de oito, através de pequenos orifícios, muito próximos uns aos outros. Entre a fracção superior do cone e as canas são aplicadas borrachas com distintas características relacionadas aos específicos cones, os quais são equilibrados de acordo com a utilização nas regiões específicas da marimba. Por fim, estas borrachas são envolvidas por lã, conforme os procedimentos correntes no fabrico de baquetas para marimba ou vibrafone.

Fig.15: Cone do cabo – estilo copo flûte – da Baqueta Ritual Mallet.

A respeito das características existentes nos respectivos modelos Ritual Mallet e Marímbrida, constata-se outra diferença, além das respectivas propriedades sonoras pelas quais ambos os modelos se caracterizam. A estrutura da dupla superfície articulatória das baquetas Ritual Mallet apresenta-se integralmente esculpida no corpo total da baqueta, após à referida saliência ilustrada na Fig.15, conferindo-lhe uma sonoridade mais compacta.

4.3.1
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Características
gerais
da
baqueta
Ritual
Mallet


O modelo Ritual Mallet apresenta-se como um desdobramento do modelo Ritual Clava, no intuito de se propiciar uma maior habilidade nas mudanças instantâneas das qualidades tímbricas e articulatórias patentes no modelo anterior, adaptando-se agora à técnica e à linguagem das quatro baquetas. Ainda que ambos modelos se constituam por idêntica extremidade num dos lados – levando, assim, a similaridade de sonoridade –, são naturalmente distintos, pelo facto dos mesmos apresentarem pesos diferentes. Estas características reflectem directamente as necessidades performativas que assim se apresentem, possibilitando-nos optar por um modelo em específico ou pela combinação dos dois, dependendo da necessidade.

Fez-se uso também do “acer canadiano” para se confeccionar a Ritual Mallet, pela necessidade de ser flexível e com a densidade necessárias para o seu fabrico. Isso porque o cabo delgado da baqueta para multipercussão em questão constitui-se de uma única peça de madeira em conjunto com as estruturas descritas anteriormente. A flexibilidade da

madeira, necessária para o fabrico desta baqueta, se evidencia na versatilidade alcançada com a mesma na performance musical. Tais baquetas comportam-se a favor do gestual musical, o que facilita o trabalho do músico, devido à sua flexibilidade. Além disso, as duas baquetas juntas, numa única mão, conferem peso satisfatório para uma articulação consistente, sem que haja decréscimo quanto à quantidade de som.

O modelo Ritual Mallet pode nos auxiliar, portanto, na construção de gestos mais complexos, por ser um modelo de quatro baquetas que prioriza a experimentação tímbrica com multipercussão. Pode-se, com este modelo, percorrer mais facilmente uma dada configuração instrumental extensa e melhor adequar-se aos pormenores que se apresentem, tanto em questões de heterogeneidade entre os instrumentos, quanto numa maior clareza para com as dinâmicas e na elaboração dum laborioso gestual.

Ao utilizarmos apenas um par destas baquetas, podemos empregar as características articulatórias já evidenciadas em situações de extrema leveza quanto às dinâmicas. Esta possibilidade contribui para a performance do intérprete ao conciliar uma exploração tímbrica do instrumental a episódios com muita subtileza.

4.3.2
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Características
específicas
da
baqueta
Ritual
Mallet


Apresenta a mesma massa volumétrica de 700kg/m3, preservando as mesmas medidas das duas superfícies cilíndricas presentes nas baquetas Ritual Clava (cf. p.61 no subitem 4.2.4). Com o comprimento (c.) total de 39,5 cm, o cabo inicia-se recto – com um diâmetro (d.) de 8,4 mm – até o ponto corresponde à 26 cm de comprimento, quando começa a consolidar uma estrutura em formato de “copo flûte”, alargando progressivamente seu diâmetro até, no topo, apresentar um valor de pouco mais de 18 mm, onde se forma a zona 2. O peso médio total da baqueta (a unidade) oscila em torno de 30 a 35 gramas, a depender dos materiais.

c. total 39,5 cm

d. 8,4mm c. 26cm d. 18mm

Fig.16: Baqueta Ritual Mallet.