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4.6 PRINCIPAIS MODELOS DE CAPACIDADE ABSORTIVA

4.6.2 Modelo de Zahra e George

Os autores Zahra e George (2002) entendem que as quatro capacidades organizacionais de aquisição, assimilação, transformação e explotação de conhecimentos baseiam-se umas nas outras para dar passagem a CA – uma capacidade dinâmica que influencia as capacidades que a organização tem de criar e implementar o conhecimento necessário para a construção de outras capacidades organizacionais (ex.: marketing, distribuição e produção).

A distinção teórica entre CAPotencial e CARealizada é importante ao avaliar suas contribuições únicas para a vantagem competitiva de uma organização. Em primeiro lugar, essa distinção ajuda a explicar porque algumas são mais eficientes que outras. Em segundo lugar, as forças endógenas e exógenas podem diferencialmente influenciar a CA potencial e realizada, indicando que diferentes papeis gerenciais são necessários para promover esses dois componentes. E em terceiro lugar, a distinção entre CAP e CAR fornece uma base para observar e examinar os caminhos fluidos e não lineares que as organizações podem seguir ao desenvolver suas competências essenciais.

Na sequência os autores Zahra e George (2002) apresentam na figura n.3, um modelo teórico para o construto CA conforme o seguinte:

b. Experiência;

c. Gatilhos internos e externos de ativação; d. Os mecanismos de integração social; e. O regime de apropriabilidade; f. Vantagem competitiva.

Figura 4 – Modelo de CA de Zahra e George

Fonte: Zahra e George (2002, p. 192, traduzido)

a. Fontes de conhecimento e complementaridade – A figura n.4 sugere que as fontes de conhecimento externo relevante - anteriores, em várias formas, influenciam significativamente a CA potencial. O conhecimento externo inclui aquisições, licença, contratos, relações interorganizacionais, entre outras. De acordo com Zahra e George (2002 p.191) os resultados de pesquisas confirmam que

A amplitude e profundidade da exposição do conhecimento influenciam positivamente a propensão de uma organização a explorar conhecimentos novos e relacionados. As firmas adquirem conhecimento a partir de diferentes fontes em seu ambiente, e a diversidade dessas fontes influenciam significativamente as capacidades de aquisição e assimilação que constituem a capacidade absortiva potencial.

A exposição a diversas fontes de conhecimento não necessariamente leva ao desenvolvimento da CA Potencial, especialmente se essas fontes tem baixa complementaridade de conhecimento com a firma (ZAHRA; GEORGE, 2002). “Quanto maior é a exposição da organização a diversas e complementares fontes de conhecimento, maior é a oportunidade que a organização tem de desenvolver sua CA potencial” (p.193).

b. Experiência – É possível afirmar de acordo com diversos autores que, em geral, as organizações buscam por informações em áreas onde tiveram sucesso no passado. Direcionando as áreas de busca do conhecimento, a experiência passada influencia o desenvolvimento de futuras capacidades de aquisição. A experiência é o produto da leitura ambiental, benchmarking, interações com clientes, alianças com outras organizações ou também adquiridas por meio de aprendizado com a prática. Também está intensamente conectada com a memória organizacional que influencia a cognição gerencial, que eventualmente determina a capacidade de uma organização de gerenciar conhecimento (ZAHRA; GEORGE, 2002). Assim “a CAPotencial de uma firma é uma capacidade dependente de caminho que é influenciada por suas experiências passadas que são internalizadas como memória organizacional” (p. 193).

c. Gatilhos de ativação – Conforme indicado no fig. 4, são eventos que estimulam ou compelem uma organização a responder a estímulos internos ou externos específicos. Gatilhos internos poderiam estar associados a crises organizacionais (ex. falha no desempenho) ou importantes eventos que redefinem a estratégia de uma organização (ex. fusões). Gatilhos externos são eventos que podem influenciar o futuro da firma, podem incluir inovações radicais, mudanças tecnológicas, emergência de algum projeto, mudanças em política de governo, entre outras. Gatilhos internos ou externos induzem ou intensificam os esforços de uma organização para procurar por conhecimento externo (ZAHRA; GEORGE, 2002).

Os gatilhos de ativação influenciarão a relação entre a fonte de conhecimento e experiência e a CAPotencial. A fonte de um gatilho de ativação influenciará o lócus de busca de novas fontes de conhecimento enquanto a intensidade do gatilho

influenciará os investimentos em

desenvolvimento de capacidades de aquisição e assimilação (ZAHRA; GEORGE, 2002, p. 194).

d. Mecanismos de Integração Social – Outro elemento que compõe a fig. 4 do modelo de CA são os mecanismos de integração social que visa facilitar o compartilhamento, a explotação e utilização de conhecimentos relevantes. A integração social propicia o compartilhamento, difusão e a assimilação de conhecimentos que poderá ocorrer formal ou informalmente como também facilitam o fluxo livre de informações. Mecanismos informais são úteis na troca de ideias, mas mecanismos formais têm a vantagem de ser mais sistemáticos. “Os mecanismos de integração social baixam as barreiras para o compartilhamento de informações enquanto aumentam a eficiência de capacidades de assimilação e transformação” (ZAHRA; GEORGE, 2002, p. 194).

e. Regime de Apropriabilidade – um fator que pode afetar a vantagem competitiva sustentada de uma firma é o regime de apropriabilidade que domina a indústria. Este se refere à dinâmica institucional e da indústria que afeta a capacidade da organização de proteger as vantagens (e se beneficiar) de novos produtos ou processos. O regime de apropriabilidade regula a relação entre a CARealizada e a vantagem competitiva sustentável e na afirmação de Zahra e George (2002).

Quando a apropriabilidade é baixa (isto é, há um alto nível de spillovers de conhecimento), os investimentos em CAPotencial provavelmente serão baixos (ZAHRA; GEORGE, 2002, p. 196). [...] Quando existe um forte regime de apropriabilidade, as firmas patentearão suas inovações e protegerão os fluxos de receita surgidos das inovações (p. 196). [...] as indústrias tem que fazer mais esforço ao construir sua capacidade absortiva para desenvolver suas próprias capacidades de inovação, mais que depender de informações e possíveis spillovers de conhecimento de outras firmas (p.197).

Quando uma empresa é confrontada com um regime fraco de apropriabilidade, a aquisição de novos conhecimentos externos será baixa porque a imitação de produtos ou serviços inovadores por rivais pode ser o caso. Regimes fortes implicam que a imitação provavelmente é mais difícil [...] por causa dos custos para replicação de conhecimentos, levando a diferenças de desempenho e vantagem competitiva entre firmas (ZAHRA; GEORGE, 2002).

f. Vantagem Competitiva sustentável – Enquanto há várias formas de uma organização alcançar a vantagem competitiva, duas das mais importantes nos mercados dinâmicos são a inovação e a flexibilidade estratégica (ZAHRA; GEORGE, 2002). As capacidades de transformação e de explotação que a CARealizada engloba tem mais probabilidade de alcançar vantagem competitiva e de influenciar o desempenho da firma por meio da inovação do produto e do processo. Ainda segundo o autor as firmas com capacidades bem desenvolvidas de aquisição e assimilação CAPotencial têm mais probabilidade sustentar uma vantagem competitiva por serem mais hábeis em renovar continuamente seu estoque de conhecimento (flexibilidade) detectando tendências no seu ambiente externo (principalmente em mercados em constante mutação) e internalizando esse conhecimento. A contribuição dos autores Zahra e George (2002) foi além da distinção dos dois subconjuntos da CA. Propuseram a inclusão da quarta componente ampliando o conceito. Incorporaram as três dimensões sugeridas por Cohen e Levinthal (1990) que são a identificação (reconhecimento), a assimilação e a comercialização (aplicação) do conhecimento externo e acrescentaram a dimensão “transformação do conhecimento”. Essas dimensões compõem os dois subconjuntos da CA proposto pelos autores sendo, CA potencial formada pelos componentes aquisição e assimilação de novo conhecimento, e CA realizada constituída pelos componentes transformação e explotação do novo conhecimento externo. Definiram capacidade absortiva como o conjunto de rotinas organizacionais e processos pelos quais as organizações adquirem, assimilam, transformam e exploram o conhecimento para produzir uma capacidade organizacional dinâmica.