• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II NEOLIBERALISMO E FORMAS MODERNAS DE

2.1. Modelos de aprisionamento pelo capital

O modo de produção capitalista é uma forma organizacional da sociedade caracterizada por separar os donos dos meios de produção (máquinas, matérias primas e etc.) dos produtores diretos das mercadorias, que submetem-se a venda da sua força de trabalho para ter acesso ao salário, permitindo sua subsistência.

Essa divisão enquadra-se como a base da divisão da sociedade capitalista, com o antagonismo entre a classe burguesa exploradora e os trabalhadores explorados.

O trabalho passa a ser, nesse contexto, alienado, eis que os trabalhadores assalariados passam a ser apenas operadores dos mecanismos de produção, colocando sua força de trabalho à venda, passando a ser interpretada como uma mercadoria, de modo a subordinar-se, assim, o trabalho ao capital.

Os modelos de aprisionamento pelo capital perpassam pela formação do capitalismo e se desenvolvem com sua efetivação na sociedade. Diante disso, é imprescindível observar como ocorreu o desenvolvimento desse modelo para melhor compreensão do tema.

Os primeiros passos de formação do capitalismo decorrem da crise do regime feudal, nos séculos finais da Idade Média, em que meios de trabalho artesanais baseados na servidão entre senhores e servos gradativamente foram perdendo espaço para pequenos produtores independentes, verificando-se o surgimento da manufatura.

Nessa forma de organização da produção, a habilidade manual do trabalhador ainda é determinante, eis que ele controla o ritmo e o processo produtivo por possuir os conhecimentos técnicos necessários para desempenhar tal serviço, de modo que o empregador não consegue ainda impor-lhe devidamente o ritmo e as tarefas segundo sua vontade, caracterizando nesse primeiro plano uma subordinação formal ao capital.

A troca de mercadorias proporciona ao dono dos meios de produção um lucro, que para alguns estudiosos do capitalismo, como o alemão Karl Marx, advém da mais-valia, caracterizada pelo contraste entre o valor pago ao trabalhador em referência ao valor total que ele produziu no exercício de seu trabalho, sendo apoderado pelo capitalista como resultado de um trabalho não remunerado.

Com o desenvolvimento da produção e organização do capitalismo, sobretudo com o emprego do trabalho assalariado em proveito da mais valia, surge na Europa entre o século XVIII e XIX, a Revolução Industrial, em que o operário passa a ser sujeito passivo no

35 processo, tendo em vista que a habilidade manual de um trabalhador especializado e ativo deixa de ser necessária para que passe acompanhar a produção das máquinas.

Tal particularidade proporcionou dependência do trabalho ao capital, uma vez que não há a necessidade de habilidades especiais para efetuar o trabalho como anteriormente ocorria, de modo que se tornou possível inserir mulheres e crianças ao mercado de trabalho, ampliando a mão de obra atuante.

A máquina foi fundamental para aumentar a escala de produção, visto que houve o crescimento do mercado. Para isso, o capitalista precisa reinvestir muitas vezes em expansão em detrimento de aproveitar seus lucros em prazeres.

Tal ideologia é observada com o escritor David Harvey, no livro “O Enigma do Capital e as crises do capitalismo”, assim dispondo sobre o tema: “Se eu, como capitalista, não reinvestir em expansão e um rival o fizer, então depois de um tempo eu provavelmente estarei fechando as portas. Preciso proteger e expandir minha participação no mercado.” (2011, p. 43).

Assim, há a forte presença da competitividade em busca de estar passos a frente do concorrente, a fim de não ser devorado pelo mercado.

Nesse sentido, Harvey demonstra como ocorre o ciclo vicioso do capital que alimenta esse sistema ao estabelecer que “à medida que mais e mais excedente criado ontem é convertido em capital novo hoje, mais e mais dinheiro investido hoje vem dos lucros obtidos ontem.” (2011, p. 48).

Além disso, houve o deslocamento do controle do processo de produção para os capitalistas, retirando-o de vez dos operários, ocasionando numa desvalorização da força de trabalho, pois reduziu o tempo de serviço.

Esses fatores possibilitaram a diminuição dos custos com a produção, de modo a viabilizar a competição com os rivais no mercado e gerar lucros cada vez maiores ao empregador.

Por conseguinte, iniciou-se um processo de desenvolvimento tecnológico dessa máquina-individual, eis que sua criação era de forma manual e manufatureira, passando a máquina a produzir ela própria.

Tal fato permite compreender que o trabalhador perde integralmente seu controle sobre os processos de produção para o capitalista, devendo se adaptar aos instrumentos ativos de trabalho, que agora são as máquinas.

36 Nesse ínterim, no início do século XIX, surge um método de produção respaldado em bases científicas que busca extrair o melhor rendimento de cada trabalhador, marcado pelo aperfeiçoamento dos custos com a produção, padronizando as atividades e melhorando o aproveitamento do tempo de execução laboral, denominado de Taylorismo.

Esse modelo objetiva principalmente controlar as linhas de produção por meio dos requisitos supramencionados e não preocupa-se necessariamente com as inovações tecnológicas, tornando-se essencial para expandir a produtividade e o lucro.

Nesse ínterim, surge o Fordismo, termo criado pelo empresário norte-americano Henry Ford em 1914, caracterizando-se por um modelo de produção baseado em linha semiautomática em massa, possibilitada pelos fortes investimentos em maquinários e instalações industriais. No entanto, a quantidade de produtos colocados no mercado não acompanha a qualidade, e, além disso, há a possibilidade de contratar e dispensar descomplicadamente a mão de obra.

No decorrer do século XIX e início do século XX, cada vez mais que se desenvolvia o capitalismo, que acarretava a grandes acumulações de capital e concentração econômica, diversos trabalhadores passaram a lutar por melhorias nas condições de vida e de trabalho em razão da miséria que os assolava devido, sobretudo, a mais valia.

Diante disso, inúmeros sindicatos e associações foram criados em busca de garantia de direitos, assim como houve disputas pelo poder político e econômico no Estado e nas empresas para que representantes dessas classes chegassem ao poder.

Dentre esses embates, surgem no início do século XX diversas manifestações contra o capitalismo, destacando-se a Revolução Russa de 1917, implementando o socialismo, modelo este de organização social contraposto ao capitalista, baseando-se na diretriz de que o Estado controlaria e planejaria toda a produção econômica da sociedade, organizando o social a partir desse ideal.

O Estado como proprietário dos meios de produção, segundo o ideal socialista, proporcionaria o fim da exploração da mais-vaia, uma vez que não haveria o controle da iniciativa privada.

Nesse sentido, ao analisar o desenvolvimento do modelo capitalista é possível observar que as novas formas desse sistema complementam as antigas, aperfeiçoando-as, e que, apesar de ter gerado muitas riquezas e contribuir tanto economicamente quanto tecnologicamente para a sociedade - se tornando um modelo econômico e social hegemônico-,

37 o capitalismo prejudicou inúmeras culturas e estruturas socioeconômicas, provocando intensa desigualdade social.

Dentre os aspectos negativos que sujeitaram os indivíduos ao capital, há um significativo problema caracterizado pela divergência de interesses entre os detentores dos meios de produção e os trabalhadores assalariados, em que há a exploração da mão de obra visando uma maior lucratividade e acúmulo de dinheiro por parte dos empregadores, enquanto que os explorados buscam melhores condições de trabalho, com aumento de seus salários, redução da jornada de trabalho e condições salubres de emprego, dentre outras.

Com a produção em massa caminhando paralelamente ao consumo, a obtenção de matéria-prima deve acompanhar tal avanço, fato este que desencadeou devastações desmedidas ao meio ambiente.

Nesse liame, é possível apontar que a exploração da força de trabalho gera o aumento da desigualdade econômica, tendo em vista a concentração de renda nas mãos de poucos indivíduos, em razão da busca desenfreada por lucros.

Consequentemente, com o objetivo de consumo para funcionar o mecanismo capitalista, diversos métodos são utilizados de modo a influenciar que as pessoas ampliem o consumo, como a utilização de anúncios de publicidade, fazendo com que bens materiais sejam até mesmo mais importantes do que valores humanos.

Os interessados na manutenção do capitalismo pregam que para consolidá-lo não há outras formas eficientes de sistemas fora deste modelo, de modo que demonstra ser a única possibilidade de ordem econômica disponível por reprimir os demais modelos da sociedade.

Soma-se a isso, o aprisionamento advindo da rotina cansativa que o sistema capitalista proporciona a muitos trabalhadores, privando-os de horas livres, extremamente reduzidas, para lazer e descanso, o que gera indivíduos estressados, infelizes, prejudicando sua qualidade de vida e saúde, além de submeter muitas pessoas a ambientes confinados ao longo da vida - como escolas e escritórios -, submetendo os indivíduos muitas vezes a regras autoritárias e coerção.

Essas horas livres que o trabalhador tem são direcionadas ao consumo, sujeitando os indivíduos às vontades do mercado e das grandes corporações, até mesmo sendo expostos a publicidades constantes diante dos veículos de comunicação, expondo ideais, como por exemplo, de que comprando determinado produto a pessoa se sentirá mais feliz.

Por fim, a dependência do dinheiro para ter qualidade de vida propagada pelo sistema capitalista prende, muitas vezes, os indivíduos a condições de trabalho que detestam, assim

38 como a receber salários incompatíveis com a força de trabalho desempenhada nas suas funções.

Documentos relacionados