• Nenhum resultado encontrado

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.4. Modelos de Corporate Governance

A legislação portuguesa estabelece, no art.º 278 do Código das Sociedades Comerciais três modelos de governo das sociedades. O modelo monista ou clássico, o modelo anglo-saxónico e o modelo germânico.

2.4.1 O Modelo Monista (Clássico ou Latino)

Segundo o Código das Sociedades Comerciais, o modelo monista, clássico ou latino de Corporate Governance compreende a seguinte estrutura de administração e fiscalização:

 O Conselho de Administração ou administrador único (nos casos em que o art.º 390.º o admite);

 O Conselho Fiscal ou Fiscal Único - art.º 278.º/1, a) (quando exista conselho fiscal, nos termos do art.º 413.º, o ROC pode integrar o conselho fiscal ou ser autónomo em relação a este, sendo a segregação de funções obrigatória nos casos das sociedades anónimas de grandes dimensões e sociedades cotadas - art.º 413.º/ 2, a)).

Batista (2009) considera o modelo latino constituído por três órgãos, a Assembleia Geral, o Conselho de Administração (incluindo membros executivos e não executivos) e o Conselho Fiscal, constituído por membros maioritariamente independentes. Os membros do concelho fiscal têm de possuir qualificações e experiência suficientes para o desempenho da função. Um membro é considerado independente quando não está associado a qualquer grupo de interesses nem se encontra em situação suscetível de afetar a sua isenção.

Para Crowther e Sefi (2011) o modelo latino baseia-se no contexto da família e da comunidade local, em membros da mesma família e não num superior hierárquico.

Neste modelo a organização fundamenta-se numa responsabilidade social contínua e forte, sendo a característica mais importante a unificação da gestão com a monitorização dentro do mesmo órgão (Batista, 2009).

A decisão final da composição dos órgãos do controlo e gestão é feita em assembleia-geral pelos acionistas, tendo, no entanto, a Assembleia Geral o poder de remover a qualquer momento os membros do Conselho de Administração.

26 Silva et al. (2006) referem que a aprovação das contas para submissão à assembleia de acionistas é da responsabilidade do Conselho de Administração, o qual reserva também para si a aprovação da política estratégica e algumas das decisões mais importantes no que respeita à sua concretização.

Deste modo, o modelo latino, considerando a existência da Comissão Executiva, acaba por recriar uma dupla instância de tomada de decisões e por criar condições para que a instância superior, o Conselho de Administração, supervisione e controle a instância inferior, a comissão executiva.

Batista (2009) considera que este modelo não é aconselhado para sistemas com grupos de acionistas fortes e controladores, pois pode conduzir a problemas de agência elevados entre os acionistas. Na Figura 2 observa-se a estrutura do modelo latino.

Figura 2 – Modelo Monista (Adaptado: Batista 2009)

2.4.2 Modelo Anglo-Saxónico

No Código das Sociedades Comerciais, o modelo anglo-saxónico inclui:  O Conselho de Administração e, dentro deste,

 A Comissão de Auditoria (composta por um mínimo de três administradores não executivos - art.º 423.º-b/2 do CSC);

 Um ROC (art.º 278.º/1, b) e artºs. 423.º-B e 423.º-H do CSC).

A fiscalização é endógena, a cargo dos membros do Conselho de Administração (membros da comissão de auditoria), os quais são simultaneamente administradores e fiscalizadores.

27 Para Crowther e Sefi (2011), o modelo Anglo-Saxónico é considerado o modelo predominante na maioria das empresas em todo o mundo.

Batista (2009) defende que o modelo anglo-saxónico é constituído por três órgãos: a Assembleia Geral, o Sistema Fiscal e o Conselho de Administração, este último incorporando uma Comissão de Auditoria e um Revisor Oficial de Contas. A fiscalização da atuação do conselho de administração é realizada pelo próprio órgão e não por nenhum órgão diferente. A principal vantagem deste modelo reside no facto de a pessoa que fiscaliza deter um fácil acesso a toda a informação relevante. Os membros da Comissão de Auditoria não podem ser removidos por simples decisão da Assembleia Geral, sendo necessário reunir três condições: justa causa; resolução da Assembleia Geral; e aprovação pelo tribunal da resolução da Assembleia Geral.

Estes mecanismos foram criados para proteger a independência das pessoas que desempenham a função de controlo e conseguindo menos problemas de agência, dada a independência entre os órgãos de fiscalização e da gestão.

Na Figura 3 apresenta-se a estrutura do modelo anglo-saxónico.

Figura 3 - Modelo Anglo-Saxónico (Adaptado: Batista 2009)

2.4.3 O Modelo Dualista (ou Germânico)

O modelo germânico compreende:

 O Conselho de Administração Executivo;

 O Conselho Geral e de Supervisão, o qual tem, essencialmente, poderes de fiscalização, mas também algumas competências de administração;

Modelo Anglo-Saxónico

Conselho de Administração

ROC Comissão Executiva Comissão de Auditoria

28  Um ROC (art.º 278.º/1, c));

 As funções de administração estão divididas entre o Conselho de Administração Executivo e o Conselho Geral e de Supervisão (o qual, em certas matérias concorre com a Assembleia Geral).

Para Batista (2009), este modelo é constituído por quatro órgãos: a Assembleia Geral, o Conselho Geral, o Conselho Executivo e o ROC.

O Conselho Geral é composto por membros eleitos pela Assembleia Geral que podem ser ou não acionistas. O Conselho Executivo é composto por membros eleitos pelo Conselho Geral ou pela Assembleia Geral.

Neste modelo existe uma maior separação entre a gestão e os detentores da empresa, porque os membros do Conselho Executivo podem não ser diretamente nomeados pela Assembleia Geral. O poder da Assembleia Geral é limitado a dois poderes, que são a alteração dos estatutos e a nomeação ou destituição dos membros do Conselho Geral de Supervisão.

Para Silva et al. (2006), a principal característica deste modelo é a limitação da participação dos acionistas na tomada de decisões para a empresa. O modelo dualista visa criar uma estrutura intermédia entre a Assembleia Geral e os gestores executivos, a qual, além de outras funções, deve desempenhar um papel de fiscalização e de controlo dos administradores executivos e, consequentemente, dos acionistas a quem esses administradores reportem. Silva et al. (2006) consideram ainda que, nas tarefas do Conselho Geral, se inclui a avaliação do desempenho dos membros da direção. Deste modo, os acionistas reúnem normalmente uma vez por ano para avaliar o trabalho do Conselho Geral e da Direção. A Figura 4 representa a estrutura do modelo dualista.

29