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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.3. O Corporate Governance em Portugal

Em Portugal, as estruturas de Corporate Governance que as sociedades anónimas podem adotar encontram-se previstas no Art.º 278º/1 do Código das Sociedades Comerciais, distinguindo-se três modelos: clássico/latino, dualista e anglo-saxónico. Mais concretamente, o modelo clássico/latino comporta um conselho de administração, um conselho fiscal e um ROC. O modelo dualista prevê a existência de um conselho de administração executivo (managing board) e de um conselho geral e de supervisão (supervisory board), a que se adiciona um ROC. O modelo anglo-saxónico, por sua vez, contempla um conselho de administração, uma comissão de auditoria (audit committee) e um ROC.

O panorama reconhecido neste ponto pela CMVM identifica o domínio do modelo latino entre as empresas cotadas na Euronext Lisbon no final de 2014, conforme a Figura 1.

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2.3.1 O Governo Societário do Código das Sociedades Comerciais

Sem uma preocupação excessiva de sistematização, destacam-se os seguintes princípios fundamentais de Corporate Governance estabelecidos no CSC:

1. O direito à informação, consagrado no art.º 21 n.º1 al. c) e no art.º 288 e seguintes do CSC. O exercício dos direitos dos acionistas depende do rigor e da transparência da informação; 2. Os modelos de estrutura de organização e fiscalização das sociedades. O legislador português, consagra no art.º 278 do CSC três modelos. O modelo monista ou clássico que compreende um conselho de administração e um conselho fiscal; o modelo anglo-saxónico composto pelo conselho de administração no qual é parte integrante uma comissão de auditoria e um revisor oficial de contas e, por último, o modelo germânico, composto por um conselho de administração executivo, conselho geral e de supervisão e revisor oficial de contas;

3. Os diversos direitos dos acionistas. Direito à informação, à participação nas assembleias gerais, o direito de eleger e destituir membros dos órgãos sociais e de participação nos lucros; 4. A vinculação dos administradores a um dever de cuidado e de lealdade e de diligência, nos termos do art.º 64 do CSC. O tema do dever de diligência dos administradores é central no Corporate Governance;

5. A responsabilidade dos administradores. As normas relativas à responsabilidade civil dos administradores, prevista no art.º 72 e seguintes do CSC. A gestão de uma administração implica um risco diferente do assumido pelo acionista. No decurso da sua função, o administrador pode, por ação ou omissão, praticar um ato que provoque um dano à sociedade e, por isso, ser obrigado a um ressarcimento de quem sofreu um dano (Ferreira, 2009).

2.3.2 O Governo Societário do Instituto Português de Corporate

Governance

O Código de Governo das Sociedades, do Instituto Português de Corporate Governance, na edição de 2018 (versão eBook), afirma, no seu preâmbulo, que, apesar da aplicação do Código não se circunscrever a um conjunto determinado de sociedades, os seus destinatários naturais são as sociedades abertas, particularmente as emitentes de ações admitidas à

23 negociação em mercado regulamentado, obrigadas que estão a adotarem um código de governo das sociedades. O Código é de adesão voluntária e a sua observância assenta na regra comply or explain18.

Situando-se num plano muito distinto do legal, o Código assenta numa articulação sistemática com o regime jurídico do mercado de capitais e das sociedades comerciais, estabelecendo com a lei uma relação de complementaridade harmoniosa.

Sem assumir carácter injuntivo, o Código procura induzir nas sociedades práticas que se revelem conformes com as orientações que, no plano nacional e internacional, são reconhecidas como de bom governo. Neste sentido o Código constitui, por um lado, um complemento à ordem jurídica e, por outro, um guia de bom governo societário.

O código tem como princípio geral a defesa do governo societário no sentido de promover e potenciar o desempenho das sociedades, bem como do mercado de capitais, e sedimentar a confiança dos investidores, dos trabalhadores e do público em geral na qualidade e transparência da administração e da fiscalização e no desenvolvimento sustentado das sociedades.

O código encontra-se estruturado em sete capítulos:

 Capítulo I. Parte Geral, compreendendo a relação da sociedade com os investidores e a informação; a diversidade na composição e funcionamento dos órgãos da sociedade; a relação entre os órgãos da sociedade; os conflitos de interesses; e as transações com partes relacionadas.

 Capítulo II. Acionistas e Assembleia Geral.

 Capítulo III. Administração Não Executiva e Fiscalização.  Capítulo IV. Administração Executiva.

 Capítulo V. Avaliação de Desempenho, Remunerações e Nomeações, incluindo a avaliação anual de desempenho, as remunerações, a remuneração dos administradores e as nomeações.

 Capítulo VI. Gestão de Risco.

 Capítulo VII. Informação Financeira, compreendendo a informação financeira, a revisão legal de contas e a fiscalização.

Cada capítulo e itens do código englobam um princípio e um conjunto de recomendações que definem as bases éticas e as boas práticas no contexto do respetivo títuloii.

18 Ver Nota xii

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2.3.3 O Governo Societário da CMVM

O Código de Governo das Sociedades da CMVM (2013) foi revogado em 31 de dezembro de 2017, por via da entrada em vigor do Código do Instituto Português de Corporate Governance de 2018, na sequência da assinatura de um protocolo de entendimento entre a CMVM e o IPCGiii.

Este protocolo de entendimento estabelece que os princípios e recomendações do governo societário da CMVM se encerram no Código de Governo das Sociedades do IPCG.

2.3.4 O Governo Societário do Banco de Portugal

Para o Banco de Portugal, o governo societário inclui as pessoas, estruturas, sistemas, normas e procedimentos utilizados para assegurar a direção e o controlo de uma instituição e as instituições devem garantir, a nível individual e consolidado, que o seu governo societário se encontra dotado de estruturas de governo, estruturas de incentivos e pessoas que promovam uma gestão sã e prudente19.

O BdP considera ainda que as instituições podem optar entre os três modelos de governo previstos no Código das Sociedades Comerciais: clássico, germânico e anglo-saxónico e que é da responsabilidade das instituições serem capazes de justificar, do ponto de vista prudencial, em cada momento, o seu modelo de governo, bem como a eventual decisão de o substituir20. As instituições a que se refere o Banco de Portugal dizem respeito ao sistema financeiro português, Bancos, Sociedades Financeiras e outros organismos que operam no mercado sob a sua tutela.

Para o BdP qualquer modelo de governo adotado deverá incluir uma função deliberativa, uma função de administração e uma função de supervisão interna, competindo à instituição assegurar que os órgãos responsáveis por cada uma das funções de governo, e o modelo de governo como um todo, funcionem adequadamente, promovendo uma gestão sã e prudenteiv.

19 Banco de Portugal - Supervisão do governo societário e do sistema de controlo interno, 4/08/2018 20 Idem

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