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Modelos de Financiamento de Saúde Coletiva

2.2 Modelos de Sistemas de Saúde e de seu Financiamento

2.2.3 Modelos de Financiamento de Saúde Coletiva

O SUS, instituído pela CF/88, tem por missão garantir serviços e ações de saúde a todos os brasileiros, mediante políticas sociais que visem à promoção, proteção e recuperação da saúde do cidadão. O sistema de saúde brasileiro, denominado Universal e gratuito, é, portanto, um dos modelos de sistema de saúde, que se assemelha a outros, também universais;

no entanto, para muitos autores (UGÁ; PORTO; PIOLA, 2014), o sistema de saúde brasileiro, passados quase 30 anos, é ainda considerado “em desenvolvimento”.

Santos, Delduque e Alves (2016) escrevem que política de saúde no Brasil compreende a atuação do público (SUS), do privado (suplementar) e, mais ainda, compreende a atuação do privado no público (complementar) e do público no privado (regulação, fiscalização, vigilância).

O pleno funcionamento do sistema depende de recursos necessários, conforme descrevem Ugá, Porto e Piola (2014); portanto, o financiamento de sistemas de saúde diz respeito às fontes de recursos por meio das quais se dá o gasto em saúde de uma dada sociedade. Esse gasto pode ser efetuado pelo Estado (nas distintas esferas de governo, por meio de tributos ou empréstimos e doações internacionais), pelas famílias (pela compra direta de serviços de saúde, mediante pagamento pela aquisição de planos privados de saúde) e, também, pelas empresas (quando participam do ônus financeiro da compra de planos de saúde coletivos para seus empregados).

Assim, “os modelos de financiamento do setor saúde têm forte correspondência com o modelo de sistema de saúde a que pertencem” (UGÁ, PORTO, PIOLA, 2014, p. 399); como bem se observa, numa visão holística, notam-se os vários sistemas de saúde e, consequentemente, seus financiamentos, de acordo com as perspectivas e as necessidades de cada local, que justificam suas ações e funcionamento, e podem se dividir em:

(a) Modelo 1: Um sistema de seguro social que, em sua origem, tem as caixas ou os institutos de previdência social constituídos por grupos fechados; recortados, em razão da pertinência de cada indivíduo a determinado grupo. Têm como principal fonte de financiamento as contribuições individualizadas, compulsórias, proporcionais à renda, que se incidem sobre a folha de salário, advindas dos trabalhadores e/ou das empresas que os contratam. “Os sistemas de seguro social em saúde tipo bismarckiano têm financiamento baseado nas contribuições de empregados e empregadores e, em seus primórdios, em geral, foram segmentados por categoria funcional” (GIOVANELLA, LOBATO, 2014).

(b) Modelo 2: O seguro privado, assinalam Ugá, Porto e Piola (2014), são contribuições obrigatórias. Ocorre redistribuição entre os segurados de maior e menor renda e entre doentes e sadios; esse financiamento refere-se a uma categoria profissional ou a certo setor de atividades.

(c) Modelo 3: Os sistemas de saúde de cunho liberal, conforme explica Piola (2005), deixam em mãos do mercado o acesso aos serviços, tendem a ser financiados predominantemente pelo gasto privado, tanto o direto (pelo desembolso direto no ato do

consumo de serviços de saúde) como o decorrente da compra de planos e seguros de saúde privados.

(d) Modelo 4: Os sistemas de saúde, regidos pela lógica da seguridade social, que Giovanella e Lobato (2014) descrevem como os sistemas nacionais de saúde, de acesso universal, são os chamados sistemas beveridgianos e são predominantemente financiados por recursos públicos provenientes de impostos gerais, esse sistema é inspirado em princípios de justiça social, que visa proteção integral e universal gratuitos.

Importante descrever os sistemas que são custeados por recursos privados, provenientes da renda das famílias e das empresas. Ugá, Porto e Piola (2014)defendem que as famílias gastam em aquisição de seguros e planos privados em saúde, na compra de bens e serviços de saúde através do gasto direto (out-of-pocket); os autores assinalam as características inerentes aos seguros e planos privados de saúde, que são: (i) “o seguro puro”, predominantemente modelo de saúde de cunho liberal, no qual a saúde é fundamentalmente do indivíduo; (ii) o denominado “seguro substitutivo”, que é um seguro alternativo disponível àquelas pessoas que optem por se retirar do acesso ao sistema nacional de saúde (casos, por exemplo, da Holanda e do Chile); (iii) o seguro “suplementar”, mediante o qual os cidadãos compram um seguro ou plano de saúde que lhes proporciona, fundamentalmente, diferenciais na “hotelaria” hospitalar e ambulatorial provida pelo sistema público, de seguro social, como, por exemplo, os casos francês e alemão (bismarckiano); e, ainda, (iv) o seguro complementar, que oferece cobertura de serviços excluídos ou apenas parcialmente cobertos pelos sistemas públicos de saúde, como é o caso do Canadá.

Acrescenta-se, ainda, o que diz respeito ao gasto privado direto em saúde, efetuado por indivíduos e famílias, constituído por pagamentos diretos (out-of-pocket), referentes à compra de bens e serviços de saúde e, também, conforme a descrição de Ugá, Porto e Piola (2014), os co-pagamentos ou coparticipações, caracterizados por desembolsos, que são realizados no ato da utilização de serviços de saúde prestados por esquemas privados de asseguramento, o sistema que vem sendo introduzido desde os anos 80 em sistemas de saúde europeus.

Importante, a observação que fazem os referido autores, quanto ao sistema de saúde brasileiro, que é constitucionalmente definido como de acesso universal e integral, que, no tocante ao gasto em saúde, este exibe estrutura do gasto que em nada se assemelha à dos sistemas nacionais de saúde de cunho beveridgiano, mas aproxima-se do padrão estadunidense, tido como sistema típico do modelo liberal de sistemas de saúde; observadas essas ponderações, também há que se acrescentar, segundo eles, no tocante ao financiamento privado da saúde, que o caso brasileiro não se enquadra em nenhuma das categorias. Isto

porque, embora nacionalmente denominado de “setor de saúde suplementar”, o segmento de seguros e planos de saúde privados no Brasil não prevêem apenas diferenciais na hotelaria, conforme referido nas características de planos e seguros privados, constituindo-se em um sistema duplicado ao SUS, uma vez que este último é de acesso universal.

Nos modelos de proteção social em saúde, segundo Giovanella e Lobato (2014), o modelo de financiamento dos sistemas influencia o seu desempenho. Os sistemas de saúde universais, do modelo beveridgiano privilegiam os recursos de base solidária, provenientes de impostos gerais. Os sistemas baseados no modelo de seguro social, ou modelo bismarckiano apoiam-se em contribuições sobre os salários, e sua solidariedade é relativa àqueles que contribuem e são cobertos, deixando excluída parte da população. Já os modelos residuais têm financiamento público apenas para uma parcela muito pobre da população, sendo os sistemas financiados principalmente por recursos privados.