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3.2 GESTÃO DO CONHECIMENTO EM ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS

3.2.1 Modelos de GC: diferenças entre empresas privadas e organizações

públicas, inclusive em instituições federais de ensino superior.

3.2.1 Modelos de GC: diferenças entre empresas privadas e organizações públicas

De acordo com Girard e McIntyre (2010), há muitos modelos de GC na literatura. Entre 1995 e 2005, foram publicados mais de quatro mil artigos com o termo GC no título. Dentre esses artigos, a palavra “modelo” aparece no título de mais de 100 e, em quase 700, no resumo. Dessa forma, percebe-se que existe uma grande quantidade de modelos oferecidos para gestão do conhecimento.

A grande maioria dos modelos oferecidos é própria para empresas privadas. Apesar disso, alguns teóricos argumentam que existem semelhanças entre as organizações privadas e públicas que possibilitam o uso de um modelo único que pode ser adaptado ao setor público.

Para Abdullah e Date (2009), os setores público e privado têm os seguintes pontos em comum na implementação da GC: i) objetivo de atrair e reter o capital humano; ii) promoção do capital social; iii) criação e utilização do capital estrutural, iv) compartilhamento de processos e melhores práticas (em conjunto com práticas inovadoras), e v) estimulo à colaboração (BATISTA, 2012).

Por outro lado, alguns teóricos apresentam outro ponto de vista. Para Cong e Pandya (2003), as diferenças entre os setores público e privado exigem um modelo de GC específico para o setor público, pois essas diferenças alteram a implementação da estratégia de GC. Salavati, Shafei e Shaghayegh (2010), em um estudo com organizações públicas do Irã, concordam com Cong e Pandya (BATISTA, 2012).

Com relação às diferenças entre as organizações públicas e privadas, o Quadro 4 compila uma série de características destacadas no documento Instrumento para a Avaliação da Gestão Pública – Ciclo 2010 – do Programa Nacional da Gestão Pública e Desburocratização (Gespública).

Quadro 4: Diferenças entre organizações públicas e privadas

Características Organizações públicas Organizações privadas

Fator condutor Supremacia do interesse público. São obrigadas a dar continuidade à prestação do serviço público.

Autonomia da vontade privada.

Orientação Estão sujeitas ao controle social (requisito essencial para a administração pública contemporânea em regimes democráticos). Isso implica: i) garantia de transparência de ações e atos; e ii) institucionalização de canais de participação social.

Fortemente orientadas para a preservação e proteção dos interesses corporativos (dirigentes e acionistas).

Tratamento dos

clientes Não podem fazer acepção de pessoas, devem tratar todos igualmente (princípio constitucional da impessoalidade) e com qualidade. O tratamento diferenciado restringe-se apenas aos casos previstos em lei.

Utilizam estratégias de segmentação de “mercado”, estabelecendo diferenciais de tratamento para clientes preferenciais.

Objetivo Buscam gerar valor para a sociedade e formas de garantir o desenvolvimento sustentável, sem perder de vista a obrigação de utilizar os recursos de forma eficiente.

Buscam o lucro financeiro e formas de garantir a sustentabilidade do negócio.

Recursos São financiadas com recursos públicos, oriundos de contribuições compulsórias de cidadãos e empresas, os quais devem ser direcionados para a prestação de

Financiadas com recursos particulares que têm legítimos interesses capitalistas.

Características Organizações públicas Organizações privadas serviços públicos e a produção do

bem comum.

Destinatários Cidadãos, sujeitos de direitos, e a sociedade, demandante da produção do bem comum e do desenvolvimento sustentável.

Os “clientes” atuais e os potenciais.

Partes interessadas Conceito é mais amplo. Inclui os interesses de grupos mais diretamente afetados, mas também o valor final agregado para a sociedade.

Conceito mais restrito. Inclui, principalmente, acionistas e clientes.

Poder de regulação A administração pública tem o poder de regular e gerar obrigações e deveres para a sociedade; assim, as suas decisões e ações normalmente geram efeitos em larga escala para a sociedade e em áreas sensíveis. O Estado é a única organização que, de forma legítima, detém este poder de constituir unilateralmente obrigações em relação a terceiros.

Não têm esse poder.

Lei Só podem fazer o que a lei permite. A legalidade fixa os parâmetros de controle da administração e do administrador, para evitar desvios de conduta.

Podem fazer tudo que não estiver proibido por lei.

Fonte: Gespública (INSTRUMENTO PARA A AVALIAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA – CICLO 2010, p. 10-11 apud BATISTA, 2012, p. 16).

Reforçando o entendimento de que é necessário um modelo específico de GC para o setor público, Batista (2012) apresenta uma série de premissas que justificam essas diferenças e dizem respeito aos seguintes aspectos, que a seguir serão detalhados: i) dimensão cidadão-usuário e dimensão sociedade da GC; ii) resultados da GC; iii) inovação e políticas públicas; e iv) relação entre GC e iniciativas de excelência em gestão.

Na dimensão cidadão-usuário e sociedade da GC, Batista (2012, p. 17) destaca que “um modelo de GC para a administração pública brasileira deve incluir as dimensões Cidadão-usuário e Sociedade, o que não se observa nos modelos construídos para organizações de uma maneira geral”. As empresas privadas restringem-se a assegurar o retorno do investimento dos acionistas (CONG; PANDYA, 2003).

Referente aos resultados da GC, Batista (2012, p. 17) afirma que, “enquanto o setor privado implementa a GC visando ao lucro e ao crescimento, a administração pública busca principalmente qualidade, eficiência, efetividade social e

desenvolvimento econômico e social”. Nesse sentido, percebe-se que o conceito de resultado da GC para as organizações públicas é mais amplo do que para as empresas privadas.

Na dimensão inovação e políticas públicas, pode-se depreender que a inovação é uma qualidade associada à GC tanto no setor público quanto privado, apesar de apresentar objetivos distintos em ambos os casos.As políticas públicas influenciam e são influenciadas pelas formas de gestão das empresas privadas e das organizações públicas, sendo um aspecto relevante principalmente para modelos de GC em organizações públicas.

Na relação entre GC e iniciativas de excelência em gestão, Batista (2012, p. 18) destaca que os modelos apresentados na literatura não relacionam “a implementação de GC com iniciativas na área de excelência em gestão pública existentes na administração pública brasileira – Gespública”. Segundo o autor, essas iniciativas “destacam a importância de assegurar uma relação de causa e efeito entre práticas de gestão do conhecimento e desempenho organizacional” (Ibidem, p. 18).

Com base nessas premissas, Batista (2012) conclui que os modelos construídos para o setor privado não são adequados para o setor público. Nesse entendimento, para fins deste trabalho, vistas as diferenças entre as organizações públicas e privadas, defende-se que é necessário um modelo específico de GC para o setor público.

3.2.2 Levantamento de estudos sobre GC em organizações públicas (“Estado