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Em Portugal, o acolhimento pode ser feito de duas formas: familiar ou institucional. Como referido anteriormente, o acolhimento, quer familiar quer institucional, ocorre após a aplicação de medidas de colocação pelas CPCJ ou tribunais. Sendo que o acolhimento em instituição, de acordo com a mesma lei, e com as Recomendações técnicas para equipamentos sociais – centros de acolhimento

20 temporário (2010b, p. 26), “consiste na colocação da criança ou jovem aos cuidados de uma entidade que disponha de instalações e equipamento de acolhimento permanente e de uma equipa técnica que lhes garantam os cuidados adequados às suas necessidades e lhes proporcionem condições que permitam a sua educação, bem-estar e desenvolvimento integral”. Este acolhimento, que pode ser de curta duração (em CAT ou outra instituição por prazo não superior a seis meses) ou prolongado (em Lar de Infância e Juventude), encontra-se a viver uma importante reforma, tal como se pode confirmar através do diploma que sustenta o Plano DOM12 – Desafios, Oportunidades e Mudanças – enquadrado legalmente pelo Despacho Normativo nº 8393/200713 (Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social), e mais recentemente o Plano SERE+, que surgem como resposta à emergência do novo paradigma de acolhimento institucional de crianças e jovens, que tem como principal objetivo a “implementação de medidas de qualificação da rede de Lares de Infância e Juventude, incentivadoras de uma melhoria contínua da promoção de direitos e proteção das crianças e jovens acolhidas, no sentido da sua educação para a cidadania e desinstitucionalização, em tempo útil”.

Após um passado recente de um modelo de institucionalização de crianças do tipo assistencialista, onde se acolhiam elevado número de crianças numa mesma instituição que possuía geralmente equipas de pessoal reduzidas e pouco qualificadas, as recomendações técnicas atuais vão no sentido de promover um ambiente “tão semelhante quanto possível ao de uma habitação familiar” proporcionando ainda uma inserção na comunidade através da integração nas estruturas locais no que se refere a educação, formação profissional, saúde, desporto e tempos livres.

Gomes (2010) refere que a qualificação dos CAT e LIJ ainda precisa de um longo percurso de mudança ainda que considere que nos CAT se vislumbre um panorama mais favorável devido ao reduzido número de crianças, equipas com profissionais em número considerado adequado, numa tentativa de criar um ambiente familiar que satisfaça todas as necessidades básicas, afetivas, emocionais e biopsicossociais. Não obstante a esta realidade dos CAT, a maioria das instituições de acolhimento de crianças, 72,3%, têm 30 vagas e 6,3% das instituições de acolhimentos (a maioria LIJ) apresentam ainda lotação para mais de 60 crianças e jovens (Cunha, 2012). No que respeita a esta tentativa de aproximação a um ambiente familiar, por parte dos CAT, estes deparam-se ainda com outro tipo de constrangimentos à sua intervenção nomeadamente a existência de uma enorme diversidade de situações de perigo a que as crianças acolhidas foram sujeitas e consequentemente a enorme diversidade de

12 Ver em anexo 13

21 intervenções a serem realizadas. Assim, sem que haja especialização dos CAT ou existência de CAT de referência para determinada problemática as crianças encontram-se acolhidas sem qualquer tipo de seleção de acordo com as situações de perigo que motivaram o afastamento da criança do seu meio natural de vida.

Remontando ao decreto-lei 314/78, que se propunha a aplicar medidas com duração indeterminada, sem estabelecer diferença entre crianças infratoras e crianças em perigo (Tomás & Fonseca, 2004; Carvalho, 2009) constata-se que, com a aprovação da Lei 147/99, de 1 de setembro – Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (LPCJP) e a Lei 169/99, de 14 de setembro – Lei Tutelar Educativa (LTE) onde se inicia a “diferenciação no tratamento de situações das crianças, denominado na lei por menores «em perigo» – menores vítimas – abrangendo também situações da chamada «para ou pré-delinquência» (consumo de estupefacientes, prostituição, etc.), e de menores cujos actos consubstanciaram ilícitos penais – menores delinquentes” (Abreu, Sá & Ramos, 2010) a partir de 2000, os menores com comportamentos desviantes deixaram de ser considerados vítimas (Abreu, Sá & Ramos, 2010).

No entanto, estes comportamentos desviantes apenas são considerados na LTE quando considerados “fatos qualificados pela lei como crime, praticados por menor com idade compreendida entre os 12 e os 16 anos, com vista à aplicação de medida tutelar” (art. 28º, LTE) ficando as crianças e jovens que assumem “comportamentos ou se entregue a atividades ou consumos que afetem gravemente a sua saúde, segurança, formação, educação ou desenvolvimento sem que os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de fato se lhes oponham de modo a remover essa situação” (art.º 3º, LPCJP) sob a legislação de proteção. Isto é, estas crianças – que cometem factos qualificados como crime de idade inferior a 12 anos e estas ultimas crianças referidas no art.º3 da LPCJP – quando lhes é aplicada medida de acolhimento institucional não encontram em Portugal centros de acolhimento especializado para as suas problemáticas, e são acolhidas juntamente com crianças em perigo abrangidas pelas restantes alíneas do respetivo artigo – incluindo os bebés.14

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Como referido anteriormente, uma das dificuldades existentes na intervenção com menores em perigo e menores autores de fatos qualificados como crime ou de outras condutas desviantes, era a aplicação de medidas muito semelhantes a ambos os casos (Guerra, 2000, pp. 11-12). Apesar de se ter ultrapassado esta dificuldade com o aparecimento de legislação diferenciadora desta intervenção, na atualidade verifica-se um outro fenómeno ao nível da aplicação de medida de acolhimento institucional: existe um aumento de crianças e adolescentes acolhidos denominados de pré-delinquentes ou em situação de pré-marginalidade – com problemáticas do foro psiquiátrico, comportamentos disruptivos, alcoolismo, consumo de estupefacientes, prostituição associado a incapacidade parental, abandono ou negligência – não existindo em Portugal recursos humanos especializados nem centros de acolhimento

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