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ARTIGO 2 E NTRINCHEIRAMENTO ORGANIZACIONAL E COMPROMETIMENTO DE

2.3. Modelos de investigação e hipótese geral

A Figura 2.2 apresenta os dois modelos testados no presente estudo. No Artigo 1, já foi testado um modelo estrutural que relacionava EO, CC e CA. Sendo assim, o presente estudo não tem a intenção de avaliar a relação entre esses construtos, mas sim de comparar suas relações com outras variáveis. Será confrontado o modelo de antecedentes e consequentes do EO e do CA com o modelo de antecedentes e consequentes do CC e do CA.

Figura 2.2 – Modelos de investigação

Notas: CA (comprometimento afetivo), CC (comprometimento de continuação), EO (entrincheiramento organizacional), LA (limitação de alternativas), ABI (arranjos burocráticos impessoais), APS (ajustamentos à posição social), Perc_Empreg (percepção de empregabilidade), Valor_perf_prof (valorização do perfil profissional), Seg_emprego (segurança no emprego), Desenv_Prof (práticas de desenvolvimento e carreira), Remuner (práticas de remuneração), Int_deixar (intenções de deixar a organização), Int_empenho (intenções de empenho), Int_defesa (intenções de defesa).

Além dos parâmetros especificados para os antecedentes e consequentes investigados, foram acrescentados nos respectivos modelos os parâmetros entre EO e CA e entre CC e o CA. Esse acréscimo foi feito com base nos resultados do Artigo 1, que indicaram relações significativas do CA com os demais. Foi adicionado também um parâmetro entre o desenvolvimento profissional e a percepção de empregabilidade, em congruência com a discussão teórica apresentada anteriormente.

Diante dos aspectos debatidos, a hipótese geral deste estudo é:

H6 - O entrincheiramento e o comprometimento de continuação apresentarão padrões de relação semelhantes com as variáveis do modelo, que se diferenciará do padrão estabelecido pelo comprometimento afetivo.

Uma vez confirmada essa hipótese, o presente estudo terá cumprido a proposta de apresentar indicadores de validação convergente entre o entrincheiramento organizacional e a base de continuação, e validação discriminante entre esses dois vínculos e o comprometimento afetivo.

2.4. Método

2.4.1. Procedimentos de coleta dos dados

Foi realizado um estudo extensivo de corte transversal, que abrangeu uma amostra de 1664 trabalhadores. Após a eliminação de outliers, o banco de dados passou a ser composto por 1648 respondentes. Para viabilizar a coleta de grupos distintos de trabalhadores em diferentes contextos, foram utilizadas três estratégias: (a) foram distribuídos questionários impressos, auto-aplicáveis, a trabalhadores de alta escolaridade de organizações de diferentes segmentos e portes, contemplando 70,2% da amostra; (b) foi distribuída por e-mail uma versão digital do questionário, também disponível via link gerado pelo Survey Monkey, ferramenta de construção de questionários na internet, sendo responsável por 8,3% dos respondentes; (c) por fim, foram realizadas entrevistas com trabalhadores de baixa escolaridade, apoiadas em recursos visuais para viabilizar a melhor compreensão das questões, totalizando 21,6% dos participantes. Todos os participantes tiveram acesso aos objetivos gerais e ao consentimento informado da pesquisa, tendo sido garantidos o sigilo das respostas e a possibilidade de interromper a participação a qualquer momento.

2.4.2. Amostra

Do total de participantes, 61,1% vivem no Nordeste e 30,5% vivem no Sudeste do Brasil. A maioria (76,7%) trabalha em empresas privadas, atuando principalmente em prestação de serviços (46,5%) e indústrias (11,6%). Pouco mais da metade dos participantes são do sexo feminino (57,1%), solteiros (50,8%) e com menos de trinta e cinco anos (64,5%). Com relação à escolaridade, a maioria ao menos iniciou o curso de nível superior (45,6%). No que se refere à renda mensal, 48,5% recebem até cinco salários mínimos. Os dados, em geral, apresentaram pequenos desvios de normalidade.

2.4.3. Medidas

A seguir, são apresentadas as medidas utilizadas no presente estudo e seus indicadores de consistência interna. Todas utilizaram escala likert de seis pontos, variando de discordo totalmente a concordo totalmente.

- Entrincheiramento organizacional: versão reduzida da escala validada por Rodrigues (2009), com 18 itens distribuídos em três dimensões

o Ajustamentos à posição social, 6 itens (α=0,78, média de correlações inter-item de 0,37; e correlações item-total acima de 0,45). Exemplo de item: “Se eu fosse trabalhar em outra empresa, eu jogaria fora todos os esforços que fiz para chegar aonde cheguei dentro dessa empresa”;

o Arranjos burocráticos impessoais, 6 itens (α=0,76, média de correlações inter-item de 0,35; e correlações item-total superiores a 0,44). Exemplo de item: “Sair dessa organização agora resultaria em perdas financeiras”; o Limitação de alternativas, 6 itens (α=0,75, média de correlações inter- item de 0,33; e correlações item-total acima de 0,41). Exemplo de item: “Eu acho que teria poucas alternativas de emprego se deixasse essa organização”;

- Comprometimento de continuação: versão reduzida da escala validada por Bastos et al. (2011), com cinco itens (α=0,71, média de correlações inter-item de 0,34 e correlações item-total acima de 0,39). Exemplo de item: “Deixar essa organização agora exigiria consideráveis sacrifícios pessoais”;

- Comprometimento afetivo: versão reduzida da escala validada por Bastos et al. (2011), composta por sete itens (α=0,86, média de correlações inter-item de 0,46; e

correlações item-total acima de 0,58). Exemplo de item: “Eu acho que os meus valores são muito similares aos valores defendidos pela organização onde trabalho”.

- Percepção de empregabilidade, que apresenta duas subdimensões:

o Valorização do perfil profissional, 5 itens (α=0,74; média de correlações inter-item de 0,37; e correlações item-total superiores a 0,46). Exemplo de item: “Sinto que possuo conhecimentos e habilidades importantes para o mercado de trabalho”;

o Segurança no emprego, 4 itens (α=0,75; média de correlações inter- item de 0,42; e correlações item-total superiores a 0,50). Exemplo de item: “Não me sinto ameaçado de perder esse emprego”.

- Práticas de gestão de pessoas, constituídas por dois fatores:

o Práticas de desenvolvimento e carreira, 4 itens (α=0,78; média de correlações inter-item de 0,47; e correlações item-total superiores a 0,55). Exemplo de item: “Existem oportunidades de crescimento na carreira e progresso profissional nesta organização”;

o Práticas de remuneração, 3 itens (α=0,79; média de correlações inter- item de 0,55; e correlações item-total superiores a 0,61). Exemplo de item: “Considerando as minhas qualificações profissionais, recebo uma remuneração adequada”.

- Intenções comportamentais, divididas em dois grupos de intenções:

o Intenções de deixar a organização, 4 itens (α=0,78; média de correlações inter-item=0,47; correlações item-total superiores a 0,58). Exemplo de item: “Eu aceitaria a proposta de outro emprego, se ele oferecesse oportunidade de crescimento dentro da empresa”;

o Intenções de contribuir, 9 itens. Subdividida em:

 Intenções de defesa, 5 itens (α=0,85; média de correlações inter- item de 0,53; e correlações item-total superiores a 0,63). Exemplo de item: “Eu defenderia a organização diante de críticas de pessoas que não fazem parte dela”;

 Intenções de empenho, 4 itens (α=0,77; média de correlações inter-item de 0,45; e correlações item-total superiores a 0,50) - “Eu ampliaria a minha carga de trabalho se isto fosse importante para melhorar o desempenho dessa organização”.

2.4.4. Procedimentos de análise dos dados

Para a tabulação e análise dos dados, foram utilizados os softwares estatísticos SPSS 16.0 e AMOS 16.0. Foram empregadas inicialmente análises de correlação de Pearson. Muitos fatores impactam na magnitude dos coeficientes de correlação, especialmente nas pesquisas em Ciências Humanas. Alguns exemplos são a variabilidade das observações, normalidade das distribuições, ausência de linearidade e presença de outliers (Goodwin & Leech, 2006). Hemphill (2003), com base em uma investigação com estudos de meta-análise, apresenta algumas diretrizes para interpretação dos coeficientes, que devem ser utilizados em observância das características da amostra e da pesquisa. Conforme dados discutidos pelo autor, serão consideradas baixas as correlações inferiores a .20, moderadas aquelas entre .20 e .30 e altas as correlações superiores a .30.

Para o teste dos modelos estruturais e de mensuração, foi utilizada a modelagem de equações estruturais. Em todas as análises, o método de estimação empregado foi o da Máxima Verossimilhança (ML), tendo em vista o tamanho da amostra e o caráter moderadamente anormal dos dados.

Hair et al. (2009), ao discutirem as diretrizes para o estabelecimento de ajuste aceitável e inaceitável, coadunam com o fato de que não há uma regra simples para diferenciar modelos bons e ruins em quaisquer situações. Por isso, recomendam que o pesquisador busque utilizar ao menos um índice de cada categoria de análise, evitando redundâncias e garantindo que as principais categorias de ajuste sejam contempladas. Os autores propõem também que o corte de valores dos índices levem em consideração a complexidade do modelo e o tamanho da amostra. Assim, os valores de corte esperados para os índices de ajuste avaliados no presente estudo seguem as diretrizes para modelos que possuem mais de trinta variáveis observáveis e amostra superior a 250 casos. A seguir estão descritos os índices e critérios utilizados:

- Índices de ajuste comparativo (Ullman, 2007) ou de ajuste incremental (Hair et al., 2009) que buscam comparar o modelo estimado com com outros modelos independentes, situando-o em um contínuo que vai de um modelo perfeitamente justificado (gl=0) a um modelo em que nenhuma variável é correlacionada (gl=número de pontos de dados da matriz). Foram analisados o NFI e o CFI, que devem ser superiores a 0,90;

- Índices de proporção da variância explicada (Ullman, 2007), que consideram a proporção de variância explicada pela matriz de covariância estimada da população

em relação à amostra. Foram analisados o GFI e o AGFI, que são esperados acima de 0,90.

- Índice de parcimônia (Ullman, 2007; Hair et al., 2009), que avaliam o quão parcimonioso é o modelo pela proporção do número de parâmetros estimados e o número de dados não redundantes na matriz de covariância. Não é objetivo do presente estudo testar modelos concorrentes, tampouco os modelos testados são aninhados. Ainda assim, foi analisado o PGFI para efeitos de comparação dos modelos estrututais, sendo mais parcimonioso aquele com um maior valor desse índice;

- Índices de ajuste absoluto (Hair et al., 2009), que avaliam o ajuste geral do modelo (de mensuração e estrutural simultaneamente) à matriz dos dados. Foram analisados o RMR, que deve apresentar valores baixos, o RMSEA, que deve ser inferior a 0,07 e o χ2, que pode apresentar valores-p significantes para o tamanho da amostra deste

estudo. Ullman (2007) considera que o RMR seja um índice de ajuste baseado em resíduos, que avalia a distância entre os parâmetros estimados do modelo e os dados da matriz de covariância ou correlação da amostra.