• Nenhum resultado encontrado

Modelos para Harmonização e Convergência dos Serviços de Sistema

4.4 Harmonização dos Serviços de Sistema

4.4.1 Modelos para Harmonização e Convergência dos Serviços de Sistema

A gestão dos serviços de sistema é um factor decisivo para o correcto funcionamento dos mercados de electricidade na Europa. Por isso, uma maior harmonização e convergência entre os serviços de sistema possibilitará um funcionamento mais eficiente, com benefícios que se irão reflectir no serviço prestado aos consumidores.

Os serviços de sistema que correspondem às reservas primária e secundária não são considerados na questão da harmonização e convergência devido à sua natureza complexa. Torna-se mais vantajoso do ponto de vista económico que se desenvolvam mecanismos de troca de reserva terciária, para intervalos de tempo entre o dia anterior e alguns minutos antes do tempo real, ou seja, antes da acção dos dispositivos automáticos [34].

A convergência e partilha dos serviços de sistema beneficia os sistemas envolvidos, na medida em que passam a poder efectuar trocas de reservas entre eles. No entanto, os Operadores de Sistema terão uma tarefa mais complexa relacionada com as alterações que esta harmonização pode trazer do ponto de vista da segurança de abastecimento, e os procedimentos necessários para a aquisição dos serviços. A harmonização dos mercados de serviços de sistema pode variar consoante o grau de harmonização regulatória, os objectivos

54 Serviços de Sistema

de convergência e o nível de integração de mercados pretendido. Existem três tipos de modelos que se podem implementar, dependendo do nível de integração pretendido [34]:

• Modelo 1 – Troca de serviços entre Operadores de Sistema;

• Modelo 2 – Agentes que operam em diversos mercados simultaneamente;

• Modelo 3 – Mercado Integrado.

No Modelo 1 é estabelecida uma relação directa entre Operadores de Sistema de diferentes áreas de controlo, envolvendo a realização de contratos de aquisição de reserva. Cada Operador é responsável pelo equilíbrio da respectiva área, e por efectuar as trocas de serviços de sistema com outros operadores, sendo que o operador define o preço e as condições de oferta a operadores vizinhos. Neste modelo a aquisição de reservas provenientes da área vizinha é baseada exclusivamente no pagamento de energia. A condição essencial para que as trocas de serviços de sistema possam ocorrer é a existência de capacidade de interligação livre após as trocas entre agentes das diferentes áreas estabelecidas no mercado diário e nos mercados intradiários. Um exemplo de aplicação prática deste modelo encontra- se na fronteira entre França (RTE – Réseau de Transport d’Electricité) e o Reino Unido (National Grid), com uma interligação de 2000 MW através de um cabo submarino [12].

No Modelo 2 a aquisição de serviços de sistema a uma área de controlo vizinha inclui o pagamento de uma reserva de capacidade por parte do Operador de Sistema, o que contempla o direito exclusivo de utilização dessa reserva por parte dos agentes da área respectiva. A activação em tempo real é baseada numa ordem de mérito de uma lista de ofertas de reserva. Agentes de diferentes áreas de controlo têm a possibilidade de contratar serviços de sistema, directamente com um Operador de Sistema de uma área de controlo que não a sua. Os agentes podem efectuar ofertas nos diversos mercados, o que permite uma maior valorização do serviço. O Operador de Sistema de uma área tem a possibilidade de requerer reserva de outra área, efectuando posteriormente o acerto de contas de forma directa com o agente da área em questão. No entanto, para o correcto funcionamento deste modelo é necessário um elevado grau de coordenação entre os Operadores de Sistema das áreas envolvidas. Para assegurar o correcto funcionamento podem surgir custos elevados, como consequência dos mecanismos exigidos para assegurar que numa situação em que uma oferta é requerida por um Operador de Sistema, a mesma tem obrigatoriamente de ser eliminada da lista de ofertas dos restantes Operadores de Sistema. Outro factor negativo deste modelo está relacionado com a necessidade de existir uma reserva da capacidade destinada aos serviços de sistema, pelo que a capacidade de interligação para utilização nos

4.4 Harmonização dos Serviços de Sistema 55

55

uma lista de regulação comum, sendo estas ofertas activada através de uma ordem de mérito. Neste modelo está previsto a constituição de um Coordenador de Operadores de Sistema, responsável pela gestão de reserva em todos os sistemas. O Coordenador de Operadores de Sistema mobiliza a reserva baseado na lista de ofertas comum para um determinado sistema, respondendo às necessidades identificadas e tendo em conta as limitações da rede. Existe também uma integração dos mercados de reserva das áreas envolvidas, conduzindo a uma perda de autonomia por parte dos Operadores de Sistema. Uma reserva comum com estas características é, na prática, muito difícil ser estabelecida. Para a sua implementação é necessário haver uma confiança mútua e um nível de cooperação elevado entre os Operadores de Sistema envolvidos, assim como um certo grau de harmonização e respeito das regras relativas a tempos de activação. Para um correcto funcionamento deste modelo são necessárias condições de transmissão estáveis, o que limita a região para a qual este modelo pode ser aplicado de forma eficiente. A Figura 4.2 ilustra os princípios de funcionamento do modelo 3 [35].

56 Serviços de Sistema

A partir desta figura, é possível verificar que as principais características deste modelo são as seguintes:

• Os Operadores de Sistema das duas áreas de controlo (TSO 1 e 2) são distintos, sendo cada um responsável pelo equilíbrio da área de controlo da qual é responsável;

Os agentes das áreas de controlo, reserve provider, estão ligados fisicamente à área de controlo do respectivo Operador de Sistema;

• Em cada área existe um conjunto de regras próprias que são aplicadas nos mercados de electricidade;

• Os agentes de cada área de controlo só podem apresentar ofertas ao Operador de Sistema respectivo;

• Os Operadores de Sistema das áreas envolvidas enviam para uma lista comum, common list, as ofertas de reserva provenientes dos agentes, e o Coordenador de Operadores de Sistema (TSO) efectua a gestão das mesmas;

• As ofertas das reservas existentes na lista comum são activadas pelo Coordenador de Operadores de Sistema segundo uma ordem de mérito, merit order, respeitando as restrições da rede [35].

No Modelo 3 tem de ser respeitado o valor da capacidade de interligação, sendo a utilização das reservas dependentes do valor das interligações, visto que podem surgir situações em que a capacidade de interligação não é suficiente. Este modelo encontra-se actualmente aplicado nos países nórdicos [35].