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Reestruturação do sector eléctrico

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• Os consumidores não tinham qualquer possibilidade de escolha no que respeita ao fornecedor de energia eléctrica;

• O preço do produto final era determinado através de processos de regulação pouco claros;

• O sector eléctrico assumia, por vezes, o papel de elemento amortecedor em períodos de crise económica;

• O ambiente de pouco risco e incerteza deu origem a economias de escala;

Todos estes aspectos, reforçados pela crise económica de 1973, despoletaram a reestruturação do sector eléctrico e a criação dos mercados de electricidade.

Até à crise petrolífera de 1973, o ambiente económico era muito estável, existindo poucos factores de risco nas diversas actividades económicas, em geral, e no sector eléctrico, em particular. Após as décadas de 50, 60 e início dos anos 70, o ambiente económico que se viveu, nomeadamente nos países mais industrializados, modificou-se de um modo muito rápido. As novas conjunturas económicas que se desenvolveram, caracterizaram-se pela existência de elevadas taxas de juro e de inflação, que contribuíram para criar um ambiente económico mais volátil. Como consequência deste novo ambiente económico, o consumo de diversas formas de energia e, em particular da energia eléctrica, começou a apresentar comportamentos mais erráticos [1].

2.2 Reestruturação do sector eléctrico

A transformação do ambiente económico para uma forma mais desfavorável e prejudicial para as actividades de capital intensivo, aliado aos processos de restruturação que surgiram em diversas actividades económicas, onde se incluem a indústria aérea, as redes de telecomunicações e distribuição de gás, originou o aparecimento de diversos novos agentes, aumentando com isso a concorrência, e conferindo aos clientes um papel mais activo na medida em que agora tinham a liberdade de escolha da entidade fornecedora de serviços. Como consequência destas mudanças, colocou-se a questão se não se poderia realizar uma restruturação semelhante no sector eléctrico. No entanto, com excepção da experiência de restruturação iniciada no Chile em 1979, o sector eléctrico permaneceu praticamente inalterado até finais dos anos 80. Finalmente, em 1990 iniciou-se sob o governo de Margareth Tatcher a restruturação do sector eléctrico em Inglaterra e Gales e, a partir daí, este movimento conheceu um desenvolvimento mais acelerado e generalizado. Passado alguns anos, mais concretamente em 1996, surgiu o Nordpool que nasceu da integração dos sectores eléctricos da Suécia e Noruega, sendo posteriormente alargado à Dinamarca e Finlândia [1].

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Em Portugal, a reestruturação do sector eléctrico deu um primeiro passo em 1994 com a criação da Rede Eléctrica Nacional, REN, como subsidiária da EDP, existindo assim uma primeira divisão de encargos, visto que a REN passou a ser a responsável pelo transporte de electricidade. A liberalização do sector eléctrico começou a ganhar mais contornos, com o pacote legislativo de 1995 e a aplicação dos princípios da Directiva 96/92/CE, de 19 de Dezembro, que estabeleceu as regras comuns com vista à criação do Mercado Interno de Electricidade. Mais tarde, a 14 de Novembro de 2001, foi assinado um protocolo entre o Governo Espanhol e Português para a criação do Mercado Ibérico de Electricidade. No entanto, o seu arranque efectivo só ocorreu a 1 de Julho de 2007. Deste protocolo resultaram alterações ao nível da legislação, assim como da regulação do sector eléctrico, cuja responsabilidade está a cargo da ERSE.

A reestruturação do sector eléctrico resultou em mudanças significativas em relação ao sistema tradicional, nascendo dessa mudança uma nova estrutura desverticalizada, com a participação de novos agentes. Este processo de desverticalização, unbundling, trouxe benefícios para o sector, visto que resultou na criação de novas empresas resultando daí um aumento da competitividade. Este novo ambiente de competição é vantajoso para o consumidor, porque assim todos os agentes envolvidos se esforçam para desenvolver os seus serviços e proporcionar ao consumidor final as melhores condições de forma a satisfazer as suas necessidades.

A Figura 2.2 apresenta a nova estrutura do modelo desagregado para o sector eléctrico.

2.2 Reestruturação do sector eléctrico 7

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Bilaterais (CB), Serviços Auxiliares (SA), Mercados Centralizados (MC), Rede de Transporte (RT) e o Operador de Sistema (ISO) [1].

Os Contratos Bilaterais, CB, consistem na celebração de contratos de compra e venda de energia eléctrica entre duas entidades elegíveis/qualificadas (uma entidade compradora e outra vendedora) que, numa óptica de liberdade, definem por mútuo acordo as próprias condições e preços. A celebração de um contrato bilateral obriga umas das partes a comprar e a outra a vender energia eléctrica nas condições definidas no próprio contrato. A programação dos contratos bilaterais é objecto de comunicação ao OS, de modo a permitir a realização de eventuais correcções às quantidades inicialmente contratadas [3].

Os Mercados Centralizados recebem as propostas de compra e venda de energia, tipicamente para cada hora ou meia hora do dia seguinte, Day-Ahead Markets. Estas propostas incluem normalmente os valores da potência e do preço (mínimo a receber no caso das propostas de venda, máximo a pagar no caso das propostas de compra). Estes mercados cruzam estas propostas construindo um despacho puramente económico para cada intervalo de tempo do dia seguinte.

O Independent System Operator, ISO, é a entidade que tem as funções de coordenação técnica da exploração do sistema eléctrico. Para esse efeito, deverá receber informação sobre os despachos económicos resultantes da actividade dos Mercados Centralizados, bem como a informação relacionada com os Contratos Bilaterais em termos de nós da rede e potências envolvidas. O ISO deverá assim avaliar a viabilidade técnica do conjunto despacho/contratos tendo em atenção especial os congestionamentos [1]. Caso não existam congestionamentos, a operação é viável, procedendo-se de seguida à contratação dos serviços auxiliares necessários. Se existirem situações de congestionamento, o ISO deverá ter o poder de efectuar as alterações necessárias.

A Rede de Transporte é a entidade que detém os activos da rede de transporte e que, por razões económicas, funciona em regime de monopólio natural nas áreas em que se encontra implementada. O facto de não ser fácil duplicar linhas na mesma área geográfica contribui para este regime de monopólio. Nos casos em que o ISO tem também sobre a sua responsabilidade as actividades da rede de transporte, passa a ter a designação de Transmission System Operator, TSO. Estas empresas, tal como as detentoras da rede de distribuição, são remuneradas através de Tarifas de Uso das Redes.

Este modelo corresponde à forma mais desagregada, havendo uma total separação de todas as actividades. No entanto, em alguns países várias actividades encontram-se agrupadas, como por exemplo em Portugal através da REN.

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