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Moderação e mediação na relação entre percepção social, habilidades sociais e

3. Questões conceituais e metodológicas sobre a associação entre déficits de habilidades

3.5. Moderação e mediação na relação entre percepção social, habilidades sociais e

Conforme os conceitos de variável mediadora e moderadora apresentados, a possível função análoga da percepção social e do raciocínio geral pode ser explorada na compreensão da associação entre déficits de habilidades sociais e dificuldades de

aprendizagem, incluindo a exploração da relação entre o processamento da informação social e o processamento da informação acadêmica. Os déficits de percepção social, apesar de freqüentemente serem encontrados em crianças com dificuldades de aprendizagem, ainda não receberam uma sistematização teórica e empiricamente testada, de maneira que ainda não se pode explicar sua relação funcional com o desempenho acadêmico. Portanto, cabe supor que o repertório de habilidades sociais pode ser o mecanismo intermediário (variável mediadora) que explicaria como ocorre a associação entre déficits de percepção social (variável independente) e dificuldades de aprendizagem (variável dependente) registrada na literatura.

Contrariando muitos estudos registrados na literatura, existem casos em que os déficits de habilidades sociais não estão associados a dificuldades de aprendizagem e vice-versa (Gresham & Elliott, 1989), sugerindo que devem existir variáveis de associação, isto é, a associação entre dificuldades de aprendizagem e déficits de habilidades sociais ocorreria na presença de uma terceira variável. Portanto, cabe verificar também a participação de problemas no raciocínio geral como variável de associação (variável moderadora) da relação entre percepção social (variável independente) e desempenho acadêmico (variável dependente).

Além disso, considerando a possibilidade dos déficits de habilidades sociais e/ou problemas de comportamento prejudicarem o funcionamento cognitivo no processo da aprendizagem acadêmica, pode-se testar o efeito mediador da percepção social e/ou raciocínio geral (variável mediadora) na relação entre déficits de habilidades sociais (variável independente) e dificuldades de aprendizagem (variável dependente).

do processo de aprendizagem acadêmica e, logicamente, também do desempenho de habilidades sociais, existindo uma função análoga entre percepção social e raciocínio geral, pode-se supor que problemas de raciocínio geral (variável moderadora) afetariam simultaneamente o desempenho social (variável independente) e acadêmico (variável dependente). Dessa forma, seria verificada a existência de um déficit cognitivo mais geral responsável tanto pela baixa competência social como pelas dificuldades de aprendizagem, dando suporte ao que vêm propondo pesquisadores como Gresham e Elliott (1989) e outros do Interagency Comittee on Learning Disabilities-ICLD (Hammill,1990).

Diante disso, no presente estudo, foi analisado o poder de mediação dos déficits de habilidades sociais na relação entre falhas no reconhecimento de emoções pela leitura de expressões faciais (indicador de percepção social) e as dificuldades de aprendizagem. Dessa maneira, foi explorada a hipótese de que os déficits na leitura de expressões faciais teriam uma participação determinante sobre os déficits de habilidades sociais e estes, por sua vez, afetariam o desempenho acadêmico (Figura 3).

Alternativamente, foi também considerado que falhas na leitura de expressões faciais estariam relacionadas às dificuldades de aprendizagem na presença de problemas de raciocínio geral. Dessa forma, processos cognitivos teriam um efeito moderador na relação entre falhas na leitura de expressões faciais e dificuldades de aprendizagem. Em outras palavras, se fosse encontrado o fortalecimento da associação entre déficits de leitura de expressões faciais e dificuldades de aprendizagem quando problemas de raciocínio geral estivessem presentes, ficaria caracterizada a função moderadora de déficits cognitivos (Figura 4).

HS

PS DA

Figura 3. Relação mediada entre variáveis (PS = falhas na percepção social, aferidas pela dificuldade de leitura de expressões faciais – variável independente; HS = déficits de habilidades sociais – variável mediadora; DA = dificuldades de aprendizagem – variável dependente).

RG

PS DA

Figura 4. Relação moderada entre variáveis (PS = falhas na percepção social, aferidas pela dificuldade de leitura de expressões faciais – variável independente; RG = problemas de raciocínio geral – variável moderadora; DA = dificuldades de aprendizagem – variável dependente).

Além disso, verificou-se a possibilidade da percepção social e/ou raciocínio geral mediar (Figura 5) ou moderar (Figura 6) a relação entre déficits de habilidades sociais e dificuldades de aprendizagem.

PS/RG

HS DA

Figura 5. Relação mediada entre variáveis (HS = déficits de habilidades sociais – variável independente; PS/RG = percepção social e/ou raciocínio geral – variável mediadora; DA = dificuldades de aprendizagem – variável dependente).

RG/PS

HS DA

Figura 6. Relação moderada entre variáveis (HS = déficits de habilidades sociais – variável independente; RG/PS = problemas de raciocínio geral e/ou déficits de percepção social – variável moderadora; DA = dificuldades de aprendizagem – variável dependente).

Mediante os testes dos modelos mediadores e moderadores considerados, seria possível analisar o poder de influência, interdependência e independência de cada variável da sistematização teórica representada pela Figura 5 e 6, contribuindo para fornecer, aos pesquisadores do Treinamento de Habilidades Sociais, um esquema

indicativo da funcionalidade entre processos cognitivos, habilidades sociais e desempenho acadêmico.

Nesse sentido, considerando: a) a relevância social de estudos voltados para as necessidades educacionais especiais de crianças com dificuldades de aprendizagem e baixa competência social; b) a importância e a escassez de investigações empíricas que dêem suporte a eventuais explicações sobre a relação entre dificuldades de aprendizagem e habilidades sociais; c) o papel potencial dos processos cognitivos enquanto variáveis associadas aos déficits de habilidades sociais e às dificuldades de aprendizagem; d) e a ausência de estudos focalizando variáveis mediadoras e moderadoras na relação entre déficits de habilidades sociais e dificuldades de aprendizagem, o presente estudo teve como objetivo geral examinar o papel de mecanismos análogos de processamento de informação requeridos no desempenho social (percepção social avaliada por meio do reconhecimento de expressões faciais) e no desempenho acadêmico (processos cognitivos avaliados em testes de raciocínio geral) que poderiam contribuir para a explicação teórica das relações que vêm sendo empiricamente identificadas entre déficits de habilidades sociais e dificuldades de aprendizagem.

Operacionalizando as etapas para a consecução do objetivo do presente estudo, podem ser definidos como objetivos específicos intermediários:

1. Analisar intercorrelações entre indicadores de processos cognitivos (percepção social e raciocínio geral), déficits de habilidades sociais e dificuldades de aprendizagem, avaliando as possíveis funções mediadoras ou moderadoras nessas correlações.

2. Explorar a possível equivalência funcional entre indicadores de percepção social e de raciocínio geral.

3. Identificar as habilidades sociais e os problemas de comportamento mais relacionados aos déficits na leitura de expressões faciais em crianças com e sem dificuldades de aprendizagem.

4. Identificar as habilidades sociais e os problemas de comportamento mais relacionados aos déficits de raciocínio geral em crianças com e sem dificuldades de aprendizagem.

3.6. Conclusão

No estudo da associação entre déficits de habilidades sociais e dificuldades de aprendizagem, ainda não foi investigada, dentro de um modelo funcional de análise, a influência da percepção social nessa associação, incluindo a exploração da possibilidade de haver correspondência entre essa habilidade cognitiva e o raciocínio geral. A compreensão sobre como essas quatro variáveis interagem parece ser um caminho viável para compor um esquema teórico empiricamente sustentado que possibilite prevenir e remediar dificuldades de aprendizagem associadas a problemas comportamentais. Portanto, a proposta do presente estudo consistiu em empreender essa análise específica, sendo seu método, resultados e discussão detalhados a seguir.

MÉTODO

O delineamento de pesquisa seguido no presente trabalho foi ex-post-facto do tipo correlacional. Segundo Gil (1999), a pesquisa ex-post-facto apresenta certa semelhança com a experimental, consistindo em uma investigação sistemática e empírica, porém, na qual o pesquisador não tem controle direto sobre as variáveis independentes, porque já ocorreram suas manifestações. Nesse caso, são feitas inferências sobre a relação entre variáveis sem observação direta, a partir de indicadores de variação concomitante entre as variáveis independentes e dependentes (Gil, 1999). Devido às suas limitações, o delineamento ex-post-facto requer o reforço de procedimentos estatísticos (Gil, 1999). Portanto, foi utilizado o controle das variáveis e dos resultados pelo delineamento correlacional, por meio do qual grupos diferenciados na variável de interesse são comparados, a fim de determinar se a presença desta variável controlada altera alguma outra variável (Campos, 2004).

O trabalho que ora se apresenta é composto por dois estudos, um feito em uma cidade e depois replicado em outra, embora não exatamente com os mesmos procedimentos de coleta de dados. No método, os participantes e os procedimentos foram apresentados separadamente, devido às especificidades de cada estudo na coleta dos dados e composição da amostra.