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CAPÍTULO 2 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE EM PORTUGAL

2.11 MODIFICAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO EM SEDE DE CONTROLE

Como no sistema jurídico brasileiro, no português, o controle de constitucionalidade possui, como princípio basilar, a solução do problema no caso concreto, e, secundário, o expurgo da norma do ordenamento jurídico.

Com isso, constata-se que a decisão em sede de controle difuso de constitucionalidade se faz de maneira inter parts e ex tunc, não cabendo extensão para outros casos semelhantes junto a sociedade.

Antes de adentrar no tema acerca da extensão dos efeitos da decisão do Tribunal Constitucional, faz-se imprescindível destacar que o modelo de decisão do Tribunal constitucional é diverso do Supremo Tribunal Federal, haja vista que naquele segue o modelo de cassação da decisão, ou seja, o tribunal ad quem, analisa apenas o âmbito constitucional da

46 Art. 280, nº 3. Quando a norma cuja aplicação tiver sido recusada constar de convenção internacional, de acto

legislativo ou de decreto regulamentar, os recursos previstos na alínea a) do n.º 1 e na alínea a) do n.º 2 são obrigatórios para o Ministério Público.

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matéria posta em julgamento, devolvendo ao tribunal a quo o feito para concluir seu julgado nos moldes da decisão superior, conforme o artigo 80º, n.º 2, 28/1982.

Este é o sábio magistério do professor J. J Canotilho47:

Ele é um órgão de recurso para conhecer da violação do <<bloco da inconstitucionalidade>> e do bloco <<da legalidade reforçada>>, e, nestas vestes, pode revogar total ou parcialmente a decisão recorrida, ordenando que o tribunal a quo proceda a reforma da sentença por ele proferida a fim de se conformar com a decisão do TC quanto a questão da inconstitucionalidade ou da ilegalidade (cfr. LTC, art. 80ª/2).

Maneira diversa ocorre no sistema brasileiro, onde figura o modelo de substituição, cabendo ao próprio tribunal ad quem julgar o processo no estado em que se encontra, ou seja, realizando o julgamento em sua profundidade.

Todavia, em confronto o texto constitucional lusitano em face ao texto brasileiro, constata-se que aquele legislador abriu a faculdade para o Tribunal Constitucional ampliar os efeitos da decisão em sede de controle por via de exceção, é o que determina o artigo 281º, nº 3 da CRP, o qual destaca o seguinte:

3. O Tribunal Constitucional aprecia e declara ainda, com força obrigatória geral, a inconstitucionalidade ou a ilegalidade de qualquer norma, desde que tenha sido por ele julgada inconstitucional ou ilegal em três casos concretos.

A simples analise do texto constitucional acima constata-se a importância do controle difuso, pois visando a morosidade dos legitimados a propor ação direta de inconstitucionalidade, bem como reiteradas decisões vindouras no mesmo sentido, o texto permite a extensão dos efeitos do controle difuso, de inter parts para erga omns, e de ex tunc para ex nunc, caso tenha sido julgado inconstitucional ou ilegal por três vezes em casos concretos.

Todavia, diferentemente do regime brasileiro, o regime de controle difuso em Portugal, não oferta o poder de suspender a norma declarada repetidas vezes pelo órgão competente a outro órgão do tripé do estado, ou seja, neste caso não seja encaminhado ao parlamento o comunicado para suspender tal norma declarada ilegal ou inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, ficando o este mesmo tribunal encarregado de excluir a norma do regime jurídico pátrio.

47CANOTILHO, J.J. Gomes, Direito Constitucional e teoria da constituição. Ed 7ª. ISBM 978-972-40-21-6-5.

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Com o fito de proporcionar mais celeridade aos controles de inconstitucionalidade o legislador português atuou corretamente quando atribuiu ao Tribunal Constitucional autonomia para que em caso de reiteradas decisões acerca do mesmo texto legal, em sede de controle difuso, houvesse possibilidade em modificar os efeitos de interpartes para erga omnes.

O artigo 281, n.º 3 da CRP, dispõe claramente sobre o que foi articulado acima, indicando que depois de reiteradas decisões acerca do mesmo texto legal declarado inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, com número mínimo de 03(três), os efeitos dessa decisão terão eficácia geral contra todos.

Não obstante, o artigo 82º da Lei n.º 28/198248 desta lei permite que o Tribunal Constitucional, reúna esses processos e analise de maneira abstrata a inconstitucionalidade ou ilegalidade da lei.

Em complemento o professor Jorge Miranda (2013)49:

Observe-se, no entanto, desde já, que o cunho muito peculiar do atual sistema português não obsta à relevância da decisão do Tribunal Constitucional (tal como, antes, da Comissão Constitucional) para além do caso concreto. Ela é dupla: 1.º) porque cabe recurso da decisão de qualquer tribunal que aplique norma anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo Tribunal Constitucional (art. 280º., nº 5); 2.º) porque (como se já sabe) quando o tribunal julga três vezes inconstitucional ou ilegal a mesma norma, pode, de seguida, desencadeado um processo(de fiscalização abstrata) com vista a declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória geral(art. 281.º, n.º3). (MIRANDA, Jorge, 2013, p. 241)

Observa-se com o magistério acima que o controle de constitucionalidade por via concreta, praticado pelo direito português possui uma clara inclinação a abstrativização do controle difuso, pois possui amparo no próprio texto constitucional.

Em suma, após o Tribunal Constitucional julgar por 3 (três) vezes uma norma inconstitucional em sede de controle difuso, ficará facultado a este Tribunal modificar o rito do processamento da matéria, para incluir no âmbito do controle abstrato, e após a decisão em sede de tal controle é que a norma seria expurgada do ordenamento jurídico.

À luz desse dispositivo, após a decisão do Tribunal Constitucional acerca da inconstitucionalidade da lei, os órgãos judiciários deverão cumprir a decisão do referido Tribunal superior, cabendo a parte que se sentir prejudicada recorrer para o TC a fim de fazer cumprir essa decisão.

48 Lei orgânica sobre a organização, funcionamento e processo do Tribunal Constitucional.

49MIRANDA, Jorge – Manual de Direito Constitucional. Inconstitucionalidade e Garantia da Constituição. 4ª ed.

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