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Os escritos apresentam momentos reveladores de ideias que se tornam porta-vozes dos dramas e suspiros de seus autores. Elas são como slogans de narrativas pessoais, mas representativas de uma época em curso. Os autores nos oferecem pelos seus escritos ideias tocantes para repensar o mundo!

● “Estando em casa pude observar como os pássaros pousam na varanda e passam pela janela, e como o sol entra pela casa.” Antonio Luiz (in memoriam) ● “Acredito que os serviços de saúde terão que ampliar os atendimentos nos programas de saúde mental.” Aparecida Maria

● “Foi-me dada a missão de encontrar um lugar onde ela tivesse a privacidade de uma suíte e pudesse levar consigo os móveis e todos os seus pertences, incluindo as plantas com as quais ela conversa todas as manhãs.” Claudete Maria ● “Relembrando os projetos parados, como não mergulhar em sonhos e esperanças que foram interrompidos!” Ismalia Edna

● “Coisa que fora deste isolamento eu também o fazia, mas agora a varanda me proporciona um vislumbre mais observador, intenso. É através dela que compartilho com os que se encontram lá fora a liberdade que no momento me foi cerceada.” Jorge

● “Sabemos que é possível criar e desenvolver novas formas de contato com o mundo além da nossa janela.” Laura

● “As crianças sumiram dos parques, dos cinemas, e o mais triste: elas sumiram das escolas e das creches, e de nossas vidas!” Maria Celeste

● “Tentando superar todas essas tristezas procurei o meu próprio eu para saber como iria administrar o isolamento.” Rosilene

● “Já estava habituado ao silêncio. O segredo, porém, é não rejeitar os ruídos, e sim escutá-los como se fossem um mantra.” Samuel

● “Cadê meus amigos, eu vou chorar/Cadê meus parentes, eu vou gritar/Meu isolamento, como aguentar?!/Sem a minha UnATI, eu vou pirar!!” Sinara

REFERÊNCIAS

DEBERT, Guita Grin. A reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização do envelhecimento. São Paulo: Edusp: Fapesp, 2012.

GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.

MASI, Domenico De. Longevidade e velhice. In: O mundo ainda é jovem. São Paulo: Vestígio, 2019.

PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele – a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre: Bookman, 2011.

RISÉRIO, Antonio. A casa no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 2019.

NOTAS:

*Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Gama Filho/UGF (1983), especialização em Ergonomia pela Fundação Getúlio Vargas/FGV-RJ (1984), mestrado em Memória Social e Documento pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO (1998) e doutorado em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ (2008).

12 EXPERIÊNCIA EDUCATIVA SÍNCRONA E ASSÍNCRONA COM IDOSOS: AMIZADE INTERGERACIONAL E CIDADANIA

Conceição de Maria Goulart Braga Cuba*;Danielle de Jesus Moura Santos**; Taise Garcia Amaral** [...] recomece a lutar/quando tudo for escuro/ nada iluminar/ quando tudo for incerto [...] recomece a acreditar [...]

BESSA.

INTRODUÇÃO

Neste capítulo mostramos, uma experiência educativa síncrona e assíncrona1 com idosos, como são definidos os sujeitos maiores de 60 anos pelo Estatuto do Idoso. Utilizamos, principalmente o aplicativo WhatsApp, o mais usado pela maioria dos idosos do curso “Amizade dos idosos na família e na sociedade”, projeto de extensão desenvolvido desde 2009, na Universidade Aberta da Terceira Idade - UnATI.Uerj. O projeto visa “Proporcionar maior integração dos idosos da UnATI.Uerj, na família e na sociedade, sobretudo no sentido de assegurar os seus direitos sociais e a sua cidadania” (CUBA, 2008, p. 3). Fundamenta o projeto, a obra da filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975), pensadora da ruptura com a tradição, que apresenta uma ideia de um constante recomeço e esperança na dignidade humana.

A Universidade Aberta da Terceira Idade - UnATI.Uerj, criada em agosto de 1993, integra em suas atividades, o ensino, a pesquisa e a extensão, sendo oriunda do grupo de estudos, coordenado pelo professor Américo Piquet Carneiro, composto de profissionais qualificados de diversas áreas do Hospital Universitário Pedro Ernesto - HUPE/UERJ, que estudavam questões do processo de envelhecimento. Os assistentes sociais estão presentes nesse programa desde a sua criação, como professores e coordenadores de projetos, que constituem cursos para idosos, também ministrando supervisão aos estagiários de Serviço Social que compõem suas equipes. A UnATI propicia aos idosos atualização de conhecimentos

e construção de novas amizades inclusive com outras gerações, em atividades educativas, que permitem quebrar preconceitos e enfrentar o isolamento social. Vejamos o que diz este relato:

[...] Temos que buscar novas amizades, trocar novas experiências, sair para dançar, viajar e buscar novas atividades. [...] quando nos isolamos, a tendência é desenvolver depressão [...]. Por isso, eu acho que a UNATI é fundamental e você é ótima, pois, nessa situação em que vivemos no momento, esse contato tem me ajudado muito. Esse isolamento dificulta bastante e faz falta frequentar as oficinas (ANTÔNIO, in memoriam).

Ao mesmo tempo, ele se refere a outra forma de isolamento social, que tem sido vivenciada no contexto da pandemia COVID-192, e agravado o preconceito em relação ao idoso, como esclarece Márcia Tavares da Coppe/UFRJ:

Quando os [...] idosos foram classificados como grupo de risco, [...] não demorou muito para que o preconceito com as pessoas com 60 anos ou mais se tornasse ainda mais nítido. As redes sociais foram alimentadas com memes que chamaram a atenção para essa população, projetando neles o estereótipo de excepcionalmente frágeis, teimosos, inconsequentes (RIOS, R. BATISTA, V. STRICKLAND, 2020, n.p.).

O preconceito e os estereótipos, além da desigualdade já existente no país, que aumentou nesse período e, se expressa como manifestação social, podem levar os idosos a uma desmobilização para se expressarem na esfera pública, e isso desafia até o campo das relações intergeracionais. Atentas a essas questões, desenvolvemos uma experiência educativa, buscando manter os idosos próximos na distância, ativos e atualizados durante o isolamento social.

Para fundamentar nossa reflexão, apresentamos uma breve discussão conceitual sobre amizade intergeracional e direitos sociais e sua relação com o elemento político da amizade em Hannah Arendt; a experiência educativa síncrona e assíncrona com idosos no contexto do curso e, finalmente, tecemos considerações. Alguns relatos estão incorporados ao texto.