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5.2 Projeto “Educação para o Desenvolvimento Sustentável”

5.2.2 Monitoramento Ambiental Voluntário

Foi proposto, pelos próprios atores envolvidos no projeto, a adoção de um programa de monitoramento10 ambiental participativo e voluntário nos mananciais da BHR (figura 11), utilizando-se ecokits (figura 10 e 12) para análise dos principais parâmetros físico-químicos da água, indicando sua qualidade, e viabilizando, conseqüentemente, discussões referentes à necessidade de um controle permanente dos mananciais e de todo o ambiente. Todavia, cabe salientar que o compromisso e a competência dos educadores e dos líderes comunitários são requisitos indispensáveis para passar do discurso à ação (IBAMA, 2000).

O de monitoramento teve início respectivamente em junho e agosto de 2000 pelo âmbito escolar e associações comunitárias (Emerim, 2001), visando o envolvimento prático no levantamento de informações para o diagnóstico ambiental da região, mobilização fiscalizatória da comunidade frente aos problemas ambientais para a mudança de atitudes de toda a comunidade inserida na área na área em questão. Segundo Porréca (1998), o monitoramento é definido como uma determinação contínua e periódica da qualidade dos recursos ambientais e da quantidade de poluentes presentes no meio ambiente.

O ecokit utilizado compõe-se de frascos de reagentes para a análise dos principais parâmetros físico-químicos da água, indicando sua qualidade. O kit apresenta, também, um manual explicando o modo de usar e abordando a importância ambiental dos parâmetros analisados. Os parâmetros físico-químicos

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Segundo o The World Bank (1993 apud Bonilha, 1999), os procedimentos de monitoramento para fim de GCI devem incluir: (I) identificação de um desempenho esperado; (II) análise e/ou medidas de desempenho esperado; (III) estabelecimento de variações destes desempenhos; e, (IV) procedimentos de comunicação para variações que excedam os limites estabelecidos para um gerenciamento apropriado.

mensurados através do ecokit são: temperatura da água e do ar, oxigênio dissolvido, ph, ferro, fosfato, amônia, turbidez e salinidade.

Figura 10: Ecokit

Fonte: Alfa Tecnoquímica

Figura 11: Ponto de coleta do Monitoramento Ambiental Voluntário

Fonte: ESEC de Carijós

Figura 12: Análise da qualidade da água utilizando o ecokit

Fonte: ESEC de Carijós

Este instrumento fornece condições de identificar possíveis fontes de poluição que porventura ocorram na área monitorada. É um instrumento educativo e produz resultados que indicam a qualidade da água. O ecokit, juntamente com as informações teóricas e práticas obtidas no curso (figura 13 e 14), permite aos professores a continuação de sua capacitação no âmbito escolar, onde os professores capacitados juntamente com seus alunos e professores voluntários

desenvolvem seu projeto de diagnóstico e monitoramento ambiental da qualidade da água. Nesta fase, há coleta extensiva de informações não somente da qualidade da água, mas, também, de outros aspectos da Bacia, como uso do solo, atividades econômicas principais, fontes de poluição, contaminação, clima, geologia, entre outros.

Figura 13: Atividades de campo no curso “Educação para o

Desenvolvimento Sustentável” Fonte: NEMAR/UFSC

Figura 14: Atividades práticas de capacitação para a utilização do ecokit

Fonte: NEMAR/UFSC

O curso de capacitação para os educadores/líderes contribuiu para despertar nos mesmos e, conseqüentemente, nos educandos/comunidade, uma visão mais crítica da realidade da área de estudo, visto que as atividades relacionadas com a coleta e análise da qualidade da água funcionaram/funcionam como mediadoras e motivadoras de outras informações com estas relacionadas (Ravagnani et al., 2000).

O ecokit apresenta-se como um mediador para interagir na comunidade e respalda o corpo docente no sentido de proporcionar ao educando uma vivência de interação com o próprio meio, além da utilização dos parâmetros para traçar os dados da comunidade.

A avaliação da qualidade dos recursos hídricos vem assumindo importância crescente, face à gravidade do problema, particularmente em algumas regiões catarinenses, onde a degradação dos recursos hídricos tem impedido sua integral utilização (Santa Catarina, 1997).

Como conseqüência, os conflitos pelo uso da água em algumas regiões do Estado, entre os diversos usuários, têm sido cada vez mais freqüentes. A demanda

vem atingindo níveis críticos, caminhando para uma situação de conflito e uso nos próximos anos caso medidas concretas com relação aos recursos hídricos não sejam tomadas a tempo (Santa Catarina, 1997).

Cada instituição recebeu, sem nenhum ônus, o curso de capacitação com apostila, o kit de ecologia e uma máquina fotográfica que permitiu aos participantes registrarem a caracterização dos locais de coleta e suas condições ambientais para o Monitoramento Ambiental Participativo e Voluntário, sendo este conhecido por sua operacionalidade, eficiência e factibilidade. Apesar das vantagens do monitoramento voluntário, muitos pesquisadores ainda relutam em acreditar na validade científica destas informações (Ellet & Mayio, 1990 apud Bonilha et al., 1999).

Os dados de coleta eram armazenados em fichas de campo, preenchidas pelos monitores. O objetivo principal do monitoramento é o envolvimento e estímulo comunitário, oportunizando uma percepção crítica das alterações ambientais em seu espaço, através de ações de monitoramento ambiental. Todavia, convém verificar se os próprios monitores, juntamente com a comunidade podem reivindicar melhorias na região aos órgãos competentes, e se os mesmos apresentam interesse e envolvimento pela questão.

Os pontos de coleta foram georreferenciados num mosaico de fotos aéreas, para uma visualização integrada dos pontos de coleta e instituições integrantes do Programa de monitoramento (figura 15).

O curso contou com a participação de nove escolas (Escola Intendente Aricomedes, Escola de Educação Básica Paulo Fontes, Escola Municipal Osmar Cunha, Escola Municipal Albertina Madalena Dias, Colégio de Educação Infantil CEI Marte, Escola Básica Municipal Praia de Fora, Escola Básica Municipal Osvaldo Machado, Escola Desdobrada Agenor Manoel Gaia, Escola Básica Municipal Mâncio Costa) e oito associações comunitárias (Associação de Pescadores do Rio Ratones, Associação Triunfo (Futebol), Associação Comunitária Espiritualista Patriarca São José, Associação de Agricultores Orgânicos (Agroflor), Associação dos Moradores de Ratones, Associação Amigos de Carijós, Associação dos Moradores de Jurerê, Associação dos Moradores da Praia do Forte e Conselho Comunitário de Sambaqui).

Algumas escolas não realizaram as coletas, alegando falta de tempo na grade curricular, dúvidas na manipulação do ecokit, transferência de professores, tempo não propício para saídas a campo e outras abordagens da questão ambiental na escola.

Figura 15: Mosaico de fotografias aéreas, georreferenciando os pontos de coletas e instituições engajadas no programa

Fonte: Projeto “Conhecimento e Gerenciamento da Bacia Hidrográfica de Ratones e seu manguezal”. NEMAR/UFSC – ESEC/IBAMA

Durante as reuniões e cursos de capacitação dos líderes comunitários, alguns optaram utilizar, além do ecokit, outras ações práticas de mobilização: um mutirão de limpeza para recolhimento do lixo no Pontal da Daniela e ao longo da SC 402 (figuras 16 e 17). Nas primeiras reuniões participaram apenas dez representantes comunitários, e, segundo Emerim (2001), o baixo índice de comparecimento demonstrou pouco interesse ao tema e muitas restrições em relação aos órgãos públicos, especialmente os de fiscalização.

O programa de monitoramento ambiental voluntário possibilita uma rara liberdade criativa aos participantes, visto que os mesmos podem desenvolver diversas atividades mediadas pelos dados do ecokit. Ao trabalharem em suas respectivas escolas, os professores/alunos usufruem as características próprias do entorno sem haver distanciamento do tema principal. Obtêm, também, entre outras as seguintes bases para o conhecimento: a) uma visão teórica e sintética sobre o problema da BHR e seu uso; b) uma visão teórica sobre os problemas da qualidade da água e os efeitos dos usos regionais da água; c) a capacitação no uso de técnicas de análise da qualidade da água; d) a capacitação em interpretação dos resultados sobre as análises da qualidade da água; e) uma visão integrada, utilizando-se a qualidade da água como catalizadora dos problemas, e o conceito de bacia hidrográfica como um sistema estimulador em educação ambiental (Bonilha et al., 1999).

Figura 16: Campanha do Mutirão de Limpeza no entorno da BHR

Fonte: NEMAR/UFSC

Figura 17: Mutirão de limpeza no entorno da BHR Fonte: NEMAR/UFSC

Convém mencionar que as turmas que mais se destacaram realizaram uma excursão à Ilha do Francês (frente à Praia de Jurerê) adjacente à BHR, promovida

em parceria com ONG’s ambientalistas, Polícia Ambiental e IBAMA, visando a "caça ao lixo" na Ilha e na praia, sensibilizar os próprios alunos, mobilizar a mídia e, conseqüentemente, a comunidade.

Segundo Sidagis-Galli (1999), as bacias hidrográficas são sistemas que constituem uma unidade adequada ao estudo dos ecossistemas e permitem um melhor entendimento científico dos processos naturais.

Devido a um grande investimento no projeto para a mobilização, capacitação e engajamento da comunidade, constatamos a fundamental importância em impulsionar a continuidade do Projeto, pois a comunidade criou uma grande expectativa em relação ao mesmo e como conseqüência, proporcionou uma significativa integração, principalmente entre as escolas, lideranças comunitárias e Estação Ecológica de Carijós. Nesse contexto, a Estação Ecológica de Carijós, juntamente com a ONG "Associação Amigos de Carijós" se propuseram a fomentar esse processo de integração entre as comunidades inseridas na Bacia com o Programa de Monitoramento Ambiental Voluntário.

Concluídas as metas do projeto “Conhecimento e Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Ratones e seu Manguezal” pelo NEMAR/UFSC e ESEC de Carijós/IBAMA, realizamos algumas discussões, levantamento de hipóteses, dúvidas e sugestões para encaminhar o projeto com êxito, além de reuniões visando a constante reafirmação da participação e integração da equipe. Os encontros têm sido pautados na elaboração de cronogramas, de coletas, distribuição de planilhas de campo, revisão do ecokit, reuniões para interpretar os dados encontrados e tentar sanar as possíveis dúvidas. As reuniões geralmente ocorrem na ESEC de Carijós (figura 18), nas comunidades e nas escolas, como forma de valorizar os espaços mais freqüentados pelos participantes. Conforme as possibilidades, além das atas, têm sido organizados e distribuídos aos participantes um documento contendo o resumo dos acontecimentos e êxitos do programa.