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Monteiro Lobato e Companhia

No documento Monteiro Lobato: contista e editor (páginas 50-54)

2. O SURGIMENTO DE UM EDITOR REVOLUCIONÁRIO

2.2 O editor Monteiro Lobato

2.2.2 Monteiro Lobato e Companhia

Em meados de 1920, paralelamente à produção da Revista do Brasil, foi fundada a primeira editora de Monteiro Lobato ― Monteiro Lobato e Companhia ― tendo como sócio o jovem Octalles Marcondes Ferreira, de 19 anos.

Começando a operar em julho, a nova editora cria uma cadeia de vendedores espalhados pelo país e entra no mercado publicando livros em escala crescente. Todos os serviços foram reorganizados no sentido de incrementar a produção e, com isso, ao término do segundo semestre de 1920, o capital ascendia a 130 contos, tendo sido impressos sessenta mil volumes. (AZEVEDO; CAMARGO; SACCHETTA, 1997, p. 130)

Com a maior quantidade de vendedores de livros, a produção começou a crescer. Eles, que antes eram publicados em centenas, passaram a ser publicados aos milhares. Com a Monteiro Lobato e Companhia, Lobato publicava geralmente quatro mil livros em cada edição. A primeira grande ousadia como editor foi a edição de cinquenta mil e quinhentos exemplares de A menina do narizinho arrebitado, que viria a ser utilizado nas escolas públicas brasileiras. Junto às novidades que implantou, mudou a programação visual dos livros. Deixou-os mais atrativos, contratando artistas para fazer as capas e as ilustrações. O contraste do novo padrão gráfico, colorido e atraente, era grande, em comparado com as capas publicadas na Europa, com tons que variavam entre cinza e amarelo. Bignotto (2007) ressaltou o formato e a beleza dos livros publicados pela coleção Brasília e pela “Biblioteca da Rainha Mab”:

Além da coleção Brasília, o catálogo de 1923 anuncia a “Biblioteca da Rainha Mab”, uma coleç~o de “livros em pequeno formato, corpo 8, extraordinariamente cômodos para trazer no

bolso e lindamente encapados em ‘Castilian Cover’, ou couro artificial dos americanos”. A ênfase da publicidade recai sobre a materialidade das obras: seu tamanho, sua praticidade, a beleza da capa. Os três primeiros livros publicados foram A veranista, romance de Abel Juruá (pseudônimo de Iracema Guimarães Vilella, filha do poeta parnasiano Luís Guimarães Júnior), A casa do gato cinzento, contos de Ribeiro Couto e Quem vê cara..., “contos dialogados” de Mario Sette. Propaganda no interior dos livros apresentava- os como “destinados a figurar no cestinho de costura das moças”. (BIGNOTTO, 2007)

Bons exemplos de obras bem acabadas e de capas atrativas são Esfinges, de Francisca Julia e Trovas de Espanha, de Afonso Celso, publicadas em 1921 e 1922, respectivamente, ambas com ilustrações e muitas cores. Antes de Lobato, as obras ilustradas praticamente inexistiam. Como editor, chamou artistas como J. Wasth Rodrigues, Rui Ferreira, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Correia Dias e muitos outros para criarem belas ilustrações que viriam a ser inseridas nas capas ou ao longo das histórias.

Figura 5: Capa de Esfinges,

Foram desenhos de Anita Malfatti que ilustraram as capas dos livros O homem e a morte, de Menotti del Picchia e Os condenados, de Oswald de Andrade, publicados em 1922, ano em que foi realizada a Semana de Arte Moderna. Com isso, é possível notar que o editor não desprestigiava o trabalho da artista ou o próprio movimento Modernista, como alguns críticos afirmam apressadamente.

Muitos escritores almejavam ter seus livros publicados por Lobato. Dessa forma, a editora tinha o privilégio de escolher os livros que seriam publicados, mantendo, assim, um alto padrão literário, mesmo em se tratando de autores novos. Léo Vaz, Hilário Tácito, Oliveira Viana e Paulo Setúbal foram alguns dos autores lançados por Monteiro Lobato.

O editor dizia que, por haver uma procura tão grande por publicações, era sua editora que estava revelando obras escondidas ou esquecidas há muitos anos. No comando da Monteiro Lobato e

Figura 7: Capa de O homem e

a morte, de Menotti Del

Picchia.

Figura 7: Capa de O homem e a

morte, de Menotti Del Picchia.

Figura 8: Capa do livro de Oswald de Andrade, Os condenados. Figura 7: Capa de O homem e a

Companhia, Lobato fez surgir uma grande quantidade de novos talentos literários. O editor queria novidade nas livrarias.

No ano de 1920, a editora de Lobato chegou a vender cerca de quatro mil livros por mês. Edgard Cavalheiro conta que, em 1919, quase 60 mil exemplares foram lançados. Lobato acreditava nos novos talentos literários de nosso país. Buscava lançar novos autores, sem deixar de ser criterioso em sua seleção. Bignotto afirmou que “ainda que nomes como o de Taunay indiquem aposta do editor em autor já aprovado pelo público [...] Lobato se diferencia de editores como os irmãos Garnier que [...] parecem ter concentrado seus investimentos em nomes já conhecidos do público.” (BIGNOTTO, 2007)

Em 1922, o editor encomendou equipamentos novos e importados e mudou para um prédio maior, na Rua dos Gusmões, lugar onde pretendia abrir uma oficina gráfica. Com um prédio maior, a sociedade também aumentou. Naquele ano, Lobato admitiu novos sócios para fazerem parte da Monteiro Lobato e Companhia. Entre eles, Heitor de Morais ― cunhado de Lobato ―, José Antônio Nogueira ― seu amigo da época do Minarete ―, Paulo Prado, Alberto Seabra, entre outros e, dessa forma, a editora passou a ser sociedade anônima.

Embora se esforçasse para publicar novos talentos, ou seja, livros em que o sucesso de vendas era incerto, e autores que eram de sua rede de amizades, o que às vezes chegava até mesmo a causar certo prejuízo à editora, Lobato começou a recusar alguns originais, devido à grande quantidade de obras que apareciam e ao fato de não possuírem tamanha capacidade de impressão.

Foi nessa época de recusas, entre 1922 e 1923, que começou a publicar também livros didáticos, publicações que lhe pareciam ser rendosas:

A vendagem dos livros tem caído; todos os livreiros se queixam — mas o público tem razão. Câmbio infame, aperto geral, vida cara. Não há sobras nos orçamentos para a compra

dessa absoluta inutilidade chamada ‘livro’.

Primo vivere. [...]

[...] Estamos refreando as edições literárias para intensificação das escolares. O bom negócio é o didático. Todos os editores começam com a literatura geral e por fim se fecham na didática. Veja o Alves. (LOBATO, 2010a, p. 488)

Mesmo com a baixa vendagem de livros que a editora enfrentava naquele momento, ficou pouco tempo instalada na Rua dos Gusmões. Depois de comprar maquinário novo e estrangeiro à prazo e de gerar uma grande dívida, Lobato decidiu mudar novamente, agora para um prédio ainda maior, com aproximadamente cinco mil metros quadrados, localizado no Brás, na Rua Brigadeiro Machado. Seria lá o berço de sua mais nova editora.

A Monteiro Lobato e Companhia, primeira editora de Lobato, publicou cerca de 285 obras ao longo dos quase cinco anos de funcionamento, alcançando seu ápice no ano de 1923, com 145 lançamentos, inspirando, assim, seu idealizador a investir nos negócios e abrir uma nova editora.

No documento Monteiro Lobato: contista e editor (páginas 50-54)