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ATIVIDADES NA BAHIA: CANTARIA LOCAL E IMPORTADA

4.9 MONUMENTOS FUNERÁRIOS

Após a morte, em todas as civilizações, normalmente havia a necessidade de marcar, com referência externa visível, o local de enterro, dando origem, assim, aos monumentos funerários. Seja entre os egípcios, através de construção das pirâmides ou nas civilizações mesopotâmicas, gregas, romanas ou entre as tribos mais primitivas ou no Brasi, os monumentos funerários são combinados com outros objetos de caráter simbólico, ritualístico, religioso com o conteúdo espiritual específico de cada civilização.

O sepultamento nas igrejas, locais sagrados, foi tido como o mais apropriado durante séculos na Europa, e também aqui no Brasil, usando as lápides, túmulos e carneiras. Mendes329, na sua tese sobre Cantaria de Lioz na Arquitetura Funerária

de Salvador no século XIX, vai contribuir com este estudo, analisando as

representações arquitetônicas em cantaria de lioz nas igrejas e cemitérios da Cidade do Salvador no século XIX. A autora330 explica que, tanto em Lisboa quanto em Salvador, havia uma hierarquização dos enterramentos, e que certos lugares na igreja eram disputados entre os mais ricos, enquanto os mais pobres e escravos eram sepultados em locais mais afastados ou mesmo fora da igreja. Entre os espaços selecionados para os sepultamentos, a cova no adro era um espaço tão desprezível que podia ser até mesmo gratuito.

Assim, o sepultamento nas igrejas era somente para a classe mais abastada. Jaboatam331 observa que, na primitiva Igreja do Convento de São Francisco, na capela-mor, foi sepultado, no dia 1º de novembro de 1618, o quarto Bispo Dom Constantino Barradas do Brasil: “[...] tão capucha a sua igrejinha, ainda assim sérvio sua capella mór, se naõ de levantado e rico Mausoléo, de decente e sagrado Monumento em que quiz fosse depositado o seo corpo”. Outras pessoas abastadas da época escolheram seus jazigos nesta igreja dando “avantajadas esmolas”, como

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IPHAN. Arquivo Técnico: Igreja Catedral Basílica 130.002-2661, Caixa 01.3.. 329

MENDES, Cibele de Matos. A cantaria de lioz na arquitetura funerária de Salvador no século XX. 2016. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) — Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.

330

Id., ibid., p.143. 331

o Moço Fidalgo do Infante D. Luiz e sua esposa Genebra Alves, segunda filha do casal Catharina e Diogo Alves, também conhecido como Caramuru.

Na Catedral Basílica, entre as relíquias históricas, estão as sepulturas do terceiro governador do Brasil, Mem de Sá, e os restos de Caramuru.

As três lápides sepulcrais ainda hoje existentes na Igreja da Vitória, deslocadas dos sepulcros originais, têm as seguintes inscrições: “Aqui jaz Affonso Rodrigues natural de Óbidos, o primeiro homem que casou nesta igreja no ano de 1534 com Magdalena Álvares, filha de Diogo Álvares Correa, primeiro povoador desta capitania. Faleceu o dito Affonso Rodrigues, no ano de 1561. Para os juízes do Santíssimo Sacramento da Vitória”. Em outra lápide, lê-se: “Sepultura do Capitão Francisco de Barros, fundador desta capela e igreja e de seus herdeiros. Faleceu a 19 de novembro de 1621.” Na terceira lápide lê-se: “Aqui jaz João Marante, natural de Coimbra, que casou com Isabel Rodrigues, neta de Diogo Álvares de Correa, primeiro povoador desta capitania; esta sepultura pertence aos seus herdeiros e aos tesoureiros e escrivães do Santíssimo Sacramento”. Essas lápides são tombadas pelo IPHAN,assim como outra lápide (porém não sepulcral)332.

Os baianos, mesmo muitas vezes sendo enterrados nas igrejas de suas próprias freguesias, tinham algumas preferências, de modo que algumas igrejas eram mais disputadas que outras333. Segundo Calderón334, a partir de 1701, e durante muitos anos, a Igreja de Santa Teresa foi escolhida como última morada de personagens ilustres baianos, gerando recursos para o convento. Ainda durante a restauração de 1958, foi levantada a questão da localização das lápides tumulares no convento, porém não se sabe se foi efetuada alguma mudança335. Além disso, algumas das antigas lápides da Igreja da Sé foram recuperadas após sua demolição e levadas para o Museu de Arte Sacra.

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LIVRO de Belas Artes. Inscrições tumulares da Igreja da Vitória (Salvador, BA): Inscrição: 138. Data: 17-6-1938. Outros Nomes: Inscrições lapidares da Igreja da Vitória: “São quatro as inscrições lapidares que, hoje, se encontram na sacristia da Igreja da Vitória. Uma das mais importantes encontrava-se na base de uma das pilastras no extremo sul da fachada, tendo sido executada em 1809 para comemorar a última reedificação e restituir ao templo o prestígio de ser um dos mais antigos da cidade. Sua inscrição refere-se à construção da Igreja, sua elevação à Matriz e sua reedificação”.

333 REIS, João José. A morte é uma festa. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p.189: “Tomemos a freguesia da Sé como exemplo. Em 1835-6, a Sé sepultou 71,3% de seus habitantes em sua matriz e em São Francisco; esta recebeu 31%, aquela 40,3%. Num distante terceiro lugar vinha a hoje desaparecida igreja dos Pardos de Nossa Senhora de Guadalupe (demolida em 1857), com 7%.” 334

CALDERÓN DE LA VARA, Vicente. Biografia de um monumento: o antigo convento de Santa Teresa da Bahia. Estudos Baianos. Salvador; Universidade Federal da Bahia, n,3,1970. p.135. 335

Calderón336 cita a lápide desenhada pelo Irmão Paulo Lachenmayer, do Mosteiro de São Bento, para o fundador da Universidade Federal da Bahia e do Museu de Arte Sacra, o Magnífico Reitor Edgard Santos. Valladares337 comenta, entre as lápides de outras igrejas, as da Igreja do Rosário dos Pretos. Todo o piso e os frontais laterais do corpo da igreja são de cantaria bastante refinada, com destaque para a laje sepulcral de pedra lioz, do Reverendo Padre José Vieira da Mota, datada de 1738.

Infelizmente, pode-se observar que o estado de conservação de diversas lápides que se encontram no piso interno em diferentes igrejas de Salvador é precário, encontrando-se muitas vezes desgastadas e/ou quebradas, com a possibilidade de perda total de suas informações e supostos desenhos e arte. Em conversa com a professora Cybèle Celestino, ela chamou a atenção para o descaso com esses materiais líticos, acentuando a importância de um trabalho de documentação detalhado de todas as lápides existentes nas igrejas e seu estado de conservação, antes que elas desapareçam por completo (Figuras 98 e 99).

Figura 98 – Lápide no altar da Igreja de São Francisco

Figura 99 – Lápide na Ordem Terceira de São Francisco

Fonte: Acervo da autora (2018).

336

CALDERÓN DE LA VARA, Vicente. Biografia de um monumento..., op. cit., p.146. 337

VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e sociedade nos cemitérios brasileiros: um estudo da arte cemiterial ocorrida no Brasil desde as sepulturas de igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles secularizadas. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura/MEC, 1972. p.304.

O sepultamento nas igrejas era uma preocupação muitas vezes expressa nos testamentos, determinando o local desejado para se ser enterrado, o que, segundo Reis, era uma forma de se recomendar a alma aos céus338. Além disso, o enterro era um grande negócio. Os funerais caracterizavam-se pelo excesso de pompa, tornando-se um grande acontecimento de luxo. Porém, a partir do século XVIII, a França começa a preocupar-se com a salubridade pública e, após trabalho constante de médicos e higienistas, os franceses passam a proibir o enterro nas igrejas. “Os legisladores seguiam os doutores, procurando reordenar o espaço ocupado pelo morto na sociedade, estabelecendo uma nova geografia urbana da relação entre mortos e vivos”339

.

Em Portugal, no início do século XIX, vai ocorrer a mesma proibição dos enterros nas igrejas e se estabelece a necessidade de seguir a nova ordem de construção de cemitérios fora dos perímetros da cidade. Assim como em Lisboa, aconteceu também na Bahia, em 1836, uma manifestação popular conhecida como “cemiterada”, tão bem detalhada no livro de Reis já mencionado. Essa revolta ocorreu em virtude de o governo ter feito uma concessão a uma empresa privada para monopolizar os enterros, proibindo-os dentro das igrejas. A Lei Provincial nº57, de 5 de maio de 1837, autorizou o Governo a vender o cemitério antes privatizado, sendo aceita a proposta da Santa Casa de Misericórdia, em 1839, e este foi vendido por 10$000 réis, sendo pagos 1$000 réis a cada ano340. Nessa época, todo o cemitério encontrava-se bastante destruído, após o motim popular, o que foi agravado ainda por quatro anos de abandono341. Chamado de Cemitério do Campo Santo, passou a funcionar realmente em 1844.

Na Fala dirigida à Assembleia Legislativa Provincial da Bahia342, na abertura da sessão ordinária do ano de 1846, pelo presidente da província, Francisco José de Sousa Soares d'Andrea, este declara que convém proibir completamente que haja

338

REIS, João José. A morte é uma festa..., op. cit., p. 185. O autor apresenta tabela dos tipos de templo pedido, para sepultura.

339

REIS, João José. A morte é uma festa, op. cit., p.24.

340

FALLA que recitou o presidente da província da Bahia, Thomaz Xavier Garcia de Almeida, na abertura da Assemblea Legislativa da mesma província em 2 de fevereiro de 1840, Bahia. Disponível em: < http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/103/000021.html >. Acesso em: 21 abr. 2017.

341

RELATÓRIO dos Trabalhos do Conselho Interino de Gov. (Ba) 1823-1889. Anno 1863\Edição 000001. In: FALLA que recitou na abertura da Assemblea Legislativa da Bahia o presidente de

província conselheiro Antonio Coelho de Sá e Albuquerque em 1º de março 1863. Disponível em: < http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/128/.../>. Acesso em: 22 abr. 2017.

342

FALLA que recitou na abertura da Assemblea Legislativa da Bahia o presidente de província conselheiro Francisco José de Sousa Soares d'Andrea em 1º de março de 1846. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/109/000009.html >. Acesso em: 15 abr. 2017.

sepulturas nos templos ou lugares fechados. Ele explica que os sepultamentos devem ser feitos em campos elevados e distantes da cidade, em jazigos separados para famílias e Irmandades, tornando-se objeto de renda para as freguesias. Ele, inclusive, diz que, quando essa lei fosse publicada, seria necessária uma quantia exclusiva para comprar esses campos, cercá-los e construir capelas e jazigos.

Continuou existindo grande resistência da população em enterrar seus mortos em cemitérios, até que se conseguisse mudar esse costume. Na Fala que recitou o Presidente da Província da Bahia, o conselheiro Antônio Ignacio d'Azevedo, em 2 de fevereiro de 1847, além de reclamar da falta de cemitérios para enterramento dos corpos, convidou as Irmandades do Santíssimo Sacramento, nos Termos de Fora, e a da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, a se encarregarem desses cemitérios. “Só essas corporações poderão, com o exemplo do enterro de seus Membros fora dos templos, ir corrigindo o povo da supersticiosa prevenção que têm contra semelhante estabelecimento”343

.

Somente após a tremenda epidemia de cólera, em 1855, foi decretada na Bahia a lei que proibia os sepultamentos nas igrejas. Na Fala recitada na abertura da Assembleia Legislativa da Bahia pelo presidente da província, o doutor Álvaro Tiberio de Moncorvo e Lima, em 14 de maio de 1856, é esclarecido que, além do cemitério do Campo Santo, já de propriedade da Santa Casa de Misericórdia, existiam em Salvador outros dois cemitérios: na Quinta dos Lázaros e na Massaranduba. Este último, que foi aberto “no meio dos horrores da peste que nos flagelou, nada mais até hoje se fez do que cercar o recinto destinado as inhumações para que podesse haver a conveniente polícia interna”. O documento fala, também, sobre melhoramento do acesso ao cemitério, através da estrada Formosa, obra já iniciada, e da vantagem de este cemitério ser acessível também via mar. Nesse período, o cemitério da Quinta estava sendo nivelado e recintado com muralhas344.

Como na Europa, também na Bahia não foi fácil modificar as regras funerárias, que eram ditadas e executadas pela Igreja Católica, pois era uma forma de

343

FALLA que recitou o presidente da província da Bahia conselheiro Antônio Ignacio d'Azevedo, em 2 de fevereiro de 1847. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/110/000008.html>. Acesso em: 15 abr. 2017.

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FALLA recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia pelo presidente da provincia, o doutor Alvaro Tiberio de Moncorvo e Lima em 14 de maio de 1856. Bahia: Typ. de Antonio Olavo da França Guerra e Comp., 1856.Disponível em: < http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/110/000008.html >. Acesso em: 18 jun; 2017.

incrementar a renda das Irmandades345, além de a população ter tido, durante muito tempo, grande resistência a não enterrar seus mortos fora de lugar considerado sagrado. Ainda no ano de 1856, o presidente da Província, doutor Alvaro Tiberio de Moncorvo e Lima, preocupando-se em agradar os fiéis, mandou executar, com todo o cuidado e eficiência, as obras reclamadas para que o cemitério na Massaranduba, que nesta época estava em obra, “tivesse todos os quesitos exigidos pelo nosso Culto Religioso” 346

.

Além da dificuldade de se implantar a nova lei entre os cidadãos cristãos e as Irmandades, a cidade não estava ainda preparada para seguir essa nova demanda. Em 1858, o Presidente da Província, desembargador Manoel Messias de Leão, autoriza o engenheiro militar Lourenço Elloy Pessoa de Barros a se encarregar da planta e do projeto para o cemitério do Bom-Jesus e capela, em Itapagipe347. Nesse mesmo ano, havia a necessidade de serem feitas algumas obras no Cemitério da Quinta dos Lázaros que, no dia 29 de julho, já estavam acontecendo348. O regulamento de 25 de julho de 1856, dado para execução de Lei nº 404, de 2 de agosto de 1850, continuava a lutar contra a falta de cemitérios e o “Governo viu a necessidade de conceder, em algumas circunstâncias, as inhumações nas Igrejas”349

.

No século XIX, segundo Mendes (2016, p.130-180), a secularização dos cemitérios, tanto na Europa quanto no Brasil, abriu possibilidades para novo mercado entre os canteiros. Muitas vezes, estes não só executavam a obra como também eram autores das construções funerárias. As técnicas das marmorarias portuguesas vão chegar ao Brasil, influenciando essa arte nos nossos cemitérios, seja através dos objetos que chegavam de Portugal, como através dos artesãos

345

REIS, João José. A morte é uma festa, op. cit.,Cap. 9,p.228; 232.

346

FALLA recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia pelo presidente da provincia, o doutor Alvaro Tiberio de Moncorvo e Lima em 14 de maio de 1856. Bahia: Typ. de Antonio Olavo da França Guerra e Comp.,1856. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/110/000008.html>. Acesso em: 18 jun; 2017.

347

FALLA recitada na Assembléia Legislativa da Bahia pelo 1º vice-presidente da província desembargador Manoel Messias de Leão, em 15 de setembro de 1858. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/121/000083.html >. Acesso em: 21 abr. 2017.

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AUTORIZAÇÃO do Presidente da Província, desembargador Manoel Messias de Leão, ao engenheiro Lourenço Elloy Pessoa de Barros da comissão da planta e do projeto para o cemitério do Bom-Jesus e capela, em Itapagipe. In: FALLA recitada na Assembléa Legislativa da Bahia pelo 1º vice-presidente da província desembargador Manoel Messias de Leão, em 15 de setembro de 1858. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/121/000101.html >. Acesso em: 24 abr. 2017.

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FALLA recitada na Assembléa Legislativa da Bahia pelo 1º vice-presidente da província desembargador Manoel Messias de Leão, em 15 de setembro de 1858. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/121/000009.html>. Acesso em: 21 abr. 2017.

locais, que seguiam o gosto português. A autora explica que os canteiros de Lisboa se reuniam em associações de classe e tinham acesso a modelos e vários tipos de guia de arquitetura funerária. O lioz foi a pedra mais usada nos monumentos sepulcrais da Lisboa oitocentista. Um monumento podia ser executado com vários tipos de lioz, que, a depender de sua qualidade, eram colocados em determinado local da peça350.

Nota-se que, no século XIX, aqui na Bahia, os monumentos funerários, como urnas, carneiras, altares e capelas funerárias eram, muitas vezes, importados e chegavam já prontos. A maioria dos elementos, como as capelas fúnebres, travessas de tampa de mármore para depósito de ossos e carneiras desembarcadas no porto de Salvador, em diferentes despachos, não identificava o local onde foram colocadas, pois chegavam sem constar, no documento de importação, o seu destino final.

No APEB, entre as Notas de Despacho de Importação do século XIX, foram encontrados outros tipos de elementos líticos, provavelmente usados como mobiliário funerário, como estátuas e bustos que chegavam de Portugal e de outros países, como França, Itália e Alemanha.

Sabe-se que os canteiros lusitanos marcam presença no Cemitério do Campo Santo, com os túmulos confeccionados pela firma de Antônio Moreira Rato, responsável pela maior empresa de cantaria de Lisboa na segunda metade do século XIX, seguida depois pelos seus descendentes, artesãos até nossos dias351. Também a família Salles é citada pela autora como a família de melhores canteiros de Lisboa e que se fazem presentes no Camopo Santo. Sua produção vai de 1850 até 1920. O Cemitério da Quinta dos Lázaros possui jazigo de excelente qualidade para José Domingues Galdino e família, datado de 1870, de autoria de J. Cesario de Salles, com ateliê localizado no Largo S. Julião, 207, Lisboa (Figuras 100 e 101)..

350

QUEIROZ, José Francisco Ferreira. Os cemitérios do Porto e a arte funerária oitocentista em Portugal: consolidação da vivência romântica na perpetuação da memória. 2002. Tese (Doutorado em História da Arte) — Faculdade de Letras da Universidade de Porto, Portugal, 2002. p.80. Na p. 814, o autor explica que, nas obras de escultura mais importantes, era utilizado o mármore de Carrara, sobretudo nos retratos de rosto.

351

MENDES, Cibele de Matos. A cantaria de lioz na arquitetura funerária de Salvador..., op. cit., p.138-150.

Figuras 100 e 101 – Trabalhos de Cesario de Salles, Quinta dos Lázaros

Fonte: Acervo da autora (2017).

Na sua tese, Mendes352 apresenta tabela dos sepultamentos de portugueses, entre 1864 e 1872, comprovando a preferência dos lusitanos pelos sepultamentos no Cemitério Público da Quinta dos Lázaros, no Cemitério da Venerável Ordem Terceira do Padre Seráfico São Francisco e no Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco, confirmado pela existência de túmulos em cantaria de lioz.

Muitos dos mais antigos túmulos do Cemitério do Campo Santo são de produção portuguesa e, segundo Valladares353, são de excelente qualidade artesanal. Alguns mausoléus, em forma de capelas góticas, foram fabricados em série, em Lisboa. Hoje, o Cemitério do Campo Santo é considerado como um verdadeiro museu a céu aberto e oferece visitação a este “circuito cultural”, acompanhada por guia ou de forma independente. O autor cita alguns túmulos que se destacam, como o túmulo do Barão de Cajaíba, Marechal Alexandre Gomes de Argolo Ferrão, onde se encontra a “Estátua da Fé”, de autoria de Johan von Halbig, que é tombada pelo IPHAN. O mausoléu é constituído por uma cripta onde está o pedestal da estátua e existem inscrições referentes à vida do Barão.

352

MENDES, Cibele de Matos. A cantaria de lioz na arquitetura funerária de Salvador..., op. cit.,p.128. 353

VALLADARES, Clarival do Prado. Riscadores de Milagres: um estudo sobre a arte genuína. Rio de Janeiro: Sociedade Gráfica Vida Doméstica: Salvador: Superintendência de Difusão Cultural da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, 1967.p.109.

Durante o final do século XIX e o início do XX, as produções dos canteiros na Bahia aconteciam, principalmente, na Ladeira do Taboão, local de referência dos Mestres artesãos de todas as artes e ofícios, inclusive os marmoristas que trabalhavam para a freguesia do cemitério da Quinta dos Lázaros, normalmente seguindo influência barroca, neoclássica ou art-nouveau. Existem, entretanto, notícias de outras localidades onde trabalhavam os canteiros na cidade. No Almanak

Administrativo Mercantil e Industrial da Bahia354, por exemplo, consta o nome dos canteiros: Francisco Gregório da Silva, que trabalhava na Ladeira da Misericórdia, 33, Joaquim Filippe da Cunha, no Taboão, e Leopoldino Sérgio de Araújo, com ateliê na Rua Direita de Santo Antônio Além do Carmo. Através da pesquisa in loco, foram encontradas assinaturas de outros canteiros que trabalharam esta arte com seus ateliês localizados sempre na mesma zona da cidade.