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Moradia

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1 FAMÍLIAS EM PROCESSOS CONTEMPORÂNEOS E VIOLÊNCIA

2.1 Moradia

De acordo com o IBGE (2002), a região leste de Goiânia (Anexo C) é denominada Distrito Censitário Pedroso (Anexo D), sendo composto pelos seguintes bairros: Chácara São Silvestre, Colônia Santa Marta, Jardim Conquista, Jardim das Aroeiras, Jardim Dom Fernando I, Jardim Dom Fernando II, Loteamento Grande Retiro, Residencial Hawaí, Residencial Mar del Prata, Vila Concórdia, Vila Matilde e Vila Pedroso. No censo realizado em 2000, foi constatado que esses bairros eram habitados por um total de 22.141 pessoas, distribuídas em 5.915 domicílios (IBGE, 2002).

Entre as 50 famílias que participaram da pesquisa matriz, 50% residiam no Jardim Dom Fernando I, onde a Escola de Circo se localiza, 20% na Vila Concórdia, 10% no Jardim Dom Fernando II, 8% no Jardim Conquista, nenhuma residia nos bairros Chácara São Silvestre, Colônia Santa Marta, Residencial Hawaí e Residencial Mar del Prata e 12% estavam distribuídas nos demais bairros (PRADO, 2008).

O local em que se situa o bairro Jardim Dom Fernando I − que tem o maior número de famílias participantes da pesquisa matriz e de crianças frequentadoras da Escola de Circo − localiza-se em terreno que pertenceu à Igreja Católica, mas que teve cerca de seis alqueires invadidos por posseiros após a morte do arcebispo de Goiânia, Dom Fernando. Na ocasião, se espalhou um boato que a terra, que estava sendo utilizada para cultivo de arroz, seria doada a famílias de baixa renda e, em 23 de janeiro de 1987, começaram as primeiras invasões de famílias goianas e de imigrantes nordestinos. Naquele local, montaram seus barracos de lona e permaneceram ilegalmente até 5 de março do mesmo ano, quando o primeiro lote foi registrado. A arquidiocese, sensibilizada pelas precárias condições de vida das famílias, iniciou o cadastramento para, então, doar o terreno (NASCIMENTO, 2006).

Essa mesma luta popular pela obtenção da casa própria ocorreu no Jardim Conquista meses depois. Esse bairro, em que 1.200 famílias se apossaram do terreno, se localiza próximo ao Jardim Dom Fernando I. A Igreja Católica esteve presente, por meio da Comissão de Justiça e Paz, para tentar conter o despejo violento organizado pela polícia (NASCIMENTO, 2006).

Nascimento (2006) relatou que, em outubro de 1987, o governo de Goiás distribuiu 306 lotes a famílias de baixa renda, formando o Jardim Dom Fernando II. Assim, em meio à luta popular em busca de melhoria de vida, marcada pela violência e por precárias condições de vida, esses bairros foram sendo habitados.

Com relação ao processo migratório, Prado (2008) verificou que 88% das famílias participantes da pesquisa matriz eram provenientes do estado de Goiás, sendo 80% naturais de Goiânia e 8% de cidades do interior do estado20. No Quadro 2, são apresentados dados que elucidam a imigração de famílias de outros estados para Goiás.

De acordo com as informações contidas nas fichas de matrícula das crianças frequentadoras da Escola de Circo participantes da pesquisa matriz, 70% das famílias responderam que moravam em domicílio próprio, 14% em casas alugadas, 12% estavam em domicílios emprestados ou cedidos e outros tipos somaram 4% (PRADO, 2008). Esses indicadores estão em leve discordância com os dados

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Faz-se a ressalva de que esses dados foram obtidos a partir da ficha de inscrição das crianças e como, na maioria das vezes, quem faz a inscrição são suas mães, elas passam as informações da família que constituíram, desconsiderando sua família de origem. Portanto, essas informações podem não abranger a primeira geração deste estudo.

nacionais obtidos pelo IBGE (2007), segundo os quais, 73,3% das famílias brasileiras moram em casa própria, 16,2% em domicílios alugados e 9,8% habitam em domicílios cedidos. Isso revela um número de famílias residentes em casas cedidas no Distrito Censitário Pedroso significativamente maior em comparação com os dados nacionais, denotando que muitas delas têm dificuldade de acesso ao mercado imobiliário e estão excluídas de programas habitacionais.

Quadro 2. Unidade da Federação de origem das famílias participantes da pesquisa matriz.

Unidade da Federação Frequência

(n) (%) Goiás 44 88 Maranhão 2 4 Tocantins 2 4 Distrito Federal 1 2 Minas Gerais 1 2 Total 50 100 Fonte: Prado (2008).

Prado (2008) identificou quatro tipos de domicílios das famílias participantes: casa de alvenaria (72%), barracão (26%), quarto (2%) e cômodo (2%). Também constatou uma característica relevante no levantamento realizado, pois 62% das famílias participantes da pesquisa matriz informaram que no lote em que moravam existia mais de uma residência. O significativo número de ocorrências de mais de um domicílio em um mesmo lote também foi verificado por Sousa (1994) no Parque Santa Cruz, bairro periférico de Goiânia, em que 41,1% dos 384 lotes registrados na pesquisa tinham duas ou mais residências. Fonseca (2005, p. 53) esclareceu que as famílias de classes populares “pensam em termos não de casa, mas sim em pátio”. Isso quer dizer que, em um lote, sempre há espaço para a construção de uma ou mais meias-águas/peças para a moradia de parentes, filhos recém-casados, familiares necessitando de ajuda ou mesmo inquilinos, como forma de obter mais um auxílio financeiro. O pátio pode estar sempre em recomposição, bem como as

famílias, no sentido de que a ajuda entre os moradores é contínua, em uma tentativa de suprir as necessidades uns dos outros.

Foi identificado por Prado (2008) que em 62% das residências das famílias pesquisadas, moradoras da região leste de Goiânia, havia apenas uma unidade familiar habitando, o que significa que 38% delas eram habitadas por duas ou mais famílias, entre as quais, 18% das famílias dividiam com outra uma mesma residência, 10% eram habitadas por três famílias e 10% eram compartilhadas por quatro ou mais famílias.

Comparando-se esses dados a um levantamento realizado em todas as regiões de Goiânia, no qual 86,95% de 1.272 pessoas responderam que apenas uma família residia naquele domicílio (PARO; MACHADO; OLIVEIRA, 2001), constata-se que o compartilhamento de uma mesma residência é significativamente maior naquelas famílias vinculadas à Escola de Circo. Uma hipótese a ser levantada para explicar essa diferença é que na região leste do município, onde se situa a Escola de Circo, as famílias são, em sua maioria, da classe popular, o que difere da pesquisa realizada por Paro, Machado e Oliveira (2001), que abarcou todas as regiões da cidade de Goiânia, englobando famílias pertencentes a diversas classes sociais. Como é sabido, e o que reforça ainda mais a diferença entre as classes sociais, é que o compartilhamento de habitação entre duas ou mais famílias é uma característica comum nas classes populares como forma desses sujeitos se auxiliarem economicamente, dividindo as responsabilidades cotidianas, embora esta convivência não seja isenta de conflitos (SARTI, 2007).

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