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Capítulo 01: Arquitetura digital e os processos de projeto contemporâneos

1.3 Desenvolvimentos teóricos de Oxman na segunda era digital da arquitetura

1.3.3 Morfogênese digital

O termo "morfogênese" representa um conjunto de conceitos-chave relevantes para a teoria e os métodos de design digital (HENSEL et al., 2006). A morfogênese digital corresponde ao conjunto de métodos e técnicas relacionadas com os formalismos da tectônica digital.

Segundo Oxman (2010), os principais conceitos da morfogênese vêm do campo da biologia do desenvolvimento. Princípios de ordem estrutural e material da biologia e ciências naturais compõem também os princípios biomiméticos. A estrutura natural pode ser empregada como a base para a definição de geometria, padrões, forma e comportamento.

Oxman (2010) define com maior clareza o conceito de emergência (emergence), ou surgimento. Na definição clássica de Holland (1992) a emergência está relacionada com o fenômeno e os efeitos da relação da parte com o todo (part to whole relationships) – local para global – e processos de baixo para cima (botton-up- process). Segundo Holland, o comportamento do todo é mais complexo do que o comportamento da parte e, portanto, o efeito no todo não pode ser compreendido através das partes. Por isso, na biologia do desenvolvimento, o conceito de emergência fornece explicações para a evolução dinâmica e o crescimento dos sistemas naturais.

No processo evolutivo adaptativo, produzindo transformações evolutivas, o processo resulta em comportamentos e sistemas complexos. O conceito é importante para a arquitetura a partir da reflexão sobre a demonstração de Thompson no campo da biologia do desenvolvimento. Thompson usa a topologia para demonstrar comparativamente as relações de morfogênese entre subespécies (OXMAN, 2010).

47 Os princípios da morfogênese contribuíram para o desenvolvimento de modelos, metodologias e técnicas digitais. Alguns são descritos como sistemas algorítmicos, através da definição de regras (Rule Based Design - RBD). Entre os mais comuns estão o L-tree (Lindenmayer), o Voronoi, o Cellular Automa e os fractais.

Figura 20 - Esquerda: cellular automa. Centro: L-tree. Direita: Fractal. Abaixo: respectivos exemplos do uso em arquitetura. (FORNES; HANSMEYER; WILLIS)

Um outro conceito que permeia a morfogênese, esclarecido por Oxman, é o da auto-organização. É o que define como ocorrem os princípios de ordenamento nas adaptações e as mudanças dos processos evolucionários adaptativos. Explica: “A auto-organização (em modelos tectônicos digitais) permite a busca de forma como resposta à força, relacionada ao contexto funcional e físico” (OXMAN, 2010).

Sobre a aplicação dos conceitos biológicos a arquitetura, Oxman, relata que isso ocorre dentro de um sistema tectônico digital, por meio da topologia:

“Part and whole relationships and self-organization are characteristic behaviors of a tectonic system. In digital morphogenesis, these behaviors must be considered in the formulation of a digital tectonic system. Topology is the medium which enables the adaptive behavior of a digital tectonic system. That is, the formulation of elements and their topological relationships is essential in digital morphogenesis.”7 (OXMAN, 2010, p. 5)

7 Relações da parte com o todo e auto-organização são comportamentos característicos de um sistema tectônico. Na morfogênese digital, esses comportamentos devem ser considerados na formulação de um sistema tectônico digital. A topologia é o meio que permite o comportamento adaptativo de um sistema tectônico digital. Ou seja, a formulação de elementos e suas relações topológicas é essencial na morfogênese digital. (tradução nossa)

48 Oxman menciona a possibilidade de usar a tectônica digital como uma ferramenta da morfogênese. Como exemplo cita a tectônica têxtil de Spuybroek, "em que os tecidos são transformados (digitalmente) em tectônicas, através de técnicas têxteis convencionais - tecelagem, agrupamento, entrelaçamento, trança, tricô ou nó" (SPUYBROEK, 2006 apud OXMAN, 2010). Esse é o início da chamada computação

material.

Nesse sentido, os elementos tradicionais do design estrutural, como lajes, vigas, cúpulas, etc., não podem mais ser utilizados como modelo para o projeto de estruturas complexas, e os modelos personalizados com scripts digitais devem ser desenvolvidos com base no projeto. A morfologia estrutural é o conjunto de conhecimento por trás da tectônica digital. “Os sistemas topológicos superam as limitações dos modelos tradicionais e tipológicos. Portanto, os modelos paramétricos e generativos associativos topológicos são a base da maioria dos processos morfogênicos no projeto” (OXMAN, 2010).

Sobre o uso da morfogênese digital na engenharia estrutural, Oxman cita o trabalho de alguns arquitetos, desenvolvidos juntamente com técnicas de otimização estrutural, por Sasaki:

“One of the recent applications of this approach in architecture is found in the design engineering work of Mutsuro Sasaki (Sasaki, 2007). Sasaki has worked with Arata Isozaki, Toyo Ito, Kazuyo Sejima and other leading Japanese architects. Sasaki has recently employed two techniques: the first is the Sensitivity Analysis Method. The original method was based on the hanging model experiments employed by Gaudi and Heinz Isler to define the shape of free-form funicular surfaces. In this approach the final shape was modified and analyzed in an iterative process. The new digital version of this method is termed: Shape Design Method using Sensitivity Analysis. It employs principles of mechanical theory that minimize surface energy in the internal structure of a freely-curved surface.”8 (Oxman, 2010, p.7)

8 Uma das aplicações recentes desta abordagem em arquitetura é encontrada no trabalho de Mutsuro Sasaki (Sasaki, 2007). Sasaki trabalhou com Arata Isozaki, Toyo Ito, Kazuyo Sejima e outros arquitetos japoneses de destaque. Sasaki empregou recentemente duas técnicas: o primeiro é o Método de Análise Sensitiva. O método tradicional baseou-se na experiência modelo suspenso empregado por Gaudi e Heinz Isler para definir a forma das superfícies funiculares de forma livre. Nesta abordagem, a forma final foi modificada e analisada em um processo iterativo. A nova versão digital deste método é denominada: Método de Design de Forma usando Análise Sensitiva. Ele emprega princípios da teoria mecânica que minimizam a energia superficial na estrutura interna de uma superfície livremente curvada. (tradução nossa)

49 O método tradicional de otimização estrutural evolutiva (ESO) foi usado por Toyo Ito no projeto Island City Central Park (2005). Para gerar a forma final, o método de modificação da forma (shape modification) modifica suavemente a forma inicial, alcançando um comportamento mecânico mais eficiente.

Figura 21 - a) Toyo Ito (2005) b) Arata Isozaki (2003), morfogênese por otimização estrutural.

Oxman menciona que a técnica denominada extensão tridimensional da

otimização estrutural evolutiva (3D Extended Evolutionary Structural Optimization)

está ampliando o método de otimização estrutural evolutiva (Evolutionary Structural Optimization) tradicional. A nova versão desse método gera uma forma estrutural racional. O método estendido emprega um processo evolutivo que pode ser aplicado a uma estrutura tridimensional. Esse método foi usado no edifício do Quatar Education City Convention Center (2003), projetado por Arata Isozaki (Oxman, 2010).