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CAPÍTULO III. CANDIDA ROYALLE & A FEMME PRODUCTIONS

3.1 Morte e homenagens póstumas

No ano de 2015, no dia 7 de setembro, Candida Royalle vem a óbito por decorrência de um câncer no ovário. A morte dela foi recebida com grande pesar e várias homenagens póstumas foram publicadas por outras diretoras de pornografia feminista, como Erika Lust. Nas palavras desta: “Estou muito triste ao ouvir a notícia de que Candida Royalle, uma mulher que admiro e respeito profundamente, faleceu depois de uma longa luta contra o câncer de ovário. Candida era uma mulher incrível, uma verdadeira pioneira, uma artista, uma educadora”. Essa colocação foi retirada do site de trabalho de Erika Lust na qual ela relata a importância que Candida Royalle possuiu também para a sua carreira e para a indústria da pornografia como um todo.

Erika relata que tomou conhecimento sobre a existência de Candida Royalle, quando fez pesquisas acadêmicas a respeito da indústria pornográfica. E, descobriu por meio do livro chamado “Hardcore” de Linda Williams, que cita e elogia o trabalho

73 de Royalle em uma parte de seu livro. Para Erika isso foi muito importante, pois abriu o seu horizonte a respeito da indústria da pornografia. Inclusive influenciando na sua carreira como diretora de filmes pornográficos. Para ela Royalle foi uma pioneira que reconheceu as mulheres como sujeitos ativos, possuidores de desejos e consumidoras de pornografia, e não apenas como objetos sexuais à mercê dos olhares e desejos masculinos.

De acordo com Lust, Royalle foi muito à frente das possibilidades do momento dentro da indústria mainstream da pornografia, ampliando os seus horizontes com a Femme Chocolate e o conjunto de sua obra. Lust também pontua a relevância da postura de Royalle em dar abertura para as demandas representacionais de mulheres negras. Para, além disso, propiciou principalmente que diretoras negras pudessem produzir, elas mesmas, filmes pornográficos pensados também para mulheres negras.

Erika elogia a forma como Candida retrata suas personagens mulheres, como independentes, fortes, inteligentes. Aponta a importância dela enquanto uma mulher que se preocupava com as relações entre casais, fazendo trabalhos terapêuticos, publicando livros e artigos influentes, e também através de suas aparições em programas de entrevistas, jornais e revistas. Ela foi membro da Associação Americana de Educadores Sexuais, Conselheiros e Terapeutas, e era também uma das diretoras fundadora da Feminists for Free Expression (FFE).

Seu legado, apontado por diversas colegas de profissão, foi muito importante para o desenvolvimento da pornografia feminista para além de tudo o que ela produziu em vida. Sobretudo o fato de ela ter orientado, quase como tutora, e patrocinado as obras de jovens diretoras feministas. No seu site de trabalho Lust também vende filmes de Candida Royalle em sua loja virtual Lust Store, como uma forma de parceria e de divulgação do trabalho dela.

Já para Petra Joy, que também é uma cineasta feminista alemã, a morte de Candida Royalle foi à morte da “rainha da pornografia feminista”. Joy fala da importância dos filmes de Candida para a sua vida e carreira, dando espaço especial ao filme que, para ela, é o seu favorito: “Stud Hunters"(2002).

Joy também dá ênfase para a importância da linha natural contour, que foi inovadora no contexto em que foi criada. Até o surgimento da linha não havia muitas

74 opções de vibradores ou dildos que fossem produzidos com a preocupação de ser feito com um design ergométrico, pensado para o prazer da mulher.

Até então a maioria dos dildos ou vibradores disponíveis no possuíam a intenção de meramente imitar um pênis. Em geral eram dildos muito grandes, grossos e rígidos, e após essa linha e o seu sucesso comercial, novas tecnologias foram pensadas para o uso de sex toys para mulheres, com texturas e tamanhos variados.

Para Petra Joy, quando ela iniciou a sua carreira em 2004 na Europa, não havia muitas referências conhecidas de mulheres produzindo pornografia feminista. Nesse aspecto, Royalle para ela foi muito importante e um exemplo. Por fim, Joy também alega que embora a pornografia que ela produz seja diferente da de Royalle no sentido estético e na construção do roteiro, politicamente elas estariam dialogando do mesmo lugar para a mesma causa.

Petra Joy conheceu Royalle por meio de Annie Sprinkler, que também é diretora e produtora de pornografia e art-porn, a qual era amiga pessoal e de trabalho de Candida Royalle. Para Petra Joy, o fato de Royalle assistir ao seu primeiro filme "Her Porn" (2005), e dar espaço em sua produtora, para divulgar o seu trabalho no catálogo Femme foi uma oportunidade maravilhosa. Para Joy a sua relação com Candida Royalle foi muito importante, uma experiência muito rica e indescritível, elemento que se repete nas narrativas de muitas outras realizadoras do campo do cinema pornográfico feminista que Royalle ajudou inigualavelmente a catapultar.

Assim, trouxe brevemente, as homenagens póstumas, de outras diretoras de pornografia feminista, à Candida Royalle, enfatizando a importância do trabalho feito por ela, para essas novas produtoras de pornografia. Enfatizando, como a relação comercial e social entre Royalle, e essas jovens diretoras, abriu novos horizontes para a produção de pornografia feminista.

Finalmente, darei inicio no próximo capítulo, a análise de quatro filmes que são representativos, de momentos diferentes da carreira e filmografia de Royalle. Onde serão apontados e discutidos os elementos mais relevantes, para a produção de filmes pornográficos de Candida Royalle, tal como a construção do “olhar feminino” nessas obras.

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CAPÍTULO IV. PORNOGRAFIA FEMINISTA: SUBVERSÕES E LIMITAÇÕES

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