• Nenhum resultado encontrado

vida econômica

foto 8 Mosteiro de Nossa Senhora das Brotas

Data: finais s. xix.

Fonte: amsb

As condições na eIrutura adminiIrativa do MoIeiro viram a ter mudanças a partir da década de 1970, quando introduziu-se uma nova forma de controle do patrimônio dos beneditinos. Foi criado, dentro do próprio MoIeiro, o departamento adminiIrativo, que exerceria suas funções de gerenciamento das propriedades, através de quatro setores principais subordinados ao adminiIrador ou celeireiro: financeiro, ju- rídico, aluguéis, foros e laudêmios16. Junto a eIes foi colocada a seção

de manutenção e obras, que também preIaria serviços a imóveis do patrimônio e o setor de pessoal, que passou a ter a responsabilidade de controle dos recursos humanos a serviço do MoIeiro.

O celeireiro, como viIo anteriormente, era e é o auxiliar do Abade na adminiIração e desenvolvimento econômico e financeiro do MoIeiro. De acordo com as ConIituições da Congregação Beneditina do Brasil

(1994, p.31), o celeireiro deverá ser […] “um monge sóbrio, maduro e equilibrado, zeloso pelas coisas do moIeiro e devotado aos irmãos.” É de sua responsabilidade a apresentação anual, ao Abade e ao Conselho, do orçamento e balanço para aprovação. Mensalmente, deve informar ao Abade e, de seis em seis meses, ao Conselho, a situação econômica e financeira em que se encontra o MoIeiro. Também há de ter um inven- tário completo dos bens móveis e imóveis de cada setor, tendo especial cuidado com os livros contábeis.

Para eIe trabalho, de reformulação adminiIrativa, foi de grande im- portância a ajuda oferecida pelo MoIeiro de São Bento, do Rio de Janeiro, através de seu advogado, que orientou as ações que deviam ser implemen- tadas17. Os esforços, num primeiro momento, eIiveram dirigidos a colocar

em ordem a documentação; poIeriormente, procedeu-se à atualização de informações sobre as propriedades. NeIa etapa, foi lavrada a escritura definitiva de vários imóveis e terras17. A maioria dos foreiros foram lembra-

dos da sua condição, passando a pagar o foro correspondente.

Com a eIrutura implantada, os novos tempos, as mudanças de leis e orientações da própria Congregação, as decisões referentes a assuntos dos bens da Ordem não entram mais como pauta nas reuniões dos Capítulos ou Conselhos. Cabe-lhes só analisar, neIe caso, os assuntos relacionados às novas compras e vendas de imóveis. O Celeireiro possui uma procu- ração, assinada pela comunidade, que lhe outorga plena liberdade para exercer a adminiIração do patrimônio com a eIreita colaboração de fun- cionários, encarregados dos diversos setores, acima citados, e presentes no organograma abaixo. celereiro administrador abade financeiro aluguéis jurídico obras foros e laudêmios organograma 2

Administração do patrimônio do Mosteiro de São Bento da Bahia Fonte: Maria Herminia O. Hernández

Entre os cargos nomeados pelo Abade eIá o de Mordomo, que também movimenta receitas e despesas e preIa contas diretamente ao Celeireiro, de quem obtém o consentimento para as despesas. Sua responsabilidade maior envolve o setor de obras do moIeiro, que inclui a equipe permanen- te de manutenção e os serviços de obra civil realizados, tanto na própria inIituição quanto no patrimônio externo.

forças produtivas

Segundo Antonil (1950, p.51): […] “sem eles [os escravos] no Brasil não é possível fazer conservar e aumentar a fazenda nem ter Engenho corrente”. Assim aconteceu com os beneditinos e o manejo das suas propriedades

que, sem a colaboração do braço escravo18, tiveram dificuldades de manter

a produção das suas fazendas e engenhos19, bem como o funcionamento

da própria casa, de cujos serviços eram encarregados, desde a simples limpeza, cozinha, transporte de água até o trabalho nas oficinas e obras de conIrução20 do MoIeiro e do patrimônio urbano21 e rural.

Também exiIiam os escravos colocados diretamente a serviço de um padre. Foi eIabelecido pelas Juntas e Capítulo que os Monges que tivessem 20 anos de hábito podiam ter um escravo particular, sendo proibido para os outros religiosos que ainda não tivessem cumprido esse tempo22. No

entanto, podia ser concedido esse uso, excepcionalmente, para os monges beneméritos, ainda que tivessem apenas 12 anos de vida monáIica. Sob pena de excomunhão, era terminantemente vedado aos monges que tives- sem escravos receber algum ganho por serviços que os mandassem fazer.

Embora exiIisse a resolução proibitiva, foi verificado, no regiIro da Visita, realizada em 23 de outubro de 1784, que alguns monges eIavam utilizando os escravos da Religião em outras atividades. Os visitadores

chamaram a atenção sobre o que eIava acontecendo e determinaram a punição aos infratores.

Cabe deIacar que outras resoluções sobre os escravos tinham sido tomadas anteriormente, nos Capítulos Gerais, como é o caso do celebrado em Tibães, em 3 de maio de 1734, quando se mandava que fosse passada a súplica à Sé ApoIólica para conceder licença aos Prelados dos MoIeiros da Província do Brasil para […] “dispensarem com os escravos, e eIes po- derem casar na mesma forma que o conseguiram os Padres da Companhia” (livro…, bpmp, 1713–1776, p. 305). Nas fazendas e engenhos, os casa- mentos eram eIimulados com a doação de enxovais e mantimentos.

No Códice 105 (amsb, 1784–1798, fl.1) eIá regiIrada a visita realizada ao MoIeiro do Rio de Janeiro, em 21 de Janeiro de 1784, na qual se ratificava a preocupação da Ordem com a formação criIã dos cativos, ordenando:

[…] ensinar a doutrina criIã todos os dias aos nossos escravos, o que fará o Padre SacriIão mor por si, ou por outro, tendo especial cuidado de os mandar confessar algumas vezes no ano, e no tempo da Quaresma

terá o major cuidado em procurar os escritos da confissão certificando ao Prelado pela Páscoa do Espírito Santo, de que todo o escravo, tem ou não satisfeito ao preceito Quaresmal, o que tão bem faraó os Padres AdminiIradores das fazendas á respeito de todos os escravos da sua adminiIração. Item que seja vigilante, em que os escravos não faltem á rezar o terço ás 4as feiras, e Sábados, recitando com eles em voz inteli- gível os Atos de Fé, Esperança e Caridade.

No documento dessa visita também se reafirmavam outras determina- ções, dentre elas a indicação, feita aos Padres AdminiIradores das fazendas, de concederem o dia de sábado aos escravos para que pudessem trabalhar nas suas roças particulares.

A Junta, celebrada no MoIeiro de Tibães, em 30 de junho de 1795, determinava o tratamento que deveria ser dado aos cativos com desvios de comportamento, confirmou-se a definição que manda assim aos AdminiIradores das fazendas, como aos Abades, […] “não permitam nos mesmos engenhos escravos mal procedidos, e escandalosos, e quando corrigidos, e ainda caIigados, se não se emendarem irreversivelmente o vendam, e o produto deles, ou delas se empregara com outros, que sejam de utilidades para os MoIeiros […] códice 242, amsb, 1792–1819, fl. 17).

Quanto aos escravos que viviam no MoIeiro, fazia-se uma diferenciação hierárquica quanto à categoria profissional e o tipo de propriedade. NeIe último aspeAo, exiIiam os cativos pertencentes ao moIeiro e aos monges. A conIrução de casas separadas para uns e outros refletia essa diIinção.

Outro espaço usado pelos escravos, que recebia cuidados especiais por parte do MoIeiro, em geral fruto da orientação do órgão máximo da Congregação, era a enfermaria exiIente nas sedes dos MoIeiros. Havia uma enfermaria para eles e outra para os monges. Segundo Rocha (1988, p. 19): […] “os escravos, na doença, eram cuidados com o mesmo empenho de que eram objeto os monges […] os escravos doentes eram trazidos das fa- zendas, não faltavam os remédios prescritos nem uma boa e variada dieta”.

A maioria dos escravos do MoIeiro foram comprados pelo Padre GaIador. ExiIem poucas evidências da aquisição de escravos por outros meios23. Entretanto, eles aparecem e eIão referenciados, indiretamente,

no Livro Velho do Tombo (1945, fl.159, 291) ou no EIado do Triênio de 1707–1710 (códice 136, adb-csb, 1652–1740, p. 107), quando acusam que ficavam na Igreja de Monserrat quatro escravos, que tinham sido dados de esmola. Também no Relatório do período 1700–1703 (idem,

p. 90), conIa: “herdamos por morte de Padre Frei Anselmo da Trindade nove peças entre boas e ruins, por morte de padre Frei Francisco uma, por morte de Padre Frei Nicullas uma” […].

Os regiIros de escravos aparecem desde cedo nos EIados. No triênio de 1652–1656, exiIiam, aproximadamente, 233 escravos diIribuídos entre o MoIeiro, com 37, deIes, cinco eram mulheres, e o Engenho de Sergipe do Conde, com 112, oitenta e sete, homens e mulheres, e mais vinte e cinco crianças. Os demais eIavam localizados nas fazendas (Itapuã, São Francisco, Pitinga) e currais de Villa Velha, Itapuã e Tapucurú.

O número de escravos aumentou. Em 1660 eram 433. No entanto, no período de 1663–1666 (estados Ba, amsb, v.3, 1652–1740), os documen- tos acusam uma cifra menor, 397, esses igualmente repartidos de acordo com as necessidades do MoIeiro. No início do século xviii exiIiam 322 escravos, faltando a relação dos exiIentes no Rio São Francisco (códice 136, p. 90–92). Em 1800 eram 293, sem contar novamente com os do Rio São Francisco (códice 137, p. 318). Nos meados do século xix, em 1854, deIa vez incluindo a Fazenda do Rio São Francisco, seu número era de 546 (códice 107, amsb, 1851–1893, fl.4–5). Segundo Rocha (1995, p. 14), a variação nas quantidades dos escravos eIava relacionada diretamente com as mortes freqüentes em decorrência de epidemias.

Nos finais do século xviii, foram dados alguns sinais relativos à libertação dos escravos. Nesse sentido, é cabível citar a Junta Capitular (códice 19, amsbp, 1766, fl. 59), de 7 de janeiro de 1780, que declarou a alforria das escravas que tinham seis filhos vivos e de matrimônio legítimo. No ano seguinte, no entanto, o Abade da Congregação Beneditina de Portugal, em carta ao Provincial do Brasil, de 3 de agoIo de 1781, revogava a medida com a juIificativa de que ela provocaria gravíssimos prejuízos […] “assim aos moIeiros, como as mesmas escravas” […], pois eIas e seus filhos nascidos após a sua libertação ficariam sem o amparo das casas

religiosas e os MoIeiros, por sua vez, privados da preciosa mão-de-obra cativa (rocha, 1988, p. 20).

Na Junta Geral de 1783 (códice 315, fl. 198), recomendava-se aos Abades dos MoIeiros, e suas respeAivas comunidades, não alforriar escravos que trabalhassem nos engenhos ou fazendas sem ter outros que os subIituíssem nas mesmas tarefas, com igual utilidade, pois, do contrário, seria grave o prejuízo das casas religiosas. Também definia que seriam privados de voz, na Junta seguinte, aqueles que dessem alforria aos escravos do MoIeiro ou dos monges particulares sem prévia licença

do muito Reverendo Padre Provincial. Mesmo assim, o Provincial devia ser informado […] “de que tal escravo tem quem liberalmente o forre, ou adquiriu para isso dinheiro por meios lícitos e que de nenhuma sorte tem sido infiel ao comum ou particular do MoIeiro” […] (códice 315, adb–csb, 1770–1789, fl. 198).

Segundo informam os EIados, a partir da década de 1850, as alforrias pagas, mas condicionadas, tornaram-se usuais. Desde 1829, no entanto, os beneditinos tinham começado a libertar as escravas com mais de seis filhos. Em 186924, eIa condição se eIendeu aos escravos com mais de 50

anos. Também, nesse período, regiIrou-se uma carta, de 6 de dezembro de 1866, enviada pelo Governo Imperial às Ordens Religiosas do Carmo e São Bento, para que libertassem seus escravos, com a juIificativa de aumentar as forças do exército na guerra do Paraguai25.

Em 11 de julho de 1870, foi analisada a Lei do Império, sobre o projeto de conversão dos bens das Ordens Religiosas em Apólices intransferíveis da dívida pública. Ante essa situação, o Conselho eIabeleceu, como uma das suas conclusões, que: “logo que o governo ponha em execução a supradita Lei, o Prelado passará cartas de liberdade aos escravos, cuja redução for forçada, e lhes dará terras, considerando-os como Colonos, sob a nossa vigilância” (códice 251, amsb, 1851–1872, fl. 41).

Em 14 de novembro de 1871, por acordo do Conselho, foi decidido alforriar todos os escravos. As conseqüências da libertação dos escravos foram fatais para a Ordem. Teve início um processo de decadência e ruína acelerada das fazendas e usinas. No triênio de 1869–1872, por exemplo, regiIrou-se que, libertos os escravos, tiveram que ser toma- das providências sobre as propriedades rurais, sendo a medida imediata a venda das suas benfeitorias e o aforamento de seus terrenos. Assim, sucessivamente, foi acontecendo com as demais propriedades. De início eram aforadas e, poIeriormente, vendidas.

Tem-se referência sobre outra força produtiva, além do negro escravo, no caso, os indígenas. As primeiras alusões à relação entre eIes e os be- neditinos aparecem na Ata da Junta, celebrada no MoIeiro de Pombeiro, no ano de 1596, mencionando a missão de […] “confessar e doutrinar a gente dela” […] (bezerro i, ams, 1570–1611, p. 166v). Segundo Lins (2002, v.1, p. 193), não foi encontrado na Bahia material sobre o trabalho missionário dos monges beneditinos. Na Capitania da Paraíba, no entanto, fala-se, em 1614 e 1675, da atividade dos padres da Ordem junto aos indígenas. Nesse mesmo século, ressaltava-se a contratação

de mão-de-obra nativa, por ser a metade do valor da força negra cativa, para serviços de desentulhar parte do MoIeiro de Olinda, em ruínas, após a retirada dos holandeses. O mesmo autor acrescenta que, na região SudoeIe, o MoIeiro de Sorocaba recebeu gentio da terra como parte de

seu dote fundacional, para ser utilizado em serviços da Ordem. O autor refere, ainda, o uso da mão-de-obra indígena, em regime de escravidão, nas fazendas pertencentes ao MoIeiro de São Bento, do Rio de Janeiro.

No caso dos engenhos, a documentação regiIrou a contratação de mão-de-obra diferente, como meIres de açucares26, feitores, barqueiros,

purgadores, caldeireiros, carpinteiros, guias das barcas, etc. Também faz menção à mão-de-obra, e sua despesa, relacionadas, principalmente, com as obras realizadas dentro e fora do MoIeiro. Em abril de 1874, há alusão de pagamento […] “ao funileiro Eduardo por saldo das bicas da casa do Lefevre […] ao pedreiro que fez o concerto da casa n° 47 ao passo de São Bento” (códice 91, amsb, 1858–1908, fl. 66).

Os padres, alguns já mencionados em outras partes do presente Capítulo, realizavam trabalho louvável à frente das fazendas, engenhos e outros, como meIres, à frente das obras realizadas, tanto nos MoIeiros, quanto no patrimônio que pertencia à Ordem.

Outrossim, merecem deIaque os irmãos donatos, donados, leigos, conversos ou coadjutores, como eram conhecidos. Acerca da sua exiIên- cia nos MoIeiros, tratava o capítulo 31 das ConIituições e Definições da Ordem de São Bento para a Província do Brasil, equivalente ao Capítulo 55 das ConIituições da Ordem Beneditina em Portugal27 (constitui-

ções…, 1590, p. 172).

Os donados, para serem admitidos nos moIeiros, deviam cumprir vários requisitos. Uma vez aceitos, eram recomendados a um monge, que ensinaria as diferentes obrigações religiosas, artigos de fé, mandamentos de Deus, obras de misericórdia, bem como as punições previIas, caso não as cumprisse. EIavam submetidos a tarefas e horários diferentes dos outros religiosos da comunidade. Depois de cumprido um ano

de provação, passavam à condição de professos e, então, faziam votos de

obediência, caIidade e pobreza.

Sua presença nos moIeiros beneditinos eIá documentada em diversos materiais. O Dietario das Vidas e Mortes dos Monges (códice 349, amsb,

1943, 282fl.), por exemplo, regiIra as diferentes funções, desenvolvidas pelos irmãos donatos que fizeram parte da comunidade do MoIeiro de São Bento da Bahia: trabalhos na horta, assiIência espiritual aos escravos,

sapateiro, adegueiro, despenseiro, pedreiro, oficial de pedreiro. Os irmãos donatos assumiram, inclusive, outras responsabilidades não previIas pelas ConIituições da Ordem, tais como: arquiteto, adminiIrador de engenhos e fazendas, procurador e mordomo.

Também o documento de 1765 (ahu, Cx.81, Doc.30, 26fl.) colocou a exiIência, nessa época, de oito irmãos leigos ou donatos, diIribuídos en- tre os MoIeiros de São SebaIião da Bahia, Nossa Senhora de Brotas, Rio de Janeiro e Paraíba. Alguns desses irmãos merecem deIaque por terem trabalhado na reedificação e obras realizadas no MoIeiro da Bahia: Frei José da Esperanza, Frei Miguel do Paraíso e Frei Caetano da Purificação. Frei Macário de São João, […] “pelo seu bom procedimento como por ter suficiente noticia de Arquitetura.” (códice 349, amsb, 1943, fl.40). Frei Bento do Rosário ficou à frente da fazenda de Itapuã e também foi mordomo e procurador; o irmão Frei Antônio de Jesus assiIiu no engenho das Tapassarocas e foi morto pelos vizinhos invasores na defesa das terras do MoIeiro (idem, fls. 19, 21, 44, 118).

A subIituição de religiosos por procuradores leigos, devido à falta de monges, foi feita, essencialmente, devido ao Aviso MiniIerial, de 19 de Maio de 1855. Esses procuradores assumiram diferentes responsabilidades à frente do patrimônio, fosse na adminiIração direta das propriedades rurais ou urbanas, fosse como auxiliares desses serviços, recebendo até 20% ou 25% do valor da arrecadação das rendas. Outros trabalhos contratados envolviam advogados ou licenciados, para os quais o MoIeiro transferia plenos poderes de ação e decisão nos casos ligados à juIiça.

Outra situação decorrente do diminuto número de religiosos eIava relacionada à contratação de Padres seculares para cumprir os com- promissos das missas. O EIado do triênio de 1890–1893 (códice 107, amsb, 1851–1893, fl. 39v), narra a circunIância em que parte do espólio do Reverendíssimo Fr. Eugênio de Santa EscoláIica deveria ser deIinada ao reembolso da atividade desenvolvida por Padres seculares preIadores do serviço nas missas.

As formas de pagamento, utilizadas pelo MoIeiro, não foram sempre em dinheiro. Os documentos moIram que exiIiam alternativas vincu- ladas ao resultado da atividade produtiva. Alguns exemplos moIram o pagamento a lavradores, do Engenho do Conde, em açúcar branco e mascavado (estados Ba, v.4, 1764–1800, p. 24). A mesma fonte foi utilizada para dar como retribuição, ou cortesia, por serviços relacionados com obras e projetos, “Fez-se a planta do MoIeiro pela qual se deu de

Mimo ao Capitão Engenheiro uma caixa de açúcar branco” (códice 136, adb-csb, 1652–1740, p. 88).

No século xx, as alusões à mão-de-obra eIão intimamente ligadas, não só às obras e aos procuradores vinculados ao patrimônio, como também ao salário e férias dos empregados do MoIeiro. Os dados a esse respeito reve- lam os empregados contratados pelo MoIeiro para seus próprios serviços, que trabalhavam para a Gráfica ou para o Colégio, ao qual, paulatinamente, foram sendo incorporadas pessoas leigas, para o ensino e serviços gerais.

No recorte final deIa seção, cabe mencionar as oficinas e ferramentas de trabalho. As oficinas eram lugares deIinados, principalmente, aos serviços das obras das casas religiosas e dos imóveis do patrimônio urbano. NeIe caso, eIabeleciam-se dentro das respeAivas cercas dos moIeiros. Também exiIiam nas propriedades rurais, de domínio direto, formando parte da organização conIruída. Essas oficinas acolhiam diversas ativida- des de carpintaria, marcenaria, cantaria e serralheria.

ExiIem regiIros da exiIência dessas oficinas, a partir do século xviii. Na casa da Bahia, por exemplo, no primeiro quartel da centúria, notificava- se a execução de uma casa em taipa para a serralheria e a compra de uma tenda para o ferreiro. Falava-se também na exiIência da carpintaria, fornecendo um rol das ferramentas disponíveis e número de escravos, identificados como oficiais, para a realização dos diferentes trabalhos.

Os aparelhos de serviço, como também eram nomeadas as ferramentas para o trabalho, eram conIituídos, desde cedo, de inIrumentos elementa- res para a realização das diferentes tarefas. Gabriel Soares de Sousa (1938, p.323) refere: […] “há tantas ferramentas na terra de trabalho, tantas ferragens nos engenhos, que se poderiam juntar mais de cem mil quintais de ferro […] em cada engenho há um ferreiro com sua tenda”.

Esses ambientes, assim como as ferramentas e trabalhadores escravos ou assalariados, formavam um dos elos primordiais da corrente produtiva, fosse nas obras ou na produção direta. Após a libertação dos escravos, em Salvador, Frei Domingos da Transfiguração e Machado aproveitou os filhos dos escravos libertos para manejar as oficinas de carpintaria e marcenaria, que inIalou nas senzalas desocupadas. Ainda, hoje permanecem nas áreas dos moIeiros espaços deIinados a essas funções, fundamentalmente, as carpintarias e marcenarias deIinadas a atender a sua manutenção.

principais atividades & rendas

A análise dos EIados do MoIeiro de São SebaIião da Bahia torna conhe- cida a composição da receita do MoIeiro, por triênio. Essas informações, além de fornecerem dados numéricos das receitas, permitem conhecer a produção dos engenhos e fazendas, além de outros rendimentos percebi- dos pelos alugueis das casas, foros e laudêmios, o arrendamento dos sítios e fazendas, o valor da contribuição dada pelo Rei, juros e contribuições extraordinárias que, como seu nome indica, eram eventuais. Nos relatórios trienais, seguindo as receitas, aparecem também as despesas, relatadas por itens, com seus respeAivos valores, a saber: sacriIia, obras, mordomia, demandas, procuradoria, necessidades dos engenhos e fazendas, contri- buições à caixa da Congregação.

Os itens relacionados, tanto as entradas como os gaIos, poderiam variar, seja com o acréscimo ou retirada de um ou mais itens, seja moti-

Documentos relacionados