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A motivação para aprender é um tema que vem ganhando destaque nas áreas da educação e da psicologia, além de delinear seus pressupostos por meio do desenvolvimento de modelos teóricos, sobretudo quanto ao aspecto educacional. O referido tema é bastante complexo e relevante, sendo discutido largamente na literatura estrangeira. Nesse contexto, a aprendizagem é vista como fruto de uma interação social do indivíduo, do conhecimento que traz consigo e da motivação que o leva a aprender. Na verdade, a motivação para aprender está centrada no aluno e na necessidade do mesmo em valorizar o conhecimento que lhe é passado, de forma significativa. Para isso, a atuação do professor é muito importante, pois este deverá preparar seu aluno, criando um estado de motivação direcionado à aprendizagem, envolvendo-o na aula, explorando seu potencial cognitivo. A motivação, nesse sentido, possui elementos essenciais, como o planejamento, objetivo, a consciência do que se quer aprender e como fazê-lo (metacognição), além do orgulho, satisfação, ausência de ansiedade ou medo do fracasso, proporcionando, também, a busca ativa de novas informações (BZUNECK, 2001).

Para discorrer sobre a motivação para aprender, é essencial mencionar a Teoria das Metas de Realização, na medida em que aprender está diretamente ligado a resultados motivacionais e gera intenções no comportamento. Essa teoria surgiu no final da década de 1970. Para Ames (1992), o termo ‘meta de realização’ é um conjunto de pensamentos, crenças, propósitos e emoções que traduzem as expectativas dos alunos, ao realizarem determinada tarefa, ou seja, as metas podem ser representadas por modos diferentes de enfrentamento das atividades acadêmicas (BUENO et al., 2007).

A Teoria de Metas de Realização tem contribuído para a compreensão de fatores motivacionais que influenciam na forma como os alunos se comportam. Na verdade, trata-se de considerar o envolvimento dos alunos nas situações de aprendizagem, com ênfase nas tarefas propostas pelo professor. É preciso que o aluno adote metas com vistas à aprendizagem, pois elas serão como um motivo ou razão que o fará obstinar-se para a execução das tarefas. Essa teoria busca enxergar no aluno o que ele pensa sobre si mesmo, em relação ao seu desempenho e compreensão acerca do que aprende (RAVANELLO, 2008).

Quando o aluno entende que as metas estabelecidas por ele são valorosas e as coloca como crenças, suas ações serão sempre no intuito de atingi-las. A influência da autopercepção da capacidade, isto é, do juízo sobre a própria inteligência é um dos pontos fortes dessa teoria. Para Bzuneck (2001), mesmo com a existência das características psicológicas, ainda ocorre o contraste entre os tipos de meta, onde um mesmo aluno não se orienta de modo exclusivo para uma ou para outra meta, sendo comum ocorrer uma orientação simultânea e em graus diversos para a “meta de aprendizagem” e “meta performance” (ZENORINI; SANTOS; BUENO, 2003).

O aluno focado na meta aprendizagem acredita em resultados positivos, esforça-se porque sabe que bons resultados dependerão dele; tem vigor para os estudos e para realizar tarefas propostas; as entende como um desafio, não se deixa abater com os erros e tem consciência de que tudo depende de seus esforços. Essa meta vai ao encontro do que preconiza a Motivação Intrínseca. Já a “meta performance” é caracterizada pelo comportamento de o aluno, que deseja mostrar seu potencial, ser reconhecido pela inteligência, sem levar em conta o esforço. Muitas vezes, acham-se melhores que os outros, dando maior atenção às tarefas em que poderão se sobressair melhor e, quando erram, deixam-se levar por sentimentos negativos de fracasso.

De acordo com a especificação das duas metas mencionadas, relaciona-se, também, o modelo proposto por Elliot e McGregor (2001 apud GOUVEIA et al., 2008), no qual a meta de aprendizagem/aproximação está na tarefa de maestria, aprendizagem e conhecimento; na meta de aprendizagem/evitação, o foco é em não obter um entendimento ruim ou deficiente, evitando a incompreensão dos conteúdos e não dando ênfase ao primor na realização das tarefas; a meta de execução/aproximação tem como foco se achar superior, melhor que os outros, ser o mais esperto, melhor na tarefa, em comparação aos demais; e, na meta de execução/evitação, o foco está em evitar a inferioridade, não ser visto como estúpido, em comparação aos outros.

Essa teoria enfatiza que o comportamento da pessoa é motivado por uma intenção e seus objetivos ligados a comportamentos específicos; a meta seria o que a pessoa pretende obter. Na educação, essa teoria revela-se importante, por direcionar o aluno para objetivos e metas que possam levá-lo a aprender.

2.4.1 Motivação para aprender no ensino superior

Almejar aprender e adquirir conhecimento deve ser um objetivo de vida do estudante e, para isso, o professor deve lançar mão de tudo aquilo que possa influenciar e despertar o interesse do educando, como, por exemplo: clareza na exposição dos conteúdos, tarefas desafiadoras, disponibilidade do professor. A motivação para aprender deverá ser inerente ao aluno, pois, segundo Guimarães e Boruchovith (2004), existe um consenso entre os educadores de que, no Ensino Fundamental e Médio, a dificuldade que ocorre é a de envolver os alunos nas atividades de aprendizagem, ou seja, na valorização do conhecimento e na satisfação pessoal nos estudos. Para alguns estudantes, não é claro o objetivo do estudo. Dessa forma, é alimentada uma esperança de que, quando estiverem mais maduros e puderem optar por uma área do conhecimento de seu interesse, sua motivação em relação à aprendizagem se modifique positivamente. Nesta lógica, o Ensino Superior é que irá proporcionar condições para que os alunos se sintam mais envolvidos com seus processos de aprendizagem.

O Ensino Superior exige muitas mudanças na forma como os alunos estudam, por sair do contexto característico da Educação Básica. A valorização do conhecimento adquirido e solidificação de um referencial teórico tendem a melhorar a qualidade da aprendizagem, bem como a motivação para aprender. Para que isso ocorra, torna-se essencial que o estudante tenha uma postura ativa, desenvolva competências e, principalmente, fomente o seu pensamento de modo mais elaborado e crítico.

A forma específica como são ministradas as aulas no ensino médio ganham outro significado na universidade; não cabe mais receber conhecimentos prontos e, sim, partir para a ação, construí-lo. Segundo Machado (2010), o indivíduo possui a sua concepção de mundo e, como consequência, a própria interpretação. Possui, também, o seu modo de observar, perceber e questionar, dentro do seu contexto histórico e cultural, onde o conhecimento precisa ser analisado, discutido e ter a sua natureza entendida. Existe, assim, a necessidade de proporcionar ao sujeito aprendizagem em condições favoráveis para que ele desenvolva um conjunto de capacidades, além de tornar-se um estudante crítico, reflexivo e pesquisador.

O Ensino Superior, segundo a Lei n° 9.394 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, 1996, p. 1), tem as seguintes finalidades conforme seu artigo 43:

“I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;

IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;

VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica, geradas na instituição.”

No contexto da universidade, o aluno, além de aprender, tem o compromisso social com a pesquisa, produção e divulgação do conhecimento, por meio do estudo de problemas do mundo presente. Assim, a atuação do professor é relevante, pois ele tem o dever de formar, também, o pesquisador; por isso é que nas instituições de nível superior, ainda segundo a LDB (BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, 1996, p. 1), ao referir-se ao corpo docente, menciona que:

“Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por:

[...]

II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado;

III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.

Outro aspecto a ser considerado na promoção da motivação para aprender é a empatia gerada entre discente e professor, aspecto este fundamental no processo de ensino e de aprendizagem. Além disso, a afetividade na relação professor-aluno implica compreensão, respeito, amizade e humildade. Nessa mesma direção, a universidade é um espaço onde a ética precisa imperar. A relação já mencionada também precisa ser motivada, pois a instituição tem como dever incentivar o

professor e este, por sua vez, incentivar o seu alunado, proporcionando, assim, uma dinâmica que irá refletir nos resultados acadêmicos.