CAPÍTULO II ANIMAÇÃO TURÍSTICA
2.3 Animação Turística Abordagem Concetual
2.3.2 Motivações da Animação Turística
Na perspetiva de Swarbrooke e Horner (2007) as motivações que desencadeiam a atividade turística podem subdividir-se em dois grandes grupos: i) as motivações que desencadeiam a procura turística; ii) as motivações que desencadeiam a procura de um destino turístico específico e em determinada altura. Os autores referenciados classificam as motivações turísticas em seis grandes grupos, conforme é possível visualizar-se na Tabela 2.1 que se segue.
Tabela 2.1 - Motivações Turísticas.
Motivações Exemplos
Motivações Físicas Relaxamento; exercício físico; saúde. Motivações Culturais Circuitos turísticos; conhecer novas culturas. Motivações Emocionais Romance; aventura; escape; fantasia.
Motivações Pessoais Visitar amigos e familiares; fazer novas amizades. Motivações de Desenvolvimento Pessoal Aumentar os conhecimentos; novas aprendizagens. Motivações de Prestígio Social Moda; exclusividade; gastos ostentosos.
Fonte: Adaptado de Swarbrooke e Horner (2007, p. 54).
As motivações culturais e de desenvolvimento pessoal identificam-se na função social, nomeadamente, educativa da animação turística referenciada pela OMT (1985). Ao nível das motivações que desencadeiam a procura turística de atividades de animação, Beard e Ragheb (1983, cit. in Swarbrooke & Horner, 2007) desenvolveram uma escala motivacional destacando quatro componentes: i) a componente intelectual - participação
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em atividades, nomeadamente, de aprendizagem, de exploração, de descoberta; ii) a componente social - participação em atividades, nomeadamente, de cariz relacional; iii) a componente de realização - participação em atividades, nomeadamente, de natureza física; iv) a componente de escape - procura de relaxamento e de ambientes calmos. A classificação destes autores aproxima-se das motivações de ordem física, cultural, emocional e de desenvolvimento pessoal de Swarbrooke e Horner (2007).
Unger e Kernan (1983) e diversos autores (e.g., Tinsley & Kass, 1978; Isso-Aloha, 1982, 1989; Manfredo, Driver & Tarrant, 1996) referenciados por Dillart e Bates (2011), identificam vários motivos que desencadeiam o consumo de atividades de animação, sendo consensual para todos eles os motivos de escape e de relacionamentos.
Moscardo et al. (1996), num estudo realizado na Austrália, identificaram oito motivos turísticos que levam à prática de atividades, nomeadamente de animação, entre outras: i) excitação; ii) autorrealização; iii) relações familiares; iv) atividade física específica; v) segurança; vi) status social; vii) escape; viii) relaxamento. Estes autores segmentam o mercado em função das motivações, em três grupos: i) social status; ii) self-development; iii) escape. Do seu estudo concluíram que o grupo que mais participou em atividades, foi o de ‘self-development’ (ex.: visitas guiadas; passeios; visitas a parques nacionais e florestas, galerias e museus, locais históricos e arqueológicos). A realização destas atividades tem consistência com o motivo de autorrealização e desenvolvimento deste segmento, com um nível educacional superior detetado face aos restantes. A prática de atividades físicas (ex.: desportos de praia, golf e ténis), visitar locais de entretenimento, amigos e familiares, são identificadas pelas pessoas dos grupos ‘social status’ e ‘escape’. Quanto à consistência entre as atividades praticadas e os atributos do destino, verifica-se por parte de todos os segmentos uma relação de causa-efeito. O segmento ‘self- development’ dá maior importância na eleição do destino, às cidades históricas, museus e galerias de arte e locais históricos, com cultura e tradição. Os segmentos ‘social status’ e ‘escape’ dão mais valor a um destino com boas praias, parques temáticos, cidades grandes e modernas. Para todos os segmentos, a simpatia das pessoas e a segurança são atributos importantes no destino.
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Um estudo de Dillard e Bates (2011) acresce a estas motivações a componente competitiva na prática de atividades de animação, resultando quatro motivos principais: i) escape - relaxamento, evasão da vida social; ii) relacionamento - atividades familiares, estar com os amigos; iii) autorrealização - aperfeiçoar as suas capacidades, crescimento e desenvolvimento pessoal; iv) competição - competir, testar os limites pessoais. Os resultados do estudo demonstraram que o motivo relacional é o mais significativo (34% para 622 respondentes), seguindo-se os motivos de escape (30%), de autorrealização (20%) e de competição (16%).
O trabalho de Tangeland (2011) teve como propósito identificar os motivos que levam ao consumo de atividades de turismo de natureza com vista a segmentar o mercado, em função dos motivos, das características sociodemográficas e dos comportamentos de viagem. A investigação foi aplicada aos membros associados, das duas maiores empresas da Noruega que oferecem estas atividades, em zonas rurais. Foram identificados quatro motivos principais: i) sociais; ii) nova atividade; iii) desenvolvimento de competências; iv) melhorar a qualidade. Os segmentos resultantes de uma amostra de 763 participantes foram os seguintes: i) social (21%); ii) want-it-all (29%); iii) try new activity (24%); iv) performer (15%); v) unexplained (11%). O motivo mais destacado por parte de todos os segmentos foi a melhoria de qualidade/performance pela prática das atividades. Este estudo realça a importância da segmentação como forma de entendimento das motivações de consumo. A Tabela 2.2 apresenta os constructos que foram tidos em consideração para a segmentação, para além, das atividades praticadas, e que caracterizam cada cluster.
Segundo a OMT (1985), as motivações apresentadas quanto à procura de animação turística evidenciam as funções socais e culturais da animação turística. As necessidades prementes do ser humano na libertação do dia-a-dia, na procura do saber e participar em atividades de aprendizagem, na manutenção das relações interpessoais, no espírito de competição pela prática de atividades, são entre outros, motivos que desencadeiam a procura de animação turística.
Apresentadas as principais motivações que desencadeiam a atividade turística e por si a procura de animação turística, cabe uma reflexão sobre a relação que se estabelece entre a animação turística e as atrações turísticas de um destino.
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Tabela 2.2 - Resultados do Estudo de Tangeland (2011).
Fonte: Adaptado de Tangeland (2011).
Clusters Motivos Dados Sociodemográficos Atividades praticadas Características da viagem
Social
(21%)
Sociais;
Melhorar a performance/qualidade.
Homens de meia idade com filhos adultos;
Elevado nível educacional; Trabalhadores a tempo inteiro.
Passeios pedestres organizados; Passeios de bicicleta na natureza; Pesca organizada;
Visitas guiadas na natureza.
As atividades praticadas são pagas fora do pacote turístico (alojamento, refeição, transporte) e atingem o segundo preço mais elevado dos cinco clusters;
As atividades são praticadas, em média durante 3 dias;
Os gastos diários são de cerca de 65 euros; Não viajam sozinhos.
Want-it-all (29%) Melhorar a performance/qualidade; Desenvolvimento de competências/habilidades; Socais; Novas atividades.
Mulheres jovens com elevado nível educacional;
Solteiros;
Famílias sem filhos.
Passeios pedestres organizados; Visitas guiadas na natureza;
Kayaking e rafting com monitor.
O pacote turístico inclui, as atividades com equipamento, curso e monitor;
Cluster que paga o valor mais elevado pelas
atividades praticadas;
Viajam sozinhos ou com amigos.
Try new activity
(24%)
Novas atividades;
Melhorar a performance/qualidade.
Cluster mais jovem e com mais
nível educacional;
Casados e em União de facto; Famílias com filhos;
Trabalhadores a tempo inteiro.
Kayaking e rafting com monitor;
Montanhismo com guia.
O preço pago pelas atividades inclui equipamento, curso e monitor; As atividades são praticadas, em média durante 1.6 dias, e durante uma parte do dia ou o dia inteiro.
Cluster com os gastos diários mais elevados
(cerca de 103euros);
Viajam com amigos, cônjuge/companheiro.
Performer
(15%)
Desenvolvimento de competências/habilidades; Melhorar a performance/qualidade.
Homens de meia idade com filhos e com um nível educacional relativamente elevado; Trabalhadores a tempo inteiro.
Pesca organizada;
Passeios de bicicleta na natureza; Visitas guiadas na natureza; Passeios pedestres organizados.
O preço pago pelas atividades inclui alojamento e refeições;
Cluster com mais tempo de permanência para
a prática de atividades (3.5 dias) e gastos diários mais baixos (cerca de 55 euros); Viajam com amigos e família.
Unexplained
(11%)
Este cluster identificou baixos indicadores que não permitem concluir que fatores motivacionais levam ao consumo de atividades de turismo de natureza.
Homens de meia idade; Casados e com filhos;
Cluster com o nível educacional
mais baixo e com rendimentos familiares mais elevados.
Pesca organizada;
Passeios de bicicleta na natureza.
O preço pago pelas atividades inclui alojamento, refeições e transporte;
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