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4. O TURISTA CIDADÃO: A PÉ REDESCOBRINDO A CIDADE

4.2 O que expressam os Participantes

4.2.1 O motivo pelo qual buscaram participar

Diferente das outras questões coletadas pela Pesquisa do Perfil do Participante do Viva o Centro a Pé, a resposta à pergunta aberta sobre o motivo pelo qual o respondente buscou esta atividade não era obrigatória, ou seja, a pessoa poderia finalizar o questionário sem preenchê-la. Entretanto, todos os 108 questionários receberam alguma informação - algumas mais elaboradas outras mais lacônicas, mas todas relevantes.

Utilizando a metodologia da análise textual discursiva, já explanada, foi possível classificar as respostas em três categorias:

1) Busca por conhecimento e aprendizado sobre Porto Alegre, sua história, geografia e arquitetura, apontada por 64% dos respondentes

Ótima oportunidade de fazermos turismo em nossa própria cidade, com a adição de conhecimento sobre sua origem e caminhos tomados durante sua existência, ilustrada com importante aspectos educacionais promovidos por arquitetos, professores, historiadores e outros doscentes. Excelente iniciativa de amor a sua cidade.

No começo fiquei curiosa para saber como aconteciam ás caminhadas, depois fiquei encantada com á aula de historia arquitetura, enfim aprendi a olhar a cidade com outros olhos. Tudo é muito lindo e interesante, quando sabemos olhar.

A motivação é poder (re)avaliar os contextos históricos de Porto Alegre, cidade adotada por nós, mas pouco conhecida. A cada caminhada surgem novos aspectos, mudam as pessoas e, nós, o nosso olhar. De curiosos passamos a partícipes e reconstrutores deste trajeto. Histórias novas surgem, as antigas são renovadas e a visitação é sempre surpreendente. São roteiros para fazermos acompanhados.

Achei interessante o fato de poder "descobrir" melhor minha cidade. Ou pelo menos vê-la de outra forma.42

Estas expressões demonstram justamente o processo de estranhamento e posterior ressignificação dos lugares de memória por parte de seus moradores, conceituado como turista cidadão. A descoberta de novos aspectos da cidade e o olhar a cidade com outros olhos são falas representativas deste processo, que culmina em valorização da própria cidade.

Pode-se resgatar também o conceito de Cidade Educadora, na medida em que utiliza o meio urbano enquanto agente da educação e também conteúdo de aprendizagem como forma de apropriação do espaço, possibilitando novas relações e significados.

2) Necessidade de formação profissional ou realização de trabalhos acadêmicos, perfazendo 18% do total

Com o alto nível dos Orientadores, é uma capacitação para minha profissão, alem de agradável caminhada por nossa Porto Alegre

O aspecto educativo da ação, já apontado ao analisar a profissão dos participantes, aparece novamente ao considerarmos a motivação relacionada à realização de trabalhos acadêmicos ou à busca por formação profissional

42 Os trechos de mensagens citados foram copiados tal qual a escrita dos autores, acrescentando-se apenas a

data de recebimento da mensagem, de forma a manter a mensagem original, independentemente de erros ortográficos ou de digitação.

continuada nas áreas de guia de turismo, história, arquitetura, etc. É novamente a cidade considerada como conteúdo a ser aprendido.

3) Busca por atividade cultural, de lazer ou turística, citada por 16% dos respondentes.

Gosto de acordar cedo nas manhãs de sol e caminhar, passear sem compromisso além da caminhada. Numa ida a feira de antiguidades, me deparei com um grupo se preparando para um passeio e os acompanhei. Curti muito a proposta de re-conhecer a cidade e sigo participando!

A caminhada enquanto exercício físico é considerada extremamente benéfica para a saúde física e mental, já que não exige habilidade, é barata, pode ser feita praticamente a qualquer hora do dia e não tem restrição de idade. Considera-se que traz benefícios para o humor, a qualidade do sono e a sensação de bem-estar. É também uma atividade que, por sua própria característica, permite a conversação com os acompanhantes, o que também contribui para a sua valorização como momento de lazer e sociabilidade.

A contemplação do ambiente por onde o caminhante passa, como no caso da proposta do Viva o Centro a Pé citada no comentário acima, se torna outro ponto positivo da atividade. É interessante perceber a diversidade de motivações: busca de conhecimento ou formação profissional, e lazer, o que implica em participações bastante diferentes. O formato da ação permite justamente a tranquila convivência entre grupos com objetivos variados.

Nas respostas, pode-se perceber também falas sobre a possibilidade de assumir novos olhares sobre a cidade a partir de visitas e de apoio de um profissional para a interpretação como motivadores, além da segurança e conforto oferecidos pela atividade em grupo.

Como adoro PA, quero conhecer cada canto desta cidade. Muitas vezes, sem a orientação de um guia, se passa por um edifício, monumento etc. e não enxergamos o que deve ser visto.

Para conhecer e obter informações objetivas de nossa cidade. A caminhada orientada, em grupo, com guia, nos permite parar, olhar, ouvir estórias sobre prédios antigos, monumentos, ruas.etc.. Tudo isso é impraticável fazer circulando normalmente no centro da cidade, quando estamos sempre preocupados com a segurança pessoal.

Se resgatarmos o conceito de interpretação do patrimônio apontado por Custódio (2010), que a considera uma técnica para despertar o interesse do visitante para determinados aspectos da obra, além de relacioná-los à vivência dos

participantes, perceberemos que é o processo que motiva as pessoas a buscarem as caminhadas. Ao oferecer profissionais de alta qualificação como intérpretes dos roteiros, o Viva o Centro a Pé oferece esta intermediação entre patrimônio e participante.

É interessante perceber que os elementos apontados pelos participantes como motivo para buscarem esta atividade estarão presentes de forma bastante similar nas mensagens analisadas em seguida, indicando que suas expectativas ao procurarem o Viva o Centro a Pé foram, em geral, atendidas satisfatoriamente, ao ponto de apresentarem suas considerações, principalmente elogios, de forma espontânea.