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Com o tempo, a contabilidade passou a ser “um corpo de prática universal”, cujos métodos e objetivos são distintos entre países, tornando difícil a compreensão e a comparação das informações contábeis das empresas. O sistema contábil sempre foi e ainda é uma ferramenta essencial para qualquer organização, privada ou governamental, no processo de administração ou de gestão de negócios e também ajuda a manter a relação com os parceiros no desenvolvimento. Esses parceiros vem reclamando a melhoria do âmbito jurídico e judiciário das empresas africanas em prol de assegurar seus investimentos (GOUADAIN, WADE, 2002). Na verdade, a crise mundial da década de oitenta e seus efeitos na economia dos países-membros da OHADA os obrigou a reclamar garantias, sob ameaças de encerrar suas atividades. Contudo, a economia da África, além de aumentar a pressão da crise global, apresentou vários outros motivos internos que impulsionaram a adoção de um novo sistema contábil.

4.4.1 Motivos Internos

Após a criação da OHADA em 1993, o Conselho de Ministros começou sua tarefa de regulação (modernização e unificação) do ambiente econômico de seus membros. Assim, ela adotou o Ato Uniforme do Direito Comercial Geral e do Direito das Sociedades Comerciais e de agrupamento de interesse econômico em 1997 (capítulo 3), mas percebeu que faltava o do Direito Contábil (AUDC). A modernização do antigo Código Comercial herdado da França trouxe mudanças fiscais e comerciais que a contabilidade devia considerar e evidenciar. Esse

vazio foi preenchido, em 2000, pela adoção do Ato Uniforme para unificação do Direito Contábil dos países da OHADA. Antigamente se aplicava na zona OHADA pelo menos 5 referenciais contábeis: os Planos Contábeis Francês de 1957 e 1982 e 3 planos OCAM, causando um problema de comparabilidade da informação contábil. A obsolescência das normas aplicadas nos países africanos fez com que as informações contábeis e financeiras emitidas sofressem com a falta de credibilidade frente à tendência voltada para o uso de normas internacionais de contabilidade. Depois, passou a existir dois referencias contábeis: o SYSCOA (1998) para a África Ocidental e o OCAM-UDCEA para a África Central. Ressalta- se que os países da África do Oeste foram os primeiros a iniciar as mudanças em seus sistemas contábeis. A preocupação dos governos da OHADA em modernizar e uniformizar o direito contábil era motivado pelo desejo de possibilitar a comparação entre empresas e homogeneizar as práticas contábeis dentro da zona. Em outras palavras, acompanhar as mudanças já operadas no Direito Comercial. Convém ressaltar, também, que os referenciais contábeis adotados anteriormente não possuíam um arcabouço conceitual para direcionar a uma prática contábil adequada e, além disso, investidores e parceiros do desenvolvimento passaram a exigir que as informações contábeis fossem de qualidade, usando as normas internacionais. Na verdade, o fato de ter um sistema contábil heterogêneo de um país para outro constituía também um obstáculo ao processo de integração econômica ambicionado pelos dirigentes da atual OHADA. Outro motivo foi a desconsideração do setor informal, formado por Pequenas e Médias Empresas (PME), que representam a parte importante da atividade econômica dos países africanos. Segundo o Relatório sobre a Aplicação das Normas e Códigos - ROSC do Banco Mundial, realizado no Senegal em 2005, as PME constituíam 40 % do PIB deste país em 2003. Enquanto isso, nos paises membros da CEMAC, as Muito Pequenas Empresas (TPE) representavam 75% do volume de empresas em atividade (NDJANYOU, 2008).

O plano interno tinha uma carência de informações micro e macro econômicas que merecia ser resolvida. Isto representa que o mecanismo econômico da união estava estabilizado, pois tanto os dirigentes das empresas, os acionistas, bem como a própria ferramenta de avaliação da economia nacional, como a produção e o valor agregado, não se beneficiavam de informações adequadas (NJAMPIED, 2008).

4.4.2 Motivos Externos

A trajetória econômica e contábil dos países da África subsaariana membros da OHADA foi desenhada desde a colonização, quando tinham por missão prover matérias primas e mão-de-obra barata, bem como servir de mercado para o escoamento de uma parte da crescente produção ocidental, devido à evolução industrial. Mesmo após a independência, na década de 60, os relacionamentos comerciais entre as antigas colônias e a França eram a senso-único: um monopólio comercial francês sobre suas ex-colônias, pois enquanto os africanos tinham uma relação econômica privilegiada com ela (70% dos trocos comerciais), o antigo colonizador, por sua vez, preferia se relacionar com os parceiros europeus. Os programas de desenvolvimento implementados escondiam a contínua exploração econômica, pois não buscaram atender os desejos nem as necessidades da população (GENET et al, 1962).

Foi assim que começou a crescer a idéia de formar organizações regionais para a defesa dos interesses econômicos e políticos e também a de criar um mercado africano comum. Mas a década de 90, com seus efeitos como a perda do poder dos estados e os planos de ajustamentos estruturais do Fundo Monetário Internacional (FMI), obrigaram os governos africanos a acelerar o processo de integração jurídica, a fim de fortalecer a atividade econômica. O setor privado começou a crescer por causa da desregulamentação considerada como um vetor de eficiência das empresas e incentivo à concorrência. Vinhaes (1999) argumenta que a regulamentação representa uma forma de controlar os custos e os preços, bem como o ambiente, a qualidade do produto, a estrutura do mercado, o acesso a informações e a performance das empresas. Isso significa que a contabilidade, como linguagem do negócio, deve ser capaz de afrontar o desafio. Por isso, os governos africanos da OHADA militaram por um novo referencial moderno, o Sysco-OHADA. A criação deste novo referencial contábil da zona OHADA foi influenciada também pela formação, em 1992, do bloco europeu que conta com a participação da França. Mais que tudo isso, o novo contexto de globalização econômica favoreceu o crescimento das relações comerciais e financeiras e a interdependência entre países. Consequentemente a harmonização internacional das demonstrações contábeis foi aclamada. Assim, a criação do Sysco-OHADA originou-se nos países desse movimento mundial de harmonização contábil.