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Com a criação do Curso Intensivo de Arte-Educação (CIAE) da EAB, muitos professores de arte de todo o Brasil e também de outros países da América Latina passaram a frequentar a EAB e a ter contato com as ideias que eram colocadas em prática naquele espaço. Alguns desses professores abriram Escolinhas em outras localidades, formando-se, assim, o Movimento Escolinhas de Arte345. Ana Mae Barbosa considera o MEA como a primeira institucionalização do ensino modernista de arte no Brasil346. Nas palavras de Noemia Varela:

O Movimento Escolinhas de Arte é uma consequência natural da própria filosofia e dinâmica da Escolinha de Arte do Brasil. Quando ela foi instituída, Augusto [Rodrigues] empenhou-se em seguir uma diretriz educacional criadora. Sentiu que naquele momento era novidade uma classe de arte para criança. Chamava atenção, mobilizava os interesses mais diversos, pessoas de formação variada... Entendeu rápido que teria que difundir horizontalmente e que teria que passar a mensagem – porque era fundamental a importância daquela pequenina experiência, que nada tinha a ver com o sistema escolar da rede oficial. [...] O que a Escolinha de Arte do Brasil fez e continua fazendo de singular para mim é apresentar-se como proposta aberta, modelo gerador de novas Escolinhas de Arte, modelo no sentido científico, não para ser imitado, mas para ser o ponto de partida para a mudança. Ela nunca propôs a nenhuma Escolinha: “faça o que eu faço”. Mas: “tenha os fins, a expectativa, leve as atitudes geradoras de uma experiência coerente com seu meio”. Modelo gerador de novas Escolinhas de Arte diversificadas na medida do sonho e da força criadora de seus fundadores. As Escolinhas de Arte de Bagé, de Santa Maria, do Recife, de Alagoas, de João Pessoa, de Cachoeiro do Itapemirim, representam realidades e resultados inteiramente diversos. Mas estão ligadas à experiência Escolinha de Arte do Brasil dentro de uma linha filosófica, dentro de uma atitude e expectativa, de uma forma de educação inteiramente diversa da que caracterizava e caracteriza o nosso sistema educacional... E se cada Escolinha – pelos seus ideais e princípios – se liga à experiência-mãe da Escolinha de Arte do Brasil, por outro lado caminha independentemente em seu processo de desenvolvimento, autônoma na dimensão que lhe conferem aqueles que a constituem, que fundamentam e orientam a experiência347.

Conforme um material informativo da década de 1970 da Sociedade Brasileira de Educação Através da Arte (Sobreart), o Movimento Escolinhas de Arte possibilitava “[...] intercâmbio de experiências, exposições, participação em

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BARBOSA, Ana Mae. Entre Memória e História. In: BARBOSA, Ana Mae. (Org.). Ensino da arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 2014b, p. 5.

346

BARBOSA, Ana Mae. Redesenhando o desenho: educadores, política e história. São Paulo: Cortez Editora, 2015b, p. 183.

347

VARELA, Noemia. In: RODRIGUES, Augusto (Org.). Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: INEP, 1980, p. 70-71.

congressos e conferências, em países da Europa e da América Latina [...]”348

. A EAB reuniu desenhos e pinturas produzidos por crianças e adolescentes de diversas Escolinhas de Arte para levar para exposições internacionais. Esses materiais foram exibidos no México, Reino Unido, Japão, França, Chile, Itália, Argentina, Holanda, Espanha, República Tcheca, Paraguai, China, Coréia do Sul, Áustria, Venezuela, Filipinas, Índia, Iugoslávia, Alemanha e El Salvador349.

Aconteceram também encontros das Escolinhas de Arte, sendo o primeiro deles realizado em 1961350. Em um desses encontros, promovido pela Escolinha de Arte do Brasil e realizado de 17 a 21 de julho de 1972 no Centro Educacional Calouste Gulbenkian351, no Rio de Janeiro, foram delineados os postulados do MEA:

Respeito ao ser humano, à sua capacidade de criar, levando-o a encontrar na arte formas de se realizar e expressar o conhecimento de si mesmo como ser atuante em busca da liberdade. O encontro da “liberdade individual”, no ato de criar, levará o homem a um “novo humanismo” fundamentado na paz352.

Nesse mesmo Encontro de 1972, chegou-se às seguintes conclusões em decisão conjunta dos representantes das Escolinhas de Artes participantes no evento:

Necessidade da Escolinha de Arte do Brasil se constituir em centro revitalizante e gerador das ideias de Educação através da arte, sendo veículo dessas ideias os professores que nela se formaram nas bases já expostas; Necessidade de Encontros desse tipo para se manter a unidade do Movimento; Necessidade da renovação pela análise e crítica constante de experiências que sejam vistas como sínteses criadoras temporárias e suscetíveis de mudanças no campo de arte na educação; Necessidade da penetração das escolinhas no interior, estimulando centros de cultura, capazes de favorecer o próprio crescimento da Escola e do meio ambiente353.

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ATRAVÉS DA ARTE. Arte-movimento. Rio de Janeiro: Sobreart, [1974?]. Fonte: Arquivo Histórico do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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RODRIGUES, Augusto (Org.). Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: INEP, 1980, p.87. 350

RODRIGUES, Augusto (Org.). Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: INEP, 1980, p.78. 351

ARTE & EDUCAÇÃO. Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano 1, n. 12, jul.1972, p. 1. Fonte: Arquivo Histórico do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

352

RODRIGUES, Augusto (Org.). Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: INEP, 1980, p. 80. 353

Esse Encontro contou com a participação de 200 educadores de várias regiões do Brasil e também do exterior354. Na figura 48, vê-se Iara de Mattos Rodrigues representando a Escolinha de Arte da UFRGS durante o Encontro das Escolinhas de Arte de 1972.

Figura 48 – Fotografia de Iara de Mattos Rodrigues (primeira à esquerda) no Encontro das Escolinhas de Arte de 1972.

Fonte: ARTE & EDUCAÇÃO. Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano 1, n. 12, jul. 1972, p. 5. Fonte: Arquivo Histórico do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Além dos encontros, congressos e conferências, havia também trocas de correspondências entre a EAB e outras Escolinhas. Em uma carta assinada por Augusto Rodrigues, datada de 18 de dezembro de 1962, destinada a Edith de Oliveira Belli, da Escolinha de Arte de João Pessoa, Augusto indica iniciativas de outras Escolinhas que poderiam servir de inspiração. Primeiro, menciona a relação da Escolinha de Arte Infantojuvenil de Porto Alegre, que pertencia à Divisão de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Sul, com o sistema escolar do Rio Grande do Sul, e passa o contato da professora Lygia Dexheimer, diretora daquela Escolinha. Em seguida, indica os contatos de Ana Maria Lucena Cavalcanti, Maria Luiza Rocha, Myriam Didier e Ana Mae Barbosa, então professoras da Escolinha de Arte do Recife, para troca de experiências, palestras, exposições e cursos intensivos. Por último, sugere que os professores da Escolinha de Arte de João Pessoa busquem formação nos cursos intensivos da Escolinha de

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ARTE & EDUCAÇÃO. Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano 1, n. 12, jul.1972, p. 1. Fonte: Arquivo Histórico do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Arte do Brasil, informando que era possível conseguir bolsas de estudo para o ano seguinte por meio do INEP, à época denominado de Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos355.

Segundo os documentos levantados, as relações entre as Escolinhas de Arte eram de proximidade, de compartilhamento de ideias e de mútuo reconhecimento. Como já mencionado no início deste capítulo, o Rio Grande do Sul foi o estado brasileiro que mais teve Escolinhas no âmbito do MEA. No próximo item, trago algumas informações sobre esse movimento em terras gaúchas.