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A análise de Leila Massarão se destaca das demais por fazer uma analise histórica, contextualizada da Renovação Carismática Católica. Observa suas origens,

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seu desenvolvimento no Brasil e sua consolidação, insere o movimento dentro da realidade histórica e não o entende como uma reação conservadora, nem como uma artimanha do poder hierárquico da Igreja, muito menos como uma estratégia mercadológica da igreja em busca de fiéis. As reflexões de Massarão apontam para vivencias culturais e a legitimidade religiosa desse movimento, sem preocupação de lhe dar um rótulo especifico. Também o coloca dentro da tradição religiosa cristã quando o apresenta como um “movimento do Espirito” termo que designa uma marca na história do cristianismo desde o primeiro século de avivamentos religiosos.

Nas análises acadêmicas sobre a Igreja Católica na América Latina, a semelhança da Renovação Carismática Católica com o pentecostalismo protestante é interpretada como um recurso da Igreja na disputa de mercado com as denominações religiosas pentecostais protestantes que proliferam no país (MASSARÃO, 2007, p.09).

A autora relata a disputa de poder entre carismáticos e pentecostais, esses dois movimentos vivem em busca constante de fiéis e para isso usam de vários meios de chamamento seja rádio ou televisão, o importante é conseguir tocar o coração dessas pessoas para serem inseridas dentro de uma denominação, seja ela protestante ou Católica Carismática, o importante é alcançar os fiéis que vivem sedentos da palavra de Deus.

Por ter seu impulso inicial numa cultura protestante e diretamente influenciada pelo pentecostalismo, a Renovação Carismática Católica possui práticas muito próximas à sua correspondente protestante: a crença no Batismo no Espírito Santo; a manifestação dos dons carismáticos, como o dom de línguas, profecia e cura; os louvores e as canções; o biblicismo; e a utilização da mídia como recurso de pregação e propagação. Mesmo que tais práticas tenham sido, em algum grau, herdadas dos pentecostais protestantes, elas são justificadas pelos carismáticos católicos nas Escrituras, como uma forma de garantir sua legitimidade. Uma das formas encontrada pelo Movimento Carismático, nos seus primeiros anos de vida, para ganhar a simpatia e a participação do clero foi, através de sua literatura, demonstrar “docilidade” em relação à autoridade institucional e o culto mariano, diminuindo o efeito negativo que a proximidade com as práticas pentecostais protestantes poderia ter, além de reafirmar a Renovação Carismática Católica como uma renovação cristã autêntica (MASSARÃO 2007, p.07/08).

Leila Massarão traz todo o contexto histórico da Renovação Carismática Católica, mostra como esse movimento se assemelha com os pentecostais protestantes e como foram ganhando a simpatia do Clero através de sua literatura, e como esse movimento demonstrou sua docilidade. A autora faz menção a Renovação Carismática Católica como uma renovação cristã autentica.

51 É característica da Igreja Católica a multiplicidade de movimentos religiosos. Legião de Maria, Opus Dei, Vicentinos, Comunidades Eclesiais de Base, Renovação Carismática Católica, são apenas alguns dos exemplos de movimentos presentes na Igreja. São os segmentos sociais que os compõem e a forma como respondem aos projetos da Igreja que definem as peculiaridades de cada grupo. A manutenção de grupos tão diversos possibilita à Instituição manter o controle sobre um grande número de fiéis, dando-lhes a ideia de pertencimento e o sentimento de unidade, essencial para a subsistência da Igreja (MASSARÃO 2007, p.15).

Para a autora a multiplicidade dos movimentos religiosos permite a igreja fazer um melhor acompanhamento das mudanças na sociedade, onde se tem atuação. Esses movimentos presentes dentro da Igreja permite que a instituição possa controlar seus fiéis, dando atenção que cada pessoa necessita. Era o que estava faltando antes da chegada da Renovação Carismática Católica que as pessoas procuravam Nas Igrejas pentecostais, por lá encontrarem alento para suas aflições. Os fiéis precisam ter certo pertencimento, se sentirem se acolhidas.

No final dos anos de 1970, a Igreja Católica no Brasil passou por um processo duplo de modificação, externo e interno. Extremamente, esse período ficou marcado pelo inicio da redemocratização do país e o retorno dos direitos políticos, possibilitando a rearticulação de instituições ligadas à política de esquerda. A Igreja manteve durante o período do Militar o papel de “oposição” política no Brasil. Com a abertura política e a redemocratização foi possível a emergência de novos espaços de reivindicações, novas formas de organização da sociedade civil fora da dependência da Igreja (como as associações de bairros,os sindicatos, partidos como o partido dos trabalhadores, cuja origem também está nas comunidades Eclesiais de base, entre outros), ou seja, a instituição religiosa perdeu sua hegemonia no interior dos movimentos sociais (MASSARÃO 2002, p.80/81).

Nesse sentido Leila Massarão aborda o final dos anos 1970, período de Ditadura Militar, esse período que ficou marcado por grandes lutas e transformação na sociedade, sendo que o meio religioso estava inserido nesse contexto, até porque fazia oposição ao governo militar, e isso fez com que se acelerassem as modificações no interior da Igreja, onde se destacou diante de suas ações sociais, com criação de associações de bairros e sindicatos e a grande criação do momento que foi o partido dos trabalhadores sob a liderança do então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva. Esse que passou a atuar fortemente em defesa dos trabalhadores e fazendo oposição a direita política.

O que a autora faz é legitimar o movimento da Renovação Carismática Católica como um movimento legitimo que nasceu e se fortaleceu no seio Católico para fazer as mudanças que a sociedade religiosa necessitava naquele momento até os dias atuais.

Segundo Leila Massarão o movimento da Renovação Carismática surgiu num momento em que a Igreja vivia sob o olhar da Teologia da libertação, e também vivia

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uma situação bastante complicada devido às causas políticas e sociais.

Mesmo que os trabalhos acadêmicos busquem rigor e isenção frente a seu tema, não passam despercebidos os parâmetros utilizados para as analises e os direcionadores do olhar sobre o abjeto. No caso da analise sobre a Renovação Carismática, e pelo próprio momento em que o movimento surge na Igreja brasileira, os referenciais analíticos passaram pela Teologia da Libertação, principalmente em relação à sua composição social, política, causas sociais, entre outros aspectos. Muitas vezes foram produzidas análises apoiadas no binômio engajamento/alienação; opção preferencial pelos pobres/classe média e média-alta; razão/emoção (MASSARÃO 2002, p.78).

Para a autora olhando para a Renovação Carismática com os olhos da Teologia da Libertação se pode analisar esse movimento como um avesso da Igreja Católica progressista. “Assim, ao se analisar a Renovação Carismática e buscar esse modelo dentro dela, as conclusões encontradas apontam para um movimento alienado, voltado para uma classe média em busca de higiene mental”. Mas na realidade o que se pode verificar é que a autora percebe esse movimento como algo bom para a Igreja Católica, por ser um movimento que vem afirmar a decisão tomada no Concílio II, onde ações de leigos vem tomar seu lugar junto a Igreja. Assim, a autora vê no movimento da Renovação Carismática como positiva para a Igreja por ser fruto do concílio II.

Para MASSARÃO (2002) “A Renovação Carismática esteve exposta à influencia da tradição protestante e foi considerada muitas vezes uma pentecostalização de setores da Igreja Católica”. Desse modo, pode se perceber que a Renovação Carismática vem contribuir com a Igreja Católica no sentido de concorrer com o pentecostalismo, uma vez que traz consigo muitas semelhanças pentecostais e isso faz com que os fiéis que estavam de alguma forma se afastando da Igreja possam retornar, pois houve um avivamento espiritual dentro da Igreja Católica através da Renovação Carismática e a Igreja passou a ficar mais parecida dos moldes pentecostais. Para a autora “Muitos aspectos sociais e culturais da história do Brasil são marcados pela tradição e pela história da Igreja Católica”. Sem duvida alguma que a Igreja Católica sempre fez e faz parte da história, ela nasceu durante o Império Romano e por séculos se expandiu, conquistando poder e grande número de adeptos. Desde o ano 331 foi transformada em religião oficial do Império e, durante muitos séculos a Igreja viveu diversas crises e mudanças. Logo, a História vem acompanhando essas mudanças ocorridas no meio religioso católico.

Também analisando o meio religioso pentecostal através de Ricardo Mariano, se percebe o grande crescimento devido as grandes propagandas religiosas.

Se fosse possível resumir as principais razões de tamanho sucesso levando em conta tão somente o lado da oferta e, com isso, desconsiderando o contexto

53 social, cultural, religioso e político abrangente, grosso modo, poderia se afirmar que a extraordinária expansão numérica e institucional da Igreja Universal resulta no desempenho de sua liderança eclesiástica e administrativa à frente do governo denominacional, do trabalho religioso em período integral e da eficiência de seu clero, do ativismo militante dos obreiros, do poder de atração de sua mensagem, do investimento em redes de comunicação e da acentuada eficácia das técnicas e estratégias de proselitismo eletrônico da esfera sistemática de serviços mágicos adaptados aos interesses materiais e ideais de extratos pobres da população, do sincretismo de crenças e práticas mágico-religiosas em continuidade com a religiosidade popular (MARIANO,2004, p.133/134).

No caso da Igreja Universal do Reino de Deus, MARIANO (2004), pontua várias formas que levou ao tremendo crescimento dessa Igreja, mas o que se pode ser analisado é que, não só a Universal teve seu crescimento, mas de certa forma todas as Igrejas se utilizaram de mecanismos eletrônicos para atrair novos fiéis, eles se doaram para esse tipo de trabalho, para que a palavra de Deus fosse propagada e pessoas fossem resgatadas. MASSARÃO (2002) entende que “A estratégia de marketing mais marcante na história da Renovação Carismática foi a utilização dos meios de

comunicação”. Para esses autores um dos pontos fundamentais para o crescimento

tanto das igrejas pentecostais, quanto da Renovação Carismática, foi a utilização dessas práticas, e a mídia fez com que multidões de pessoas fossem alcançadas, e outro ponto de crescimento foi a venda de produtos evangélicos como CDs, camisetas e revistas, pois a partir dessas iniciativas pessoas foram sendo alcançadas e evangelizadas. Esses autores veem com bons olhos o crescimento desses movimentos, pois através do pentecostalismo e Carismáticos, muitas pessoas que viviam numa tremenda pobreza foram alcançadas de alguma forma e passaram e crer em Deus e em um futuro melhor. Segundo ROLIM (1985), os fiéis sentem se protegidos devido a crença no Espirito Santo, pois:

produzem um imaginário sob cuja influência experimentam simultaneamente o aspecto de proteção e de exigência do grupo. Proteção, porque de um lado a crença no Espírito Santo é a crença no poder divino absoluto, e por outro lado o grupo é percebido como o espaço por excelência da manifestação deste poder, no qual se reproduz e se reatualiza a manifestação primitiva deste mesmo espirito (ROLIM, 1985, p.226).

Nesse sentido o autor também analisa que as pessoas que procuram o movimento Pentecostal e Carismático buscam de certa maneira a salvação da morte e a cura das doenças, o que se é levado em conta também como um fator positivo das existências desses movimentos é o bem estar das pessoas, pois elas passam a ter um sentimento de pertencimento a esse grupo e dessa forma passam a conviver socialmente dentro de determinado grupo e se relacionando elevam sua autoestima. Também é vista por PRANDI (1997) “Essas diferentes religiões que se reproduzem no

54 Brasil de hoje podem ser vistas como múltiplas fontes de legitimação da sociedade

brasileira e como distintas agências de orientação para a vida quotidiana”. Segundo

PRANDI essas religiões e movimentos podem ser vistas como algo legitimo por ser dessa forma que muitos marginalizados são alcançados e recebem orientação para viver na sociedade.

4.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO TERCEIRO CAPÍTULO

Nesse terceiro capitulo foi feito uma análise das produções acadêmicas acerca da RCC. Apresentaram-se assim algumas concepções em torno das quais gravitam as análises da RCC. Primeiro a visão midiática-economicista, a visão sociológica determinada pela concepção de campo religioso, a visão internalista, e por fim, a concepção da RCC como um movimento religioso e histórico legítimo. Para concluir o capítulo fez-se uma análise na qual autores como Massarão (2002), Mariano (2004), ROLIM (1985) e PRANDI (1987) se destacam por entenderam de modo mais antropológico o fenômeno religioso, já que analisaram esses movimentos religiosos de modo menos enviesado, tentando compreende-lo e percebendo de que modo esta religiosidade atende a determinadas ansiedades contemporâneas suprindo lacunas de significação do mundo, da sociedade e da vida que outras formas de saber, de lazer e mesmo práticas religiosas não suprem.

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