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Renovação carismática católica e o pentecostalismo: dois movimentos e uma só fé no Espírito Santo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL CAMPUS DE ERECHIM

CURSO DE HISTÓRIA

VANILDE EITUTIS

RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA E O PENTECOSTALISMO: DOIS MOVIMENTOS E UMA SÓ FÉ NO ESPÍRITO SANTO

ERECHIM 2014

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VANILDE EITUTIS

RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA E O PENTECOSTALISMO: DOIS MOVIMENTOS E UMA SÓ FÉ NO ESPÍRITO SANTO

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado como requisito para obtenção de grau em licenciatura em História da Universidade Federal da Fronteira Sul

Orientador: Prof. Dr. Mairon Escorsi Valério

ERECHIM, 2014

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VANILDE EITUTIS

RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA E O PENTECOSTALISMO: DOIS MOVIMENTOS E UMA SÓ FÉ NO ESPÍRITO SANTO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de História da Universidade Federal da Fronteira Sul, como requisito para obtenção do título de Graduação em História.

Orientador: Prof. Dr. Mairon Escorsi Valério

Este trabalho de conclusão de curso foi defendido e aprovado pela banca em: 21/11/2014.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Mairon Escorsi Valério - UFFS

Prof.ª Dr. Maria Silvia Cristofen - UFFS

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AGRADECIMENTOS

Entendo que dizer “muito obrigado” é colocar-se à disposição de quem lhe prestou um favor ou dispensou algum bem. Dessa forma venho agradecer primeiramente a Deus que foi meu companheiro inseparável mesmo nos momentos de meu distanciamento, foi ele que me deu forças pra continuar lutando, mesmo quando parecia que meu mundo tinha acabado Deus me deu o fortalecimento que eu precisava. Coloco-me à disposição de tantos e tantas que compuseram o cenário de minha vida, nestes quarenta e cinco anos de minha existência. Meus pais Francisco Eitutis e Angelina Eitutis, em memória, pois ambos já subiram e moram no lar celestial, mas sinto a presença deles, a cada momento, e tenho certeza que de alguma forma eles tem me ajudado, acompanhado minha trajetória. Meus filhos Regiane Eitutis Frazão e Reinaldo Oliveira Frazão Junior que são a razão de meu viver e que tem estado ao meu lado, meu muito obrigado, amo vocês. Em especial minha filha Regiane que é a razão deu estar me formando, pois foi ela que fez a inscrição no ENEM e me deu uma ordem: “mãe você vai conseguir, sua inscrição está feita agora vai realizar o seu sonho de fazer o curso de História” e a partir desse momento foi meu alicerce em todos os momentos, filha te amo.

Agradeço a meus Irmãos, Alvira, Célio, Helena e Valdecir. Obrigada por ter estado ao meu lado de alguma forma. Em especial agradeço minha irmã Helena que está sempre ao meu lado me auxiliando com suas palavras de otimismo e confiança, orando por mim, e sei que por falta de nossa mãe, muitas vezes ela desenvolveu esse papel muito bem, minha Irmã Helena meu muito obrigado por tudo.

Agradeço a Silvana Pertile, diretora da escola Othelo Rosa por servir de inspiração e fazer parte de cada momento desde o início e por ter torcido por mim para que os meus objetivos fossem alcançados. Meu muito obrigado.

Agradeço as professoras da escola Othelo Rosa que de alguma forma me ajudaram, em especial a professora Eunice Foppa e Raquel Dallagnol, que foram muito importantes no momento da realização do estágio curricular; meninas muito obrigado.

Agradeço a minha colega de faculdade e amiga Evelin Bresolin pelo companheirismo durante estes cinco anos, com toda certeza você fez diferença com sua amizade e coleguismo.

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que dedicou seu tempo de descanso para me ensinar as tão difíceis disciplinas de matemática e estática, posso dizer que valeu a pena sua dedicação e perseverança. Hoje tens uma boa parcela de contribuição pela minha aprovação.

Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Mairon Escorsi Valério, pela leitura deste trabalho, sugestões, comentários pertinentes e pelo apoio durante a pesquisa.

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RESUMO

O objetivo do presente trabalho foi compreender a trajetória histórica das práticas da Renovação Carismática Católica no Brasil. Para tanto, foi abordado sobre como este movimento surgiu desde o Concílio do Vaticano II, e de que forma se introduziu dentro da hierarquia católica brasileira. Também, procurou-se situar as práticas carismáticas dentro do campo religioso brasileiro e como foi a aceitação das pessoas a esse novo movimento. Realizou-se também um apanhado histórico do pentecostalismo brasileiro, trazendo as afinidades e divergências destes dois movimentos. Foi abordado neste estudo, ainda, as estratégias de Marketing, como o uso do Radio e da Televisão, comerciais e vendas de objetos religiosos da Renovação Carismática Católica e dos pentecostais para atrair fiéis e com isso se expandir. Para analisar tal expansão, se buscou detectar a causa da atração a essas práticas religiosas de cunho emocional. Na sociedade atual inúmeros problemas advindos da estrutura social, econômica e religiosa vigentes, promovem as mais diversas procuras de soluções no campo religioso. A falta de esperança física e social, econômica e psicológica faz com que as pessoas se apeguem em experiências sobrenaturais nos quais o sagrado preenche essas lacunas, onde o Espirito Santo pode aliviar as tensões e os dramas de cada indivíduo. Por fim, destacou-se de que modo tal fenômeno acabou sendo interpretado pelos estudiosos da religião no campo acadêmico brasileiro.

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ABSTRACT

The objective of this study was to understand the historical trajectory the practices of Catholic Charismatic Renewal in Brazil. For this, he was approached about this movement came from the Vatican Council II, and how it was introduced into the Brazilian Catholic hierarchy. It also sought to situate the charismatic practices within the religious field and how was the acceptance of the people in this new movement. We conducted a historical overview of the Brazilian Pentecostalism, bringing the affinities and differences of these two movements. Addressed in this study was also the marketing strategies via radio, television, commercial and sales of religious objects of the Catholic Charismatic Renewal and the Pentecostal faithful to attract and expand it. To analyze this expansion, we sought to detect the cause of attraction to these religious practices of emotional nature. In today's society many arising from social, economic and religious problems existing structure, promote the diverse demands of solutions in the religious field. The lack of physical and social, economic and psychological hope makes people cling to supernatural experiences in which the sacred fills these gaps, where the Holy Spirit is seen as a phenomenon that can ease the tensions and dramas of each individual. Finally stressed that this phenomenon turned out to be so interpreted by scholars of religion within academic field.

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO 08

2 HISTÓRIA DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA NO BRASIL 10

2.1 O SURGIMENTO DA RENOVAÇÃO CATÓLICA CARISMÁTICA NOS EUA 10

2.2 A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA E A CHEGADA AO BRASIL 11

2.3 A NOVA RELIGIOSIDADE 14

2.4 A EXPANSÃO MIDIÁTICA DA RENOVAÇÃO CATÓLICA CARISMÁTICA 19

2.5 AS DISCUSSÕES DA SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO SOBRE A RENOVAÇÃO

CATÓLICA CARISMÁTICA 21

2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO PRIMEIRO CAPÍTULO 23

3 AFINIDADES E DIVERGÊNCIAS ENTRE O PENTECOSTALISMO E A RENOVAÇÃO

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3.1 HISTÓRIA DO PENTECOSTALISMO 24

3.2 CONCEITOS HISTÓRICOS 29

3.3 AFINIDADES ENTRE O PENTECOSTALISMO E A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA 31

3.4 DIVERGÊNCIAS ENTRE O PENTECOSTAIS E OS CARISMÁTICOS 35

3.5 O ENFRAQUECIMENTO DA IGREJA CATÓLICA 38

3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO SEGUNDO CAPÍTULO 40

4 A RCC REPRESENTADA NOS ESTUDOS ACADEMICOS 41

4.1 ANÁLISE DOS ESTUDOS PRODUZIDOS ATÉ O MOMENTO 41

4.2 VISAO MIDIATICO ECONOMICISTA 43

4.3 VISÃO SOCIOLÓGICA DETERMINADA PELA CONCEPÇÃO DE CAMPO

RELIGIOSO 46

4.4 VISÃO INTERNALISTA 48

4.5 MOVIMENTO LEGÍTIMO 49

4.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO TERCEIRO CAPITULO 54

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55

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1. INTRODUÇÃO

As profundas mudanças na área econômica e social ocorridas na sociedade brasileira durante o decorrer do século XX foram acompanhadas por um processo de diversificação religiosa. No início do século XX, ocorreu uma preocupação de redescoberta e explicitação do Espirito Santo no ocidente cristão, e a resposta inicial se deu no meio protestante, pois do protestantismo surgiu o pentecostalismo que por vez atingiu também os católicos e espalhou-se rapidamente pelo mundo, não tardando em chegar ao Brasil. A novidade atraiu adeptos e cresceu rapidamente em nossas terras, ganhando novas formas, gerando diversas dominações mas sempre mantendo suas características. Assim será observado a multiplicidade de carismas pentecostais, e a ênfase religiosa no dom do Espirito Santo.

A partir do Concílio Vaticano II surgiram novos estilos de religiosidade internos ao próprio catolicismo, num contexto de perda de fiéis acarretada pelo aparecimento de outras opções religiosas, como o pentecostalismo protestante, e também ameaçada diante do processo de secularização em curso na sociedade ocidental. Havia nele uma grande sede de avivamento espiritual. A Renovação Carismática Católica, elemento central da temática a ser discutida neste trabalho, é um exemplo desses novos estilos de religiosidade católica que passou a ocupar uma interessante posição no campo religioso.

O objetivo do primeiro capítulo é a apresentação detalhada da Renovação Carismática Católica, toda sua História desde o concílio do Vaticano II a pedido do então Papa João XXIII, os fatos e os personagens marcantes, que contribuíram para que fosse criado esse movimento carismático. Aborda-se desde o retiro espiritual de Duquesne nos Estados Unidos em fevereiro de 1967, sendo que para MANSFIELD, (1995) “aquele retiro veio a ser o ponto de partida de um amplo movimento de Renovação Carismática, cuja abrangência estendeu-se pelos Estados Unidos e por todo o mundo”. Verifica-se como essa nova religiosidade se constituiu e sua expansão apoiada por uma estratégia midiática.

A Renovação Carismática Católica cresceu rapidamente e a religiosidade nela presente, que enfatiza o dom do carisma, permitiu um avivamento que contribuiu para o retorno de fiéis que haviam se afastado, além criar um espaço onde tal religiosidade pudesse estar presente no seio do catolicismo.

Algumas das referencias analíticas deste trabalho são provenientes da sociologia da religião, principalmente a partir de formulações teórica de Max Weber (2004), um dos principais sociólogos da religião: “tanto mais cresce a urgência com que se exige do

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9 mundo e da ‘condução da vida’, como um todo que tenham uma significação e estejam ordenados segundo um ‘sentido’.” Além de Weber, algumas reflexões de Bourdieu acerca do conceito de religião e religiosidade.

O segundo capítulo trará um breve histórico do pentecostalismo brasileiro, como surgiu e seus principais ideólogos, e fará uma discussão acerca das afinidades e divergências entre a religiosidade avivada de pentecostais e da Renovação Carismática Católica. Ambos nasceram nos Estados Unidos e depois chegaram ao Brasil. Os pentecostais chegaram bem antes, no inicio do século XX, em 1910, e os carismáticos a partir da segunda metade do século XX, em 1970, no auge da ditadura militar, se introduziram dentro da Igreja Católica.

Em toda análise elegeu-se como linha de abordagem os marcos da História Cultural que se valerá do conceito de representação de Roger Chartier. CHARTIER (1990) “a compreensão que os homens buscam do funcionamento de uma dada sociedade ou as operações intelectuais que lhes permitem apreender o mundo”. Assim a compreensão dos fenômenos aqui estudados se estrutura a partir das construções de significados acerca de ambos os movimentos.

No terceiro capitulo, será realizada a revisão bibliográfica, retomando os dois capítulos anteriores, analisando de que modo cada análise produzida sobre a Renovação Carismática Católica a representa e de que modo. Destacam-se nesta reflexão quatro modos de se perceber a Renovação Carismática Católica: uma visão mais midiática e economicista; uma visão sociológica determinada pela concepção de campo religioso; uma concepção mais internalista e por fim uma concepção, denominada aqui de legitimadora. Conclui-se então o trabalho fazendo um balanço do que foi apresentado e destacando a possibilidade interpretativa do fenômeno Renovação Carismática Católica.

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2 HISTÓRIA DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA NO BRASIL

Este primeiro capítulo analisa a constituição histórica da Renovação Carismática Católica1, suas origens, sua expansão e seus desdobramentos no campo católico brasileiro, traçando seu percurso a fim de evidenciar suas principais características como a de um movimento do espírito.

2.1 O SURGIMENTO DA RENOVAÇÃO CATÓLICA CARISMÁTICA NOS ESTADOS UNIDOS

A Renovação Carismática Católica é um movimento da Igreja Católica Apostólica Romana. Compreendida como uma consequência do Concilio Vaticano II (1962-1965), a RCC surgiu nos Estados Unidos em meados das décadas de 1960 e se espalhou pelo mundo todo. A convocação para o Concílio Vaticano II havia se dado pelo papa João XXIII, mas o seu encerramento se deu já sob o papado de Paulo VI em Dezembro de 1965. Para o papa João XXIII, o concílio deveria ser uma abertura para renovar a Igreja. A palavra de ordem do concílio era aggiornamento (atualização). E foi a partir do desejo de renovação no interior da Igreja Católica, incentivado pela realização do concílio, que surgiu o Pentecostalismo Católico, que hoje é conhecido como Renovação Carismática Católica.

Estudantes católicos da Universidade de Duquesne insatisfeitos com as experiências religiosas começaram a se unir para orações e conversas a respeito da fé, eles eram católicos que se dedicavam as atividades apostólicas. Eles passaram a evocar o Espirito Santo em oração para que se manifestassem neles, o que eles queriam era ter uma experiência mais profunda com o Espirito.

Esses jovens universitários começaram a questionar por que muitos fiéis abandonavam a Igreja Católica e se convertiam ao protestantismo e ao espiritismo. Questionando, ainda, o motivo pelo qual a presença de Jesus era tão marcante nas igrejas evangélicas, buscaram conhecer melhor o que acontecia nelas para então poderem trazer Jesus para eles. (OLIVEIRA, 2001, p.31)

Essa aproximação com as igrejas protestantes era fruto de uma nova postura da Igreja Católica, motivada pelo concílio e pela atitude de João XVIII de incentivo ao ecumenismo e aproximação com “os irmãos separados”. A abertura criada pelo concílio

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permitiu um novo olhar e a aproximação em muitos segmentos.

Patti Mansfield uma expressiva pioneira da RCC autora do livro intitulado “Como um novo pentecostes”, como uma das testemunhas, narra as experiências vividas pelo retiro espiritual conhecido como “Final de semana de Duquesne”. Neste sentido, jovens e professores experimentaram o dom da graça divina. Ali experimentaram a sensação de ficarem cheios do Espirito Santo de Deus. Este evento é considerado um marco de renovação que surge no seio da Igreja Católica. Tal experiência se institucionalizaria dando origem a Renovação Carismática Católica.

O Nosso retiro de 17 a 19 de fevereiro de 1967, por mim descrito em minha carta, veio a ser minuciosamente conhecido como o Fim de Semana de Duquesne. Este evento vem sendo, geralmente, aceito como o marco inicial da Renovação Carismática na Igreja Católica, por ter sido o primeiro em que o grupo de fiéis católicos experimentou o Batismo no Espírito Santo e os dons carismáticos. Conquanto, já existissem católicos assim batizados anteriormente, aquele retiro veio a ser o ponto de partida de um amplo movimento de Renovação Carismática, cuja abrangência estendeu-se pelos Estados Unidos e por todo o mundo (MANSFIELD, 1995, p. 5).

Amparada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) a Renovação Carismática Católica conquistou seu espaço e cresceu dentro do seio da Igreja Católica. Assim seus adeptos foram aumentando e muitas conversões foram acontecendo, uma vez que seus fiéis entendiam aquilo como a promessa do Espirito Santo se concretizando em meio aos fiéis. A partir desse momento, não tardou para que a ideologia da Renovação Carismática Católica entrasse em solo brasileiro.

2.2 A RENOVAÇÃO CATÓLICA CARISMÁTICA E A CHEGADA AO BRASIL

As profundas mudanças na área econômica e social ocorridas na sociedade brasileira durante a segunda metade do século XX foram acompanhadas por um processo de diversificação religiosa. A partir do Concílio Vaticano II2, surgiu novos estilos

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O Concílio do Vaticano II foi uma série de conferências realizadas entre 1962 e 1965, esse foi considerado o grande evento eclesiástico da igreja católica no século XX o objetivo era modernizar a igreja e atrair os cristãos afastados da religião. O papa João XXIII convidou os bispos do mundo inteiro para participarem de diversos encontros, debates e votações no Vaticano, nesses debates uma das pautas constavam temas como os rituais da missa e as atribuições de cada padre, também debatiam a liberdade religiosa e a relação com seus fiéis. O Concílio tocou em temas delicados que mudaram a compreensão da igreja no mundo moderno, sendo que foram promulgados 16 documentos, os quais trouxeram

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de religiosidade internos ao próprio catolicismo, num contexto de perda de fiéis acarretada pelo aparecimento de outras opções religiosas. A Renovação Carismática Católica, elemento central da temática a ser discutida neste trabalho, é um exemplo desses novos estilos de religiosidade católica que passou a ocupar uma interessante posição no campo religioso brasileiro.

A pergunta inicial que motivou este estudo se voltava para a análise do que motivava as pessoas a buscarem a Renovação Carismática Católica. Para muitos católicos a Renovação Carismática Católica se tornou fundamental e seu modelo de religiosidade assumiu um lugar indispensável na vida deles, pois esses cristãos passaram a dar um novo rumo a suas vidas, e se tornaram participativos em reuniões de oração e retiros espirituais. Neste sentido é preciso compreender que o Movimento Carismático deita raízes de legitimidade na própria tradição cristã.

São primordiais para a compreensão do movimento aqui analisado, a Renovação Carismática Católica. Nascida logo após o término do Vaticano II, a Renovação Carismática encontrou em suas decisões a legitimação de existência e práticas. Mas o Movimento Carismático é depositado de uma herança católica muito maior, que vai além do concílio Vaticano II e que também está nos modelos pré-conciliares de organização, na busca de renovação da Igreja, inerente ao discurso da Igreja – assuntos a serem explorados posteriormente – e na crença na manifestação do Espirito Santo. (MASSARÃO, 2002, p.8)

Esses movimentos surgiram como uma proposta de renovação dentro da Igreja Católica, no qual o papel dos leigos teria maior relevância. Vale ressaltar, que na abertura do concílio, o papa João XXIII enfatizou a necessidade da Igreja Católica ter maior abertura ao Espírito Santo, o que foi entendido como a possibilidade de um novo pentecostes3. A Renovação Carismática Católica é um acontecimento vinculado à

mudanças nas questões teológicas e na hierarquia da igreja, como por exemplo, a aceitação do papa na divisão do poder com os cardeais e as missas que antes eram celebradas somente em latim passaram a ser celebradas na língua de cada país. Vale destacar, que foi a parir do Concílio do Vaticano II que passou-se aceitar a ideia de que por meio de outras religiões também possível conhecer Deus e conquistar a salvação.

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Na Bíblia, no Livro de Atos dos Apóstolos, relata-se quando reunidos em Jerusalém, os discípulos de Jesus recebem o dom do espírito Santo, manifesto a todos por meio do dom de línguas (falar em línguas estranhas). Por ter ocorrido no dia de Pentecostes (trata-se de uma festa judaica) o fenômeno acabou conhecido na tradição cristã como o dia em que o Espírito Santo de manifestou. Daí a referencia do Vaticano II ao “novo pentecostes”. Dali em diante os apóstolos teriam se encorajado para espalharem a mensagem de Jesus para o mundo.

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dinâmica do Concílio Vaticano II, pois logo após ter terminado o concílio teve início esse grande fenômeno religioso, assim como tantos outros 4.

A Renovação Carismática Católica busca afirmar sua legitimidade ao apresentar-se como o resultado do concílio do Vaticano II, justamente pelo fato do Concílio ter reafirmado a fé no carisma, o que teria preparado os cristãos para acolher o movimento que surgiria posteriormente.

No Brasil, desde o início do século XX, diversas denominações religiosas foram surgindo, como o espiritismo, o protestantismo histórico e o de vertente pentecostal, e isso fez com que se instaurasse uma grande competitividade no campo religioso. A disputa por fiéis foi ficando cada vez mais acirrada.

Por outro lado, a década de 60 deu início a uma profunda crise de valores na sociedade ocidental, marcada por transformações culturais5, às quais a Igreja Católica não ficou imune. Nesse momento a Igreja Católica vivia um momento de disputas de forças. Externamente, tinha que lidar com as forças em expansão dos pentecostais; internamente, os setores conservadores e mais contemplativos que observavam o fortalecimento da teologia da libertação, que tentava interpretar as escrituras através do sofrimento dos pobres. A teologia da libertação nasceu no final dos anos 1960, quando um conjunto de teólogos latino-americanos organizou uma teologia que legitimava um tipo de religiosidade católica engajada socialmente e influenciada pelas reflexões críticas do marxismo acerca da realidade. Buscava uma fé engajada, voltada para a militância

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O catolicismo é marcado por movimentos internos que surgiram em algumas circunstâncias, por iniciativas de lideranças ou como resposta a necessidade de mudanças na igreja e nas décadas de 40 e 50, como os movimentos da JUC (juventude universitária católica) e JOC (juventude operária católica). Após o Concílio Vaticano II, houve um chamamento ainda maior para as questões sociais e assim surge na América Latina a teologia da libertação, cujos pilares são as Comunidades Eclesiais de Base (CEBS) e as pastorais sociais que exerciam um papel significativo na resistência a ditadura militar, uma vez que a igreja representava um abrigo para os militantes de esquerdas. A igreja católica abriga três vertentes principais no Brasil, o clero tradicionalista, os remanescentes da teologia da libertação, que desde os anos 70 forma uma espécie de esquerda eclesiástica e os adeptos da renovação carismática que é o movimento mais vigoroso e recente. Acrescenta-se que a teologia da libertação chegou a influenciar boa parte do clero brasileiro até os anos 80 e desfrutou de certa hegemonia no período.

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Foram várias as transformações culturais, as quais atingiram em cheio os valores da Igreja, como por exemplo, a liberação sexual, a criação da pílula anticoncepcional, a derrocada do paternalismo e a ascensão do feminismo, entre outras, de forma que a resistência da Igreja em persistir a tentar mudar estilo de vida distinto das pessoas e do governo abalou sua hegemonia, de forma que, com o passar do tempo, a igreja acabou tolerando muitos costumes para não perder tantos fiéis.

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contra a injustiça social. Condenava o sistema capitalista, a pobreza, a desigualdade, a violência institucional (formalizada pelas ditaduras militares espalhadas no Cone Sul), o latifúndio, a violação dos direitos humanos, etc. Entendia que a busca por uma sociedade mais justa, igualitária e socialista, era uma consequência necessária da caridade cristã, do amor ao próximo.

Em meio a esses debates internos e externos, observa-se que setores da Igreja Católica, sentindo-se perdidos em um bombardeio de opções religiosas e não alinhado com a perspectiva apenas social da fé, entenderam o Movimento da Renovação Carismática como uma solução para seus problemas. Assim a Igreja Católica tradicional abraçou os seus projetos como um sinônimo de mudança. Logo, a Renovação Carismática Católica acabou mudando o cenário da Igreja, passando a viver um reavivamento em sua Igreja.

A Renovação Carismática Católica chegou ao Brasil no final dos anos 1960, começo dos anos 70, Trazida por Jesuítas norte-americanos. O Pe. Eduardo Dougherty é reconhecido como o percursor do Movimento Carismática no Brasil, Sendo responsável pela formaçao dos primeiros grupos de oração na cidade de Campinas com participantes dos Cursilhos de Cristandade. Através de suas atividades formou um grupo de religiosos engajados na Renovação Carismática, entre eles o Jesuíta norte-americano Haroldo Rahm, outro destacado membro da Renovação Carismática Católica no Brasil. (MASSARÃO, 2002, p. 11)

E assim esse movimento chegou ao Brasil entre as décadas de 1960 e 1970 na Cidade de Campinas no interior do estado de São Paulo, trazida pelos padres Haroldo Joseph Rahm e Eduardo Dougherty. Foi se firmando através de grupos de oração principalmente pela grande atuação de Haroldo Rahm, que em conferência com os bispos conseguiu autorização para organizar a comissão nacional de serviços, com sede em Brasília. A partir desse momento a Renovação Carismática Católica foi se difundindo e com um estilo que variou de região para região. Apresenta-se ainda hoje como um dos grandes acontecimentos religiosos da atualidade.

2.3 A NOVA RELIGIOSIDADE

No início dos anos de 1970 a Renovação Carismática Católica deu início a sua atuação através da realização de retiros espirituais, que eram promovidos pelos padres Haroldo Rahm e Eduardo Dougherty. Era denominado de Experiência do Espírito Santo.

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Mais tarde elaboraram outro retiro: Experiências de Oração. Aos poucos estes retiros começaram a se espalhar pelo território nacional brasileiro, disseminando os ideais e práticas carismáticas.

Os carismáticos, ao contrario dos católicos dos CEBs, centram a vida religiosa na esfera da intimidade, desenvolvem acentuado controle moral no âmbito da família, dos costumes e da sexualidade, desinteressam-se completamente dos problemas de caráter coletivo, e, por conseguinte, da militância política. (PERUCI & PRANDI, 1996, p.15)

Gradativamente se percebe o crescimento desse movimento dentro da Igreja Católica em virtude de ser um grupo que desenvolve uma religiosidade diferente dos setores católicos até então dominantes. Esse grupo se desinteressa da política, pois para eles o importante não é a militância – como é o caso da teologia da libertação -, mas o seu prazer e sua vivencia religiosa esta ligado às manifestações do espirito em si.

Cada grupo carismático católico poderá enfatizar esse ou aquele carisma, mas em todos ocuparão lugar de destaque o dom de línguas (transe pelo qual se revela publicamente a presença do Espírito Santo), a fé, que fundamenta a clamorosa e emocional oração semanal coletiva, a cerimônia da euforia, e o poder de cura, que tira os males e doenças pela imposição das mãos. (PRANDI, 1998, p.37)

Como outros movimentos religiosos cristãos, a Renovação Carismática Católica tem sua base legitimadora na Bíblia, principalmente no destaque dado ao Livro de Atos dos Apóstolos, onde está descrito acerca da decida do Espirito Santo sobre os fiéis6. Dentre as principais características da RCC estão: a promoção de eventos religiosos dentro de espaços físicos que são denominados cenáculos. Esse nome faz referência ao local onde encontrava-se os apóstolos no dia de pentecostes quando tiveram contato com o Espirito Santo.

Quando chegou o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos. De repente veio do céu um ruído, como de vento de um furacão, que encheu toda a casa onde se alojavam. Apareceram línguas como de fogo, repartidas e pousadas sobre cada

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É interessante observar que todos os movimentos cristãos buscam sua legitimidade no texto bíblico, já que o cristianismo é uma religião de livro (como o islamismo e judaísmo). As divergências de formas de compreensão e vivencia da fé resultam da multiplicidade interpretativa de um mesmo texto. Assim como católicos da libertação enfatizam no texto elementos que confirmem a opção de Jesus pelos pobres e a RCC destaca as manifestações do Espírito Santo e seus dons, outras vertentes e denominações buscam legitimidade em outros trechos ou ainda interpretam o mesmo trecho de forma divergente.

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16 um deles. Encheram-se todos do Espírito Santo, e começaram a falar línguas estrangeiras, conforme o Espírito lhes permitia expressar-se (At 2,1-4).

Também pode se dizer que o Livro de Atos dos Apóstolos foi um marco fundamental para a Renovação Carismática Católica expandir. O avivamento religioso, o aumento da crença da interferência sobrenatural na vida cotidiana foi ao encontro dos católicos que estavam desejosos de vivenciar uma fé mais efetiva, de retomar na atualidade aqueles milagres relatados biblicamente. Para muitos fiéis, reforçar a percepção de que existia um ser supremo ao qual se poderia entrar em contato através de louvores e orações foi algo que despertou a procura por essa nova religiosidade cuja característica centra é o empoderamento sobrenatural do individuo comum que poderia falar em línguas estranhas, alcançar milagres etc.

No sábado à noite nós deveríamos ter uma festa de aniversário para algumas das crianças, mas as coisas aconteceram de forma inesperada. Um por um nós éramos arrastados para a capela [isto é, abandonavam o lugar da festa e subiam para orar] e recebíamos o que é chamado, no Novo Testamento, de batismo no Espírito Santo. Aconteceu a pessoas diferentes de formas diferentes. Eu fui tocada por uma profunda consciência de que Deus é real e que Ele nos ama. Orações saíam de meus lábios de uma forma que eu nunca tinha tido coragem de pronunciar tão alto. Conheço agora o que Claudel queria dizer com „uma voz por dentro que é mais nós mesmos do que nós somos‟. Este não foi somente um bom fim-de-semana, mas verdadeiramente uma experiência de mudança de vida que tem continuado e se espalhado e crescido. (MANSFIELD, 1995, p. 3)

Depreende-se da citação de Patti Gallangher Mansfield, que o retiro espiritual foi o grande motivador para o desenvolvimento da Renovação Carismática Católica, pois foram nesses retiros, onde havia estudos dos textos bíblicos, orações e outras práticas que ocorriam as manifestações do Espírito Santo, nas quais as pessoas se sentiam tocadas e batizadas pelo mesmo.

No dia de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, a Igreja é manifestada ao mundo. O dom do Espírito inaugura um tempo novo na ‘dispensação do mistério’: o tempo da Igreja, durante o qual Cristo manifesta, torna presente e comunica sua obra de salvação pela liturgia de sua Igreja, ‘até que ele venha’ (1Cor 11,26). Durante este tempo da Igreja, Cristo vive e age em sua Igreja e com ela de forma nova, própria deste tempo novo. Age pelos sacramentos; é isto que a Tradição comum do Oriente e do Ocidente chama de ‘economia sacramental’; esta consiste na comunicação (ou dispensação) dos frutos do Mistério Pascal de Cristo na celebração da liturgia ‘sacramental’ da Igreja... (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, nº 1076).

Dessa forma, os fiéis passam a compreender a efusão do Espirito Santo como ação de Deus na vida dos carismáticos. Um encontro pessoal de cada fiel com Jesus

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Cristo. Para a Renovação Católica Carismática a efusão do Espírito Santo aviva os dons espirituais de cada pessoa: uns dons de línguas, dom de cura, dom de profetizar. Na sua compreensão, cada um desses dons os fiéis recebem a partir do batismo.

Inúmeras foram as estratégias da Renovação Carismática Católica para atrair mais fiéis para participar desse movimento dentro da Igreja Católica. Uma das práticas aqui destacada é o da realização de megaeventos, com grande concentração de pessoas e característica de espetáculo.

O cenáculo é uma experiência de oração que dura um dia, constituindo-se em um verdadeiro mega-evento, tanto pela inversão de tempo e recursos, quanto pela quantidade de pessoas que concentra em estádios de futebol, ginásios, sambódromos, ou em locais descampados. [...] (CARRANZA, 2000, p. 42).

Esses eventos possibilitam aos fiéis se encontrarem com outros grupos de lugares diferentes de suas comunidades, portanto com esses eventos de grande porte, a Renovação Carismática Católica proporciona um relacionamento social entre os fiéis, que reúnem, encontram, dando amostras de sua força a fim de fortalecer o próprio movimento e consequentemente também a Igreja.

Os cenáculos também são usados como espaços de diversão, onde se realiza diversas apresentações de bandas religiosas e com outras atividades que possibilitam e proporcionam diversas atrações e diversões para as pessoas ali presentes. O objetivo da Renovação Carismática Católica é atrair as pessoas por meio desses eventos, fazendo com que se sintam bem com esta socialização e assim possam interagir com as músicas religiosas e passarem a serem adeptos da Renovação Carismática Católica.

Os salões paroquiais realizam eventos como os conhecidos barzinhos de Jesus, onde os jovens e adolescentes se encontram aos domingos. Esses são considerados espaços de evangelizações, pois tem a presença de padres, ocorrendo ali sempre uma espécie de pregação. A estratégia é promover a união desses jovens, que levados até ao local pelos seus amigos carismáticos. Por ser um local informal onde os jovens se sentem mais a vontade, muitos acabam retornando.

Percebe-se que, estes espaços de intervenção proporcionam momentos de confraternização e disseminação dos valores e ideais dos carismáticos, e esse momento é dividido em duas etapas sendo que na primeira os jovens vão ouvir pelo menos um testemunho de um jovem convertido à Renovação Carismática Católica. Este fala de como ele era antes de sua conversão e como está sua vida após sua conversão. A segunda etapa é um discurso do padre que foi convidado, para trazer uma palavra de

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encorajamento aos jovens e de como esses jovens tem que se comportar perante a sociedade e as leis de Deus.

Os grupos de oração geralmente são realizados uma vez por semana e abrange diversos públicos (jovens, casais, pessoas de diversas idades...). É nestes grupos que os fiéis tem oportunidade de conhecer a forma de religiosidade da Renovação Carismática Católica. É a partir desse momento de oração e louvor que os participantes tem a possibilidade de descobrir seus dons carismáticos.

[...] É no grupo de oração que o ponto alto da vida carismática é experimentado: nos grupos de oração as pessoas podem vivenciar as mais diversas formas de adoração e louvor. E é louvar o que realmente interessa. Ali as pessoas podem cantar, pular, extravasar as tensões, trocar calor, sentir-se importantes. Além disso, é nos grupos de oração que todos recebem as bênçãos que Jesus lhes pode dar. (PIERUCCI e PRANDI, 1996, p. 66)

Essa citação de Pierucci e Prandi revela uma importante característica para compreender a popularidade e aceitação da Renovação Carismática Católica entre os fiéis, pois possibilitam às pessoas “extravasar as tensões” que são geradas pelo estresse acumulado pelo estilo de vida, pelas mudanças na realidade social que acarretam um sentimento de isolamento, pelo desgaste numa sociedade onde o trabalho consome grande parte do tempo das pessoas, por uma rotina do dia a dia que diminui os horários destinados ao lazer, além da insegurança proveniente do crescimento da violência urbana que enclausura os indivíduos em suas casas, etc.

Sendo assim, os grupos de oração, os louvores, as músicas, os debates proporcionam aos fiéis um espaço de libertação de seus medos. Nesse sentido, os fiéis vão ter uma comunhão com os demais e viverão momentos de libertação de todos seus medos e receios, e nesse espaço, colocam todas suas angústias para fora e diante do empoderamento promovido pelo Espírito Santo voltam a se sentir donos do próprio destino. Esses grupos de oração representam para esse movimento católico um lugar de evangelização. Nessas reuniões também são debatidas as melhores maneiras de enfrentar as realidades do cotidiano de vida de seus membros.

Pelo fato da Renovação Carismática Católica ser constituída por um movimento de leigos, são os próprios fiéis que organizam os grupos de oração e esses mantém diálogos constantes com os padres de suas paróquias acerca dos temas a ser trabalhados.

Essas práticas religiosas que fazem o indivíduo ser tocado pelo Espírito Santo, representa na perspectiva do fiel uma valorização de si, já que passa a se ver como um

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instrumento da realização do propósito do sagrado junto aos homens.

Agora, pois, Senhor, presta atenção às suas ameaças, e concedei a teus servos anunciar a tua mensagem com toda ousadia. Estende sua mão, para que aconteçam curas, sinais e prodígios pelo nome de teu santo servo Jesus e pela força renovadora do Espírito Santo (At 4,29-31).

Essa citação bíblica de Atos dos Apóstolos é um marco fundamental da RCC, sendo evocada de modo repetido nas reuniões. Quanto à religiosidade carismática, Paulo VI afirmou: “agrada-me ver sinais desta renovação: gosto pela oração, contemplação, louvor a Deus, atenção a graça do Espírito Santo e leitura mais assíduas das Sagradas Escrituras”. A leitura da Sagrada Escritura é uma das bases utilizadas nas práticas religiosas da Renovação Carismática Católica para evangelizar. Tom assim papel destacado e se torna um dos principais instrumentos operantes no seio da Igreja.

A Renovação Carismática Católica com suas práticas amplia as formas e os lugares que são dedicados às ações de catequização e doutrinação, assim difundem-se melhor seus ideais. Utiliza-se amplamente também do assistencialismo como estratégia de aproximação, união e conquista.

[...] Os grupos sociais, em contrapartida, mesmo que mudassem com frequência suas orientações de ação, estariam convencidos, a cada instante e sem hesitações, de uma determinada orientação, progredindo assim continuamente; sobre tudo saberiam sempre quem deveriam tomar por inimigo e quem deveriam considerar amigo. [...] (SIMMEL, 2006, p. 40)

Dentre as práticas assistenciais que os carismáticos promovem, determinados grupos se reúnem para ajudar as pessoas com necessidades econômicas. Outros grupos fazem pesagem de crianças pra saber se essas estão tendo um bom desenvolvimento, os pais são incentivados a levar mensalmente essas crianças para serem acompanhadas e em contrapartida ganham leite para essas crianças e se necessário outros complementos como uma mistura feita com farinha e diversas vitaminas para ser acrescentada na alimentação dessas crianças.

2.4 A EXPANSÃO MIDIÁTICA DA RENOVAÇÃO CATÓLICA CARISMÁTICA

Na década de 1980, a Renovação Carismática Católica se consolidou, formou raízes e se espalhou por todo o território nacional, e assim acabou ocupando um espaço significativo na mídia. A mídia, por sua vez, que passou a ser considerado um elemento

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relevante no processo de evangelização e expansão do movimento

Em 1980, Pe. Eduardo Dougherty fundou a Associação do Senhor Jesus (ASJ). Partindo da venda de material religioso, tal como livros de formação e de cânticos, desejando atingir a realização de programas de TV. Logo em seguida foi criado o programa "Anunciamos Jesus", que em 1986, já cobria através de três redes de TV, 60% do território nacional. A partir de 1990, a ASJ fundou o Centro de Produções Século XXI, que possui três grandes estúdios de TV, na cidade de Valinhos, São Paulo. Atualmente, possui um sistema televisivo próprio com objetivo de, em médio prazo, estar com retransmissoras em todas as regiões do Brasil. (RCC, 2007)

Assim, a partir de 1980, deu-se início a uma nova fase da Renovação Carismática Católica. Pela primeira vez foi transmitida a programação de rádio Canção Nova, cujo principal objetivo não só era a evangelização, mas também, transmissão de cultura e formação espiritual e que passou a abranger um público bem maior. Depois de 1989 deu-se o início ao canal de TV Canção Nova, com o propósito de fortalecer a Igreja Católica, principalmente num contexto de acesso dos televangelistas neopentecostais às redes de televisão. O canal cresceu e expandiu-se. Atualmente abrange todo território nacional com sinais através de antenas parabólicas e TVs digitais e TVs a cabo são mais de 127 operadoras de TV e 396 retransmissoras no Brasil.

Padre Jonas, aclamado pregador carismático que viaja por todo o país, orientando retiros espirituais e participando de concentrações religiosas em estádios, também dirige o grupo Canção Nova, voltado para a propagação do evangelho pelos meios de comunicação de massa. (OLIVEIRA, 2001, p. 103)

Recentemente foi criada a Rede Vida de Televisão, dirigida pelo Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã. Essa emissora também transmite diariamente programas que vem ajudar na evangelização Carismática Católica. Seus líderes pregam a palavra e rezam missa ao vivo e também programas já gravados são transmitidos.

Pois bem, a palavra "imundo" indica a negação do mundo, uma vez que na língua portuguesa ela significa "aquilo que está sujo, impuro". Portanto, o imundo pertence à categoria de tudo o que está fora da ordem, desarmonizado, caótico. Realidades imundas precisam ser reordenadas para que voltem à ordem original. E assim que consertamos a vida; é assim que atualizamos o gesto criador de

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21 Deus no espaço em que estamos.(MELO, 2008, p. 25 )

A Renovação Carismática Católica passou a valorizar o aspecto sentimental das pessoas, sendo que uma de suas características foi o lançamento de padres cantores. Essa estratégia possibilitava oferecer aos fiéis católicos o tipo de experiência religiosas atrelada a musica que era marca dos pentecostais e neopentecostais. Assim como os cantores evangélicos, os padres cantores passaram a atrair multidões através de shows gospel. Nesse diapasão pode ser citado o Padre Zezinho, o qual foi o grande pioneiro da música católica popular, sendo também o pioneiro no uso de instrumentos modernos como a guitarra elétrica e a bateria na música religiosa, tendo alcançado renome internacional. Outro exemplo foi o lançamento como cantor do Padre Marcelo Rossi, tendo ficado conhecido pela atuação mediática das práticas do movimento da RCC, uma vez que alcançou sucesso e atraiu pessoas de diversas denominações religiosas, inclusive resgatou pessoas que tinham se afastado da própria Igreja católica por estarem insatisfeitas com o rotineiro ritual.

Outro dessas figuras que faz muito sucesso é o padre Fábio de Melo. Ao longo de seus 15 anos de carreira, possui 15 CDs e 3 DVDs, alcançando mais de três milhões de cópias vendidas. Como escritor já publicou 11 livros e comanda o programa Direção Espiritual na TV Canção Nova. Esse padre carismático, através de seu carisma atrai multidões de fiéis. Ele é considerado no momento o padre mais evangelizador, faz uma média de 100 apresentações por ano, com uma média de 10 mil pessoas em cada apresentação. A estratégia midiática da RCC se consolidou de um modo definitivo com a ascensão destes padres cantores.

2.5 AS DISCUSSÕES DA SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO SOBRE A RENOVAÇÃO CATÓLICA CARISMÁTICA

Entre as temáticas mais significativas da constituição da modernidade esteve a concepção de que a emergência do racionalismo proveniente da ascensão da ciência levaria inevitavelmente o mundo a um processo gradativo e progressivo de secularização. Um dos principais teóricos a elaborar tal formulação foi o sociólogo alemão Max Weber, a partir do conceito de desencantamento do mundo.

Quanto mais o intelectualismo reprime a crença na magia, desencantando assim os fenômenos do mundo, e estes perdem seu sentido mágico, somente ‘são’ e

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22 acontecem mas nada ‘significam’, tanto mais cresce a urgência com que se exige do mundo e da ‘condução da vida’, como um todo que tenham uma significação e estejam ordenados segundo um ‘sentido’ (WEBER, 2004, p.344).

O tema da secularização, desencantamento do mundo e a contraposição do reencantamento tem proporcionado um debate entre os principais autores da sociologia da religião. Parte-se de alguns elementos da teoria weberiana sobre o assunto e da definição conceitual do processo de racionalização, desencantamento, secularização, que propõe o reencantamento do mundo e a efervescência da busca pelo sagrado. Neste caso, a RCC seria interpretada como uma evidencia contrária às formulações weberianas do processo de secularização. A desmagificaçào do mundo, evidenciada por Weber na modernidade, não deve ser encarada como absoluta, já que o tipo de religiosidade praticada pelos carismáticos estaria mais próxima de uma forma reencantada.

Esta teoria do desencantamento do mundo está presente na obra “Economia e Sociedade”, grande clássico das ciências sociais nos séculos XIX e XX. Weber não é um sociólogo da religião, mas sua sociologia da religião é a fonte para compreender o processo de racionalização do ocidente. A racionalização cultural do ocidente produz uma diferenciação, autonomização e a institucionalização das diferentes ordens da vida, sendo que cada esfera de valor se justifica por si mesma nesse processo.

De fato, oposto a várias formas de reducionismo, Weber reconheceu a autonomia dos diferentes registros da ação social, afirmando, inclusive, que cada um deles possui suas próprias leis, sua legalidade própria. Dessa forma, ele não concebe a questão da autonomia das diferentes maneiras de viver religiosamente e das variadas concepções religiosas como simples reflexo de interesses materiais ou simbólicos de uma classe ou grupo.

Por outro lado Pierucci (2003) destaca que o pluralismo religioso e a diversidade de ofertas religiosas não é apenas resultado da secularização, mas são fatores intrínsecos a mesma. Pierucci defende que o reavivamento do sagrado através dos novos movimentos religiosos não vem delimitar ou eliminar a teoria da secularização. Ele vem afirmar que a liberdade religiosa e o pluralismo vêm aprofundar o processo de secularização. O autor destaca que certamente é a própria secularização que produz a reafirmação da identidade religiosa encantada. A concepção em questão é a de que se trata de uma reação a um processo que segue seu curso.

Os grupos de oração da Renovação Carismática Católica são espaços religiosos que permitem ao fiel procurar uma “satisfação espiritual”, desligando-se do mundo material. Seus participantes procuram uma resposta religiosa para suas aflições

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cotidianas, reelaborando sua maneira de ver e agir na sociedade.

De uma forma geral o objetivo principal da RCC é o de renovar "interiormente" as pessoas e a comunidade cristã. A RCC se apresenta como sendo "o" novo modo de ser Igreja. Contrapondo-se ao clima dessacralizado, plural e permissivo da cultura em geral – numa espécie de identidade religiosa resistente ao processo de secularização – ela cobra de seus membros um programa de vida no qual a espiritualidade e a fidelidade doutrinal e moral católicas constituem o eixo central. Em primeiro plano vem a transformação espiritual, as mudanças na vida familiar e profissional, a retomada das práticas de piedade, o abandono do que é mundano, o controle da sexualidade etc.

2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO PRIMEIRO CAPÍTULO

Neste primeiro capítulo foi abordada a história da Renovação Carismática Católica, sua origem nos EUA no contexto do período pós- Vaticano II e depois sua chegada e enraizamento em solo brasileiro. Apresentaram-se também algumas de suas práticas e vivencias a fim de descortinar o tipo de religiosidade vivida pelos carismáticos. Além disso, enfatizaram-se suas estratégias de expansão e que permitiram seu crescimento, principalmente sua característica midiática. Por fim, destacou-se um dos diálogos centrais com a sociologia da religião a partir do conceito weberiano de desencantamento do mundo, repensando de que modo tal movimento pode representar um questionamento da premissa de uma modernidade em vias de secularização.

Mas ainda existem poucos trabalhos de como esse movimento se estabeleceu e criou raízes dentro da Igreja Católica, pois os trabalhos são mais regionais e sendo assim variam de região para região, pois em cada lugar este movimento se estabeleceu dentro de cada hierarquia daquele local. Mas o que se percebe é que onde criou raízes a Igreja cresceu e se fez mais forte.

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3 AFINIDADES E DIVERGÊNCIAS ENTRE O PENTECOSTALISMO E A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA

Este segundo capítulo aborda as relações de similaridade e divergência entre o pentecostalismo e a RCC. Parte-se da premissa que a religiosidade carismática tem suas raízes no mesmo tipo de religiosidade avivada presente na experiência histórica dos pentecostais, no entanto vivenciadas em correntes divergentes do cristianismo: uma ligada ao protestantismo e outra ao catolicismo.

3.1 HISTÓRIA DO PENTECOSTALISMO

O campo religioso brasileiro tem apresentado ao longo de sua história grandes mudanças. Este cenário acaba estimulando de uma forma geral a procura de respostas e para entender as expectativas distintas que surgem com as diversas opções religiosas como no caso do pentecostalismo brasileiro que assim como a Renovação Característica Católica, também nasceu nos Estados Unidos e depois migrou para o Brasil.

O pentecostalismo nasceu da necessidade de reavivamento religioso dos evangélicos do início do século XX, nos Estados e na Inglaterra. Uma parte dos fiéis se separou das Igrejas protestantes tradicionais ligadas ao período da Reforma e passaram a crer na próxima vinda de Cristo e na necessidade do batismo no Espirito Santo.

O movimento pentecostal que chegou ao Brasil em 1910-11 veio dos Estados Unidos, tratando-se então de uma expansão de um campo religioso em direção a outros que ainda não conheciam a sua mensagem. Esse “novo” movimento não era tão novo assim, pois dava continuidade aos movimentos de reavivamento espiritual, santidade e fundamentalismo, que dariam a feição e fisionomia para o evangelismo daquele país durante todo o século seguinte. Todavia, 60 anos mais tarde, depois de se expandir à margem das fronteiras do protestantismo tradicional, das práticas litúrgicas, das teologias e das formas pentecostais de ver o mundo, chegou à Igreja Romana, por meio da Renovação Carismática Católica, estudada no Brasil, entre outros (...) A introdução do pentecostalismo no Brasil, no entanto, a despeito de ter as mesmas origens, criou membros da “família pentecostal” que sequer se consideram parentes entre si. Assim, nada mais distante da Congregação Cristã no Brasil do que os pentecostais da Assembleia de Deus. Porém, o divisionismo seria iniciado somente na Assembleia, que em 1930 viu nascer no Nordeste a Igreja de Cristo e dois anos depois, também no Nordeste, a Igreja Adventista da Promessa. Nos anos 40 mais um movimento pentecostal autônomo, este originado por cisões entre metodistas paulistanos, dando origem à Igreja do Avivamento Bíblico. Essa “família” somente iria crescer com o advento dos pregadores de curas divinas e milagres, oriundos da Igreja do Evangelho Quadrangular, início dos anos 50, em São Paulo, quando surgem a Igreja do Evangelho Quadrangular, a Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo e a Igreja Pentecostal Deus é Amor, entre uma multiplicidade de pequenas novas igrejas, seitas e denominações (CAMPOS, 2005, p. 113)

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Segundo Campos, o movimento pentecostal chegou ao Brasil para tentar alcançar outros movimentos religiosos que ainda não tinham entrado em contato com essa mensagem de reavivamento espiritual que já existia nos EUA. Dessa forma o movimento criou raízes dentro do protestantismo tradicional, e por meio das práticas litúrgicas visando passar aos fiéis uma nova forma de enxergar o mundo e vivenciar a fé, o que também alcançaria a Igreja Católica anos mais tarde por intermédio da Renovação Carismática Católica. O movimento reforçou, para dentro das fileiras do campo católico, as características e as experiências subjetivas de fé despertadas pelo pentecostalismo. Apesar do termo “família pentecostal” usado por Campos, que procura designar a proximidade das formas de sentir e vivenciar a religiosidade, principalmente através da crença na glossolalia e ênfase nos dons carismáticos, os próprios fiéis não se veem dessa forma. Esse parentesco analítico contrasta-se com o dispositivo das divisões internas das igrejas avivadas, o que, por outro lado promoveu seu crescimento e difusão. O divisionismo então se consolida como elemento caraterístico da história do pentecostalismo no Brasil.

A análise proposta pela literatura acadêmica acerca do tema destaca que ocorreram grandes ondas de expansão do movimento pentecostal no Brasil ao longo do século XX e relacionam seu crescimento com o processo de urbanização vivido pela sociedade brasileira.

O crescimento quantitativo e qualitativo do pentecostalismo acompanhou o ritmo do processo de urbanização brasileira, tanto no seu período mais lento, na primeira metade do século XX, como na fase acelerada, a partir da década de 1950. Os pentecostais crescem e diversificaram-se no tempo e na trama da urbanização. As três ondas de expansão, sugeridas por Paul Freston, coincidem com as fases da urbanização brasileira em suas continuidades e rupturas.

(PASSOS, 2005, p. 87-88).

Apesar de sua introdução no Brasil ter ocorrido no início do século XX, o pentecostalismo em seus primeiros quarenta anos de existência teve um ritmo mais lento de crescimento. A bibliografia acerca do tema é consensual ao considerar que é justamente a partir dos nos anos 50 que ele se expandiu mais rapidamente no campo religioso brasileiro.

A primeira onda é a de 1910, com a chegada quase simultânea da Congregação Cristã (1910) e da Assembléia de Deus (1910). A segunda onda pentecostal é dos anos 50 e inicio de 60, na qual o campo pentecostal se fragmenta, a relação com a sociedade se dinamiza e três grandes grupos (em meio a dezenas de menores) surgem: a Igreja Quadrangular (1951), Brasil para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962). A terceira onda começa no final dos anos 70, e ganha força nos anos 80. Sua representante máxima é a Igreja universal do Reino de Deus (1977) (SANTOS 2002:19).

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De acordo com o autor, a história do pentecostalismo no Brasil teve três grandes ondas expansão. A primeira teria ocorrido entre 1910 e 1950. Neste momento inicial a Assembleia de Deus foi a igreja que mais se expandiu e seu crescimento foi grande tanto em número de adeptos, quanto geograficamente, espalhando por grande parte do território nacional. Já a Congregação Cristã esteve inicialmente mais ligada à colônia italiana, mas com o passar do tempo passou a buscar os brasileiros para fazer parte de seu grupo de membros. Essas duas grandes Igrejas dominaram o meio pentecostal por 40 anos, até os anos 1950.

A segunda fase de expansão pentecostal ocorreu entre os anos de 1950 e 1970, quando mais três Igrejas pentecostais são constituídas e vem somar as outras duas que já existiam. A Igreja do Evangelho Quadrangular que nasceu em 1951 na cidade de São

João da Boa Vista interior de São Paulo, trazida pelo Pr. Harold Willians. Depois no ano

de 1955 chegava a Igreja Brasil para Cristo, fundada pelo pastor Manoel de Mello e Silva, considerado um dos maiores lideres evangélicos da época. E em 1962 surge a Igreja Deus é Amor, liderada pelo Missionário David Martins Miranda.

A terceira fase teria se iniciado nos anos de 1970 e prosseguiria até os dias atuais. Nesta fase se destacariam igrejas como a Igreja Universal do Reino de Deus (1977), criada por Edir Macedo e Romildo Ribeiro Soares; Igreja Internacional da Graça (1980), por Romildo Ribeiro Soares (cunhado de Edir Macedo e fundador da Igreja Universal, mas que depois cria sua própria Igreja) e mais recentemente a Igreja Mundial do Poder de Deus (1998), criada pelo ex-bispo da IURD Valdemiro Santiago. Suas práticas enfáticas no exorcismo, curas, milagres; a pregação adepta da Teologia da Prosperidade e o uso intenso de meios de comunicação em massa, como rádio e televisão, acabou denominando estas igrejas como neopentecostais.

Os movimentos pentecostais modernos tiveram sua origem em experiências espirituais acompanhadas de manifestações extraordinárias, particularmente da fala em línguas ou glossolalia. A glossolalia, registrada em Atos 2, é o fenômeno externo mais conhecido nas comunidades pentecostais. Dois lugares dos Estados Unidos se tornaram famosos na origem do movimento pentecostal no século XX: A escola Bíblica Betel em Topeka (Kansas), em 1901, e um antigo templo metodista em Azusa Street, Los Angeles. A localização geográfica não é ocasional. Ela revela o contexto não somente religioso, mas também mais geralmente sócio-cultural que marca o pentecostalismo moderno. “Sob o aspecto religioso, a ênfase na mediação emocional como evidência da presença de Deus na vida humana qualificou em vários momentos o metodismo e os movimentos avivalistas nos Estados Unidos. O crescimento desses movimentos em direção às regiões do oeste daquele país, onde as consequências da escravidão marcavam fortemente a vida da população de raça negra, gerava com frequência manifestações físico-religiosas com lamentos, quedas no chão e contorções. A ênfase espiritual foi devedora ao metodismo pelo testemunho da santidade de

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27 vida e a busca daquela luz interior que brota da experiência imediata do indivíduo com Deus. A localização imprimiu a marca do mundo dos pobres de raça negra com sua sensibilidade e seus costumes. As experiências religiosas de Azusa Street, em Los Angeles, atraiam pessoas de todas as partes dos Estados Unidos e rapidamente as novas práticas e pensamento pentecostal se espalharam por todo o mundo. (CIPRIANI, 1996 p.02 )

Entretanto, apesar da rápida expansão das igrejas pentecostais surgidas na década de 1950 e mais recentemente das neopentecostais, ainda no Brasil, a Assembleia de Deus é a maior Igreja evangélica do Brasil. O crescimento do movimento pentecostal é interpretado pelos próprios fiéis como resultado da obra do Espirito Santo. Alguns analistas apontam que a fé internalizada e a percepção de que o Espirito Santo está ao alcance de todos – e não apenas com uma burocracia sacerdotal de especialistas na salvação –, faz com que o simples fiel se veja como corresponsável pela difusão da igreja, o que influi no crescimento do pentecostalismo.

Cada crente que se desloca carrega consigo sua igreja para plantá-la no lugar onde vai morar. Não espera a construção de um templo, nem mesmo pela chegada de algum pastor. Estabelece o culto em sua própria casa, nas periferias das cidades ou vilas, ou mesmo na área rural. (ROLIM,1985, p.46)

Segundo Cleiton Ivan Pommerening a migração interna foi descrita como fundamental no crescimento do pentecostalismo. No caso da Assembleia de Deus, no contexto de seu surgimento, houve um grande fluxo de migrantes, principalmente no nordeste pelo porto de Belém. As pessoas vinham para trabalhar na extração e comércio da borracha, e elas se sentiam muito sozinhas devido a distância de seus familiares, e ali eram acolhidas pelas igrejas pentecostais, onde aprendiam da palavra de Deus e se sentiam bem, pois encontravam conforto. Porém, com o declínio da borracha, essas pessoas foram obrigadas a deixar o nordeste brasileiro, partindo em busca de um novo lugar de onde pudessem tirar seu sustento. Então os principais fluxos de migração deslocaram-se para São Paulo ou Rio de Janeiro em pleno contexto de crescimento da industrialização. Muitos daqueles que foram para esses locais levavam consigo aquilo que tinham aprendido nas igrejas pentecostais. Ali procuravam igrejas pentecostais para congregar, e se não encontravam acabavam realizando reuniões em suas próprias casas, formando assim seus próprios ministérios, pois tinham prazer em passar para outras pessoas aquilo que haviam aprendido. Sendo assim, o pentecostalismo foi crescendo, agregando mais pessoas e adquirindo mais adeptos a filosofia pentecostal.

Por ser um sistema de comunicação fortemente oral-auditivo, o Pentecostalismo valoriza a exposição verbal – seja ela um sermão ou um testemunho. A comunicação fática para estes crentes os leva a uma linguagem emotiva direta,

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28 maneira de se criar gregarismo7 e convívio comunitário. (OLIVEIRA, 2001, p. 7)

Outro fator que contribuiu para a expansão e o crescimento do pentecostalismo, foi a não necessidade de seus adeptos terem certo grau de instrução, pois para eles o principal é estarem cheios do Espirito Santo, sendo que os cultos são com muita conversa e leitura da bíblia, somado aos testemunhos de como foram suas conversões e como tem sido a vida após a inserção no meio pentecostal. São valorizados muito os testemunhos, pois são estes os responsáveis por atrair fiéis.

A influência desse movimento alcançou o Brasil expressivamente no início do século XX, com os avanços dos projetos missionários protestantes em todo o mundo, patrocinadas pelas Alianças Evangélicas 8. Muitas denominações brasileiras acrescentaram aos seus nomes a expressão “evangélica” e o termo “crente”, já usado de forma pejorativa, foi substituído por “evangélico’ para designar os adeptos e as igrejas não-católicas (CUNHA, 2004:17).

O Pentecostalismo histórico, baseado nas confissões históricas da Reforma e trazido ao Brasil pelo movimento missionário no início do século XX, caracterizou-se pela doutrina do Espírito Santo, de um segundo batismo, marcado pela glossolalia. Composto pelas Igrejas Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil e Evangelho Quadrangular, denomina-se estes movimentos primeiros de protestantismo de renovação ou carismático. Todas surgiram a partir de cismas das chamadas Igrejas protestantes históricas. O protestantismo histórico se originou da reforma do século XVI e foi trazido para o Brasil pelos missionários norte-americanos no século XIX: correspondem as igrejas Congregacional, Presbiteriana, Metodista, Batista e Episcopal que mantêm vínculos fortes com a reforma protestante. Para a autora Magali do Nascimento Cunha seria basicamente a teia complexa que forma o mundo evangélico brasileiro. Esse mundo que ao longo do século XX e XXI vem experimentando inúmeras transformações e sendo influenciados pelos diferentes contextos sócio históricos. Dessa forma, o termo evangélico, que se refere aos adeptos do cristianismo não católico-romano, que compõe o cenário das igrejas protestantes no Brasil, incluindo aí também os pentecostais.

O pentecostalismo, segundo Ricardo Mariano, desde sua chegada ao Brasil com o primeiro missionário Pentecostal, teve um crescimento muito rápido, “desde então,

7

O gregarismo é uma espécie de combinação engenhosa visando proteção, é nada mais do que estruturas formadas por agrupamentos de indivíduos.

8 As igrejas evangélicas são frutos de organizações missionárias norte-americanas e europeias, sendo que na primeira

metade do século XIX surgiram as igrejas protestantes que eram compostas por imigrantes anglicanos e luteranos e na outra segunda metade do século, surgiram as principais denominações históricas que são as congregações presbiterianas, metodistas, batistas e episcopais e só no início do século XX que o pentecostalismo firmou-se em solo brasileiro.

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foram criadas centenas de igrejas, tornando este movimento religioso complexo diversificado”.

Os movimentos pentecostais criados dentro de suas igrejas acabam criando novas igrejas com outros nomes, mas com a mesma finalidade. Segundo o autor, inicialmente as dominações pentecostais eram “Congregação Cristã no Brasil que foi fundada por um italiano em 1910, na capital paulista, e a Assembleia de Deus, por dois Suecos em Belém do Pará em 1911”. A partir de então as igrejas pentecostais se espalharam pelo Brasil e tiveram um crescimento enorme, principalmente após a implantação do neopentecostalismo a partir de 1970, e em 1977 se fortaleceram ainda mais com a Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Internacional da Graça de Deus. Nesse sentido, percebe-se que o neopentecostalismo é a vertente pentecostal que mais cresce e ocupa um espaço enorme nas emissoras de rádio e televisão brasileiras, sendo assim acaba atraindo fiéis de todas as camadas sociais, devido a grande propaganda que se faz a respeito da cura e libertação.

3.2 CONCEITOS HISTÓRICOS

Para estudar a história dos fenômenos religiosos é preciso ficar alerta aos usos e sentidos de determinadas situações que passa a gerar as crenças. Trata-se de ações, condutas, mitos e ritos, que permite situar a religião no domínio da história cultural. Assim as noções de representação, prática e apropriação que, como afirma Roger Chartier, constituem o foco de abordagem da história cultural, passa a ser útil para “identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler” (CHARTIER,1990,p.27).

Sendo assim uma abordagem teórica preliminar referente ao estudo das religiões, e do pensamento religioso e das diferentes correntes de religiosidades em geral, deve levar em conta a historicidade dos fenômenos religiosos e buscar entende-las no seu contexto. Para tal finalidade faz-se necessário estarmos atentos ao conceito de representação, já que:

A representação coletiva articularia "três modalidades da relação com mundo social: primeiro, o trabalho de classificação e de recorte que produz as configurações intelectuais múltiplas pelas quais a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos que compõem uma sociedade; em seguida, as práticas que visam a fazer reconhecer uma identidade social, a exibir uma maneira própria de estar no mundo, a significar simbolicamente um estatuto e uma posição; enfim, as formas institucionalizadas e objetivadas graças às quais 'representantes' (instâncias coletivas ou indivíduos singulares) marcam de modo visível e perpetuado a existência do grupo, da comunidade, da classe" (Chartier,

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