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3 A CONSTRUÇÃO DA COMUNICAÇÃO SOBRE O NEGRO E A

4.1 A Construção Comunicativa da Raça

4.1.2 Movimento Negro e Racismo: a construção da observação da desigualdade a

Diante do sucesso da ideia de democracia racial, no Brasil, e em boa parte da América Latina, passa a se fazer necessário o enfrentamento de uma negação. A negação de que a raça desempenha um papel dentre as hierarquias sociais, isto é, a rejeição do conceito de raça leva a uma não formação da redundância comunicacional que estruturasse a semântica de que a raça opera, sim, um processo organizacional hierárquico dentro da diferenciação funcional da sociedade latino americana.

Como feito nos processos de interação na sociedade brasileira, mesmo dentro de certo senso comum que trabalha com o reconhecimento da desigualdade no Brasil, não se concede ao racismo a condição de ser uma das operações sociais fomentadoras dessa desigualdade. O paradoxo existente nessa dinâmica no Brasil fica comprovado pela incômoda contradição entre o aumento na produção de dados estatísticos, que vêm empiricamente representando as desigualdades existentes de corte racial - portanto, supostamente, gerando o aumento da visibilidade desse fenômeno social brasileiro376-, e a manutenção de uma insensibilidade na rotina social para esse problema377.

376 Para uma abordagem atual desse processo ver: LEÃO, Luciana T. de Souza; SILVA, Graziella Moraes. O paradoxo da mistura: identidades, desigualdades e percepção de discriminação entre brasileiros pardos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 27, n. 80, 2012. E

Entendemos que a ocorrência desse problema tem seu ponto inicial no abandono do conceito de raça por completo, que como consequência, tornou problemática a observação da desigualdade racial. Não se trata de defender a incorporação da raça em base biológica, mas entendo a sociologia como subsistema do sistema da ciência, propor a observação da raça como dado científico não é, necessariamente, colocar este conceito em termos de um determinismo biológico. Aqui, os argumentos irão à linha de uma proposição sistêmica de que a raça pode ser vista como uma forma, uma diferença, que auxilia na formação de uma unidade que permite a observação da desigualdade racial na diferenciação social brasileira. Isto vai significar retomar a raça como construção social, como resultado real de processo seletivo realizado nas interações, organizações e sistemas da sociedade.

Em termos luhmannianos, a forma é a condição de possibilidade para se observar, logo, sem a ideia (conceito) de raça, como se poderia reconhecer a inclusão/exclusão dos negros na sociedade? Negar a existência de raça é negar os processos constituidores da desigualdade racial. Não reconhecer um é impossibilitar a observação do outro. É nesse sentido que bem problematizou Sartre, em 1948, no "Orfeu negro"378, trabalha o problema da dialética de superação do racismo que, ao mesmo tempo, liga-se a retomada do conceito de raça pelos negros. Este processo será caracterizado como "racismo anti-racista".379 Em outras palavras, Sartre coloca a questão para o problema de que não se pode lutar contra o que não se reconhece a existência. Em outras palavras, sintetiza bem Guimarães, trazendo para o contexto brasileiro:

Ora, no Brasil, a teorização de ‘raças’, definidas como formas de classificar e identificar que podem produzir comunidades, associações ou apenas modos de agir e pensar individuais, constitui para a sociologia o instrumento apto a revelar condutas políticas e instituições que, ainda que inadvertidamente, conduzem à

ainda: TELLES, Edward. Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociólogica. Rio de Janeiro:

Relume Dumará, 2003.

377 Como reconheceu a própria ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, em debate no Instituto Fernando Henrique Cardoso. BARRIOS, Luiza. Raça e cidadania no Brasil: a questão das cotas: parte 2. [S.l.], 2012. (34min.35 s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rwlvRfHex7Y.>. Acesso em :13 jan. 2015.

378 SARTRE, Jean-Paul. "Orfeu Negro". In: SARTRE, Jean-Paul; GUINSBURG, J. Reflexões sobre o racismo. [S.l.], 1965.

379 Antonio Sergio Guimarães chamará racialismo anti-racista. Este seria definido como a antítese do que poderia construir um anti-racismo sem raças. GUIMARÃES, Antonio Sergio Alfredo. Raça e os estudos de relações raciais no Brasil. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, v. 54, p. 153, 1999.

discriminação sistemática e à desigualdade de oportunidades e de tratamento entre grupos de cor.380

Em nossa interpretação luhmanniana, isso quer dizer que não se pode observar o racismo sem, necessariamente, diferenciar e indicar uma diferença que coloque um sentido para raça. A existência de racismo pressupõe uma operação de diferenciação que a viabilize como operação de diferenciação.

A sociologia brasileira de meados dos anos 50 acomodava a descrição da desigualdade racial como desigualdade de classe, ou preconceitos de cor, sem procurar formar nestas pesquisas uma reconstrução do conceito de raça. Entretanto, esse cenário passa a ser alterado por Nelson Valle e Silva e Carlos Hasenbalg. Em suas pesquisas, estes autores passaram a demonstrar, em estudos sobre desigualdade, que a raça é um componente estruturador da formação de diferenças, de processos de desigualdade. Essa especificidade passa a ser indicada, uma vez que, segundo eles, não seria possível reduzir ou substituir o papel analítico da raça à outras distinções como fatores educacionais, de renda e classe social, ou, inclusive, de cor381.

Contudo, para se entender o processo sociológico que vai reabilitar de fato a ideia de raça como categoria relevante para o combate ao racismo, para visibilidade da desigualdade racial, há que sinalizar o papel do movimento negro no Brasil neste período. Os processos de resistência da população negra podem ser reconhecidos desde o processo de formação do sistema escravista e, especialmente, nos primeiros momentos da primeira República.382 Entretanto, para o ponto que pretendemos entender melhor aqui, a reconstrução do conceito de raça, e seu papel na observação da desigualdade racial, interessa em especial destacar a atuação desse movimento ao longo do século XX.

Para posicionarmos os termos da nossa observação sociológica, tanto sobre o movimento negro, quanto sobre a ideia de desigualdade, cabe definirmos estes dois pontos em base sistêmico luhmanniana. Seguindo em nossa perspectiva nesta tradição sociológica, faz-se necessário entender de que forma indicamos como

380 GUIMARÃES, Antonio Sergio Alfredo. Raça e os estudos de relações raciais no Brasil. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, v. 54, p. 153, 1999.

381 Ver: HASENBALG, Carlos. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1979; HASENBALG, Carlos; VALLE E SILVA, Nelson do. Relações raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1992.

382 DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Revista Tempo, Niterói, v. 12, n. 23, p. 100-122, 2007.

relevante o papel de movimentos sociais na sociedade. Em termos de uma sociologia sistêmica é suficiente clara e direta a definição dada por Celso Campilongo:

Ora, os movimentos sociais também são um modo de observação da sociedade: observam, por exemplo, como operam os sistemas de função. Realizam hetero-observação e auto-observação. A observar observadores, o sistema social põe em evidencia a distinção utilizada pelo observador de primeira ordem. Mas abre as novas possibilidades de distinção.383

Já para a observação da semântica da igualdade/desigualdade, Roberto Dutra foi preciso em construir os termos sistêmicos:

Por desigualdade social deve-se entender a distribuição desigual de chances de participação comunicativas por meio da construção e da atribuição de endereços sociais (dimensão social). A contingência da desigualdade social decorre de que a construção e a atribuição de endereços sociais é sempre uma operação interna dos sistemas sociais, rompendo-se, assim, o imperativo de que as desigualdades produzidas em um sistema sejam tomadas como necessárias por outro sistema.384

O que procuramos, portanto, a partir da definição destes dois termos em categorias sistêmicas, é defender o argumento que o movimento negro reabilita a raça como forma de possibilitar a observação dos processos de exclusão e desintegração vividos pela população negra nos sistemas sociais, isto é, há evidente desigualdade nos processos de endereçamento comunicativos do negro nos sistemas sociais.

Não por um acaso, reforçando o nosso argumento, o primeiro momento de formalização do movimento negro é aquele das décadas de 1930 e 1940, ligado às experiências da imprensa negra, na organização de clubes, irmandades religiosas e a formação de associações ou clubes recreativos385. Ações da Frente Negra Brasileira,

383 CAMPILONGO, Celso Fernandes. Interpretação do direito e movimentos sociais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 48.

384 TORRES JUNIOR, Roberto Dutra. O problema da desigualdade social na teoria da sociedade de Niklas Luhmann. Caderno CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p. 548, 2014.

385 Como bem descreve Petrônio Domingues: “Simultaneamente, apareceu o que se denomina imprensa negra: jornais publicados por negros e elaborados para tratar de suas questões. Para um dos principais dirigentes negros da época, José Correia Leite, “a comunidade negra tinha necessidade de uma imprensa alternativa”, que transmitisse “informações que não se obtinha em outra parte”. Em São Paulo, o primeiro desses jornais foi A Pátria, de 1899, tendo como subtítulo Orgão dos Homens de Cor. Outros títulos também foram publicados nessa cidade: O Combate, em 1912; O Menelick, em 1915; O Bandeirante, em 1918; O Alfinete, em 1918; A Liberdade, em

entre 1931 e 1937, e fundamental Teatro Experimental do Negro, o TEN386. Contudo, nessa fase do movimento negro, a tônica está voltada para uma ação de busca de integração e inclusão do negro no conceito de nação, atuando muito sobre a possibilidade de construir uma identidade negra no interior do Estado nacional387.

Mas é uma segunda fase do movimento negro, da segunda metade do século XX, que nos interessa de maneira mais específica. É nesta fase que o movimento negro passa a produzir observações com foco na desconstrução da democracia racial e, dessa forma, promover atualizações na semântica da desigualdade racial ao indicar o racismo como categoria de obstacularização nos sistema sociais. Em 18 de junho de 1978, como resultado de uma articulação do Centro de Cultura e Arte Negra (CECAN), do Grupo Afro-Latino América, Associação Cultural Brasil Jovem, Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas (IBEA) e Câmara de Comércio Afro-Brasileiro, foi criado o Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial (MUCDR).

É este movimento que realizará um significativo protesto nas escadarias do Teatro Municipal em São Paulo, denunciando a violência policial na qual os negros

1918; e A Sentinela, em 1920. No município de Campinas, O Baluarte, em 1903, e O Getulino, em

1923. Um dos principais jornais desse período foi o Clarim da Alvorada, lançado em 1924, sob a direção de José Correia Leite e Jayme Aguiar. Até 1930, contabiliza-se a existência de, pelo menos, 31 desses jornais circulando em São Paulo. A imprensa negra conseguia reunir um grupo […] Esses jornais enfocavam as mais diversas mazelas que afetavam a população negra no âmbito do trabalho, da habitação, da educação e da saúde, tornando-se uma tribuna privilegiada para se pensar em soluções concretas para o problema do racismo na sociedade brasileira. Além disso, as páginas desses periódicos constituíram veículos de denúncia do regime de “segregação racial” que incidia em várias cidades do país, impedindo o negro de ingressar ou freqüentar determinados hotéis, clubes, cinemas, teatros, restaurantes, orfanatos, estabelecimentos comerciais e religiosos, além de algumas escolas, ruas e praças públicas. Nesta etapa, o movimento negro organizado era desprovido de caráter explicitamente político, com um programa definido e projeto ideológico mais amplo”. DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Revista Tempo, Niterói, v. 12, n. 23, p. 104-105.

386 Sobreo TEN, a figura de Guerreiro Ramos, nas construção das suas linhas constituidoras, será fundamental: O movimento em apreço representa uma reação de intelectuais negros e mulatos que, em resumo, tem três objetivos fundamentais: 1) formular categorias, métodos e processos científicos destinados ao tratamento do problema racial no Brasil; 2) reeducar os “brancos” brasileiros, libertando - os de critérios exógenos de comportamento; 3) “descomplexificar” os negros e mulatos, adestrando-os em estilos superiores de comportamento, de modo que possam tirar vantagens das franquias democráticas, em funcionamento no país”. RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editorial Andes Limitada. 1957. p. 163.

387 Como atestam Leonardo Avritizer e Lilian Gomes: “Portanto, há nesse momento de busca de uma identidade nacional afro-brasileira a ideia de construção do negro no interior do Estado-nação. Ainda se deve demarcar, na década de 1950, a reorganização dos terreiros de umbanda, caracterizando uma entrada particular da população negra no campo associativo, o que encontrou resistência no âmbito do Estado brasileiro”. AVRITZER, Leonardo; GOMES, Lilian CB. Politics of recognition, race and democracy in Brazil. Dados, [S.l.], v. 56, n. 1, p. 52, 2013.

eram vítimas constantemente388. O MUCDR logo mudará de nome, será renomeado para Movimento Negro Unificado (MNU), alcançando um processo de transformação em organização, com um quadro diretivo e com forte atuação política, para de fato constituir um ponto de partida significativo para a presença dos negros como endereço comunicativo389.

Essa afirmação da pauta racial como endereço comunicativo, em outros termos, significa a afirmação pelo movimento negro do conceito de raça. Como lembram José Ivo Follmann e Adevanir Aparecido Pinheiro:

A tríplice referência ou o tríplice horizonte tenebroso e iluminador, apontado acima, nos leva, também, a acolher a importância do conceito de raça, como um conceito politico e gerador de conhecimento. Falar em raça negra frente à raça branca tem um poder mobilizador muito grande, inclusive para a geração de um conhecimento efetivo que consiga fazer justiça frente aos desmandos históricos que são conhecidos.390

A partir da validação da raça como forma para observação da desigualdade, passa a ser possível toda uma produção sociológica sobre exclusão racial, lançando uma forma capaz de organizar a observação da desigualdade racial. Quando adotado o recorte racial, toda uma gama de dados sobre negros no Brasil em termos de empregabilidade, renda, localização da residência, nível educacional, são ressignificados como efeitos de discriminações raciais. O racismo assim torna-se visível, como diferença específica e autônoma como forma de observação da desigualdade, dando uma função sociológica ao conceito de raça. Tanto que, para se demonstrar o que se pode observar a partir do conceito de raça, passamos a examinar os dados que essa distinção torna cognoscível.

O ponto inicial fundamental que a raça retoma, já é, por si só, capaz de desconstruir a autoimagem da democracia racial brasileira. Trata-se de um dado que reposiciona a auto-observação e autodescrição de partida de qualquer imagem da sociedade brasileira. Em termos diretos: o Brasil é um país de negros, que se

388 AVRITZER, Leonardo; GOMES, Lilian CB. Politics of recognition, race and democracy in Brazil. Dados, [S.l.], v. 56, n. 1, p. 52, 2013.

389 GELEDÉS INSTITUTO DA MULHER NEGRA. Miltão do MNU: um pouco de história não oficial. São Paulo. 2011. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questao- racial/afrobrasileiros-e-suas-lutas/11267-miltao-do-mnu-um-pouco-de-historia-nao-oficial>. Acesso em: 5 jun. 2012.

390 FOLLMANN, José Ivo; PINHEIRO, Adevanir Aparecida. A categoria raça nas ciências sociais: revisitando alguns processos políticos, sociais e culturais na história do Brasil. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, v. 49, n. 1, p. 29, 2013.

autodescreve como um país de brancos com uma minoria negra. Exemplo desse cenário pode ser dimensionado ao projetarmos a passagem representada pelo censo do Instituto Brasileioro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, em comparação ao censo de 2000:

Gráfico 2 - Distribuição percentual da população residente segundo cor ou raça no Brasil - 2000/2010

Fonte: IBGE.391

O gráfico comparativo entre os censos de 2000 e 2010 simplesmente representou o momento em que a população preta/parda passou a representar mais de 50% da população brasileira, isto é, o Brasil passa a ser um país composto majoritariamente por negros. Portando, há que se registrar que, quando referidos os problemas gerados pelo racismo e práticas de discriminação racial, estamos tratando de problemas que impactam mais da metade da população brasileira, isto é, mais da metade da população de uma das maiores democracias do mundo.

Ao se revogar a validade científica da ideia de raça, não seríamos capazes de perceber o equívoco da própria imagem que a comunicação da identidade brasileira seguidamente apresenta em análise sociológica sobre a relevância da desigualdade racial.

O censo de 2010 representou com clareza as desigualdades entre pretos/pardos e brancos em diversos quesitos. No âmbito do acesso à educação e ao mercado de trabalho, os números são especialmente significativos, como podemos ver abaixo:

391 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo demográfico 2010: características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro, 29 jun. 2012. Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/0000000 9352506 122012255229285110.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015.

Gráfico 3 - Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raça, segundo as Grandes Regiões - 2010

Fonte: IBGE.392

Os impactos do elemento racial, como fonte de desigualdade, mantêm-se ao longo dos níveis educacionais, alcançando uma cristalização mais expressiva no plano do ensino superior, como pode ser percebido no quadro abaixo:

Gráfico 4 - Distribuição das pessoas de 15 anos a 24 anos de idade que frequentavam escola, por cor ou raça, segundo o nível de ensino frequentado -

Brasil - 2010

Fonte: IBGE. 393

392 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo demográfico 2010: características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro, 29 jun. 2012. Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/0000000 9352506 122012255229285110.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015.

Ainda no exame sobre a desigualdade de integração do negro (preto/pardo) frente à população branca no sistema educativo, reforça-se a ideia de que a raça realiza papel relevante na observação. O efeito de exclusão integrativa, descrito por Luhmann, pode ser visto também na manutenção da exclusão. Quando consideramos a distribuição das pessoas de 15 anos a 24 anos de idade que frequentavam escola, por cor ou raça, segundo o nível de ensino frequentado, o IBGE de 2010 traz o seguinte:

Gráfico 5 - Distribuição das pessoas de 15 anos a 24 anos de idade que frequentavam escola, por cor ou raça, segundo o nível de ensino frequentado -

Brasil – 2010

Fonte: IBGE. 394

A população negra, como mostra o quadro acima, não chega ao ensino superior. O percentual de brancos no ensino superior é mais que o dobro da população negra (preta/parda). Diante desse processo de exclusão do acesso ao ensino superior, os negros já passam a ter uma generalização de expectativas comprometidas, com alta chance de frustação, isto é, uma baixa institucionalização.

Portanto, desse quadro, quando ligamos raça ao percentual de rendimentos nos domicílios no Brasil, mais um dado irá consolidar o recorte racial da desigualdade econômica no país. É o que vai apontar o IBGE quanto razão entre os

393 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo demográfico 2010:

características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro, 29 jun. 2012. Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/0000000 9352506 122012255229285110.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015.

rendimentos mensais domiciliares per capita das pessoas de cor ou raça branca e preta, e branca e parda, segundo as Grandes Regiões – 2010

Gráfico 6 - Título razão entre os rendimentos mensais domiciliares per capita das pessoas de cor ou raça branca e preta, e branca e parda, segundo as Grandes

Regiões - 2010

Fonte: IBGE.395

Outro importante indicador sobre o efeito do racismo na sociedade brasileira é percebido no campo da violência, e pode ser identificado no Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial de 2014396, demandado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco, e pela Secretaria Geral da Presidência (SGP) ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O foco desse relatório é a geração de indicadores para elaboração de políticas públicas que considerem estratégias preventivas de combate das expressivas taxas de violência observadas no Brasil, especialmente contra adolescentes e jovens de 12 a 29 anos de idade.

Um dado impactante colhido pelo relatório é sobre o risco de um jovem negro ser vítima de homicídio, em relação a um branco. Sobre ele, temos o seguinte cenário no Brasil e UFs:

395 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo demográfico 2010: características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro, 29 jun. 2012. Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/0000000 9352506 122012255229285110.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015.

396 BRASIL. Presidência da República. Secretaria-Geral. Secretaria Nacional de Juventude, Ministério da Justiça e Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Índice de vulnerabilidade juvenil à violência e desigualdade racial 2014. Brasília, DF, 2015. p. 22. (Série Juventude Viva). Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0023/002329/ 232972POR.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Gráfico 7 - Risco relativo de um jovem negro ser vítima de homicídio em relação a