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3. Comportamentos Não Verbais

3.1. Estudos de Julgamento e Estudos de Codificação

3.1.2. Codificação e Categorias de Comportamentos Não Verbais

3.1.2.1. Expressão Facial e o Sistema FACS

3.1.2.1.4. Movimentos

De acordo com Ekman et al. (2002) a codificação do sistema para a cabeça e os olhos é menos precisa do que para as unidades de ação facial e isso tem a ver com uma questão operacional e que se prende com a necessidade de a face da pessoa a codificar ter de estar idealmente alinhada com a lente que capta a imagem, o que nem sempre acontece.

Existem quatro descritores para a posição ou movimento da cabeça: rotação direita- esquerda, extensão ou encolhimento ao nível do pescoço, inclinação direita-esquerda e baixar o queixo na direção do peito ou em sentido contrário.

Os movimentos da cabeça são sinais coordenados com o discurso produzido ou com o que está a ser escutado e têm inúmeros significados, os quais obrigam à devida contextualização (Rodrigues, 2007). A forma como a cabeça se posiciona em relação ao interlocutor e como se move envolve funções semânticas (que ultrapassam a simples afirmação ou negação e podem dar indicação de inclusão, intensificação ou incerteza), narrativas (marcam as mudanças no discurso, expressam imagens mentais das personagens, orientam o interlocutor no espaço em volta ou seguem uma dada lista), interativas (funcionam como um pedido de retroação ao exposto ou de adição de informação) e cognitivas (acompanhando o pensamento e o raciocínio) (McClave, 2000; Rodrigues, 2007).

Quanto aos olhos estes podem movimentar-se para a direita ou para a esquerda, para cima ou para baixo. Este último movimento que é a AU64 revela-se particularmente importante porque implica a ausência de contato ocular quando tem uma duração alta e uma frequência também significativa (Cohn & Ekman, 2005).

De facto, o contato ocular constitui um elemento único e primário nos contextos de interação social e Ellsworth (1975, citado por Ricci Bitti & Zani, 1997) salienta três características que são a sua evidência, o seu poder ativante e a sua capacidade para envolver o outro. É através da perceção visual que nos inteiramos do que se passa à nossa volta e tanto a direção do olhar como o modo como olhamos transmitem vários significados ligados ao conteúdo do comportamento. Importa acrescentar neste ponto que segundo Rodrigues (2007) devemos reter que o olhar pode ter uma orientação assimétrica (um interlocutor olha o parceiro, mas este não retribui o olhar) e simétrica quando as pessoas estabelecem contato visual recíproco (olhos nos olhos). Uma investigação bastante interessante a este respeito foi realizada por Kendon (1990) que após analisar várias conversações entre dois participantes, obteve resultados que lhe

possibilitaram concluir que a interação social em termos do comportamento visual dinamiza-se segundo duas funções principais: monitorização, em que um interlocutor ao olhar na direção de outro controla ou monitoriza o comportamento deste; regulação e expressão, que quer implique ou não dirigir o olhar para a outra pessoa, acaba por influenciar efetivamente o comportamento desta na medida em que se comunicam intenções, expetativas, sentimentos e atitudes.

Assim, desviar o olhar pode ser percecionado como sinal de desinteresse ou desrespeito se não for acompanhado por outro comportamento verbal ou não verbal que o contrarie. Olhar fixamente (gaze action) será descodificado pelo outro como um sinal incómodo, invasivo, ameaçador ou desafiador (App et al., 2011).

Outra atribuição muito interessante ao significado de um olhar específico e muito frequente foi sugerida pelos trabalhos de Ehlich e Rehbein (1982; Poggi, 2002, citado por Rodrigues, 2007; Mason, Tatkow & Macrae, 2005) ao qual chamaram olhar deliberativo e que consiste no desvio dos olhos de uma posição central no globo ocular para um lado e para cima, para reflexão.

As funções da interação visual são diversas e Ricci Bitti e Zani (1997) apontam o seu papel na comunicação de atitudes e no estabelecimento de relações, o reforço que pode ter sobre a comunicação verbal ao permitir um efeito de pedido de retroação ao outro sobre o que está a ser dito, bem como de sincronização no âmbito de um diálogo e, ainda, o seu papel social para preparar um encontro ou saudar as outras pessoas.

Um dado também curioso extraído de algumas pesquisas (Corraze, 1980; Argyle, 1990; Kendon, 1990) diz respeito ao facto de o contato ocular mútuo ser muito reduzido ao longo da interação e que o falante olha geralmente menos vezes para quem fala do que o oposto. Os autores explicam estas conclusões com recurso à teoria do equilíbrio de Argyle e Dean (Argyle, 1972) que sustenta que maior intimidade e aproximação

exigem menos contato ocular já que outros comportamentos como o sorriso ou o tom de voz compensam essa diferença. E ainda com o facto de se ser olhado provocar emoções contraditórias, isto é, desejamos ser olhados, até devido a um certo exibicionismo, mas também evitamos ser muito olhados pela ansiedade que a revelação aos outros dos nossos estados interiores pode causar ou com o receio da rejeição.

As pesquisas efetuadas em contextos de interação social e neste âmbito do comportamento visual procuram investigar relações entre este e as atitudes interpessoais comunicadas, tais como interesse, preferência ou dominância (Ricci Bitti & Zani, 1997). Estes autores referem os trabalhos de Exline (1972) que apontou no sentido de o ato de não se olhar quem fala poder transmitir uma impressão de rejeição ou de indiferença, enquanto que olhar intensamente pode potenciar a criação de uma imagem de estranheza ou de evitamento em relação a quem o faz.

Ricci Bitti e Zani (1997) demonstraram existir uma correlação significativa entre a propensão para os olhares recíprocos e necessidades de afiliação, com especial incidência no género feminino.

As bases motivacionais do olhar, em termos de procura e de fuga do contato com o olhar do outro, sustentam, segundo os mesmos autores citados no parágrafo anterior, que ser-se olhado tem um valor recompensatório, de aprovação, satisfazendo a necessidade de afiliação e que é também uma fonte de emoção, sobretudo nos olhares mais prolongados, porque sinaliza o interesse da outra pessoa.

Relativamente ao comportamento visual enquanto sinal de expressão de poder ou de domínio interpessoal, surgem informações que o relacionam com a fuga ao contato ocular: as pessoas socialmente dominantes não regulam os demais pelo olhar, ao passo que quem é mais dependente tende a olhar o outro para entender e regular melhor o seu

comportamento expressivo. Quando se perceciona como não válido o poder do outro também existe geralmente evitamento do contato ocular (Ricci Bitti & Zani, 1997). Por último, relativamente ao olhar, refira-se que o modo e a quantidade do olhar estão relacionados segundo Rodrigues (2007) com caraterísticas de personalidade em termos do fator extroversão: pessoas extrovertidas estabelecem contato ocular mais prolongado do que pessoas mais introvertidas.

Outros fatores de personalidade como a assertividade e a empatia surgem mencionados nos trabalhos de Madeira, Pinto, Ramalho, Barros e Maia (2004) como estando relacionados não somente com a duração do contato ocular, mas também com as funções de monitorização e de expressão que o comportamento visual preenche na medida em que pessoas mais assertivas e agradáveis solicitam e dão mais feedback verbal e não verbal ao interlocutor como e também criam mais facilmente impressões favoráveis e positivas de aceitação nos outros através do olhar.

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