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3. Comportamentos Não Verbais

3.1. Estudos de Julgamento e Estudos de Codificação

3.1.2. Codificação e Categorias de Comportamentos Não Verbais

3.1.2.1. Expressão Facial e o Sistema FACS

3.1.2.1.3. Tipos de Sorriso

O sorriso enquanto sinal comunicacional pode ser um indicador de variadas manifestações de cariz individual, social ou cultural: refletirá um estado emocional de felicidade, surgirá em contextos de interação humana onde está habitualmente presente

e é esperado ou poderá estar associado a uma dada raça ou a um certo país (Ekman, Friesen & Sullivan, 1988).

De todo o modo, as funções mais proeminentes do sorriso são como sinal de felicidade ou de revelação de apaziguamento/dominância (Hess, Adams, & Kleck, 2005).

Numa perspetiva afetiva tem sido o sorriso codificado como AU12 aquele que encontra mais concordância entre os autores como estando associado a amabilidade (Smith & Scott, 1997).

Este sorriso (AU12) está relacionado com um maior nível de interação (Fernández- Dols & Ruiz-Belda, 1995), com um sinal de apaziguamento na interação (LaFrance et al., 2003) ou de submissão, quando ocorre dirigido a alguém de um estatuto superior (Hess et al., 2005).

O sorriso é um comportamento facial muito valorizado socialmente, sendo que dominância e alto poder social estão associados a faces menos sorridentes, enquanto submissão e baixo poder social estão associados a faces mais sorridentes (Hess et al., 2005).

No entanto, a principal função que a investigação atribui ao sorriso continua a ser a de apaziguamento, de solicitação de compreensão ao outro, ou seja, a de regulador da interação social (Hess et al., 2005). Como sinal de apaziguamento também pode estar ligado ao embaraço e é de esperar que nesse caso reflita preocupação, aflição (Hess et al., 2005). Segundo os mesmos autores, estudos sobre afiliação conferem ao sorriso um sinal de regulação de intimidade (à semelhança do olhar) e de potencialmente poder reduzir os conflitos.

O sorriso AU12 quando acompanhado de AU7 é a expressão mais ligada a contextos de dominância porque tem uma morfologia mais moderada e é menos

acentuado (sendo por isso referenciado como sorriso social ou polite smile), enquanto o modelo de expressão para o apaziguamento é o Duchenne Smile de intensidade média (Hess et al., 2005). Este tipo de sorriso, muito mais associado a experiências de felicidade e de bem estar, é uma ação facial combinada, AU6+12, envolvendo o levantar das bochechas e a contração do músculo orbicular do olho, e que usualmente ocorre de forma espontânea como expressão de um estado emotivo genuinamente sentido (Hess et al., 2005).

Considerando o sorriso em termos de interação social podemos inferir a partir dele indicações mais comunicacionais e sociais para além das atribuições unicamente de cariz emocional. Neste sentido, segundo Hess e Bourgeois (2010) existem alguns estudos com resultados que apontam no sentido das faces sorridentes serem avaliadas como mais familiares do que as menos sorridentes.

O sorriso representa também uma estratégia eficaz porque quando tem o efeito pretendido pelo emissor gera no outro impressões favoráveis e subsequentemente julgamentos mais suaves e condescendestes perante transgressões, incorreções ou simplesmente um comportamento que fica aquém das expetativas. Este efeito de leniência faz com que mesmo sendo considerados culpados, os indivíduos que sorriem recebem dos outros o benefício da dúvida e a aplicação de uma sentença menos severa (LaFrance et al., 2003).

Conforme já referimos antes, no caso das situações de procura de apaziguamento, o sorriso verdadeiro (Duchenne Smile) é o que mais preenche necessidades motivacionais de afiliação e de aceitação, pelo que quando associado a um contato ocular adequado sugere mais proximidade. No contexto específico da entrevista de seleção o Duchenne Smile aumenta a perceção de sinceridade do candidato e a disposição de o contratar (Woodzicka, 2008).

O sorriso Duchenne surge também como facilitador da interação em contextos sociais que envolvam algum género de partilha e de cooperação (Mehu, Grammer & Dunbar, 2007; De Sousa et al., 2014). Quando associado a emoções positivas desencadeia avaliações positivas e conduz à aproximação e discussão de assuntos mais pessoais (Johnston, Miles & Macrae, 2010). Neste sentido, na entrevista de seleção quando o candidato apresenta o Duchenne Smile estará mais próximo de ser percecionado como um candidato disponível, colaborante e verdadeiro, com mais possibilidades de obter um parecer favorável (Woodzicka, 2008).

De acordo com Hess et al., (2005) o sorriso de reduzida intensidade, não Duchenne, pode em situações adversas ser uma estratégia pessoal para avisar os outros e os afastar, com forte redução do suporte social, enquanto o sorriso verdadeiro, mais amplo, é mais regulador do afeto e promove a integração e a aceitação sociais (Hess & Bourgeois, 2010).

Saindo agora do domínio das atribuições de significado ao sorriso, tecemos algumas considerações decorrentes de literatura que aborda a questão da genuinidade do sorriso observado: isto é, se ele é verdadeiro na medida em que expressa sentimentos positivos. Julgar a verdadeira natureza do sorriso vai muito além dos aspetos objetivos ligados à observação da morfologia da face (Maringer, Krumhuber, Fischer & Niedenthal, 2011). Estes autores recorrendo a julgamentos com base em sorrisos produzidos em modelos de face avatar tiveram resultados que apontaram no sentido de a acuidade das perceções estar muito correlacionada com o contexto e com a possibilidade de mimetizarem o sorriso observado, ou seja, avaliavam como pouco genuíno um sorriso que acontecia numa situação onde já esperavam que assim fosse e apontavam mais genuinidade aos sorrisos que eles próprios eram capazes de reproduzir, mimetizando-os.

Uma questão pertinente prende-se também com os fatores que podem desencadear o processo de simulação do sorriso. Uma conclusão interessante é-nos dada por Maringer et al., (2011) ao referir estudos que apontam o contato ocular como um daqueles fatores. As pessoas tendem a desviar o olhar e muitas vezes a sorrir com maior ou menor intensidade quando se lhes pede para distinguir mensagens falsas das verdadeiras.

A pertença a um dado grupo e o conhecimento do estereótipo do sorriso dentro do grupo e na relação com outsiders pode levar a um processo de simulação e de mimetização (Hess & Bourgeois, 2010) com objetivos de identificação e de pertença.

Em suma, será sempre difícil entender o sorriso, talvez mais do que outros comportamentos de expressão não verbal, se não o analisarmos no contexto em que efetivamente ocorre, tanto para descodificar o seu significado, como para aquilatar da sua genuinidade ou espontaneidade (Maringer et al., 2011).

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