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Movimentos pré-golpe: A agonia do Governo João Goulart

CAPÍTULO 4 A DITADURA MILITAR NO BRASIL

4.1 Movimentos pré-golpe: A agonia do Governo João Goulart

Para iniciarmos a discussão, discorreremos, primeiramente, sobre os anos que antecederam o golpe militar de 1964. Esses anos que antecederam o golpe foram anos de grande efervescência cultural e política no Brasil. De acordo com Napolitano (2015), no plano cultural, tivemos a confirmação da Bossa Nova politizada, feita por Carlos Lyra, Sérgio Ricardo ou Nara Leão, como modelo de canção engajada, a formalização do Cinema Novo como grupo, com Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, e a formação do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE). Quanto ao plano político, tivemos a renúncia do presidente Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, com apenas sete meses de governo.

Há consenso entre historiadores que a renúncia de Jânio foi uma tentativa de “autogolpe”, no sentido de que ele se apoiava em duas ideias: o povo que o elegera o aclamaria nas ruas para que voltasse, e que o vice-presidente eleito, João Goulart, que estava em missão diplomática na China comunista, seria vetado pelos militares.

25 O regime militar, no Brasil, foi iniciado em 1º de abril em 1964 e teve seu fim em 15 de março de

No entanto, os seus cálculos não se confirmaram, João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro, ligado a grupos nacionalistas e de esquerda, tornou-se o novo presidente do Brasil.

Segundo Napolitano (2015), antes da posse de João Goulart, o Brasil foi governado por uma junta militar formada pelos ministros de Jânio, que apoiados pela a UDN fizeram de tudo para impedir a posse do vice-presidente.

Por esse motivo, de acordo com Tavares (2004), surgiu no Rio Grande do Sul, a Campanha da Legalidade em que milhares de gaúchos saíram de suas casas em defesa do regime democrático de direito. Várias foram as investidas para a tentantiva de golpe, porém o III Exército ficou com a Legalidade, não cumprindo ordens de bombardear o palácio do governo sulista que incendiava a população, através das ondas de rádio, em apoio ao Vice-Presidente e contra os golpistas.

Apesar de as forças contrárias a Jango terem se organizado e de terem formulado o pedido de impedimento do vice no Congresso, elas não tiveram o apoio da maioria no parlamento, mantendo, portanto, a posse do vice-presidente. Desse modo, no dia 7 de setembro de 1961, João Goulart toma posse como o novo presidente do Brasil, mas com os poderes diminuídos, devido a aprovação pelo Congresso de um regime parlamentarista.

O governo de João Goulart propunha reformas de base que eram de âmbito estrutural, político, econômico e, principalmente, agrário. A reforma agrária proposta por Jango não previa indenizações ao proprietário, e as outras reformas também eram vistas como um processo de abertura para o comunismo no país, pois defendia o direito de voto anafalbetos e a sulbaternos das forças armadas, bem como defendia uma regulamentação das remessas de lucro ao exterior.

De acordo com Bosi (2001), as reformas de base não queriam transformar o país em socialista, porém queria reduzir as desiguldades sociais a partir de intervenções do Estado. Como podemos verificar os grupos sociais que detinham o poder foram contrários a essas reformas, se afastando cada vez mais do governo.

Em 1963, de acordo com Tavares (2004), Jango conheceu Paulo Freire e seu método de alfabetização. Jango viu, no “Plano Paulo Freire”, um modo de as pessoas se tornarem cidadãos conscientes, e também viu uma nova formação para o mapa eleitoral brasileiro. O método de alfabetização de Paulo Freire foi visto pelos conservadores como revolucionário, e isso os assustava, pois o método não objetiva

somente a alfabetização, mas também levar os alunos a compreenderem os significados do mundo.

Diante disso, as ações de Jango fizeram com que os grupos da elite brasileira, latifundiários, empresários e alguns setores da classe média se unissem para depô-lo com o objetivo de instituir um governo militar26.

O golpe de estado teve seu início no dia 31 de março de 1964 e durou 21 anos. De acordo com Napolitano (2015), no dia 31 de março, João Goulart perdeu o apoio do General Amaury Kruel e foi avisado de que os norte-americanos estavam prontos para reconhecer o “governo provisório” e intervir militarmente em favor dos golpistas; no dia 1° de abril, a rebelião militar se ampliou e João Goulart foi para o Rio Grande do Sul; e em 2 de abril, em desrespeito a Constituição, o Congresso Nacional declarou a vacância do cargo de presidente, com o presidente ainda em território nacional.

No lugar do presidente João Goulart, assumiu o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzili. Este ficou pouco tempo na função, pois, em seguida, foi eleito para presidente pelo Congresso Nacional, com 40 parlamentares a menos da composição da casa, o General Castelo Branco, o líder da conspiração e primeiro presidente do regime militar, de 1964-1967.

É importante destacar que o que houve no Brasil foi um golpe de estado e não uma revolução. Uma revolução consiste em uma mudança de ordem política, social e econômica, entretanto o que ocorreu foi a perpetuação de grupos que já detinham o poder. O golpe foi articulado com o objetivo de esses grupos sociais se manterem no poder e impedir as reformas sociais pretendidas por João Goulart.

Assim afirma o historiador Boris Fausto:

Como se tem assinalado com freqüência, a ex-'" pressão "golpe de 1964" vale como recurso da fala corrente, mas não dá conta da manutenção histórica iniciada naquele ano. Sob a forma do golpe, ocorria na verdade uma contra-revolução. Com isto, não quero dizer que as premissas de uma revolução social estivessem maduras no período. Mas o certo é que a intensa mobilização das "camadas inferiores" (das classes sociais aos subalternos das Forças Armadas) foi abafada pela violência e, mais do que isto, pela construção de uma ordem autoritária-conservadora, , com apoio em uma base social significativa (FAUSTO, 1984, p.1).

26 Para vários estudiosos, o golpe militar é considerado um golpe civil-militar, pois teve apoio de

Como exemplo dessa base social significativa, temos a Zona Sul do Rio de Janeiro, que foi ocupada por milhares de pessoas, sob chuva de papel picado, comemorando o fim do governo de João Goulart e tomada do poder pelos militares.

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