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Movimentos Sindical e Popular e Administrações Municipais do PT

Emergência e Consolidação da Narrativa Petista nas Décadas de 1970 e

4.3. O estabelecimento dos loci de ação política e os sentidos da narrativa petista

4.3.2 Movimentos Sindical e Popular e Administrações Municipais do PT

A articulação equivalencial estabelecida entre as noções de “dignidade” – entendida como uma demanda advinda do chão da fábrica – e “cidadania” – significante inserido de forma mais contundente no bojo da disputa pública pelo sentido de “democracia – não se deu de forma instantânea na narrativa petista. Durante a década de 1980, os documentos oficiais do PT praticamente não utilizam sequer o termo cidadania. Este último veio a ser utilizado pela primeira vez em 1984 – de forma claramente secundária no corpo do texto –, em documento intitulado Teses para atuação do PT, que teve sua versão inicial aprovada no III Encontro Nacional do Partido. Falava-se então na promoção de uma “cidadania plena”, que deveria romper com “o caráter assistencialista e com as práticas de submissão e discriminação do abandonado, do idoso, das mulheres, dos negros, dos homossexuais, dos índios e demais grupos sociais específicos” (Partido dos Trabalhadores, 1999: 284). Note-se que o conceito ganha um teor algo “pluralista” ao ser vinculado a grupos sociais específicos e não necessariamente à identidade de classe, como o fazia intensamente, aliás, o discurso petista. A convivência das duas referências – “pluralista” e de classe – que remete à luta pelo estabelecimento da unidade de representação política, nos indica uma tensão estabelecida em torno de que ancoragem espacial viria a prevalecer na narrativa petista. Eventuais decisões, nesse contexto, imprimiriam sentidos narrativos diversos ao pluralismo e à diversidade representados pelo PT e expressariam o tipo de articulação entre modelos de democracia que se construía.

A noção de pluralidade, quando torna diversas demandas equivalentes em torno de um centro – como é o caso da identidade de classe no discurso marxista –, dificulta a articulação dos sentidos dessas demandas com os valores narrativos (liberais) circulantes nas instituições hegemônicas de representação. Isso possibilita que as referidas demandas ganhem materialidade num espaço político-cultural que se constituiu através do estabelecimento de uma linha de antagonismo que divide a sociedade em duas partes “irreconciliáveis” (proletariado e burguesia). Vista dessa forma, a luta por hegemonia pode ser compreendida desde a perspectiva espacial que vimos construindo. Nessa, o estabelecimento e diluição de fronteiras político-sociais são momentos necessários e decisivos do jogo político. É assim que percebemos, sem que se emita necessariamente juízo de valor, a fala de Edmilson Meneses em relação ao feminismo, pois o que lhe preocupa é a possibilidade de que as demandas feministas diluam a unidade de classe.

Para aprofundar essa intuição metodológica, antes de adentrarmos no tema propriamente dito dessa seção, vale a pena recorrer a duas das entrevistas que realizamos com ativistas feministas. Segundo Maria Ednalva, então à frente da Secretaria Nacional de Mulheres da CUT, a questão dos direitos da mulher no PT “acaba sendo mais forte entre 87, 88, porque aí surge a luta no processo da Constituição”. Quanto à CUT “se tinha uma compreensão de que as feministas eram mulheres da classe média, que estavam na academia... Discutindo apenas questões de identidade e sexualidade, isso não era um tema prioritário para o movimento sindical”. Veja que essa postura remete ao rechaço de uma demanda, por ser um “tema” (liberal?) imposto de fora à

classe trabalhadora e que só ganha peso no PT nas discussões da Constituinte, momento

marcante de articulação com a democracia representativa. Num outro momento da entrevista, já num contexto posterior de plena ocupação dos espaços públicos pela CUT, Ednalva ressalta que é importante “ocupar o lugar de controle social das políticas públicas, desde propor até monitorar estas políticas... Achamos que o nosso lugar é o lugar da sociedade civil... É possível a sociedade

civil participar”. Se contrastarmos esse depoimento com o que se seguirá (Nalu Farias), poderemos perceber como se dá o processo de diluição da classe via representação política.

Ciente da disputa em torno do sentido das demandas feministas, Nalu Farias, militante da DS e da Marcha Mundial das Mulheres101, não esconde seu desacordo atual com a postura de feministas atuantes tanto no PT como na CUT, que ocupam espaços na institucionalidade. Sua crítica a tais militantes, a quem chama ironicamente de “as institucionalizadas”, se dá através do contraste com o que, para ela, significou as administrações populares do PT na década de 1980:

Se você olhar a primeira geração de prefeituras que teve coordenadorias... Em geral teve uma ação mais contundente, mais dentro daquilo... Que a gente discutia no PT... Você construía administrações democráticas e populares... Com o objetivo também de disputar... Uma hegemonia de esquerda, vamos dizer assim... Você... Iria governar para todos, mas com um sentido estratégico.

A ocupação de espaço público aqui, demandas feministas incluídas, guarda uma diferença significativa em relação à posição de Maria Ednalva, pois se dá desde a perspectiva da construção do socialismo. Isso remete à noção de movimento, que pressupõe um “sentido estratégico”, que é de alguns (espaço específico). Governa-se “para todos” desde que haja adesão à estratégia socialista. Isso dá um sentido narrativo à “participação” diferente do que quando se aceita a universalidade da sociedade civil como o “nosso lugar”. É essa a diferença não percebida entre “dignidade” – que tem um lugar de origem, o chão da fábrica – e “cidadania” – que ocupa a sociedade civil tomada como espaço único. Ednalva, ao não demandar uma ancoragem espacial receptiva à “referência de classe”, e, ao mesmo tempo, declarar importante tal referência, opera com uma pretensa autonomia da dimensão lingüística do discurso. Ao assim proceder, não

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A Marcha Mundial das Mulheres é um movimento feminista internacional construído no ano de 2000 com a adesão de ativistas da causa feminista oriundos de 159 países. No Brasil essa rede feminista congregou o movimento autônomo de mulheres; o movimento popular e sindical, rural e urbano, ampliando o debate econômico entre as mulheres. Para mais informação recomendamos o site www.sof.org.br.

percebe que a unidade classista de representação perde força, pois ancorada em terreno não receptivo à noção de movimento.

Em outras palavras, o sentido estratégico de uma narrativa antagonística requer a construção de uma unidade que, por sua vez, demanda uma espacialidade diferenciada. Nalu reclama unidade de classe: “tudo bem... Somos isso [refere-se à diversidade das mulheres: brancas, negras, jovens..., RM], mas o que nos unifica como mulher? Acho que justamente entra aí a dimensão de classe”. A posição de Nalu, outrossim, além de problematizar o pluralismo liberal, questiona a essencialização da unidade classe social, pois referencia uma matriz teórica cujo desafio é a articulação entre dominação de classe e patriarcalismo. Num sentido radicalmente revolucionário, essa matriz (narrativa conceitual) politiza espaços “privados”, ao propor a incorporação do feminismo na construção do socialismo, sob o argumento de que “existe uma contradição entre os interesses dos trabalhadores enquanto classe e os privilégios que

todos os homens, de todas as classes, desfrutam” (Tatau Godinho, 1987: 4)102.

A discussão sobre os possíveis sentidos do feminismo enriquece nossa abordagem

espacial sobre hegemonia, nos ajudando a pensar a articulação entre movimento sindical e

popular com foco na disputa pelo estabelecimento das unidades de representação política. Isso porque rompemos os limites idealistas de uma análise que se atém à dimensão dos sentidos lingüísticos e incorporamos os espaços político-sociais envolvidos na ação de representação política. Podemos falar basicamente de três espaços: o dos movimentos, o do Partido e o das administrações municipais. A luta em torno da unidade de representação, assim, vai depender dos tipos de articulação que venham a se estabelecer entre os ditos espaços. Cientes da infinitude de questões que tais articulações podem suscitar, chamaremos a atenção para alguns pontos que nos pareceram mais relevantes nos dados empíricos que levantamos.

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Nalu Farias e Tatau Godinho são militantes e formuladoras do discurso feminista da DS, tendência do PT que goza de reconhecida tradição no tema.

Inicialmente, consideramos importante destacar que o PT estabelece uma dupla estratégia

de ação política. Por um lado, procura construir uma estrutura organizativa altamente porosa e

em sintonia fina com os movimentos sociais, que ganha expressão material no núcleo de base, entendido como uma espécie de fundação do edifício partidário. Durante a década de 1980, encontro após encontro, os núcleos de base, como já dissemos, são um tema recorrente. Não sendo o caso de promover uma remissão exaustiva às resoluções partidárias, optamos por reproduzir um trecho do já mencionado documento Teses para a atuação do PT, de 1984.

Raramente conseguimos transformar esse imenso potencial de apoio [advindo da sociedade, RM] em força orgânica, que se traduza em crescimento, em número e qualidade, de filiados, núcleos e Diretórios. Dentro do PT ainda vigora um grande fosso a separar os militantes, os filiados e os simpatizantes, como se tivéssemos, entre nós, petistas de 1ª, 2ª e 3ª categorias... Só conseguimos passar a imagem de um partido fechado em si mesmo, onde vigoram discussões estéreis, excessivamente ideologizadas, acessíveis apenas a intelectuais tradicionais ou membros de organização de esquerda... Nos confinamos numa prática internista, que se apóia numa estrutura de organização que é, em grande parte, resultado da adaptação de antigas tradições de esquerda à legislação ditatorial sobre partidos políticos (Partido dos Trabalhadores, 1999: 143).

Note-se que é claro o esforço para que entre esse “imenso potencial de apoio” e o Partido propriamente dito haja uma solução de continuidade que deveria se materializar numa “força orgânica” revertida em crescimento partidário. Os “simpatizantes” do PT – e os espaços onde atuam, segundo nosso raciocínio – têm que ser integrados ao Partido, que, para que isso ocorra, não pode ser um partido “fechado em si mesmo”. Sua estrutura organizativa, assim, teria que, correspondendo ao contexto político de transição, superar a estrutura fechada e hierarquizada, que a situação de clandestinidade da ditadura, admite-se, exigia das organizações revolucionárias.

Essa discussão está inserida num debate que mobilizou considerável esforço intelectual no Partido ao longo da década de 1980: a superação da dicotomia entre partido de quadros e partido de massas. Combinando as duas opções, poder-se-ia, a um só tempo, não abdicar de seu papel

dirigente e abrir-se à participação popular. Nesse contexto, os núcleos de base deveriam se

intervenções unificadas e, assim, disputariam, enquanto partido – e não um conjunto disperso de tendências –, a hegemonia na sociedade. Cuidaria da educação política, o que qualificaria a adesão de preciosos militantes inseridos nas lutas sociais e a construção de uma sintonia com a vontade popular, o que permitiria aos núcleos serem uma instância de consulta e delegação103. Já no I Encontro Nacional procurava-se dar forma a essa organicidade através da construção de um “Conselho de Representantes dos Núcleos” que, convocado pelos diretórios municipais, teria institucionalizado seu “caráter consultivo” (Partido dos Trabalhadores, 1999: 103).

Essa estratégia de ação tem, como vimos, a motivação de integrar organicamente os diversos espaços articulados (representados) na narrativa petista à estrutura do PT, entendido como partido de massas. Lembra a metáfora do corpo: o PT dirigente corresponde à cabeça, enquanto que o PT de massas seria o restante do corpo. Tal estratégia, como antecipamos acima, vinha acompanhada de uma outra, que era a da construção do poder popular. Vejamos como Lula, em discurso proferido no I Encontro Nacional de 1981 – texto que interpretamos como pertencente ao gênero da narrativa ontológica oficial – se pronuncia em relação ao tema:

Mudou muito o cenário político do nosso povo nestes últimos anos. Outrora se acreditava que só os partidos e os grupos políticos eram capazes de centralizar a organização do movimento popular. Hoje, porém, reconhecemos que os melhores frutos são aqueles que, como nosso partido, têm suas raízes firmadas nas múltiplas formas de organização existentes no campo, nos bairros, nas periferias, nos conselhos de trabalho e de estudos, nos setores que têm interesses específicos a defender, como as mulheres e os negros. Graças ao movimento popular, o movimento sindical teve maior expressão nos últimos anos. Enganam-se os que ainda pensam que só nas fábricas se apóia o sindicalismo brasileiro... Graças a essa extensa rede de movimentos populares é que o PT se afirma como expressão política que nasce de baixo para cima (Partido dos Trabalhadores, 1999: 109).

Nos vemos novamente às voltas com a metáfora da rede. Aqui o partido se reconhece não desejoso de “centralizar” (trazer para dentro da estrutura partidária), um “movimento” que tem “múltiplas formas” e que se materializa em diferentes loci: no “campo”, na “periferia”, nos

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Os núcleos passaram a poder eleger delegados em 1981, conforme Regimento Interno aprovado no I Encontro Nacional.

“locais de estudo” e não apenas “nas fábricas”. A construção efetiva de um poder popular, ao requerer a metáfora da rede, parece em flagrante tensão com a vocação dirigente do Partido, que é, aqui, uma “expressão” do que vem de baixo. A linha divisória entre a dimensão positiva e negativa da política é bastante tênue e não perceptível aos atores que analisamos. Insinua-se aí, entretanto, uma tensão latente entre a construção do poder local na sociedade e na estrutura partidária. Vejamos como essa questão pode ser aprofundada à luz de mais material empírico.

Alguns depoimentos de membros da direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC podem nos ajudar a ter uma dimensão mais precisa de um aspecto importante da articulação dos movimentos em questão. Devanir Ribeiro, em depoimento a Arthur Couto (2006: 320) sobre as greves do ABC (1978-1980), lembra que a convocação para as assembléias era feita nos bairros de maior concentração de metalúrgicos, onde havia companheiros mobilizados, através das CEBs, em torno de outras bandeiras (que não as sindicais) e que, ao final das greves, o movimento dos bairros saiu bastante fortalecido. A partir da idéia de construção de um fundo de greve emergiu um vigoroso movimento de solidariedade: “era um copo de óleo, um quilo de arroz, um saco de batata, um pacote de macarrão... E não era só do ABC... Era toda a Grande São Paulo”, comenta Gilson Meneses (2006: 314), que viria a ser eleito prefeito de Diadema, em 1982. Ressalta, nesse contexto, a importância da solidariedade do movimento de bairros e favelas. Jair Meneghelli (2006), nessa mesma linha, chama a atenção para o papel relevante da prática do futebol. Não fosse por ela “possivelmente iríamos demorar muito mais tempo para perceber que a Ford pagava menos do que as outras empresas montadoras” (ibid: 311).

Não é difícil notar, a partir desses depoimentos, ainda mais quando consideramos a presença de militantes cristãos, que os vínculos entre os movimentos em análise traziam evidentes traços gregários, que remetem aos valores comunitários. Estes últimos apontam para alternativas de rompimento com o corporativismo que, avessas às diferenciações institucionais, não passam necessariamente pelos partidos. Essa era a intuição da fala de Lula acima transcrita,

que revela sensibilidade para a dimensão positiva da política. Vale a pena referenciar outra passagem da narrativa oficial petista. Em Tese para a Atuação do PT (1984) pode-se ler:

Para nós o poder não apenas se toma, mas também se constrói. O PT confia na possibilidade de construir o poder a partir das bases da sociedade, dos movimentos populares, dos sindicatos e de outras formas de organização dos explorados – como, por exemplo, a criação de conselhos populares – e desenvolver esse poder como uma política de crescimento, de acumulação de forças e de construção de uma alternativa popular. A democracia que interessa aos trabalhadores não se esgota nas instituições, mas se articula com formas diretas e massivas de participação popular (Partido dos Trabalhadores, 1999: 153).

Chamamos a atenção para o caráter impreciso, que se posiciona na tênue linha entre a dimensão positiva e a negativa da política, da construção do poder popular como uma “política de crescimento”. Só uma leitura mais atenta é capaz de questionar que pode não se tratar da construção do poder nas “bases da sociedade” e sim nas bases do Partido. O leitor mais cético pode questionar se esse não é um preciosismo (estéril) de nossa parte, pois, afinal de contas, as duas coisas podem e deveriam ocorrer simultaneamente. Nesse ponto é que se faz mister uma análise mais detida da ação de representação política do Partido, que será pensada a partir de outro espaço a ser considerado: o das administrações municipais. Para tal, retomaremos brevemente a questão da unidade de representação política.

Nos momentos que se seguiram à repressão das experiências de Osasco e Contagem, com a decretação do AI-5, segundo Lúcio Kowarick, “até 1975, 1976, o espaço das fábricas estava extremamente controlado... Mas, pouco a pouco, nos bairros populares das cidades brasileiras – e este é um fenômeno bastante geral – começa a haver uma reativação das aglutinações” (Kowarick, 2006: 156). Kowarick, propondo uma leitura conjunta do movimento sindical e popular, indica que “as ações planejadas para ocorrer dentro das fábricas eram discutidas e organizadas nos bairros da cidade” (ibidem). Temos, inclusive, um indício do caráter nacional da emergência dos movimentos populares e seus vínculos com o sindicalismo nas palavras de Jorge

César que, referindo-se à experiência de Pernambuco, nos relata o que aconteceu após a oposição

Zé Ferrugem ter ganhado o Sindicato dos Metalúrgicos, em 1981:

foi o segundo sindicato aqui no estado ganho pelas oposições. O primeiro foi os urbanitários, e daí desencadeou uma gama de lutas de oposições sindicais onde nós, que já tínhamos ganho aquelas entidades classistas, levamos nosso apoio a... nNovas... Oposições, a luta cotidiana na categoria, a luta na comunidade, quer dizer, aquela entidade serviu de uma grande trincheira de lutas dos movimentos sociais, dos movimentos de minorias, negros, mulheres e outras parcelas da sociedade... Porque tínhamos uma entidade que dava a sustentação da infra-estrutura para todos os setores populares que se engajaram na luta nos bairros e todos os movimentos reivindicatórios [como]... O movimento contra o desemprego, o movimento contra a fome, etc.

Se lembrarmos da afirmação de Iram Jácome Rodrigues, para quem o sindicalismo cutista, apesar de não agregar “o conjunto dos movimentos sociais que surgiram na década de 1970... Simboliza amplas parcelas desse movimento” (grifo nosso) (Rodrigues, 1997: 37), podemos supor que a identidade de classe, fortemente presente no discurso petista, era a unidade de representação política preferencial da articulação de que nos ocupamos. Fornecer a “infraestrutura”, nesse contexto, era parte integrante da dita articulação e indício da possibilidade da construção de espaços comuns de ação política.

A construção de tais espaços também foi matéria de investimento da MOSM-SP. Em sua tese para o II Congresso Estadual da CUT/SP, em 1986, defende-se uma estrutura horizontalizada para a CUT sob o argumento – referenciado na experiência da zonais de São Paulo e dos Comandos de Greve do ABC – de que “elas permitem que se estabeleça um vínculo espontâneo com o movimento popular... Levando as propostas da CUT para os trabalhadores também em seus locais de moradia” (MOSM-SP, 1986b: 10). Na mesma linha, um documento assinado pela Coordenação do MOSM-SP no espaço Tribuna de Debates, de maio de 1986, afirma que “buscamos resgatar o esforço de ligação com o movimento popular, romper o isolamento que o governo quer impor ao movimento operário e sindical. Nesse sentido, retomamos a proposta de realização de assembléias regionais conjuntas do movimento sindical e popular” (grifo nosso)