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I MPÉRIO DO B RASIL CATÓLICO : EDUCAÇÃO PÚBLICA , PRIVADA E RELIGIÃO OFICIAL

CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO PÚBLICA, RELIGIÃO E ESTADO

1.3. I MPÉRIO DO B RASIL CATÓLICO : EDUCAÇÃO PÚBLICA , PRIVADA E RELIGIÃO OFICIAL

Em 1822, com a proclamação da independência e fundação do Império do Brasil, deu-se início a debates e projetos que visavam estruturar a educação em nível nacional. Através da Assembleia Legislativa e Constituinte, aberta em 3 de maio de 1823, D. Pedro I chamara a atenção para a necessidade de uma legislação específica sobre a instrução. Para tal, uma Comissão de Instrução Pública foi instaurada, e, no curso de seis meses do mesmo ano, dois projetos foram elaborados e discutidos, mas não foram concretizados e nem incorporados à primeira Constituição, de 1824. Destarte, apenas dois parágrafos sobre educação fizeram parte da primeira Carta Magna, como atesta Vieira:

Ao tratar da “inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros”, estabelece que “A instrução primária é gratuita a todos os cidadãos” (art. 179, § 32). A segunda referência diz respeito aos “Colégios e universidades, onde serão ensinados os elementos das ciências, belas letras e artes”. (2007, p. 294).

11 Ao chegarem, os jesuítas até aprenderam o tupi-guarani, Anchieta organizou uma gramática tupi, mas só

para utilizar no início do processo de catequização; depois impuseram o idioma português.

12 Acumulando terras, fazendas, engenhos e propriedades, a Ordem tornou-se economicamente forte e

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Apesar do indicador de que a instrução não era tema de grande interesse naquele período político, haja vista a inserção de apenas dois parágrafos, é prudente notar a intencionalidade da gratuidade da escola pública primária, tema que seria silenciado na primeira Constituição Republicana, de 1891. Todavia, os dois dispositivos ficaram à época só no campo prescritivo.

A reforma pombalina foi emblemática por erradicar a hegemonia católica na educação pública e tomar para si (a monarquia) a responsabilidade de lidar com a educação; por outro lado, logrou uma estagnação do processo educacional. Foram 65 anos entre a expulsão dos jesuítas em 1759 e a primeira Constituição, de 1824, e a monarquia foi incapaz de organizar por conta própria um sistema educacional. As escolas régias, aulas avulsas, formação dos mestres leigos, financiamento, e a exigência da modernidade iluminista foram seus grandes entraves.

É somente com a chegada da família real que se projeta uma iniciativa cultural para a nação, certifica Oliveira:

Somente com a chegada da família real e da corte lisboeta, em 1808, a paisagem cultural do Brasil começaria a mudar. O país passa a viver um ambiente de efusão cultural, em que se destacam a criação do Museu Real, do Jardim Botânico, da Biblioteca Pública e a Imprensa Régia. No setor educacional, surgem os primeiros cursos superiores, embora baseados em aulas avulsas e com um sentido profissional prático. Dentre eles, distinguiam-se a Academia Real da Marinha e a Academia Real Militar (depois transformada em Escola Militar de Aplicação), que formavam engenheiros civis e preparavam a carreira das armas. (2004, p. 947).

No governo de D. Pedro I, algumas instituições públicas foram criadas (Faculdade de Direito, de São Paulo e Recife, criadas em 1827), com vistas a fortalecer um mesmo grupo, as elites, no intuito de formar aqueles que deveriam ocupar os cargos administrativos e políticos do quadro funcional do Estado. Ao poder central interessava apenas a criação de cursos superiores e técnicos, pelo motivo exposto acima, enquanto que para a educação popular revelou-se omisso.

Uma das primeiras políticas de descentralização no Brasil foi contemplada no Ato Adicional do Imperador em 1834, que atribuía às províncias o direito de legislar, entre outras matérias, sobre a instrução pública e construir estabelecimentos/escolas próprios, exceto os de níveis superiores, criando, assim, a dualidade de sistemas entre os poderes:

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central e provincial. Assim, ficou com o poder central a incumbência de promover e regulamentar a educação no Rio de Janeiro e a educação superior em todo o Império. Às províncias ficou ordenada a missão de regulamentar e promover a educação primária e média em suas próprias jurisdições.

Além de passar de largo ao interesse de organizar a educação básica nacionalmente, e priorizar a educação superior para a formação das elites, o Estado Nacional devolve às mãos da iniciativa privada, sobretudo religiosa, o filão do ensino secundário:

A carência de recursos e a falta de interesse das elites regionais impediram a organização de uma rede eficiente de escolas. No balanço final, o ensino secundário foi assumido, em geral, pela iniciativa particular, especialmente pela Igreja. O ensino primário, novamente, ficou abandonado. (OLIVEIRA, 2004, p. 948).

Em adição, é preciso salientar que, mesmo diante da independência em 7 de setembro de 1822, é mantido o regime jurídico de União entre Estado e Igreja, como reza o

preâmbulo da constituição imperial de 25 de Março de 182413: EM NOME DA

SANTÍSSIMA TRINDADE14.

De maneira explícita, é exposto no Art. 5: A religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do Templo.

O imperador, chefe do poder executivo, tinha, como uma de suas atribuições, nomear bispos e prover benefícios eclesiásticos15. Os conselheiros de Estado, antes de tomarem posse, deveriam prestar juramento pela manutenção da religião católica apostólica romana16. Diante do exposto acima no Art. 5, apesar da legitimação da religião cristã de matriz Católica Romana, abre-se lentamente um caminho ao diálogo sobre a pluralidade religiosa. Decerto que de maneira embrionária, pois qualquer outra religião só era praticada com restrição de liberdade, a exemplo (antagônico) de como os cristãos dos séculos I e II

13 Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constitui%C3%A7ao24.htm>. Acesso em:

22/11/2013 às 16h03.

14 A carta constitucional, antes mesmo de seu primeiro artigo, já faz alusão à divindade trinitária dos cristãos. 15 Art. 102.

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faziam, reunindo-se e congregando em suas casas, no anonimato. Fica patente a submissão da Igreja ao imperador, inclusive na escolha dos bispos, por outro, a concessão do Estado às necessidades econômicas da Igreja Católica.