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O ENSINO RELIGIOSO NA DITADURA MILITAR E NA DEMOCRATIZAÇÃO (1964-1985)

CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO PÚBLICA, RELIGIÃO E ESTADO

1.5. O ENSINO RELIGIOSO NA DITADURA MILITAR E NA DEMOCRATIZAÇÃO (1964-1985)

Após experimentação breve de democratização, o Brasil volta ao autoritarismo, que teria vigência superior a 20 anos. Três anos após o golpe de 1964, a Constituição de 1967/69 veio a oficializar o governo autoritário da ditadura militar, já liderado em caráter provisório pelo Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, eliminando os partidos políticos e as eleições presidenciais de 1965. Em termos econômicos, o país vislumbrou o que seria conhecido como o “milagre econômico” (1968/1973).

A Constituição de 1964 reafirma, em muito, o que reza sua anterior (1946) referente à educação, como gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário. Sobre o ensino religioso, diz o mesmo. Mas, ao tratar do direito de todos, ela avança e inclui em seu Art.

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176 que educação é dever do Estado (VIEIRA, 2007). Outra novidade se dá na explicitação de apoio técnico e financeiro do poder público, incluindo bolsas de estudo.30

Em relação às religiões, a novidade no texto constitucional foi especificar em que medida se poderia dar a cooperação entre Estado e religiões. Conforme a Constituição da República Federativa do Brasil de 196731:

Art. 9. À União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios é vedado: II – estabelecer cultos religiosos ou igrejas; subvencioná-los; embaraçar-lhes o exercício; ou manter com eles ou seus representantes, relações de dependência ou aliança, ressalvada a colaboração de interesse público, notadamente nos

setores educacional, assistencial e hospitalar.32

O Estado reconhece nas instituições religiosas uma aliada indispensável e corresponsável pela oferta de serviços à sociedade, a qual ele, Estado, não pretendia realizar solitariamente.

Sobre o ensino religioso, a Constituição de 1967 o mantém, com matrícula facultativa, o coloca nos horários normais e o destina aos graus: primário e médio.33 O inimigo do Estado eram os cursos de sociologia e filosofia, os quais muitos foram fechados è época, e não o ensino religioso, moralmente domesticador.

Com o fim da ditadura militar em 1985, o Brasil iniciou seu processo de redemocratização, cenário de efervescente participação política de movimentos sociais, e pressões pelas eleições diretas (1984), ainda que estas não impediram as eleições indiretas de Tancredo Neves como presidente e José Sarney como vice-presidente. Este, de fato, assumiu a presidência por conta do falecimento de Neves, o país necessitava de uma nova Constituição, que foi promulgada em 1988. 34 Nela se outorgaram as eleições diretas para presidente da república, governador, deputados federais e estaduais, senadores e vereadores. É a partir desta Constituição que se tem apregoado e discutido a questão da democracia (representativa) e dos direitos sociais e humanos no Brasil.

30 Art. 176, Inciso II.

31 Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao67.htm>. Acesso em:

02/12/2013 às 11h00.

32 Grifo nosso. 33 Art. 176, Inciso V.

34 Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em:

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Os principais avanços da carta constitucional de 1988 no campo educacional foram: a) previsão de lei para criação do PNE (Plano Nacional de Educação); b) a vinculação de recursos à educação oriunda de do recolhimento de impostos – União, 18%; Estados, Municípios e Distrito Federal, 25%; c) aos municípios a competência de gerir as demandas de pré-escola, ensino fundamental, com cooperação técnica e financeira dos Estados e União; d) progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade do ensino médio; e) valorização do magistério e plano de carreira; f) atendimento do educando do ensino fundamental com alimentação, transporte e saúde.

Segundo analisa Vieira (2007), a “constituição cidadã” de 1988 foi a que mais avançou no campo educacional entre todas as cartas magnas, contando com dez artigos específicos e mais quatro indiretos. O Art. 5 declara ser a educação “direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Referente ao ensino religioso, que permaneceu na carta magna, destaque-se o lobby religioso, cujos grupos mais ativos foram: a Associação Interconfessional de Educação de Curitiba/PR (Assintec); o Conselho de Igrejas para a Educação Religiosa de Santa Catarina (Cier) e o Instituto Regional de Pastoral do Mato Grosso/MS (Irpamat); mas foi o esforço conjunto da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Associação de Educação Católica do Brasil (AEC) – e Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas (Abesc) – que conseguiu juntar em uma só emenda a proposta governamental para os estabelecimentos privados, visando manter o ensino religioso nas escolas públicas (LUI, 2007 apud CUNHA, 2005).

Pela Constituição de 1988, o ensino religioso permaneceu sendo oferecido com matrícula facultativa, em horários normais, nas escolas de ensino fundamental.35 Outro elemento importante que aparece no sistema educacional é a declaração ao financiamento de instituições confessionais.36

A década de 1990 foi profícua no que concerne a reformas políticas, econômicas e, mormente, educacionais, tanto em nível regional (América Latina), quanto local. Destarte,

35 Art. 210, Inciso I. 36 Art. 213.

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três décadas após a primeira LDB foi promulgada a segunda, Lei 9.394, em 20 de dezembro de 1996, à época no governo de Fernando Henrique Cardoso.

A nova LDB preconiza novamente o ensino religioso e traz elementos novos: a) são pretendidos dois modelos – confessional e interconfessional, a serem ministrados de acordo com a preferência do aluno/família; b) a habilitação docente perpassa pela chancela das igrejas ou entidades religiosas, e retorna, em seu a Art. 33, a prerrogativa de não onerar os cofres públicos com o ensino religioso37. Alvo de contestações, especialmente no tocante à regulamentação do ensino religioso (confessional e interconfessional), a LDB 9.394/96 sofreu alteração já no ano seguinte. A Lei de n° 9.475/97 suprimiu estes termos e estabeleceu em seu Art. 33: proibição da prática de qualquer proselitismo religioso, assegurando a diversidade cultural religiosa no Brasil; delegação aos sistemas de ensino da regulamentação dos conteúdos e, também, da habilitação e admissão dos professores para a disciplina de ensino religioso.38 A LDB previu a consulta às entidades civis e às diferentes entidades religiosas para a elaboração dos conteúdos. Todavia, a hegemonia cristã católica não foi alterada, visto que foi uma entidade cristã (FONAPER)39 que assumiu este papel de representante das entidades civis.