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METÁLICOS FERROSOS

3.3 MUDANÇA CLIMÁTICA E O CONCRETO

Mudança climática é uma alteração em longo prazo do clima em uma localização específica, região, ou todo o planeta (GIDDENS; ED, 2012). O clima da Terra tem variado significativamente em seu passado geológico, causado por mudanças solares, emissões vulcânicas e emissão de gases de efeito estufa ou GHGs (Green House Gases) (REHAN; NEHDI, 2012). A concentração de CO2, um dos principais gases, se apresentava relativamente estável nos últimos 420 mil anos (PETIT et al., 1999). Entretanto, nos últimos 200 anos, a concentração de CO2 subiu significativamente desde a revolução industrial (MCBEAN et al., 2001; IPCC, 2014).

A Figura 4 retrata a concentração de gases do efeito estufa.

Figura 4 – Concentração de gases do efeito estufa

Fonte: IPCC (2014)

Acredita-se que esta alta concentração de CO2 está associada a emissões antropogênicas. De acordo com o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2014), há evidências de que atividades humanas são as maiores responsáveis pelo aquecimento global nos últimos 50 anos, pois a emissão de dióxido de carbono das ações antropogênicas é muito alta. A ameaça do aquecimento global tem recebido maior atenção nos últimos anos. Esforços internacionais para este assunto começaram na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em 1972, alcançando um marco importante com a assinatura do Protocolo de Quioto em 1997, com o compromisso das nações industrializadas de reduzir em 5,2% as emissões de GHGs de 1990 até 2012, sendo renovado para o período de 2013 a 2020, com o comprometimento das nações reduzirem suas emissões em 18% abaixo dos níveis de 1990 (MOREIRA; GIOMETTI, 2007).

O Quinto Informe de Avaliação (AR5) do Painel Intergovernamental de Especialistas em Mudanças Climáticas (IPCC) fornece avaliação sobre o rumo que o planeta seguirá se, hoje, não forem modificadas as práticas habituais de produção, de consumo e hábitos de vida, que não são nada promissoras (IPCC, 2014). O Acordo de Paris prevê um projeto para frear as mudanças climáticas e garantir um aumento da temperatura média global inferior a 2ºC em relação aos níveis pré- industriais e perseguir o limite de aumento da temperatura a 1,5ºC até 2030 (COP21, 2015).

Nos últimos anos várias conferência e encontros multilaterais tem ocorrido com o intuito de reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Estas conferências constituem-se em uma esperança na redução das mudanças climáticas, dentre elas podemos destacar o Acordo de Paris (COP21) e os acordos de Ruandae Marrakesch (COP22).

Por sua vez (MEHTA; MONTEIRO, 2014) elencam diversos efeitos decorrentes do aquecimento global, a citar-se: acentuação do derretimento das geleiras; elevação do nível do mar, ameaçando as populações costeiras; aumento do número e da intensidade de ondas de calor, secas, incêndios florestais, tempestades e furacões; alterações nas precipitações; quebra do ciclo de carbono em decorrência de alterações nas espécies botânicas terrestres e aquáticas. Nota-se, portanto, que as mudanças climáticas tendem a afetar os mais diversos setores econômicos, ambientais e também sociais, em diferentes proporções e consequências.

Sob esse aspecto, destaca-se o setor da construção civil, o qual contribui com 30% das emissões de gases de efeito estufa e, tendo-se em vista seu crescimento e seu atual panorama, a expectativa é que as emissões mais que dobrem nos próximos 20 anos (UNITED NATIONS, 2009).

Dentre os gases de efeito estufa, john e Agopyan (2011), destacam as emissões de CO2 no contexto da construção civil, salientando três aspectos

principais: a produção de materiais de construção, a utilização das edificações e o transporte de materiais e resíduos. Em relação aos materiais de construção, os autores apresentam o uso de combustíveis fósseis na fabricação e no transporte dos materiais, a decomposição do calcário e outros carbonatos na fase de calcinação e a extração de madeira nativa como as principais fontes de emissões de gases estufa.

3.3.1 Produção de cimento

A emissão de gases do efeito estufa por processo industrial na fabricação do cimento ocorrem na produção de sua principal matéria prima: o clínquer. Esse componente resulta da calcinação do calcário e da dolomita, extraídos de formações geológicas peculiares e cujo principal componente é o carbonato de cálcio e associações (CaCO3 e CaMg(CO3)2.

O aquecimento do calcário promove a reação química do carbonato de cálcio com o oxigênio (O2), dando como resultado a cal (CaO) e o dióxido de carbono

(CO2) que é liberado para a atmosfera. A calcinação ocorre em fornos onde também

são adicionados argila e outros compostos, e a massa resultante dessas reações é denominada clínquer, que é usado para produzir cimento pela adição de gesso (CaSO4) e outras substâncias que podem conter metais e outros minerais

(FONSECA, 2010).

Em todo esse processo, há queima de combustível para o fornecimento de calor e consumo de energia elétrica para movimentar a massa, que é levada aos fornos e dali para os demais processos de mistura, homogeneização e secagem. Os três tipos de cimento Portland usados no mercado brasileiro – comum, siderúrgico e pozolânico – diferem pelo tipo de adição que é usado para sua fabricação. Na fabricação do cimento Portland siderúrgico, é adicionada escória dos altos-fornos, a qual traz ao cimento propriedades hidráulicas importantes para a construção de estruturas como viadutos, pontes ou portos (WORRELL et al., 2001).

No cimento Portland pozolânico, o principal aditivo é a cinza de usinas termoelétricas e de outras indústrias, cuja adição permite produzir um cimento com resistência mecânica e ao ataque da água e de organismos, propriedades físicas do cimento necessárias na construção de grandes barragens hidrelétricas (ABNT, 2018). As emissões de gases do efeito estufa têm origem, portanto, no processo industrial e no uso de combustíveis para o aquecimento e secagem. A Figura 5 aponta essas características das emissões associadas à produção de cimento, sendo que, das 41,7 Mt CO2 e emitidas em 2013, 61% estão associados à produção

Figura 5 – Evolução das emissões de CO2 e por tonelada de cimento produzida

Fonte: SEEG (2014).