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Mudança de atitude

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.4 Mudança de atitude

A interação do indivíduo com a sociedade está relacionada às suas emoções, pois assim ele vai passar a ter maiores afetos por determinadas pessoas e esta com ele, à maneira de pensar e comportar-se é alterada e pode desencadear atitudes positivas ou negativas, o que vai ampliando suas experiências. Brito (1996) afirma que as atitudes são processos psicológicos individuais, formadas por meios de processos psicológicos e sociais. Assim tais atitudes são adquiridas e não inatas embora algumas atitudes sejam mais duradouras e persistentes que outras, elas não são estáveis e variam ao longo da vida e experiências dos indivíduos. Salienta ainda que as atitudes são altamente suscetíveis às influencias da cultura na qual o indivíduo está imerso, logo tais atitudes são apreendidas.

Bem (1973), citado por Ardiles (2007, p.93), afirma que o construto das atitudes “está presente em quatro atividades do homem: pensar, emocionar, comportar-se e interagir-se com os outros”. E para o autor, as atitudes tem um fundamento psicológico, onde este fundamento estaria dividido em: cognitivo, emocional, comportamental e social.

Neste contexto, Ardiles (2007) os diferenciam em:

O fundamento cognitivo das atitudes está relacionado aos gostos e antipatias dos indivíduos a algum determinado objeto. Esses gostos e antipatias encontram suas razões nas emoções, no comportamento, nas influências sociais que são exercidas nos indivíduos e nas bases cognitivas dos mesmos. O fundamento emocional das atitudes desempenha um papel importante nas atitudes de um indivíduo, pois os componentes emocionais, tanto negativos quanto positivos das atitudes, podem ser detectados. O fundamento comportamental baseia-se no fato de que o comportamento causa as atitudes e não o oposto, como é entendido pelo senso comum e pela sociedade. Assim, o comportamento serve de fundamento na formação das atitudes de um indivíduo. Por fim, o fundamento social das atitudes, encontra-se nos relacionamentos que exercemos com outras pessoas, grupos e instituições. (ARDILES, 2007, p.93).

A formação das atitudes é influenciada de forma significativa pela relação interpessoal, onde na área educacional o professor está diretamente ligado e com uma parcela considerável para desencadear atitudes positivas nos alunos.

No que se refere a atitudes coerentes de um indivíduo, Bem (1973), citado por Ardiles

(2007, p.93), afirma que deve considerar dois aspectos: a dissonância cognitiva e a autopercepção, onde tais teorias são importantes para compreender a relação do comportamento e das atitudes dos indivíduos. O autor salienta que a teoria da dissonância cognitiva é “a mais influente de todas as teorias de coerência cognitiva, pois esta lida explicitamente com coerências e incoerências entre o comportamento de um indivíduo em relação as suas crenças e atitudes”.

O conceito de dissonância cognitiva surge dentro do paradigma de psicologia social desenvolvido por Leon Festinger e que teve uma importante influência no campo das ciências sociais. Para ser compreendido entende-se por cognição qualquer elemento do conhecimento, incluindo as atitudes, desejos, emoções, crenças, preferências e comportamentos. A dissonância cognitiva diz respeito a uma relação entre cognições que são incompatíveis, existentes na mesma pessoa face ao mesmo objeto, ou seja, a pessoa conscientemente sabe que suas atitudes, pensamentos e crenças estão em desacordo umas com as outras levando-o a um estado desagradável de tensão ( FESTINGER, 1957, citado por FERNANDEZ, 2014.p.4)

Neste conceito todo indivíduo procura lograr a coerência ou consistência interna de suas opiniões e atitudes. Sendo assim as inconsistências serão combatidas com o objetivo de reestabelecer a coerência perdida. Caso um indivíduo tenha um determinado comportamento incoerente com suas crenças e atitudes, sentirá o desconforto da dissonância cognitiva que o estimulará a buscar uma decisão incoerente, portanto mudando seu comportamento, logo

13 ocorrerá mudança nas crenças e nas atitudes do indivíduo, aliado às interações dos fatores cognitivos, emocionais e sociais (FERNANDEZ, 2014).

Segundo Festinger (1957), citado por Fernandez (2014), em sua teoria da dissonância cognitiva, se, por exemplo, realiza-se um grande esforço para conseguir algo e, ao alcançar o objetivo, constata-se que tal esforço não foi compensado, experimenta um estado de dissonância e é motivado a reduzir tal dissonância entre as cognições.

Pois, de acordo com Myres (2000):

A teoria da dissonância explica essa mudança de atitude pela suposição de que sentimos tensão depois que agimos de maneira contrária às nossas atitudes ou depois que tomamos uma decisão difícil. Para reduzir essa tensão, procuramos uma justificativa interna para o comportamento. A teoria da dissonância propõe ainda que, quanto menos justificativa externa tem para uma ação indesejável, mais nos sentimos responsáveis por ela; assim, ocorre mais dissonância e mais atitudes mudam. (MYRES, 2000, p. 87).

A dissonância cognitiva é um sentimento desagradável que pode ocorrer quando uma pessoa sustenta duas atitudes que se opõem. Por exemplo, uma pessoa não gosta de matemática, mas acha a matemática importante para sua vida pessoal e profissional, está então, perante uma dissonância cognitiva que lhe pode provocar angústia e inquietação. No esquema abaixo, pode-se exemplificar melhor tal situação.

Cognição 1: “Não gosto de Matemática” Cognição 2: “ Matemática é importante”

POSSIBILIDADES

De acordo com Kelman (1978), citado por Sarabia (1998), a mudança de atitude é estimulada quando o indivíduo, no caso o aluno enfrenta essa dissonância entre sua atitude em relação à matemática e algum novo elemento de informação a respeito da mesma. Essa dissonância entre a atitude que o aluno possui e as informações novas favorecem a mudança de atitudes, neste contexto o professor, os demais alunos, a própria escola tem um papel importante não só na formação, como também na mudança de atitude.

A teoria da autopercepção desenvolvida pelo psicólogo Daryl Bem, prevê que as atitudes devem seguir o comportamento, onde defende que as pessoas desenvolvem suas atitudes por meio da observação do nosso próprio comportamento e pelas conclusões as quais chegamos sobre suas causas. De acordo com Bem (1973), citado por Ardiles (2007, p.94), “as condições sob as quais o comportamento ocorre é um dos principais fundamentos das crenças e das atitudes de um indivíduo, apesar da grande influência que os fatores cognitivos, emocionais e sociais exercem na formação das crenças e das atitudes num indivíduo”. Destaca ainda que “uma das maneiras de causar mudança nas crenças e nas atitudes de um indivíduo é mudando seu comportamento”.

Modificar uma ou mais cognição

“Eu gosto mais ou menos de matemática.”

Mudar a importância percebida de uma das cognições

“A matemática não é tão importante assim”

Adicionar outras cognições

“Eu não vou fazer faculdade de matemática”

Negar que as duas cognições se encontram relacionadas

“Não é porque a matemática é importante que tenho que gostar de matemática”.

14 Para Myers (2000) a teoria da autopercepção:

[...] presume que, quando nossas atitudes são fracas, simplesmente observamos nosso comportamento e as circunstâncias, para inferirmos nossas atitudes. Uma implicação interessante da teoria da autopercepção é o "efeito de superjustificativa": recompensar as pessoas para fazerem o que elas gostam de fazer de qualquer maneira pode transformar o prazer em trabalho enfadonho (se leva as pessoas a atribuírem seu comportamento à recompensa). (MYERS, 2000, p.87).

Myers (2000) salienta ainda que muitas vezes, o indivíduo é questionado e expressa justificativas evasivas, afirmando que:

[...] o menor incentivo que leva as pessoas a fazer alguma coisa é em geral o mais eficaz para levá-las a gostar da atividade e continuar a exercê-la. A teoria da dissonância cognitiva oferece uma explicação para isso: quando as induções externas são insuficientes para justificar nosso comportamento, reduz-se a dissonância justificando internamente o comportamento. Enquanto a teoria da autopercepção oferece outra explicação: as pessoas explicam seu comportamento ao notarem as condições sob as quais ele ocorre. A teoria da autopercepção vai além. Ao contrário da noção de que as recompensas sempre aumentam a motivação, sugerindo que as recompensas desnecessárias às vezes pode ter um custo oculto. Recompensar as pessoas por realizarem o que já gostam pode levá-las a atribuir o ato de concretizar a uma recompensa, eliminando assim a autopercepção de que fazem aquilo porque gostam. (MYERS, 2000, p.84).

O indivíduo terá uma atitude em função de uma recompensa, dependendo do tipo de recompensa, a influência na mudança de atitude será alterada positiva ou negativamente, elogios ou recompensas positivas estimulam a motivação intrínseca. A reação ao incentivo é peculiar ao indivíduo, ao momento e ao ambiente no qual a atividade está sendo desenvolvida, assim cada pessoa expressa um comportamento, frente às recompensas oferecidas (MYERS, 2000).

A teoria da autopercepção diferencia-se da teoria da dissonância cognitiva por não sustentar que as pessoas experimentam um "estado de dissonância", elas apenas inferem suas atitudes a partir de seus próprios comportamentos. Afirmar qual das teorias seja da dissonância cognitiva ou da autopercepção é mais útil, é um tópico de controvérsia, o que se pode afirmar é que existem algumas circunstâncias e dados momentos históricos, nas quais uma teoria é preferida em detrimento da outra.

A mudança de atitudes em relação a um determinado objeto não acontece de imediato, porém não são estáveis e cristalizadas, podendo mudar de direção de acordo com determinadas circunstâncias. Neste contexto, sabe-se que vários são os fatores que influenciam as atitudes. No caso do ensino da matemática o professor tem um papel fundamental para a construção de atitudes de seus alunos em relação à matemática, a relação afetiva e as metodologias empregadas em sua prática docente podem vir a influenciar de forma positiva ou negativa (BRITO, 1996).

Ao compreender que as atitudes se referem a um estado interno do aluno, que suas atitudes e seu fazer docente pode influenciar tais atitudes, as quais se expressam por várias respostas, seja ela observada ou não, de caráter cognitivo, afetivo e conativo. O professor terá mais possiblidade de conhecer variáveis que possam estar influenciando na aprendizagem e intervir para que haja mudança de atitude em relação à matemática e as demais áreas do conhecimento (BRITO, 1996).

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2.5 Prática docente: a influência do professor na formação e na mudança de atitudes

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