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1 POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL

1.3 FINANCIAMENTO DA CULTURA NO BRASIL

1.3.3 Mudanças propostas

Embora bastante criticada, apenas em 2009, no segundo mandato do governo Lula, após ter sido amplamente debatida, foi por fim proposta uma alteração da Lei Rouanet pelo Ministério da Cultura. Na nova proposta, o Pronac seria substituído pelo Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – Procultura. Este seria formado por quatro mecanismos: Fundo Nacional da Cultura, Incentivos Fiscais a Projetos Culturais, Fundo de Investimento Cultural e Artístico - Ficart e Vale Cultura. No mecanismo dos incentivos fiscais a principal mudança proposta pelo Projeto de Lei é a gradação da renúncia. A nova proposta permite que pessoas físicas e jurídicas tenham direitos ao mesmo percentual de dedução no caso de doações e co-patrocínios2 incentivados, diferentemente da lei em vigor que estipula percentuais diferenciados. Se aprovado, o Procultura permitirá que pessoas físicas e jurídicas tributadas com base no lucro real tenham direito a deduzir do imposto de renda até 80% do valor apoiado a título de doação incentivada. Já para apoio a título de co-patrocínio incentivado, as pessoas físicas ou jurídicas poderão deduzir 40%, 60% ou 80% do valor apoiado (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2010a).

Entre as mudanças propostas para o Fundo Nacional de Cultura, destaca-se sua ênfase como o principal mecanismo de fomento, incentivo e financiamento à cultura e o fortalecimento da ação do poder público sobre o financiamento cultural. O montante anual do FNC deverá corresponder pelo menos a 40% das dotações do MinC e há uma preocupação em melhor distribuir os recursos para as diversas áreas da cultura, através de fundos setoriais (artes visuais; artes cênicas; música; acesso e diversidade; patrimônio e memória; livro,

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Novo termo utilizado no Projeto de Lei nº 6.722/2010 (Procultura) em substituição ao termo “patrocínio”. Desta forma, o termo visa deixar claro que se trata de uma parceria entre Estado e Patrocinador.

leitura, literatura e humanidades; ações transversais e equalização, audiovisual e incentivo à inovação do audiovisual) que também estão previstos na nova lei. Outra iniciativa importante é a obrigatoriedade da transferência de, no mínimo, 30% de recursos do FNC a fundos públicos de estados, municípios e Distrito Federal, os quais devem possuir fundos de cultura geridos por órgãos instituídos democraticamente. Dos recursos que permanecerem com o MinC, 80% deverá ser destinado a proponentes da sociedade civil não vinculados ao co- patrocinador ou ao poder público. Além disso, cada região do país não terá menos que 10% do orçamento do Fundo (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2010a).

Outro grande destaque que o Projeto de Lei traz é o Vale Cultura. Embora também seja um dos quatro mecanismos do Procultura, o Vale Cultura deverá ser criado por lei específica para a qual já existe um Projeto de Lei. O Projeto de Lei nº 5.798 de 2009, se aprovado, instituirá o Programa de Cultura do Trabalhador e criará o Vale Cultura, primeira política pública voltada para o consumo cultural dos trabalhadores no Brasil.

Trata-se de um cartão magnético, com saldo de até cinquenta reais por mês a ser utilizado no consumo de bens e serviços culturais. As empresas que declaram Imposto de Renda com base no lucro real poderão aderir à iniciativa e posteriormente deduzir até 1% do imposto devido (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2009b).

Poderão ser beneficiados trabalhadores que recebam até cinco salários mínimos. Trabalhadores que recebam mais de cinco salários poderão receber o benefício desde que esteja garantido o atendimento à totalidade dos empregados que ganham abaixo desse patamar. Aposentados que ganham até cinco salários também poderão ser beneficiados, porém, com um Vale de R$ 30,00 (trinta reais). Nesse caso o recurso será disponibilizado pela União. O trabalhador poderá ter descontado do seu salário até 10% do valor do Vale Cultura.

Em relação ao FNC, apesar de ter sua importância reconhecida pela lei, não é possível afirmar que as transformações mudarão o rumo das políticas culturais do país, visto que ainda dispõe de poucos recursos em comparação às possibilidades do financiamento via isenção fiscal.

Entretanto, um fato que poderá mudar bastante o rumo das políticas culturais no Brasil é a aprovação da PEC 150. O Projeto de Emenda à Constituição nº 150, se aprovado, poderá ser um dos feitos mais importantes para a cultura no Brasil. A proposta, que partiu da Câmara dos Deputados e já passou pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara, estabelece uma dotação orçamentária da União para a Cultura de, pelo menos, 2% dos impostos federais, 1,5% dos impostos estaduais e distritais e 1% da arrecadação com impostos municipais. O

texto estabelece que os recursos do Estado para a cultura nunca serão menores que 2% dos orçamentos.

A área econômica do governo, no entanto, se mostra contrária à vinculação de recursos do projeto – atualmente, o orçamento da cultura representa 0,5% das receitas federais, abaixo do mínimo de 1% recomendado pela UNESCO, o que equivale a cerca de R$ 1,3 bilhão (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2008b). Se esse porcentual subir para 2%, a União seria obrigada a destinar cerca de R$ 5,3 bilhões para o setor.

Se aprovado, o PEC 150 viabilizará a tão sonhada autonomia do Ministério da Cultura na execução e implantação de sua política pública, elaborando estratégias e investindo no desenvolvimento cultural.

Diante das dificuldades na aprovação dos novos projetos de leis, o Ministério da Cultura não conteve esforços na tentativa de aumentar a participação pública nos investimentos em cultura seja na forma das leis de incentivo, seja no investimento direto. Em janeiro de 2010 foi anunciado pelo MinC o orçamento de R$ 2,2 bilhões, sendo considerado o maior da história do Ministério, sendo, também, a primeira vez que a verba para a cultura atinge a marca de 1% do orçamento do país. Desse total, cerca de R$ 300 milhões deverão abastecer o Fundo Nacional de Cultura.

Trata-se de um avanço histórico significativo, porém sem garantias de que este orçamento permaneça para os próximos anos, pelo menos enquanto não for aprovado o PEC 150 e a reforma da Lei Rouanet.