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Uma reportagem da Revista Veja (2006) intitulada “As chances de casar” mostrou que nove entre dez brasileiras que passam dos 40 anos solteiras continuarão solteiras, e muitas mulheres erroneamente acreditam que só serão completas se tiverem um marido. Hewlett (2008, p.86) aponta que, nos EUA, entre “[...] as mulheres altamente realizadas depois dos

35 anos é improvável que se casem”. A regra parece ser essa: quanto mais bem sucedida a mulher, menos provável que encontre um marido ou tenha um filho. Quarenta e nove por

cento das mulheres executivas norte-americanas que ganham mais de 100 mil dólares não têm filhos. Hewlett (2008, p.83) Entretanto, entre os homens acontece o contrário. Quanto mais bem sucedido, mais provável que se case e tenha filhos. As mulheres norte-americanas conviveram por 30 anos com a ideia de que casamento era bom para os homens e mau para as mulheres. Entretanto, em toda união conjugal existem dois casamentos, o dele e o dela, e o dele é muito melhor do que o dela. Para os maridos, o casamento traz saúde e felicidade, e, para esposas, depressão e infelicidade. (Cf. Hewlett, 2008, p.173)

Outra pesquisa (Horwitz, Raskin, Howell-White, 1996 apud Hewlett, 2008, p.175) mostra que o casamento estimula o bem-estar em ambos os sexos, e que adultos jovens que se casam e permanecem casados têm mais altos níveis de bem-estar do que aqueles que permanecem solteiros. Entretanto, parece que poucos estão conscientes dos benefícios do casamento. Geralmente, os homens encontram mais dificuldade em lidar com mulheres mais credenciadas do que eles para se relacionar intimamente. (Cf. Strong, 2008, apud Hewlett p.181) McGoldrick (1989, p.200) observa que as mulheres estão se casando mais tarde e menos – 12% a menos que na geração anterior –, e ressalta que isso vem ocorrendo desde dos anos 1980. Coloca que 25% dessas mulheres resolvem não ter filhos em função das aspirações profissionais. Munhoz (2001), ressalta que os casamentos “[...] têm ocorrido cada vez mais

tarde, fortalecendo a ideia de que as pessoas têm feito escolhas mais conscientes”.

Segundo dados do Registro Civil divulgados pelo IBGE em 2007, os homens se casam pela primeira vez aos 29 anos, em média, e as mulheres aos 26 anos de idade. Também segundo essa fonte, o Brasil registrou, em 2007, 916.006 casamentos civis. Esse estudo revela que o número de casamentos vem crescendo de forma ininterrupta desde 2003. Em contrapartida, os casamentos são felizes enquanto duram, e estão durando menos. Os casamentos duram em média 11,5 anos no Brasil (Cf. Klinstowitz, 2006, p.8), e também se observa “[...] o casal vivenciando duas forças paradoxais: individualidade e conjugalidade”. Segundo outros dados recentes oferecidos pelo IBGE (2012), o número de universitárias livres, ou seja, sem parceiro, supera 54% a quantidade de homens nessa mesma situação. Nos grupos menos instruídos, a diferença não passa de 10%. (Cf. Kedouk, 2012, p.114) Justamente por essas mulheres terem menos opções de escolha de parceiros homens no mesmo extrato social, os estatísticos e especialistas apontam como uma possível solução casar “para baixo”. Casar “para baixo” significa casar com uma pessoa de uma classe social mais baixa ou uma formação inferior à da parceira. No entanto, a pressão social sobre a mulher faz com que ela almeje se casar com um parceiro que se encontre um degrau acima, estabelecendo conflitos desenhados por normas, valores e padrões diferentes da realidade

social e cultural vivenciada, e tornando ainda mais complexo o processo de escolha de parceiro.

Observo que mulheres das classes médias apresentam maior dificuldade para se casar e ter filhos, em função da necessidade de construção dos alicerces financeiro, profissional e afetivo. Enxergo que a classe alta e a classe baixa, ambas com uma maior facilidade de transitar por ambientes homogêneos, seja pela facilidade de encontrarem condições prontas, seja pela falta e dificuldade, muitas vezes a história flui rapidamente. Parece que a questão do tempo é mais fácil e tranquila de administrar. Entretanto, esse processo precisaria ser estudado mais profundamente. Os homens encontram uma maior facilidade para se casar várias vezes, devido à questão de gênero, e conseguem se casar com mulheres mais jovens e ter filhos; inclusive, podem criar diversas gerações de filhos. Esses homens podem se posicionar de forma diferente, dependendo de cada época, e em diferentes papéis.

Paglia (2008) reforça a diferença de gênero que existe para se relacionar frente às questões ligadas à idade cronológica e às questões biológicas, contextualizando essa situação por meio da série norte-americana “Sex in the City”. Mostra o dilema das mulheres de Manhattan, onde os homens mais velhos podem escolher mulheres a partir dos 20 anos de idade, enquanto as mulheres poderosas na faixa de 50 a 60 anos, no topo da carreira, não terão um caso e nem se casarão com um jovem de 20 anos. Uma alta executiva em um ambiente corporativo enfrenta limitação na vida afetiva. Somente aquelas que trabalham na mídia ou têm um estilo de vida bastante flexível encontram espaço para uma vivência desse tipo. O fato é que os casamentos tardios levam à maternidade tardia.

As mulheres estão se casando mais tarde por razões sociais, culturais e, nesse contexto, muitas acabam não se casando. Somente 3% da geração pós-feminismo se casaram pela primeira vez depois dos 35 anos de idade, e somente 1% tiveram filho após os 39 anos. Outro dado, somente 60% das mulheres altamente realizadas estão casadas. O estar no topo é bastante solitário para as mulheres. Porém, as mulheres que nunca se casaram gostariam de estar casadas, de constituir família e ter filhos. O grande drama é que, quanto mais prorrogam o casamento, mais se candidatam a não se casar e, inadvertidamente, jogam fora a sua fertilidade. Fielding descreve em seus livros, como O Diário de Bridget Jones (2008), a história de uma solteira desesperada e a dificuldade de encontrar um parceiro em um mundo onde os homens preferem as mais jovens.

Verdadeiramente, encontrar um companheiro tem se tornado uma grande questão em nossa cultura, e não estamos mencionando o homem ideal, pois “[...] ninguém casa com o

homem da vida e ninguém veio ao mundo para completar a laranja do outro”. (Cf. Abdo, 2011, p.69)

Modernização da sociedade, expansão do individualismo, longevidade e a forma como a cultura valoriza o amor e a sexualidade nos dias atuais foram alguns motivos que contribuíram para a crise no casamento contemporâneo. (Jablonski, 2005, 2007)

Apesar de todas as mudanças em torno do casamento e do ciclo de vida familiar, o casamento representa uma experiência diferente para homens e mulheres. Os homens geralmente chegam ao casamento com medo de ser apanhados em uma armadilha, mas pesquisas mostram que se saem melhor, tanto física como psicologicamente. Precisamos lembrar que as mulheres contemporâneas, além de ter filhos, esperam encontrar felicidade, realização pessoal, cumplicidade e companheirismo no casamento. (Cf. Carneiro, 2001, p.136) Até a primeira metade do século XX, casar significava primordialmente ter filhos e constituir família. O não casar gerava medo de envelhecer sozinha, além do buraco não preenchido das tarefas “ditas masculinas” como conserto de carro, cálculo do imposto de renda entre outros.

Para o adiamento do casamento, foram enumerados os seguintes motivos: a alta exigência em relação à escolha do parceiro, o medo de perder a liberdade e a individualidade, e a opção em definir primeiramente a carreira. Essas mulheres que adiaram o projeto de casamento por conta de um investimento na carreira buscam um destaque profissional e não apenas uma atividade e um salário. A pílula anticoncepcional, que permitiu separar prazer de reprodução, a longevidade da mulher, a adolescência tardia, em que os filhos ficam na casa dos pais com conforto e liberdade por mais tempo também são pontos que facilitam a prorrogação da entrada no casamento.

Na fase de aquisição, primeira fase do ciclo de vida do casamento, o medo pode estar presente na separação da família de origem, na sensação de perda da individualidade, no próprio casamento, nas obrigações e responsabilidades advindas dele; e na possibilidade de falhar. A maior parte dos casamentos atuais ocorre pelo amor romântico e, quando um dos parceiros não está mais apaixonado, nem as necessidades econômicas, nem a desaprovação social têm força necessária para manter juntas pessoas que não querem mais viver seus sonhos românticos.

Nos EUA, os índices de casamentos e divórcios mostram que 50% dos casamentos terminam em divórcio, sem contabilizar uma grande parcela de pessoas que sofrem em função de casamentos insatisfatórios e destrutivos, e não conseguem romper e buscar novas possibilidades. Os casamentos de dupla carreira surgiram em decorrência do novo contexto

histórico, social, cultural e das mudanças sociais. Eles aumentaram significativamente. Neles, as soluções de problemas acontecem em conjunto entre o marido e a esposa, mas o difícil é que não têm modelo (da geração imediata) para resolver as tarefas domésticas e parentais. Segundo Goldenberg (2012), as mulheres ainda estão sendo criadas com dois pesos e duas medidas, pois elas buscam independência na carreira e querem encontrar um “amor à moda antiga”, o que gera confusão e frustração. Será que é preciso escolher entre trabalho e amor, ou entre carreira e família?