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Recentemente, uma sucessão de fatores “push and pull” fazem mulheres recorrer ao trabalho doméstico tanto dentro quanto fora de seus países. A dependência nos trabalhadores domésticos está crescendo “em todo lugar ao redor do mundo como uma estratégia privada para conter as tensões entre trabalho e família” (OIT, 2010). Esta se tornou necessária em um mundo onde os horários de trabalho estão mudando com a intensificação da carga de trabalho. Ao mesmo tempo, muitas mulheres estão entrando no mercado de trabalho, reduzindo seu acesso ao trabalho de casa não remunerado, que tradicional e primariamente tem sido o fardo de mulheres e não de homens (D‟Sousa, 2010; OIT, 2010). Em face dessas preocupações, continuam diminuindo as intervenções estatais que permitem às famílias reconciliar preocupações domésticas com aquelas do ambiente de trabalho (OIT, 2010), aumentando a demanda por um atalho ou uma solução – os trabalhadores domésticos.

Dado que as circunstâncias estão criando a necessidade de trabalhadores domésticos em toda parte, outras circunstâncias estão tornando a necessidade de envolver-se com trabalho doméstico inevitável para outros. O aumento da pobreza rural em muitos países, somado às demissões causadas por programas de ajuste estrutural, setor agrícola deplorável e crises econômicas contribuíram para piorar as desvantagens econômicas e sociais da mulher (MEIGO, 2008). Estes influenciaram a entrada de mais mulheres e garotas no trabalho doméstico para seu sustento econômico (MEIGO, 2008). No contexto de globalização e políticas neoliberais, o mesmo capitalismo que inibe a industrialização das colônias vem condenando-as à pobreza e ao subdesenvolvimento (Reinert, 2007). Estes são os principais aspectos de crises econômicas que atingem mulheres e garotas especialmente:

“... A desindustrialização pode levar ao oposto de desenvolvimento, degenenração e primitivização econômica... o que faz com que os setores econômicos de comércio mais avançados no país de comércio menos avançado sejam as primeiras baixas do livre comércio imediatoo. À medida que os ciclos viciosos baseados em rendimentos decrescentes são invertidos, a periferia do mundo

experimenta uma sequência de desindustrialização, “desagriculturação”, ... mecanismos que podem ser observados hoje...” (Reinert, 2007).

As mulheres, de modo geral, têm estado às margens das atividades econômicas; especialmente aquelas no mundo em desenvolvimento, mas a marginalização da maioria delas se intensificou recentemente devido a tendências de políticas econômicas globais. A necessidade extensiva de acúmulo de capital condicionou a participação econômica das mulheres na periferia do sistema capitalista mundial. Enquanto o capitalismo se expande, produzindo o processo de subdesenvolvimento na periferia, a participação econômica que diz respeito às mulheres no terceiro mundo varia consideravelmente, comparada com a participação econômica de mulheres no centro da ordem do mundo capitalista (Carmen, 1979, p. 133). De fato, a maioria das mulheres em muitas partes do mundo está carregando o peso dos efeitos negativos da recente globalização e das políticas econômicas neoliberais. Já que a maioria das indústrias do “Terceiro Mundo” gradualmente se torna incapacitada por não estar em pé de igualdade com grandes indústrias na competição do livre comércio, elas acabam fechando. Níveis de pobreza e frustrações estão aumentando na maioria dos países em desenvolvimento. Enquanto os empregos formais continuam diminuindo na maioria dos países em desenvolvimento, mulheres e garotas são as pessoas que mais sofrem.

Ao passo que “rendimentos crescentes” (Reinert, 2007) tem geralmente aumentado a participação das mulheres na mão-de-obra remunerada no centro das economias capitalistas, na periferia ou nas economias marginalizadas, a história é diferente – o capitalismo aumentou a participação econômica das mulheres em modos de produção não-capitalistas (Carmem, 1979, p. 133), na categoria de rendimentos regressivos ou decrescentes (Reinert, 2007).

A perpetuada discriminação por gênero que tem levado muitas mulheres e garotas às margens sociais devido a ciclos viciosos crescentes de pobreza aliados a baixos níveis de educação formal e às vezes ao analfabetismo, deixam-nas com pouca ou nenhuma opção para outras oportunidade de emprego. A maioria das mulheres e garotas que entram em serviços domésticos vem de casas pobres. Muitas mulheres, em relação a seus concorrentes masculinos, têm restrições devido às suas limitadas “habilidades comercializáveis” (MEIGO, 2008), portanto, uma das fontes de emprego prontamente disponíveis é o trabalho doméstico remunerado. Além disso, como já foi mencionado, tradicionalmente as mulheres tiveram que se engajar no trabalho de casa como um papel social, por isso possuem competência nas habilidades de cuidados da casa e cuidados com as pessoas:

tarefas da mulher, o que significa que homens raramente competem com as mulheres neste mercado de trabalho. Trabalho doméstico é, portanto, um dos poucos empregos abertos a mulheres pobres” (MEIGO, 2008).

Esta posição aparentemente favorável em oposição em relação às suas habilidades adquiridas através de trabalho árduo ligado aos seus papéis tradicionais, normalmente como ajudantes domésticas, não é isenta de desafios. Nesta era de democratização e conscientização crescente dos direitos humanos, situada no contexto de ordem neoliberal, as trabalhadoras domésticas continuam a suportar o peso de uma dicotomia que aumenta sua vulnerabilidade. Para iluminar mais a questão, Blofield (2009) insiste que o contexto democrático político e o contexto econômico neoliberal reduziram a força dos sindicatos, permitindo outras formas de grupos marginalizados, criando tanto oportunidades quanto restrições para os trabalhadores domésticos enquanto grupo.

Já que as mulheres dominam a mão-de-obra doméstica, a qual também é ao mesmo tempo caracterizada por minorias raciais e étnicas, é geralmente alta a intensidade de sua exclusão em relação às nossas sociedades em geral, e são lentas as medidas para resolver suas principais preocupações. Phelps (2003) também enfatizou que a não-inclusão decorrente de preconceitos raciais, étnicos ou sexuais é clássica é antiga (Phelps, 2003, p. 2). Mesmo onde há leis protegendo estes que foram excluídos, elas são raramente cumpridas ou monitoradas. Um exemplo típico é a maneira desinteressada com que policiais no Líbano cuidam de casos em que trabalhadoras domésticas sobrevivem ao suicídio ou escapam no Líbano:

“... nos casos em que a trabalhadora doméstica sobrevive a uma queda, a polícia com frequência a entrevista sem a presença de um tradutor e geralmente ignora os motivos que a levaram a fugir” (Human Rights Watch, 2008).

Segundo a OIT (2007), a globalização e a crescente interdependência econômica tiveram um efeito profundo no mundo do trabalho com uma distribuição um tanto desigual de seus potenciais benefícios. Uma categoria de trabalhadores que está promovendo ativamente a interdependência econômica é a da mão-de- obra doméstica remunerada nos tempos contemporâneos, embora esteja nos bastidores.

O trabalho doméstico remunerado, de fato, tem sido privado de reconhecimento adequado de seu valor e contribuição sócio-econômica há muitos anos, embora tais tendências não devam continuar frente ao contexto contemporâneo de nosso desenvolvimento sócio-econômico, uma vez que mais mulheres entram nesta força de trabalho dentro e fora dos países, com contribuições significantes que requerem absoluto

reconhecimento. A sempre crescente importância de serviços domésticos remunerados deve ser extremamente enfatizada, porque, embora invisíveis, constituem um dos principais pilares do bom funcionamento da economia fora dos lares. A OIT (2010) destacou o fato que:

O trabalho de cuidados no lar... é simplesmente indispensável para que a economia fora do lar funcione. A crescente participação de mulheres na mão-de-obra muda a organização e a intensificação do trabalho... a falta de políticas que reconciliem a vida familiar e o trabalho, a queda no fornecimento estatal de serviços de cuidados, a feminização da migração internacional e o envelhecimento das sociedades tem aumentado a demanda por trabalho de cuidados nos últimos anos” (OIT, 2010, p. 4).

Muitos casos provam a resposta construtiva que a força de trabalho deste estudo tem a oferecer para as exigências sócio-econômicas crescentes das nossas sociedades hoje em dia. O trabalho doméstico remunerado está, de fato, representando uma grande ponte que harmoniza a participação crescente das mulheres na economia de mercado fora dos lares. Analisando as preocupações com os cuidados com as crianças, por exemplo, Lareau et al. (2008) insiste no fato de que um dos principais conflitos gerados pelas organização de atividades infantis geravam era devido à sua inevitável interseção com os horários de trabalho dos pais, especialmente das mães (Lareau et al., 2008, p. 430). Neste sentido, um trabalhador doméstico remunerado recrutado pela família para manter a casa e cuidar das crianças serve como uma ajuda a mães que teriam tido problemas para gerenciar as atividades organizadas das crianças de maneira eficaz. Os pais, especialmente as mulheres, que têm um papel reprodutivo, também têm um papel produtivo que promove crescimento e desenvolvimento sócio-econômicos. Como uma mulher habilidosa poderia combinar trabalho doméstico e cuidado com as crianças com seu emprego e ser eficiente e produtiva ao mesmo tempo? Em resposta a esta questão, citaremos Cowling no seguinte:

“Para o indivíduo pode significar um aumento no estresse, e efeitos potencialmente prejudiciais na saúde psicológica e física. Os efeitos sociais podem incluir um aumento nas tensões familiares... e nas relações matrimoniais... Para a economia, pode levar à má produtividade no trabalho tanto em termos de aumento de absentismo quando em diminuição de produtividade marginal de trabalho...” (Cowling, 2007, p. 3).

Uma pessoa economicamente ativa que tem o gosto inato pelo trabalho pode decidir ir trabalhar, mas sob as condições adversas como as listadas acima, a tendência a ficar estressado ou distraído é inevitável. Isto pode levar a baixa produtividade bem como outras situações complexas que afetam o bem-estar do

gostam de participar da criação dos filhos optariam por não trabalhar para que possam gerenciar as atividades de seus filhos de maneira mais organizada, de modo a fugir da sensação de se sentirem “divididas entre obrigações concorrentes” (Lareau et al., 2008, p. 435). Neste caso, tanto a economia quanto a família teriam de abrir mão das contribuições econômicas de tais mulheres. Esta perda pode ser enorme porque o estado teria investido muito no treinamento de tais mulheres, que poderiam fazer uma diferença na economia com seus talentos. Além disso, o companheiro teria que trabalhar sozinho para manter a família. Segundo o Banco Mundial (2003), algumas mulheres são forçadas a deixar a força de trabalho quando se casam e começam a criar os filhos.

São necessárias políticas confiáveis para unir a família e a vida de trabalho em todas as comunidades. Definitivamente, entretanto, na ausência de políticas confiáveis que harmonizem família e trabalho no contexto sócio-econômico de hoje, uma pessoa que quer continuar com sua vida econômica pode decidir não ter filhos para evitar o fardo do conflito entre casa e trabalho. Além disso, como existe pouca população economicamente ativa em tais países, as intervenções econômicas e sociais garantidas pelas trabalhadoras domésticas através de seus cuidados tornam possíveis que outras pessoas se concentrem em atividades econômicas, enquanto transferem seu papel social inevitável de cuidados com os idosos, os doentes ou deficientes para a trabalhadora doméstica.

Em outro exemplo, onde há mães solteiras ou lares chefiados por mulheres, o engajamento nas atividades econômicas fora do lar com suas habilidades adquiridas pode criar riqueza econômica e social. A mãe solteira, ao ter que lidar com a criação do filho sozinha, por exemplo, pode evitar que a criança seja um peso social, além de contribuir para a economia quando contrata uma trabalhadora doméstica remunerada que possibilita que ela - a mãe solteira – trabalhe por dinheiro. Olaf (2005) comentou sobre a taxa alarmante de feminização da pobreza devido à já identificada super-representação das famílias lideradas por mulheres, que carregam o peso da pobreza crescente. Esta tendência de pobreza pode ser minimizada quando elas são capazes de trabalhar dentro das suas profissões adquiridas, sabendo que têm o apoio de outras mulheres em suas casas enquanto trabalham.

As circunstâncias acima citadas, entre outras, refletem os papéis importantes porém geralmente ocultos que as trabalhadoras domésticas desempenham perante circunstâncias inevitáveis, anto nas esferas econômicas quanto nas sociais das nossas economias em processo de globalização. Isto significa que o reconhecimento, a remuneração adequada e o respeito pelo trabalho doméstico não só beneficiará a mão-de-obra doméstica através da melhoria da sua qualidade de vida, mas também sustentará nossas economias e sociedades. É

preciso dar um reconhecimento especial à mão-de-obra doméstica e ao mercado em si, e compreender que eles compõem um recurso social “sobre o qual as pessoas dependem quando buscam estratégias de sustento, exigindo coordenação e ação coletiva” (Olaf et al. 2005, p.1784)

Os desafios com que as famílias, e as mulheres em especial, se confrontam em sua busca por definir a si mesmas enquanto se engajam em atividades econômicas no mercado de trabalho exigem estratégias coletivas, caso se espere que os fundamentos possam ser sustentáveis. Olaf et al. (2005) destacou o fato de que a eficiência ou o potencial para atividade auto-definidora e auto-sustentada é principalmente operacionalizada em termos dos crescentes valores e atitudes de apoio com relação à ação coletiva auto- organizadora. Segundo ele, as diferenças de gênero no capital social que fortalecem as relações internas dos grupos podem fazer com que esperemos uma maturidade do grupo, de modo a estar positivamente relacionada à proporção de mulheres em um grupo.

O trabalho doméstico remunerado, além de ser uma oportunidade para as mulheres trabalharem, pode realmente ser considerado um facilitador do bom funcionamento de economias onde a participação crescente de mulheres se tornou necessário, e vem causando um impacto considerável no desenvolvimento e crescimento econômicos. Portanto, mulheres em outras categorias da divisão social de trabalho podem se definir mais livre e sustentavelmente se o trabalho doméstico for valorizado. A OIT enfatiza que:

“Pagar para que as trabalhadoras domésticas realizem serviços de casa, cuidem de crianças e idosos é uma solução da „nova economia‟ que famílias profissionais de classe média de dupla renda tendem a adotar em muitos países de mercado em industrialização, para poder equilibrar trabalho e vida doméstica,... promovendo proteção social e igualdade de sexos no trabalho” (OIT, 2010).

As trabalhadoras domésticas não só reconciliam casa e trabalho em muitos países avançados, mas também em países em desenvolvimento onde na maioria dos casos, não importa quão modesta seja uma casa, se recruta pelo menos um trabalhador doméstico (OIT, 2010).