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3.7 Condições de trabalho das trabalhadoras domésticas ganenses – questões referentes ao

3.7.3 Sistema institucional e trabalhadoras domésticas

O sistema legal e institucional possui provisões particulares que também são direcionadas para as trabalhadoras domésticas. Estas incluem a Constituição, a Lei do Trabalho (2003), a Lei sobre a Infância (N. 651, 2003), a Lei das Crianças e a Lei da Violência Doméstica; e 7 das Convenções Fundamentais ratificadas em 1999. A constituição de 1992 oferece condições gerais de trabalho para os trabalhadores em Gana com o artigo 24 destacando os direitos econômicos que dão a todas as pessoas o direito de trabalhar "sob condições satisfatórias, seguras, e saudáveis" assim como receber remuneração

igual por trabalho de valor igual, eliminando toda forma de discriminação. A constituição também enfatiza o descanso, o lazer e a "limitação razoável" das horas de trabalho, férias remuneradas incluindo feriados públicos. Além disso, o direito do trabalho de formar ou pertencer a um sindicato com o objetivo de proteger interesses econômicos ou sociais também é garantido pela constituição (Tsikata, 2009). Tsikata (2009) também salientou que o fato que o Artigo 16 da constituição de Gana sublinha a "proteção de ficar preso em escravidão ou servidão e trabalho forçado", o que chama nossa atenção para os Princípios Diretivos da Política Estatal que declara que:

"o Estado tomará todos os passos necessários para estabelecer uma economia sã e saudável cujos princípios subjacentes incluirão a garantia de uma remuneração justa e realista para a produção e produtividade" (Artigo 36 (2a))

A lei ganense proíbe o trabalho forçado, abuso infantil, tráfico, e servidão, portanto trata da maioria dos problemas que confrontam as trabalhadoras domésticas. Apesar do fato de que as provisões acima afirmadas estão consagradas na constituição de Gana, e também estão elaboradas na Lei do Trabalho (2003), a falta de monitoramento do sistema legal para a melhoria das condições de trabalho da força de trabalho na economia informal, particularmente aqueles que realizam trabalho doméstico é uma questão preocupante. LAWA-Gana (2003) destacou que apesar das leis que Gana fornecerem proteção formal para os trabalhadores, as trabalhadoras domésticas ainda enfrentam desafios no acesso a essas provisões. Além disso, o monitoramento ainda é um problema "tanto por causa da falta de recursos quanto por causa da falta de poder político" (LAWA-Gana, 2003). É como se as leis não existissem ou não houvesse instituições que façam cumprir as leis quando se trata de condições de trabalho como as das trabalhadoras domésticas. A seguir estão comentários dados por alguns ganenses a respeito das leis praticamente não existentes:

“Eu não acho que há muito em termos de cumprimento real. Eles não têm o sistema na prática”

“Aprovar a lei é uma coisa, mas o cumprimento é outra” “Se há uma lei, ela é fraca” (LAWA-Gana, 2003).

Mesmo os oficiais do governo que deveriam acompanhar o cumprimento das leis – juízes, polícia, oficiais de trabalho, entre outros estão contribuindo para a ineficácia das leis porque a maioria deles não está “familiarizado com as provisões da lei” que têm como objetivo proteger crianças e adultos que

fazem trabalho doméstico (LAWA-Gana, 2003). Um funcionário preocupado no departamento de Assistência Social que foi entrevistado enfatizou que seu trabalho para proteger crianças abusadas e traficadas é frequentemente interceptado por oficiais de polícia que às vezes atuam no interessem dos criminosos que fazem as piores formas de trabalho infantil e/ou tráfico. Alguns deles até aceitam o acordo de morar com as crianças que são traficadas como trabalhadoras domésticas.xxxii

Além da falta de cumprimento que coloca a maioria das trabalhadoras domésticas no país em risco, as próprias leis excluem algumas categorias de trabalhadoras domésticas em algumas de suas provisões básicas, tornando-as vulneráveis às consequências de tal discriminação. “As leis de trabalho existem, mas em certas áreas, há isenções – medidas que são aplicáveis a trabalhadoras domésticas não existem”.xxxiii

De fato, sob a nova Lei do Trabalho de 2003, Parte IV (sub-parte I) diz-se que os direitos de licença incluem licença por doença remunerada, licença anual remunerada, entre outras, “não se aplicam a uma pessoa em uma ocupação em que somente membros da família do empregador estão empregados”. Isto, como já foi indicado, está excluindo muitos membros de famílias estendidas que são recrutados por seus empregadores que vivem relativamente bem para realizar trabalho doméstico remunerado em dinheiro e/ou espécie. E os muitos membros de família que realizam trabalho doméstico? Na mesma Lei do Trabalho (2003), Parte IV (sub-parte III), onde provisões são feitas acerca dos períodos de descanso – seção 33 sobre “horas máximas de trabalho” assim como a seção 34 sobre “horas diferentes de trabalho” distintivamente isenta trabalhadores de tarefas e trabalhadores domésticos:

“Exceções: Esta Sub-Parte não se aplica a trabalhadores de tarefas e trabalhadores domésticos em casas particulares”

É nas casas particulares, entretanto, que a maioria das trabalhadoras domésticas opera suas atividades econômicas. Isto significa que a lei que protege os empregos não reconhece o fato de que dentro das casas particulares, há pessoas que também constituem uma categoria do mercado de trabalho que realizam trabalho doméstico remunerado. As leis de trabalho não requerem que aqueles que contratam trabalhadoras domésticas dêem 30 minutos remunerados de folga todo dia; “um período de descanso de 36 horas consecutivas” por semana assim como o direito de “quatorze dias consecutivos de licença anual”. Negar aos trabalhadores domésticos tais direitos, entretanto, é violar a Constituição de Gana que enfatiza o descanso, prazer e também as limitações razoáveis de horas de trabalho (LAWA-Gana, 2003).

A combinação de obstáculos legais e atividades culturais fortes assim como práticas tradicionais complicam as situações desafiantes das trabalhadoras domésticas, tornando a busca por ajuda contra condições desfavoráveis de trabalho muito difícil mesmo com o recurso de algumas instituições intervencionistas estatais. LAWA-Gana (2003) insistiu que em Gana, mulheres e crianças têm extensivamente “dificuldade para escapar de situações de trabalho abusivas e exploratórias”.

3.8 A resposta dos sindicatos para os desafios que as trabalhadoras domésticas em Gana