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3. TRAJETOS, PERCUSOS E PERCALÇOS METODOLÓGICOS

3.4 Multimétodos e a complexa interrelação entre eles

Com o objetivo de permitir ao leitor conhecer os caminhos trilhados para esta investigação, descrevo a metodologia utilizada e os motivos que me conduziram para essas conexões estratégicas. Torna-se primordial compreender que esta pesquisa é de natureza qualitativa. Como enfatizam Denzin e Lincon (2006, p.21):

A pesquisa qualitativa é um campo interdisciplinar, transdisciplinar e, às vezes, contradisciplinar, que atravessa as humanidades, as ciências sociais e as ciências físicas. A pesquisa qualitativa é muitas coisas ao mesmo tempo. Tem um foco multiparadigmático. Seus praticantes são suscetíveis ao valor da abordagem de múltiplos métodos, tendo um compromisso com a perspectiva naturalista e a compreensão interpretativa da experiência humana.

Na interpretação de Yin (1989, p.23), a pes uisa ualitativa i vestiga u fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes, caso em que são usadas múltiplas fo tes de evid ias

Ao compreender a prática de viagem de mochila como uma atividade de lazer na sociedade contemporânea, e o lazer como pertencente a um campo de estudos inter/transdisciplinar27, adoto múltiplos métodos de investigação com o intuito de desvelar os sentidos e significados dessa experiência humana.

27A t a sdis ipli a idade a ui e te dida o o a ult apassage das f o tei as dis ipli a es e o t sito

Os métodos utilizados para a realização desta pesquisa foram: Pesquisa bibliográfica; Pesquisa de campo exploratória; Observação de campo; Entrevista semiestruturada; Amostragem pelo método bola de neve; Registro fotográfico e Análise de conteúdo.

O levantamento bibliográfico foi obtido por meio de consultas sobre o assunto em livros, em revistas especializadas, em artigos acadêmicos, em dissertações e em teses, nas diversas áreas que se interrelacionam e compõem esta pesquisa, a saber: antropologia, sociologia, psicologia social, lazer e turismo.

A pesquisa de campo apresentou uma perspectiva exploratória. Fiz essa escolha, pois a pesquisa exploratória é realizada sobre um problema ou questão que geralmente representam assuntos com pouco ou nenhum estudo anterior a seu respeito (Babbie, 1986). A escassa produção acadêmica sobre o tema (mochileiro) ficou evidenciada na pesquisa bibliográfica.

No que tange ao caráter exploratório, Tripodi et al. (1975) classifica como um estudo que tem por objetivo fornecer um quadro de referência que possa facilitar o processo de dedução de questões pertinentes na investigação de um fenômeno. A partir dessa exploração, torna-se possível ao pesquisador a formulação de conceitos e hipóteses a serem aprofundadas em estudos posteriores. Para a realização da pesquisa de campo, no intuito de atender às necessidades e especificidades particulares desta investigação, foi

iada a etodologia o eada pla t o a t opol gi o 28.

O plantão antropológico, inspirado no caráter exploratório, em que se insere o campo dos mochileiros, consistiu na imersão da pesquisadora (plantão) na localidade escolhida, durante 15 dias, a fim de encontrar os sujeitos da pesquisa. Trata-se de um plantão de vigília sem tempo determinado. Nesse sentido, me dispus a observar sem hora para começar e sem hora para acabar minha atividade de investigação científica. É fulltime so ial, ultu al, físi a e plu alidade dos íveis de o s i ia do sujeito e elaç o vida e ao u do . (RODRIGUES, 2006 p.28)

28

Método desenvolvido em reunião de orientação com o Prof. Dr. Walter Ude no 2º sem de 2011, para representar uma postura observadora permanente, em locais estratégicos, que circulassem mochileiros, com o intuito de identificar, abordar e construir vínculos significativos com os sujeitos relevantes para esta pesquisa.

e me exigiu um posicionamento estratégico em diferentes pontos da cidade que me permitisse ver o movimento dos possíveis mochileiros.

O plantão foi realizado no intuito de observar os sujeitos encontrados com possível perfil adequado ao estudo. Caso fosse identificado o perfil, procurava perceber como as relações desses praticantes iam se estabelecendo: formas de chegada, busca por espaço pa a a o odaç o, de a da po ali e taç o, o o des o ia ue adas29 pa a conhecer, como negociavam suas necessidades, enfim como as relações iam se construindo com/entre ambiente, pessoas, cultura e tempo de permanência. Segundo Mattar (1994), o processo de observação em estudos exploratórios é chamado de observação informal não dirigida. A percepção e retenção do que é observado vai depender dos interesses da pesquisa e da capacidade de observação do pesquisador.

A segunda parte do método teve como estratégia, após essas primeiras observações de identificação, uma aproximação intencionada para a certificação do perfil almejado. Caso o perfil fosse confirmado, essa aproximação se ampliava e intentava conquistar uma relação de confiança/interesse, conseguindo, assim, espaço/tempo para entrevistá-los. As entrevistas realizadas foram semiestruturadas (MINAYO, 2001; MARCONI e LAKATOS, 1999). Como o objetivo da entrevista era conseguir informações mais profundas para níveis não quantificáveis da realidade, acerca dos sentidos e significados da prática de mochilagem, essa escolha por entrevistas semiestruturadas justificou-se pelo fato de a pesquisa tratar de um estudo no qual a subjetividade dos sujeitos representou algo predominante. Desse modo, houve necessidade de certa liberdade nas perguntas e nas respostas para permitir que os entrevistados relatassem suas experiências e emoções e, além disso, eu pudesse utilizar minha sensibilidade e capacidade de improviso no desenvolvimento da entrevista. Para a realização das entrevistas foram abordados oito mochileiros e cinco responsáveis por hostels, totalizando treze sujeitos entrevistados. Ressalto, neste momento, que para balizar as perguntas da entrevista semiestruturada foram realizadas entrevistas pré-teste.

Pa a a a pliaç o dos sujeitos e t evistados foi adotado o todo ola de eve (VIEIRA e LIMA, 1998). Esse método torna-se necessário quando se estuda uma população específica dos chamados casos e ep io ais ou uase g upo 30. Nesse caso, ao encontrar um sujeito com as características pretendidas para a amostra, perguntava se ele conhece alguém com as mesmas características. Desta forma, essa pessoa recomendava outra e a outra recomendava mais uma, criando-se assim uma bola de neve; até eu obter o número de pessoas pretendido para a constituição da amostra.

A ideia de utilizar o registro fotográfico como uma estratégia para a pesquisa ocorreu em um insight durante o processo da pesquisa. Ou seja, na segunda entrevista, no momento da realização do pré-teste, tive a percepção da força que a fotografia representa para esses sujeitos já que, na primeira entrevista, também, havia ocorrido o relato das aventuras, dos lugares incríveis, das emoções vividas, o ue e a o p ovado por fotografias. Ficava nítido que havia uma autoria em cada fotografia. Cada imagem guardava uma emoção vivida que retornava ao ser narrada, revelando que o sujeito se identificava nela.

Sendo assim, como coloca Kossoy (1999, p.43) a ep ese taç o fotog fi a uma recriação do mundo físico ou imaginário, tangível ou intangível; o assunto registrado é p oduto de u ela o ado p o esso de iaç o po pa te de seu auto . Po ta to, u olha possível para ter os registros fotográficos como fonte de pesquisa representa para Gonçalves (2009, p.239):

acessar o que se localiza além da aparência da imagem, da visibilidade continente dos processos de produção e de recepção, a fim de extrair da imagem todas as realidades construídas, seria necessário proceder a uma análise o o o jetivo de e o t a o ue est al do egist o, al do documental, no nível iconológico: o iconográfico carregado de sentido. É este o po to de hegada . KOSSOY, , p. .

Desse modo, busquei analisar o ponto de chegada por meio do sentido carregado que interessa a este estudo. Para isso, a análise e interpretação dos dados se inspiraram na análise de conteúdo (BARDIN, 2009). Nessa perspectiva a autora descreve a análise de

conteúdo como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Além disso, é importante considerar que a fala humana é tão diversa e rica que possui polisse ias e valo es i al ul veis. Po , a p p ia auto a afi a ue esse conceito não é suficiente para definir a especificidade da técnica, acrescentando que a intenção é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente de recepção), inferência esta que ocorre a indicadores quantitativos ou não CAMPOS, 2004, p.612).

Os depoimentos foram gravados, transcritos e analisados por meio da técnica de análise do conteúdo, dentro da abordagem da organização sistemática dos dados, em unidades manipuláveis, identificando-se temas (BARDIN, 1977) e/ou categorizações (SZYMANSKY, 2001). Por temas, Bardin compreende as partes do texto que expressam significados baseados no referencial teórico, tornando-se uma alternativa para estudar otivaç es de opi i es, de atitudes, de valo es, de e ças, de te d ias BARDIN, 1977, p.106).

No próximo tópico apresento os caminhos percorridos para alcançar os sujeitos da pesquisa e conseguir a realização das entrevistas.