Alves [15] enfatiza que a TOC utiliza o conceito que a soma dos ótimos locais não necessari- amente representa o ótimo global. A restrição é um elemento que impede o sistema de obter um desempenho melhor comparado ao máximo que ele pode alcançar. O Gerente que quer aumentar os ganhos da empresa deve melhorar o desempenho dos recursos restritivos.
As empresas, tradicionalmente, são gerenciadas por meio da melhoria individualizada dos sis- temas, ou seja, a melhoria dos sistemas de forma independentemente da melhoria global. A TOC reconhece o importante papel que o recurso restritivo exerce na determinação da saída do sistema como um todo.
Spencer e Cox [14] dizem que o gerenciamento das restrições tem seu maior impacto na medida em que permite aos gerentes desenvolver uma visão da organização como um sistema, contrária à visão do gerenciamento tradicional que consiste em otimizar o desempenho de cada departamento de forma isolada. Geralmente qualquer técnica ou metodologia de gerenciamento que possui uma visão sistêmica ampla ou uma perspectiva de sistema é chamada de gerenciamento de processo. Durante os tempos da revolução industrial os proprietários/gerentes adotaram a visão sistêmica para planejar e controlar as organizações. As primeiras organizações eram relativamente pequenas, e todas as funções estavam localizadas na mesma área geográficas.
Normalmente, as empresas são gerenciadas pela busca constante da redução contínua dos custos. A redução de custos passa a ser a mola mestre da estratégia das empresas. A TOC reconhece a importância dos programas de redução de custos, entretanto, para esta teoria a redução dos custos não é o ponto mais importante. A TOC não aloca custos aos produtos, já que esta abordagem tradicional de custos pressupõe que é necessário ter ótimos locais para ter o ótimo global.
Por meio da compreensão dos conceitos da TOC, os gerentes de produção podem obter melhorias imediatas nos resultados de suas organizações.
Gomes [16] relembra que a contabilidade de custos tradicional tem foco na melhoria dos in- dicadores locais, enquanto que a contabilidade de ganhos, proposta por Goldratt, entende que as otimizações locais não, necessariamente, conduzirão à otimização global.
Indicadores de Desempenho da Teoria das Restrições
Capítulo 3 Fundamentação Teórica
Diga-me como irá me medir e eu direi como vou me comportar. Se você me avaliar de maneira ilógica [...] não reclame sobre comportamento ilógico.
— Goldratt.
Gonzalez [17, p. 18] diz que o ganho de uma empresa é gerado pela venda de produtos. Ele não é gerado pelo acúmulo de inventários. Noreen [18, p. 12] relata que a TOC e o JIT concordam que os inventários de material em processo podem criar grandes problemas operacionais.
O excesso de inventários de material em processo causa tempo de ciclo e prazo de entrega eleva- dos. Com a redução dos inventários de material em processo, os prazos de entrega são diminuídos quase que instantaneamente.
Na TOC, como em qualquer outra filosofia de gerenciamento, há necessidade de medidas cu- jas que possibilite a função controle. Estas medidas dão subsídios ao gestor nas decisões a serem tomadas.
A contabilidade dos custos contribui com o primeiro grupo de indicadores. Este grupo de indica- dores é sob o ponto de vista financeiro.
Os indicadores financeiros funcionam melhor nos níveis mais alto da organização. A TOC apro- veita da Contabilidade de Custo os seguintes indicadores:
⊲ Lucro Líquido (LL);
⊲ Retorno sobre o Investimento (RSI); ⊲ Fluxo de Caixa (FC).
Lucro Líquido
É uma medida de geração absoluta de dinheiro. O Lucro Líquido serve para dizer quanto dinheiro a empresa ganhou. Mas só isso não é suficiente porque uma medida absoluta não vai dizer muita coisa.
Retorno sobre o Investimento
É uma medida relativa que relaciona o lucro com o valor investido. O Retorno sobre o Inves- timento dá uma idéia de quanto foi necessário investir para dar como lucro uma soma de dinheiro. Entretanto é possível uma empresa ter Lucro Líquido e Retorno sobre o Investimento positivo e ir à falência.
Capítulo 3 Fundamentação Teórica
Fluxo de Caixa
É uma medida de liga-desliga. Quando se tem caixa suficiente não existe nenhuma dificuldade em pagar as despesas. Entretanto, quando não se tem caixa, a empresa terá sérias dificuldades de honrar suas despesas.
O Lucro Líquido e o Retorno sobre o Investimento constituem-se numa medida de desempenho global, enquanto que o Fluxo de Caixa é uma medida de sobrevivência.
Uma empresa ganha dinheiro quando simultaneamente há um aumento do Lucro Líquido, um aumento no Retorno sobre o Investimento e um aumento do Fluxo de Caixa. Então essa é a meta.
Desta forma a TOC entende que é fundamental o controle sobre as medidas financeiras, criticando outras metodologias, pois estas encorajam as medidas não financeiras:
Tente medir por três ou mais medidas não financeiras e você basicamente terá perdido todo o controle. As medidas não financeiras são equivalentes à anarquia. Você simplesmente não pode comparar maçãs, laranjas e bananas e definitivamente não relacioná-las com o resultado final. A meta é fazer di- nheiro. Cada medida deve, por definição, conter o significado de dinheiro. [11, p.50]
Goldratt e Cox [10] salientam que as medidas acima descritas não são a melhor maneira de mensurar a performance operacional, pois não dimensionam o impacto de uma decisão local no desempenho global, necessitando um segundo conjunto de indicadores.
É necessário criar uma conexão direta entre as três medidas financeiras e o que acontece dentro da fábrica. Uma conexão lógica entre as operações diárias e o desempenho global da empresa. Ou seja, o que se quer é ter referências diretas e lógicas de cada ação tomada dentro da fábrica com o Lucro Líquido, Retorno sobre o Investimento e Fluxo de Caixa.
A TOC apresenta algumas medidas de desempenho que têm por objetivo a verificação se a em- presa está caminhando rumo o alcance de sua meta. Para Goldratt, os gestores devem responder a três perguntas:
⊲ Quanto a empresa gera de dinheiro?
⊲ Quanto de dinheiro é capturado pela empresa? ⊲ E quanto dinheiro tem que gastar para operá-la?
Para responder a estas três perguntas Goldratt propõe um conjunto de indicadores. Este grupo de indicadores, diferentes dos indicadores financeiros, é sob o ponto de vista da produção.
Capítulo 3 Fundamentação Teórica
⊲ Inventário (I);
⊲ Despesas operacionais (DO).
Ganho
É o índice pelo qual o sistema gera dinheiro por meio das vendas. Ganho é definido como todo o dinheiro que entra na empresa menos o que ela pagou a seus fornecedores pelos itens que entraram no produto vendido, esse é o dinheiro que a empresa gerou (Corbett [12, p. 28]). A definição oficial de Ganho é: Receita menos custo totalmente variáveis. É o preço de venda menos os custos variáveis. O Ganho não contabiliza produto fabricado e não vendido, portanto conforme esta definição produto que vai para o estoque não gera Ganho para empresa.
As empresas geram dinheiro por meio das vendas e não da produção, portanto para produção do Ganho, o foco é a produção de produtos que possam ser vendidos, desencorajando a formação de estoques indesejáveis.
Inventário
É todo o dinheiro que o sistema investe na compra de bens que pretende vender. Isto inclui a compra de matérias primas, máquinas e instalações. Portanto o produto produzido e não vendido que não fez parte do ganho engordará o Inventário. O estoque é valorizado no Inventário pelo va- lor de compra das matérias primas empregadas. O investimento em ativo também fará aumentar o Inventário.
O Inventário, como mostrado na Figura3.4, corresponde a todo o dinheiro retido no sistema na forma de matérias primas, estoques em processo, produto acabado, máquinas e instalações.
Estoque de matérias primas Estoque produto em processo Estoque produto acabado Ativos em geral
Inventário
Figura 3.4: Inventário.Capítulo 3 Fundamentação Teórica
Despesas Operacionais
É definida como todo o dinheiro que o sistema gasta transformando o inventário em ganho. As Despesas Operacionais compreendem todos os custos de conversão, sejam diretos ou indiretos.
Este sistema de medição é estabelecido de forma a apoiar a meta fornecendo os indicadores locais que identificam o impacto destas medidas locais na meta global. Os indicadores locais são aqueles que os gerentes utilizam rotineiramente para tomar decisão no dia-a-dia.
Por meio dos indicadores da TOC é possível saber o que está acontecendo no chão de fábrica. A forma de se calcular o ganho na contabilidade TOC difere da forma de se calcular o lucro na contabilidade tradicional, conforme apresentado na Tabela3.1.
Tabela 3.1: Comparação Contabilidade do Custo e Contabilidade do Ganho.
Contabilidade do custo Contabilidade do ganho
Receita Receita
−materiais diretos −custos totalmente diretos
−mão de obra direta
−despesas administrativas
= Margem de Contribuição = Ganho
−Despesas fixas −Despesas operacionais
= Lucro líquido = Lucro líquido
As medidas Ganho, Inventário e Despesas Operacionais permitem identificar o impacto de uma decisão local no objetivo global da empresa.
O ideal é que uma decisão aumente o Ganho, reduza o Inventário e as Despesas Operacionais, conforme mostrado na Figura3.5.
ganho
inventário
despesas
operacionais
Figura 3.5: Indicadores da Teoria das Restrições.
O impacto das decisões locais pode ser avaliado por meio das medidas globais de desempenho pelas relações apresentadas na Tabela3.2.
Capítulo 3 Fundamentação Teórica
Tabela 3.2: Indicadores globais de desempenho.
Indicadores Financeiros Indicadores da TOC
Lucro líquido Ganho
Retorno sobre o investimento Inventário
Fluxo de caixa Despesas operacionais
LL= G − DO (3.1)
RSI= LL
I (3.2)
Uma análise importante deve ser feita com estes indicadores de desempenho.
O Lucro Líquido é relacionado com o Ganho e as Despesas Operacionais por meio da fórmula matemática da Equação3.1, ou seja, o lucro Líquido é o Ganho menos as Despesas operacionais. O Retorno sobre Investimento é mostrado na Equação3.2, ou seja, é o Lucro Líquido divido pelo Inventário.
Deve-se considerar o aumento do Ganho (G) como o principal objetivo da empresa na direção do alcance da meta. O aumento do ganho favorece ao aumento do Lucro Líquido e o aumento do Retorno sobre o Investimento.
Noreen [18, p. 22] relata que na TOC os lucros são medidos mediante ganho menos despesa operacional e a rentabilidade pelos lucros divididos pelos inventários. Assim sendo, os controles se concentram sobre o ganho, despesa operacional e inventários. Espera-se que os gerentes sigam o plano global, que é atender pedidos nas datas especificadas não utilizando mais do que um nível específico de despesas e capacidades operacionais e um nível específico de inventários.
Depois, deve concentrar os esforços na redução do Inventário (I). O Just in Time nos ensinou que quanto maiores os estoques maiores eram os leadtime de produção, pior qualidade dos produtos, maior prazo de entrega. Por isso o Inventário é a segunda prioridade, depois do ganho.
Portanto, é fácil observar que a redução dos custos (redução das despesas operacionais) é a última prioridade na Teoria das Restrições. Essas prioridades contrastam com a atual prática de gestão que concentram todos os esforços prioritariamente na redução das despesas operacionais.
Toda vez que o ganho, inventário ou as despesas operacionais (medidas locais) apresentam vari- ações, conseqüências imediatas são geradas nas medidas financeiras (medidas globais).
A Figura3.6mostra de maneira qualitativa o impacto do aumento do Ganho no Lucro Líquido, Retorno sobre o Investimento e no Fluxo de Caixa.
Capítulo 3 Fundamentação Teórica Aumento do ganho Aumento do LL Aumento do RSI Aumento do FC
Figura 3.6: Impacto do aumento do ganho.
A Figura 3.7 mostra de maneira qualitativa o impacto da diminuição do Inventário no Lucro Líquido, Retorno sobre o Investimento e no Fluxo de Caixa.
Diminuicão do inventário Aumento do LL Aumento do RSI Aumento do FC
Figura 3.7: Impacto da diminuição do inventário.
A Figura3.8mostra de maneira qualitativa o impacto da diminuição das Despesas Operacionais no Lucro Líquido, Retorno sobre o Investimento e no Fluxo de Caixa.
Ganho é o dinheiro entrando, inventário é o dinheiro que está dentro do sistema e a despesa operacional é o dinheiro que temos de pagar para criar o ganho. Ou seja, a TOC tem uma medida para o dinheiro que entra, uma medida para o dinheiro que está preso e uma medida para o dinheiro que sai.