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território brasileiro, pode-se dizer que ONG é um termo surgido,
basicamente, nos idos de 1970 e é um termo que provém do entendimento
social ou então, socialmente construído, nos dizeres de Landim (1993).
Como sujeitos coletivos, as ONGs se fizeram notar por meio
dos movimentos sociais, das organizações de base comunitária e
organizações populares, na medida que contribuíam para a promoção e
proteção de valores e de resultados como a construção de uma sociedade
mais participativa.
ONG — Organização Não-Governamental —, quando analisado sob o ponto de vista jurídico, este termo não se aplica.
Importante mencionar que não há na legislação brasileira
qualquer indicação sobre ONG. Ou como esclarece Martins (2002), “não
existe o tipo societário ONG no direito brasileiro”. Vale complementar o
conteúdo com algumas considerações, a confirmar:
Por Herbert de Souza, o Betinho...
Uma ONG se define por sua vocação política, por sua positividade política: uma entidade sem fins de lucro cujo objetivo fundamental é desenvolver uma sociedade democrática, isto é, uma sociedade fundada nos valores da democracia — liberdade, igualdade, diversidade, participação e solidariedade. [...]. As ONGs são comitês da cidadania e surgiram para ajudar a construir a sociedade democrática com que todos sonham (ABONG, 2003).
Por Landim (1993), sob a luz do social...
Adotando a forma jurídico-institucional de entidades civis sem fins lucrativos e dedicando-se a uma ação no espaço público, podemos vê-las como fazendo parte do vasto e muitas vezes bem antigo universo de entidades privadas não empresariais voltadas para atuar no campo das questões sociais, no Brasil, onde circulam valores variados como a caridade, o altruísmo, a militância. Por exemplo, algumas de suas atividades de prestação de serviços a grupos excluídos poderiam aproximá-las das associações filantrópicas, ou de assistência social. Ou, por sua dedicação à política na área não- governamental, seria possível estabelecer continuidades entre sua ação e a que se desenvolveu nas últimas décadas, no país, por parte de organizações representativas de grupos de interesses, como sindicatos, associações de moradores, associações profissionais. Mas é justamente na distinção, eternamente produzida e reproduzida, com relação a essas outras formas de ação não-governamental sem fins lucrativos que se estabelecem para as ‘ONGs’ as condições de construção da sua identidade e da sua constituição como corpo.
Por Tenório (2003), com privilégios à autonomia...
As ONGs caracterizam-se por serem organizações sem fins lucrativos, autônomas, isto é, sem vínculo com o Governo, voltadas para o atendimento das necessidades de organizações de base popular, completando a ação do Estado. Têm suas ações financiadas por agências de cooperação internacional, em função de projetos a serem desenvolvidos, e contam com trabalho voluntário. Atuam através da promoção social, visando a contribuir para um
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processo de desenvolvimento que supõe transformações estruturais da sociedade. Sua sobrevivência independe de mecanismos de mercado ou da existência de lucro.
Por Victor Vicent Valla. Valla, com ênfase na fiscalização...
[...] Vejo as ONGs como uma espécie de fiscal civil que deveria desenvolver trabalhos de acompanhamento das ações dos governos municipais, estaduais e federais. Esse é o trabalho de uma ONG, não é substituir o Estado, é fiscalizar o Estado, acompanhar o Estado, acompanhar o trabalho que o Estado desenvolve. Acho que este deveria ser, também, o papel das universidades, utilizando os conhecimentos e recursos que tem para fazer esse tipo de trabalho, fiscalizar e propor alternativas. Eu sempre gostei de um exemplo dado por integrantes da ONG PelaVidda, numa conversa sobre saúde pública. O PelaVidda mostrou que tinha, em mãos, mais dados sobre o problema da AIDS no Brasil do que o próprio Ministério da Saúde. Então eles disseram o seguinte: ‘Por que nós temos que ir para a Alemanha, França, Áustria, Estados Unidos buscar recursos para sobreviver, se o que nós temos em mãos é superior ao que o governo federal tem? Por que o governo federal não nos financia para fazer esse trabalho? Por que não passam recursos para nós, se estamos fazendo melhor do que ele consegue fazer em torno da questão da AIDS? [...]’ ( OLIVEIRA, 2003).
Na verdade, a atuação das ONGs vem atrelada ao
processo de redefinição do papel do Estado (ao que se relaciona às suas
políticas sociais), ao avanço de políticas econômicas recessivas, aos
mais diversos contextos mundiais, em escalas variadas e que vêm
colocando as organizações civis como elemento central de muitos debates
produzidos no interior da academia e dos muros políticos.
Considera-se importante valer-se das citações que se
seguem, com a intenção de se elucidar o conteúdo até aqui apresentado
sobre as ONGs , de modo a tornar claro a sua representação no setor sem
fins lucrativos
Por Fernandes (1997)
[...] ainda que designe uma característica geral do campo em questão, que é justamente sua natureza não-governamental, o termo ‘ONG’ no Brasil, está mais associado a um tipo particular de organização, surgida aqui a partir da década de 70, no âmbito internacional de cooperação para o desenvolvimento. Sua origem no período autoritário e seu horizonte internacionalizado numa época de exacerbação dos embates ideológicos globais resultaram numa ênfase na dimensão política das ações, aproximando-as do discurso e da agenda das esquerdas. Na América Latina, inclusive no Brasil, é mais abrangente falar-se de ‘sociedade civil’ e de suas organizações.
E ainda...
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Como não existe lei que diga o que vem a ser uma Ong, temos que buscar em outras fontes. Podemos dizer que há um entendimento social de que Ongs são entidades às quais as pessoas se vinculam por identificação pessoal com a causa que elas promovem. Essas entidades, por natureza, não têm finalidade lucrativa, mas uma finalidade maior, genericamente filantrópica, humanitária, de defesa de interesses que costumam ser de toda a população e que, historicamente, deveriam ser objeto de atividade do poder público. Destinam- se a atividades de caráter eminentemente público, sendo a parcela da sociedade civil, como um todo, que se organiza na defesa de seus interesses coletivos. Dessa forma, distinguem-se até de seus sócios e passam a fazer genericamente parte do patrimônio de toda a sociedade, às vezes, no mundo inteiro.
Imagina-se como clarificada a questão da opção
inquestionável das ONGs pela sociedade civil, que vem se confirmando, ao
longo de todos esses anos, diante da luta pela proteção dos direitos do
cidadão comum.
E finalizando este conteúdo, comunga-se com Martins
(2002), no momento em que o mesmo, ao se reportar à generalidade do
termo ou do