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Fonte: Elaborado pelo autor.

De acordo com Fonseca (1996 apud SILVA 2011, p. 27), o contexto histórico do município de Santarém apresenta relatos oficiais de ocupação da região do Tapajós pelos índios tupaiú ou tapajós que cultivavam diversas culturas agrícolas. Conforme Amorim (2000, p. 26 apud SILVA, 2011, p. 27-28, grifo nosso) dentre as culturas agrícolas cultivadas pelos índios tupaiú ou tapajós estavam o algodão, o cará, a batata doce, o urucum, a pupunha, o

milho e a mandioca. Atualmente, a produção agrícola do município apresenta uma variedade de produtos na lavoura temporária e permanente bastante diversificada e cada vez mais crescente na região. Conforme dados colhidos no IBGE (2015) a produção da mandioca no ano de 2013 teve um grande destaque em relação a outros produtos cultivados na região, conforme tabela seguinte.

Tabela 06 – Produção agrícola do município de Santarém/PA

Produto Área destinada à colheita (ha) Área colhida (ha) Quantidade produzida (t/f) Rendimento médio (kg,f/ha) Valor (R$) Lavoura Temporária Abacaxi 07 07 140.000 f 20.000 f 112.000 Arroz 1.663 1.663 4.989 t 3.000 kg 2.769.000 Cana-de-açúcar 15 15 375 t 25.000 kg 38.000 Feijão 825 825 495 t 600 kg 1.395.000 Mandioca 20.790 20.790 291.060 t 14.000 kg 130.977.000 Melancia 300 300 9.000 t 30.000 kg 6.345.000 Milho 11.750 11.750 27.700 t 2.357 kg 12.732.000 Soja 12.725 12.725 38.175 t 3.000 kg 37.412.000 Tomate 15 15 300 t 20.000 kg 773.000 Lavoura Permanente Banana 110 110 1.650 t 15.000 kg 1.101.000 Cacau 05 05 03 t 600 kg 12.000 Café 27 27 14 t 519 kg 24.000 Côco-da-baía 20 20 170.000 f 8.500 f 136.000 Laranja 150 150 3.600 t 24.000 kg 2.473.000 Limão 43 43 946 t 22.000 kg 473.000 Mamão 24 24 360 t 15.000 kg 540.000 Maracujá 15 15 135 t 9.000 kg 269.000 Pimenta-do-reino 60 60 150 t 2.500 kg 1.800.000 Tangerina 30 30 435 t 14.500 kg 417.000 Urucum 25 25 20 t 800 kg 57.000 Fonte: IBGE (2015)

Assim como em outros municípios do estado, os dados contidos na tabela sugerem a importância dessa cultura agrícola da mandioca para a região onde grande parte deste produto é destinada para a produção de farinha, que diariamente faz parte da alimentação e do imaginário da população na Amazônia paraense.

2.7 O cultivo da mandioca

Na Amazônia paraense, o cultivo da mandioca4, usado pelos trabalhadores rurais na roça, ocorre de forma bastante rudimentar. O trabalhador, pequeno proprietário, não dispõe de uma tecnologia avançada que envolva equipamentos sofisticados no desenvolvimento de suas atividades. Conforme Albuquerque (1969, p. 42) “[...] o cultivo é feito rotineiramente, sem qualquer preocupação com a melhoria da produção pela adoção de processos novos”.

Para Alves et. al. (2014), os maiores entraves para que os pequenos produtores passem a usar as novas tecnologias a favor do cultivo da mandioca são a falta de acesso às tecnologias, a falta de orientação técnica, a dificuldade de aplicação e onerosidade em seus sistemas de produção. O que pudemos observar a partir do trabalho de campo são quatro operações desenvolvidas na atividade de cultivo da mandioca: 1) preparo da área; 2) plantio; 3) tratos culturais e 4) colheita. Dentre as operações desenvolvidas na cultura da mandioca, Viégas (1976, p. 98) faz referência ao processo chamado de “plantação de preguiçoso”5 o que se aproxima bastante do que se faz atualmente na região pelos trabalhadores rurais. Vejamos, então, como é desenvolvido o processo que envolve o cultivo da mandioca para a produção de farinha nas localidades pesquisadas.

2.7.1 O preparo da área

O preparo da área, para o plantio das manivas, consiste no tradicional sistema de derruba e queima da capoeira a partir da operação chamada broca ou roçagem para a eliminação da vegetação mais baixa ou rasteira com foices ou facões. Em seguida é realizada a derruba da vegetação de maior porte. No momento em que a área roçada estiver seca passa-

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4Ressaltamos que o termo cultivo da mandioca está sendo usado no seu sentido mais amplo e não apenas como tratos culturais. Nesse caso, o cultivo da mandioca compreende “o conjunto de operações de campo desde a escolha do terreno até a colheita” (ALBUQUERQUE, 1969, p. 41).

5Para Viegas (1976, p. 78) “era o processo seguido pelos indígenas; faziam suas roçadas em clareiras abertas nas matas, após a queimada, em solo rico de condições físicas ótimas”.

se a usar a queima que consiste na eliminação do restante da vegetação por meio de queimadas na área roçada. Ao visitarmos as localidades para entrevistarmos os trabalhadores rurais, pudemos observar que este é um sistema bastante usado pela facilidade de realização por ele, mas considerada inapropriada em decorrência da degradação ambiental. Nas observações pudemos registrar algumas áreas desmatadas onde foram realizadas as chamadas queimas.

Fotografia 01 – Área desmatada e queimada para o cultivo da mandioca.

Fonte: Registrado pelo autor.

Vale ressaltar que o trabalhador rural, apesar de usar constantemente a queima para o preparo da área em que irá iniciar um plantio, mostra-se conhecedor de que esse tipo de processo não deveria ocorrer em decorrência do impacto ambiental. Em nossas visitas, em algumas propriedades, os donos de terra (trabalhadores rurais) sempre ressaltavam que a queima, apesar de prejudicar o meio ambiente, é o único recurso que facilita o desenvolvimento de seu trabalho, pois, mesmo que insustentável, tem como lógica reduzir o gasto com mão-de-obra de outras atividades da cultura como o trabalho de desmatamento e limpeza do terreno. Após a operação chamada “queima” faz-se a chamada “coivara”, que consiste em amontoar e requeimar o restante da vegetação (galhos, folhas secas, etc.) que ainda ficam espalhados na área do roçado.

2.7.2 O plantio das manivas

Fotografia 02 – Trabalhadores rurais realizando o plantio das manivas

Fonte: Registrado pelo autor.

Para o plantio, é usado o próprio caule da maniva selecionado, cortado de forma transversal e denominado pelo trabalhador rural de corte “bico de gaita”6. Após os pedaços de manivas preparados para o plantio é feito o coveamento onde são colocados esses pedaços, geralmente, em pares7.

É importante destacar que o coveamento para o plantio das manivas não obedece a um espaçamento bem definido na área do roçado, pois os trabalhadores rurais realizam essa operação sem uma medição padrão entre uma cova e outra. Embora haja uma recomendação técnica de arranjo e espaçamentos no cultivo da mandioca, isso praticamente não é feito pelo trabalhador rural em seu roçado. Conforme Albuquerque (1969, p. 47) “inúmeras fórmulas de espaçamento podem ser utilizadas, todas elas, de um modo geral, entre os limites de 1,50m x 1,50m e 0,75m x 0,75m; espaços maiores ou menores que esses não são racionais [...]”. Alves _______________

6 O trabalhador rural denomina este corte de “bico de gaita”, porém foram registradas no glossário outras variantes para este termo.

7 Colocar as manivas em pares nas covas é, conforme os trabalhadores rurais, uma forma de garantir o enraizamento de pelo menos uma das sementes usadas para o plantio.

et. al. (2014) afirmam que, embora a mandioca possa ser plantada em diferentes arranjos e espaçamentos, recomenda-se o plantio em fileiras simples com espaçamento de 1,00 x 1,00m, conforme a figura seguinte:

Figura 01 – Plantio em fileiras

Fonte: (ALVES et. al., 2014).

O cultivo da mandioca desenvolvido na região amazônica baseia-se na agricultura familiar. Esse tipo de cultivo é realizado por trabalhadores rurais em pequenas propriedades e visa, principalmente, a subsistência, estendendo-se à comercialização de uma pequena quantidade de produtos8produzidos dessa raiz tuberosa tão presente no dia a dia dos trabalhadores rurais.

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8 Dentre os produtos, destacam-se a farinha d‟água, a farinha mista, a farinha de tapioca e pequenos bolos chamados de beiju.

2.7.3 Os tratos culturais

Os tratos culturais realizados na área do roçado da mandioca, após a plantação das manivas, resumem-se, basicamente, entre duas a três capinas durante o ciclo da cultura, conforme nos informaram os trabalhadores rurais participantes da pesquisa. De acordo com eles, nos primeiros seis meses podem ocorrer de uma a duas capinas e, quando necessário, faz-se outra capina antes da colheita.

Fotografia 03 – Área do roçado de mandioca

Fonte: Registrado pelo autor.

Conforme os trabalhadores rurais, o combate a pragas e doenças basicamente não ocorre, pois a mandioca é uma cultura que não precisa de grandes cuidados, bastando ocorrer a capina para garantir o equilíbrio natural do plantio. Porém, o roçado de mandioca pode ser acometido pelo ataque de saúvas cortadeiras obrigando a aplicação de formicida para o controle da praga. Dentre as pragas relatadas, nos pontos de inquérito pesquisados, foram destacadas o cupim, a lagarta, a formiga e alguns tipos de ervas daninhas que podem prejudicar o desenvolvimento das maniveiras, causando doenças e inibindo o crescimento das plantas.

2.7.4 A colheita

De acordo com as informações coletadas junto aos informantes, a colheita da mandioca é iniciada a partir de doze meses, podendo ser colhida antes do tempo previsto em decorrência da necessidade que o trabalhador rural tem em retirar o seu sustento da terra. A operação para retirada da mandioca da cova é denominada de “arranque” que pode ser realizada de duas formas dependendo do tamanho da raiz: 1) segurando a rama da maniveira firmemente com as mãos para puxá-la da cova ou 2) usando uma barra de ferro chamada de alavanca agarrada ao tronco da maniveira.

Fotografia 04 – Arranque com as mãos Fotografia 05 – Arranque com alavanca

Fonte: Registrado pelo autor. Fonte: Registrado pelo autor.

Após a colheita, faz-se o transporte das mandiocas ao igarapé para serem pubadas ou amolecidas. Pudemos observar que há várias maneiras de se realizar esse transporte na região. Uma dessas é o transporte das mandiocas em carroças movidas à tração animal (búfalos, bois e cavalos); em cestos colocados nos lombos de cavalos; em carrinhos de mãos (dependendo da distância do igarapé) ou em cestos chamados de “aturá” que o próprio

trabalhador rural carrega em suas costas. As duas imagens seguintes foram capturadas num dos pontos de inquérito no momento em que o transporte de mandioca estava sendo realizado:

Fotografia 06 – Transporte da mandioca Fotografia 07 – Aturá

Fonte: Registrado pelo autor. Fonte: Registrado pelo autor.

Na Amazônia paraense existe uma variedade enorme de denominações para as manivas ou mandiocas cultivadas pelos trabalhadores rurais. Essas mandiocas são classificadas por eles de acordo com o aspecto da planta (cor, tamanho, esgalhamento, raiz) ou pela cor da polpa da batata da mandioca (branca ou amarela). Entretanto é necessário observar que há uma grande dificuldade em estabelecer se essas denominações, a que se referem os trabalhadores rurais, tratam-se de espécies botânicas diferentes ou variedades da mesma espécie.

O rol de variedades de mandioca, quer se trate das chamadas doces, quer das amargas, é muito grande. É possível, porém, que muitos dos nomes comuns ou apelidos com que essas „variedades‟ são conhecidas, apliquem-se a uma e mesma casta ou estirpe, morfologicamente bem definida (VIÉGAS, 1976, p. 30).

Viégas (1976, p. 30) aponta uma variedade de denominação para mandioca sem que se possa afirmar se estas realmente se tratam das mesmas espécies ou espécies diferentes. Nesse sentido, a nossa pesquisa procurou apenas registrar os termos usados pelos trabalhadores rurais com as propriedades características de suas visões de mundo. Dizer, portanto, se alguma variedade de mandioca é realmente variante linguística ou de registro pode ser apontada apenas a partir do olhar deste sujeito em sua própria formação histórica e cultural.

2.8 O beneficiamento da mandioca na casa de farinha

Conforme Folegatti et. al. (2005, p. 76) “na região amazônica são encontradas farinha seca grossa amarela, a farinha d‟água ou puba, a farinha mista ou do Pará e a farinha de tapioca (fécula seca e granulada)”. De acordo com Cereda (2005, p. 27) o seu processamento para a produção de farinha guarda vestígios de origem indígena.

Cardoso (2005, p. 143), por sua vez, afirma que os tipos de farinha e técnicas de produção usadas variam de acordo com as influências culturais na composição de sua população. Para este autor, as etapas do processamento da farinha d‟água são fermentação, retirada da casca, lavagem, esmagamento ou trituração da massa, prensagem, peneiragem, torração, resfriamento da farinha e embalagem. Já a farinha mista ou do Pará resulta da mistura da massa de mandioca pubada (colocada de molho) e ralada com a massa da mandioca seca (não colocada de molho) como se observa no organograma do processo de produção da farinha que se segue:

Organograma 01 – Processos de produção da farinha d‟água e da

farinha seca

Fonte: Elaborado pelo autor.

O processo de beneficiamento da mandioca na Amazônia paraense apresenta, predominantemente, uma tecnologia rudimentar que exige a própria força humana para todas

Pro ce ss ame n to d a far in h a d 'águ a Fermentação Descascamento e Lavagem Ralagem ou trituração Amassamento Prensagem Peneiramento ou Coação Escaldamento Torração Resfriamento P ro ces sam e n to d a fari n h a S eca Descascamento e Lavagem Trituração no caititu Amassamento Prensagem Peneiramento ou Coação Escaldamento Torração Resfriamento

as etapas de fabricação de farinha. As casas de farinha localizam-se nas zonas rurais e possuem características bastante simples, construídas com estacas de madeira, cobertas de palha ou telhas e sem paredes, o que facilita a circulação de ar. Nelas, a produção de farinha é feita de forma predominantemente artesanal com a mão-de-obra dos integrantes da própria família do trabalhador rural ou com a participação de membros da comunidade local.

Fotografia 08 – Casade farinha

Fonte: Registradopelo autor.

Os instrumentos utilizados na casa de farinha como a masseira, o cesto produzido com o cipó de timbuaçu e chamado de aturá, a utilização de animais para o transporte de mandiocas, a forma de se processar a raiz, dentre outros, são alguns resquícios da cultura indígena no processamento da mandioca. De acordo com Cereda (2005, p. 32), o processo de preparo da farinha “tem influência indígena, onde a dificuldade de ralar a mandioca era contornada colocando-as para „pubar‟ em água parada ou rios, até amolecer”.

2.8.1 A fermentação da mandioca

Após a colheita da mandioca no roçado pelo trabalhador rural, esta é levada para o chamado poço onde permanecerá por um período que compreende três a oito dias em processo de fermentação. Os chamados poços são locais construídos dentro de pequenos igarapés cercados com tábuas para que as mandiocas não sejam levadas pelo curso da água.

Fotografia 09 – Poço construído no igarapé

Fonte: Registrado pelo autor.

Em todas as propriedades da região visitadas verificamos que o “poço” construído no igarapé é mais usual pelos trabalhadores rurais para deixar a mandioca em fermentação, porém, conforme relataram os nossos informantes e observamos na pesquisa de campo, existem outras maneiras de realização desse processo como a colocação das mandiocas em tanques feitos de alvenaria ou em tinas cheios de água. As tinas são bacias de pneus usadas para deixar a mandioca de molho ou para lavá-las após o seu descascamento.

2.8.2 O descascamento e a lavagem

As mandiocas levadas para o poço perdem as cascas facilmente, porque no processo de fermentação ficam amolecidas, porém as que não são colocadas no poço passam pelo processo de descascamento. Nesta operação os trabalhadores rurais se utilizam apenas de uma faca de mesa para a retirada das cascas de cada raiz de mandioca que serão usadas na produção de farinha.

Fotografia 10 – Trabalhadores rurais descascando mandiocas

Fonte: Registrado pelo autor.

Após o descascamento das mandiocas, procede-se à lavagem destas em uma bacia ou tina cheia de água para, então, ocorrer o ralamento ou trituração e serem transformadas em massa. Observamos que o descascamento das mandiocas é uma atividade bastante intensa e que exige um esforço repetitivo muito grande dos trabalhadores rurais que podem levar o dia inteiro para realizar esta tarefa na atividade de produção da farinha.

2.8.3 A ralagem ou trituração no caititu

Para o processo de ralagem ou trituração, usa-se um ralador ou um caititu respectivamente. Conforme informações dos trabalhadores rurais, o ralador é feito com a utilização de folhas-de-flandres, retiradas de latas vazias de manteigas que são cortadas, furadas e moldadas em pedaços de madeira. Porém, a vantagem da utilização do caititu na trituração da mandioca é que não exige um grande esforço do trabalhador rural, uma vez que esse instrumento é movido à eletricidade, tendo um motor acoplado a uma peça chamada rodete que tritura a mandioca transformando-a em massa. As imagens seguintes demonstram a utilização de um ralador manual e de um caititu pelo trabalhador rural.

Fotografia 11 – Usando o ralador Fotografia 12 – Usando o caititu

Fonte: Registrado pelo autor. Fonte: Registrado pelo autor.

2.8.4 O amassamento e a prensagem da massa

Após a mandioca ser ralada ou triturada, segue-se à operação chamada de amassamento ou maceração, que consiste em deixar a massa, resultante da trituração, com o aspecto pastoso. Da maceração, passa-se ao processo de prensagem, que consiste em retirar todos os resíduos tóxicos e a extração do chamado tucupi. Essa operação é realizada com a ajuda do chamado espremedor ou prensa, onde se coloca o tipiti9 cheio de massa para ser espremida. É praticamente o processo usado pelos trabalhadores rurais na atividade de produção da farinha de mandioca na Amazônia paraense. Em todas as localidades pesquisadas, onde realizamos o levantamento de dados junto aos sujeitos da pesquisa, observamos a atividade de amassamento realizada no chamado “cocho” ou “canoa” e a _______________

utilização do tipiti para a prensagem da massa e decantação de toda a substância tóxica presente.

Fotografia 13 – Cocho de maceração Fotografia 14 – Espremedor com tipiti

Fonte: Registrado pelo autor. Fonte: Registrado pelo autor.

2.8.5 A coação ou peneiramento da massa

A coação ou peneiramento da massa, como denominam os trabalhadores rurais, é realizado com o uso de uma peneira e uma caixa para o esfarelamento da massa e a separação da parte grosseira denominada de crueira.

Fotografia 15 – Peneira e caixa Fotografia 16 – Crueira

Fonte: Registrado pelo autor. Fonte: Registrado pelo autor.

De acordo com relatos dos próprios trabalhadores rurais, as frações grosseiras, chamadas de crueira, podem ser utilizadas na alimentação de animais ou na alimentação humana em forma de mingau.

2.8.6 O escaldamento e a torração

Após a massa ser esfarelada na peneira o trabalhador rural a coloca no forno para ser escaldada. O escaldamento é realizado no próprio forno, onde a massa é também torrada em aproximadamente 40 a 50 minutos e transformada em farinha. Por se tratar de um serviço que exige bastante força é executado quase que exclusivamente pelos homens, que se revezam a cada fornada em decorrência do calor e do processo de produção que pode durar o dia inteiro.

Fotografia 17 – Trabalhador rural torrando a massa da mandioca no forno

Fonte: Registrado pelo autor.

2.8.7 O resfriamento

Após a torração, a farinha é levada para um cocho feito de madeira e denominado pelo trabalhador rural de esfriadeira. Esse instrumento serve para colocar a farinha por um determinado tempo até que a temperatura diminua e possa ser acondicionada ou embalada em

sacos. Essa farinha embalada, no entanto, não é classificada de acordo a granulometria justamente por ser uma atividade ainda bastante informal na Amazônia paraense.

Fotografia 18 – Mexendo a farinha na esfriadeira

Fonte: Registrado pelo autor.

Após todo o processo de beneficiamento da farinha de mandioca, finalmente fica pronta para o consumo e para a comercialização. Na região, observamos que pela natureza da atividade estar baseada na agricultura familiar, uma parte da farinha é usada para o autossustento da família, enquanto outra parte serve para a comercialização do produto.

2.8.8 A comercialização

A comercialização da farinha se dá de forma bastante informal entre os trabalhadores rurais que a produzem e as pessoas que a comercializa. A farinha é vendida para os chamados atravessadores ou comerciantes que se encarregam em comercializá-la no comércio local e em outros centros urbanos. As feiras livres são outros pontos de referências

em termos de comercialização. Grande parte da produção é destinada para vendas nesses locais nos centros urbanos de diversos municípios.

Fotografia 19 – Feira da farinha

Fonte: Registrado pelo autor.

Podemos, então, dizer que a sistemática compreendida na tarefa de produção da farinha de mandioca abrange um conjunto articulado dos aspectos econômicos e socioculturais que conferem a esse tipo de atividade uma posição peculiar entre os vários produtos agrícolas produzidos na região. A mandioca é um produto de subsistência para boa parte da população rural, um importante componente do sistema culinário (produção de farinha, mingau, comidas típicas, etc.), além de revelar uma tradição histórica e valores culturais observados no léxico por meio dessa cultura.

3 PERSPECTIVAS DOS ESTUDOS TERMINOLÓGICOS

O presente capítulo discorre sobre o desenvolvimento dos estudos terminológicos desde a abordagem clássica, de orientação prescritiva, à abordagem contemporânea variacionista de orientação descritiva. Consideramos salutar esse passeio por meio do qual poderemos demonstrar a posição teórica que assumimos para o desenvolvimento de nossa tese de doutorado, posição essa que, embora se distancie dos pressupostos da Teoria Geral da Terminologia, não deixa de reconhecer que coube a Eugen Wüster a tentativa de uma primeira sistematização no campo dos estudos terminológicos. Os princípios epistemológicos da abordagem clássica, no entanto, mostraram-se insuficientes e distantes da real situação constatada pelos estudos terminológicos contemporâneos, que descrevem as terminologias essencialmente a partir de seus contextos discursivos.

3.1 Teoria Geral da Terminologia: abordagem clássica

Maria Teresa Cabré, prefaciando o livro de Wüster (1998, p. 12), traduzido para a língua espanhola, afirma ser inquestionável que em contextos prescritivos a Teoria Geral da Terminologia tenha se preocupado em garantir a univocidade da comunicação técnico- científica. Porém, em contextos de comunicação natural e espontânea, de base social, com

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